CID
TEIXEIRA
DOIS
MOMENTOS, UMA BAHIA
Fotografias de Jader Resende
Uma cidade é um organismo vivo, sabemos todos. Nem é possível que assim não seja, posto que composta do somatório de milhares ou de milhões de organismos várias vidas. E esta cidade do Salvador, viva como poucas, vai mudando, vai se adaptando, vai vivendo. Há o que aparece e desaparece, há o que aparece e fica, há o que aparentemente desaparece e retorna sob outras formas de viver. Assim os dois “fatos sociais” registrados por Jader Resende. Em nenhum momento será legítimo pedir ao historiador ou ao sociólogo que seja um saudosista, que seja, como já escrevi noutro texto “um funcionário de algum frigorífico do tempo”. Não se trata de congelar o tempo”. Não se trata de congelar o passado para gáudio e lucro da admiração do presente. O verbo é outro: simplesmente, respeitar. Não como querer guardar na redoma de vidro que é dinâmico por sua própria natureza.
Fotografias de Jader Resende
Uma cidade é um organismo vivo, sabemos todos. Nem é possível que assim não seja, posto que composta do somatório de milhares ou de milhões de organismos várias vidas. E esta cidade do Salvador, viva como poucas, vai mudando, vai se adaptando, vai vivendo. Há o que aparece e desaparece, há o que aparece e fica, há o que aparentemente desaparece e retorna sob outras formas de viver. Assim os dois “fatos sociais” registrados por Jader Resende. Em nenhum momento será legítimo pedir ao historiador ou ao sociólogo que seja um saudosista, que seja, como já escrevi noutro texto “um funcionário de algum frigorífico do tempo”. Não se trata de congelar o tempo”. Não se trata de congelar o passado para gáudio e lucro da admiração do presente. O verbo é outro: simplesmente, respeitar. Não como querer guardar na redoma de vidro que é dinâmico por sua própria natureza.
Foi
e está sendo assim com o Carnaval. Já vão longe os dias dos
“máscaras”, das cadeiras nos passeios e do lança perfume. E,
tudo isto começou com um velho “Ford de bigode” e alguns
inovadores em termos de instrumentos e de ritmos. O “Trio Elétrico”
nascia e mudava tudo. Aquilo que no primeiro momento parecia ser um
evento passageiro tornou-se um fato social de profunda e permanente
presença na composição do “ser baiano”.
Jader
viu além do visível que, de regra, não era visto. De repente –
para usar expressão corrente – o trio encerra mil ângulos de arte
visual. Foram esses ângulos que seduziram a lente de Jader e seduzem
mais do que nossa visão; seduzem a nossa “viagem” pelo tempo
baiano.
Trio
Elétrico e Rampa do mercado. Dois momentos, uma Bahia. Ou um momento
e muitas Bahias? É da mais alta importância que esta e muitas
outras perguntas baianas não sejam respondidas, que sejam,
permanentemente vividas.
No
começo era “a praia”.
Tomé
de Souza sabia muito bem que, no seu trabalho de fundador, teria que
“agir em dupla face”. Se por um lado, cuidava de edificar uma
“fortaleza grande e forte”, por outro cuidava de adotar o seu
empreendimento de um porto capaz de abrigar desde as naus da Índia e
de Macau que, por aqui, obrigatoriamente passariam, até as pequenas
embarcações do serviço de cabotagem menor, com o Recôncavo. Na
praia, uma igreja e um estaleiro. Pela fé e pelos negócios, a gente
ali foi se agrupando. Um homem de esperteza comercial – Baltazar
Ferraz – fez um porto, um trapiche, uma doca. E, ao curso do tempo,
foram se chegando saveiros, de todos os lugares desta orla da Bahia
de Todos os Santos. Gente do Porto de Dendê, em Maragogipe, do
Engenho Vitória já quase em Cachoeira, barcos de açúcar vindos da
região de Suba é, cana de São Francisco do conde, banana da ilha
de Maré e mais quantos, e mais todos. ERA O TEMPO DA “RAMPA DO
MERCADO”. Era ali o ponto de confluência das muitas “Bahia”
que formam esta cidade do Salvador.
Pequeno
saveiro de “vela de pena”, grandes lanchões de “pano de içar”
juntos a canoinha de trafego interno, e escaleres levando gente para
o velho forte de São Marcelo com vários propósitos. Todos juntos.
E, com eles a sociedade que lá vivia. Os eventuais e os fixos. Os
que apenas chegavam para carregar ou descarregar e os que ali,
literalmente, moravam.
