quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

De onde vem o que comemos?



Alceu Luís Castilho

A página do Incra divulgou há pouco em seu mural no Facebook que na mesa do brasileiro, “com certeza”, há sempre algo colhido em assentamento do Incra. “A agricultura familiar responde por cerca de 80% dos alimentos que compõem a mesa do brasileiro”, diz o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.

A legenda da foto mistura um pouco as estações. Uma coisa são os assentamentos. Outra, a chamada “agricultura familiar” – aliás, um termo em disputa, que, para alguns, simplesmente esconde um termo com uma conotação política mais forte: agricultura camponesa.

Do jeito que está, parece que 80% do que comemos vem dos assentamentos. Impossível, num país que ainda não realizou efetivamente a reforma agrária. Mas é claro que os alimentos produzidos pelos assentados fazem parte da agricultura camponesa (ou familiar).

De fato o que comemos não vem do agronegócio – nem tudo são agrotóxicos em nossa mesa. A informação é confirmada pelo professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira, da USP, um dos maiores especialistas em Geografia Agrária do País.

Em seu curso “Agricultura e capitalismo no Brasil”, realizado este semestre na pós-graduação do Departamento de Geografia, ele assinalou que 93% da produção do agronegócio é de soja, milho, sorgo e algodão. Quase tudo destinado à exportação – ou a alimentar o gado.

Umbelino diz que “agricultura familiar” é uma expressão construída há pouco tempo pelo Banco Mundial – pois independe da classe social. Teria a função de amortecer o conflito. “Camponês”, para ele, especifica uma condição de classe, seja no capitalismo, no feudalismo ou no escravismo greco-romano.

O professor critica – com números e mapas – os que repetem a afirmação de que diminui o número de camponeses no Brasil. “O campesinato está crescendo no Brasil, mas uma parte dos intelectuais mata eles todos os dias”", afirma Umbelino.

Em outras palavras, é alimento produzido por camponeses que está em nossas mesas.

Apesar disso, segundo o IBGE, a “agricultura familiar” ocupa apenas 24,3% da área total ocupada pela agricultura brasileira. Quem nos alimenta é quem tem menos terra.

Mesmo assim, a bancada ruralista – sempre com a faca no pescoço de qualquer governo – conseguiu aprovar o novo Código Florestal. Que beneficia os grandes proprietários.
Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

Buscado no Outro Brasil
http://alceucastilho.blogspot.com/

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