O
mercado era o complemento. A velha casa construída pela Prefeitura
da Capital compunha, com a igreja toda de pedra lavrada em Portugal,
a paisagem física, moldura da paisagem humana. Um dia um incêndio
mal explicado tirou metade do cenário. Ficou a igreja. Mudou o
cenário e a gente resistiu, o quanto pode, nos seus barcos. Mais
tarde, a rede viária pelos asfalto afora foi tornando obsoleto o
transporte das cargas pela Bahia. Nova resistência. A velha
alfândega, transformada em mercado, foi o novo bastião. Novo
revide. Novo mercado.
A humanidade do local foi se acrescendo. Já não
estavam sós os embarcadiços. Agora, turistas com suas camisas
coloridas e suas máquinas penduradas no pescoço faziam presença e
integração na paisagem. Apareceram os violeiros com seus toques
nordestinos. Fazendo contraponto com os atabaques vindos do “outro
lado”. Felizmente há a fotografia e existem aquelas que como Jader
Resende se ocupam em fazer dela um instrumentos de conservação da
vida desta cidade. A rampa do mercado nos volta, inteira com estas
fotos. Uma “roda de proa” um “caro” ou uma “ostraga”
estão aqui para matar saudades.
por
Jader Resende
Com máquina de fotômetro embutido, uma lente de
50 milímetros e um filtro ultravioleta, procurei ângulos onde
linhas, formas, cores e sombras se harmonizassem numa foto simples e
provocativa. Nesse breve espaço de tempo podemos ver no repouso do
trio elétrico a grandeza de seu magnetismo. Busquei, nessa hora, em
sua arrojada roupagem os elementos que normalmente passam
despercebidos ao olhar, no envolvimento contagiante do Carnaval. Os
arranjos gráficos muitas vezes poluídos pela desinformação e a
ânsia inconcebida de uma fácil mensagem publicitária foram
evitados para melhor harmonia. Mesmo com a poluição visual da
comercialização do Carnaval, existe uma riqueza inesgotável e
inexplorada - e que espero provocar com estas fotos. A paixão,
alegria, suor desconhecido e a espontaneidade do povo espremido nos
cantos e transversais das ruas e avenidas mostra na dança a mais
pura emoção da revelação do corpo. Onde quer que o som alcance
todos brincam, sem pudor, vergonha do certo ou errado, falsa
moralidade, coreografia mirabolantes ou palavra de ordem.
Este é meu jeito de dizer: olhe, veja e viaje nas fotos da máquina da alegria. Mas se você esta de mal com a vida, tem mais um motivo pra correr atraz da fóbica de Dodô e Osmar.
Este é meu jeito de dizer: olhe, veja e viaje nas fotos da máquina da alegria. Mas se você esta de mal com a vida, tem mais um motivo pra correr atraz da fóbica de Dodô e Osmar.
Caixote da
História
por Jader
Resende
A
fotografia rouba, aprisiona e toca nossa alma.
Desde o
primeiro caixote fotográfico medindo alguns metros quadrados no
século XIX, a fotografia transformou a vida do homem. Essa
fantástica estrovenga de retratar tem se aperfeiçoado
constantemente, mantendo todo impacto de sua descoberta numa
revolucionária atuação em tudo e todos.
O retrato
da família depois de horas exposta numa chapa de vidro à luz do
sol, a cena de uma paisagem inglesa numa atmosfera bucólica cheia de
paz ainda ofuscada pela falta de nitidez técnica já demonstrava em
1888 essa grande invenção.
Hoje
podemos folhear grossos e luxuosos álbuns com resoluções
propiciada por tecnologia digital de altíssimo nível abrangendo
vários temas: soldados mortos nas guerras, vitimas de campo de
concentração, crianças, homens, mulheres, animais, plantas,
transexuais, a aura humana, micro e macrocosmo, planetas distantes,
sub-divisão do átomo, enfim tudo se torna permanentemente presente,
acalentando-nos, rompendo fronteiras, enriquecendo e alimentando o
espírito.
Sua
precisão técnica ao registra momentos tristes, alegres, domésticos,
científicos, jornalísticos ou artístico nos transporta para uma
leitura onde o olhar determina um processo fundamental a vida e a
recriação.
Hoje com o
avanço a digitalização e a internete continuamos modificando
também nossa criação e sua participação no nosso jeito de ser
com suas cenas grotescas, cômicas, trágicas, denunciadoras nos
envolve a fotografia nos tira de qualquer apatia ou comodismo.
Quando
olhamos uma foto jornalística, podemos pensar que é um acaso
oportunista devido a situação imprevisível. A pressão imposta
pela necessidade diária de um flagrante, deixa o fotógrafo tenso,
ansioso, o que favorece a procura inconsciente dos fatos. Mesmo
assim, ele não deixa a arte e objetividade que seu ofício exige.
Seu dia-a-dia é feito da preocupação em estar no local e hora
certa, de ver o que não é (pré)visto, de fazer os outros sentirem
o que ele próprio sentiu naquele fragmento de fração de segundo,
quando usa toda parafernália técnica ao dispara o mecanismo de sua
máquina fotográfica, para extrair daí sua arte – Farejar um
flagrante se torna necessidade para sua criativa, humana e rápida
arte, de interesse aos leitores diário.
Por habito
seu raciocínio se adapta rapidamente a necessidade de um flagrante
que poderá até mudar o rumo de uma história. Sua intuição fala
alto, muitas vezes não percebe o risco que corre. A morte de
repórteres fotográficos, cinegrafistas, não só mostra a
importância da imagem como também da arte e é um fato vergonhoso
para a humanidade que só faz evidenciar o pouco que conhecemos de
nós mesmos.
Normalmente
resulta de tão grandioso trabalho, o mínimo necessário a sua
sobrevivência. Infelizmente não tem o stato de um fotografo de
publicidade,
modas ou
industrial o que considero injusto.
Cito os
fotógrafos jornalísticos. Cito os fotógrafos jornalísticos
pelas lembranças do tempo em que trabalhei como fotografo do jornal
“A TARDE”.
O que muito significou para minha formação.
Matildes
Matos
Percorrendo um caminho inverso ao dos artistas que
buscam na fotografia inspiração para sua pintura, a câmara de
Jader Resende é o seu pincel e suas tintas e com elas desafia a
realidade. As fotos que compõem esta e tantas outras amostras
revelam a percepção do pintor abstrato na função de formas e
cores, na proposição metafísica de mostrar um espaço que se
refere a outro, onde a imagem e superfície se fundem numa composição
que transcendem a realidade da fotografia. Os motivos destas fotos
são dois: Os carros do trio elétrico e a rampa do mercado modelo
com seus personagens e saveiros. As fotos mais abstratas são a dos
trio elétricos com detalhes da pinturas, das texturas e das
engrenagens que nos remetem ao abstrato, os signos e palavras no trio
afro reforçando a sugestão da pintura. A figura humana entra como
medida para acentuar ao gigantismo do trio. Nas fotos dos desmontes
dos trios, nos tons cinzentos da quarta feira, surgem enfileirados os
banheiros da Prefeitura para o Carnaval e por trás deles, como
abençoa-los, a torre delapidada da Igreja da Ajuda. Na Rampa do
Mercado Modelo é evidente a empatia do fotógrafo/artista por tudo
que envolve a rampa. Feitas nos anos 80, quando os saveiros ainda
chegavam cheios de mercadorias do Recôncavo e das ilhas, são hoje
fotos históricas. Ficou na fotografia sensível de Jader, um misto
de poesia e encantamento, uma certa atmosfera de faz de conta, de que
aquilo que se vê, não é. Algumas fotos de saveiro são puras
abstração. Nas mais realistas há sempre a exploração de um
ângulo novo, a fusão inusitada de elementos constantes ou a simples
geometria de coisas prosaicas como os saquinhos de amendoim torrados
empilhados, funcional bem na composição. Originais e bem resolvidas
estas fotos revelam a visão e o humanismo do artista, no respeito
como ele apresenta os motivos.
Mario
Cravo Neto - Fotografo
As
imagens fotográficas do artista plástico Jader Resende que usa a
fotografia como fonte de expressão plástica apresentam uma sensível
caligrafia cromática, despojada de efeitos de trucagem e do uso de
falsos elementos.
Digo
Caligrafia cromática pois na maioria das imagens sobre o mesmo tema
“A Rampa do Mercado” surgem com singularidade e despojamento,
elementos de prôa, detalhes de sua fachada e por vezes o homem
integrando-se aos reflexos do elemento líquido quando projetados,
provocando estranhas combinações de cores e formas – sutil
elaboração de um artista em frente a natureza humana. A fotografia
existe no traço do visionário que a enquadra de acordo com seu
domínio técnico e suas exigências formais.
A meticulosa busca de detalhes desta natureza situa o artista frente
a vida e sua sensibilidade poética.
Creative Commons
Trabalhos de autoria de JADER RESENDE
assim como o nome do blog "JADER RESENDE"
está licenciado com uma Licença
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