"Nesta ocasião, me dirijo pela primeira vez na vida ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama: o senhor deve saber que em suas mãos está oferecer à humanidade a única possibilidade real de paz. Só em uma ocasião poderá o senhor fazer uso de suas prerrogativas ao dar a ordem de atirar", escreve Fidel.
Em seu artigo, divulgado no site oficial "Cubadebate", Fidel diz que "todos em seu país, inclusive seus piores adversários de esquerda ou de direita, com segurança o agradecerão, e também o povo dos Estados Unidos, que não é em absoluto culpado da situação criada".
O ex-presidente cubano diz compreender que não se pode esperar uma resposta rápida de Obama, mas pede para que pense bem e consulte seus especialistas, aliados e inclusive adversários internacionais.
"Não me interessam honras ou glórias. Faça-o! O mundo poderá se libertar realmente das armas nucleares e também das convencionais", acrescenta o líder cubano. Veja abaixo a íntegra:
Em seu artigo, divulgado no site oficial "Cubadebate", Fidel diz que "todos em seu país, inclusive seus piores adversários de esquerda ou de direita, com segurança o agradecerão, e também o povo dos Estados Unidos, que não é em absoluto culpado da situação criada".
O ex-presidente cubano diz compreender que não se pode esperar uma resposta rápida de Obama, mas pede para que pense bem e consulte seus especialistas, aliados e inclusive adversários internacionais.
"Não me interessam honras ou glórias. Faça-o! O mundo poderá se libertar realmente das armas nucleares e também das convencionais", acrescenta o líder cubano. Veja abaixo a íntegra:
Ultimato ao presidente dos Estados Unidos
Por Fidel Castro
Há vários dias, foi publicado um artigo que continha realmente muitos fatos relacionados com o derramamento de petróleo que ocorreu há 105 dias. O presidente Obama havia autorizado dita perfuração, confiando na capacidade da tecnologia moderna para a produção de petróleo, que ele desejava dispor em abundância e liberar os Estados Unidos da dependência dos fornecimentos exteriores desse vital produto para a civilização atual. Seu excessivo consumo já havia sucitado o protesto enérgico dos ambientalistas.
Nem sequer George W. Bush havia se atrevido a dar esse passo, dadas as amargas experiências sofridas no Alaska com um petroleiro que transportava petróleo extraído ali.
O acidente havia sido produzido na busca do produto que se necessita desesperadamente na sociedade consumista, que as novas gerações herdaram das que as precederam, com a diferência de que agora tudo marcha a uma velocidade jamais imaginada.
Cientistas e defensores do meio ambiente expuseram teorias relacionadas com catástrofes que ocorreram em centenas de milhões de anos com as chamadas enormes bolhas de metano, causadoras de gigantescos tsunamis que varreram grande parte do planeta que, com ventos e ondas que alcançaram duas vezes a velocidade do som e ondas de 1.500 metros de altura, liquidaram os 96% das espécies vivas.
Expressavam o temor de que, no Golfo do México, que por alguma causa cósmica é a região do planeta onde a rocha calcária nos separa da enorme camada de metano, essa camada seja perfurada na desperada busca de petróleo com os moderníssimos equipamentos de tecnologia que hoje se dispõe.
Em função do derramamento da British Petroleum, as agências de notícias informam que:
"...o governo federal [dos EUA] advertiram que se mantenham distantes do epicentro das operações com a ameaça de 40 mil dólares por cada infração e a possibilidade de prisões por delitos maiores.
"...A EPA [Agência de controle ambiental dos EUA] disse oficialmente que a Plataforma Nº 1 libera metano, benzeno, sulfuro de hidrogênio e outros gases tóxicos. Os trabalhadores sobre o terreno agora usam meios avançados de proteção que incluem máscaras de gás de última tecnologia fornecidas pelos militares."
Fatos de enorme transcendência estão se produzindo com inusitada frequência.
O primeiro e mais imediato é o risco de uma guerra nuclear depois do afundamento do sofisticado barco de insígnia Cheonan, que, segundo o governo da Coreia do Sul, deveu-se ao torpedo de um submarino de fatura soviética – ambos fabricados há mais de 50 anos –, enquanto outras fontes comunicam a única causa possível e não detectável: uma mina colocada pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos no casco do Cheonan. De imediato, culpou-se ao Governo da Republica Popular Democrática da Coreia.
A este estranho episódio somou-se, dias depois, a Resolução 1929 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, ordenando a inspeção dos barcos mercantis iranianos em um prazo não maior que 90 dias.
O segundo, que em parte já está produzindo seus efeitos demolidores, foi o progressivo avanço da mudança climática, cujos efeitos são ainda piores, dando lugar à denúncia do documentário "Home", elaborado por Yann Arthus-Bertrand com a participação dos ecologistas mais prestigiados do mundo; e agora, o derramamento petrolífero no Golfo do México, a poucas milhas de nossa Pátria, o que gera todo tipo de preocupações.
No dia 20 de julho, um informe da agência de notícias EFE refere-se às declarações do já conhecido almirante Thad Allen, coordenador e responsável pela luta contra o derramamento de petróleo no Golfo do México, quem "disse que autorizou a British Petroleum, proprietária do poço e responsável do vazamento, a que continue por mais 24 horas as provas que efetua para determinar a solidez da estrutura 'Macondo', após a instalação há 10 dias de uma nova campanha de contenção".
"Segundo os dados oficiais, há cerca de 27 mil porços abandonados no leito marinho do Golfo (...) Quando se cumprem 92 dias do acidente na plataforma da BP, a principal preocupação do Governo dos EUA é que a estrutura subterrânea do poço esteja danificada e o petróleo se infiltre através das rochas e acabe fluindo em múltiplos pontos do solo marinho."
É a primeira vez que uma declaração oficial fala do temor de que o petróleo comece a fluir dos poços que já não são produtivos.
Os leitores que se interessam pelo tema vão percebendo o teor sensacionalista dos dados científicos. Para mim há fatos que não tem explicação satisfatória. Por que o Almirante Allen declarou que "a principal preocupação do Governo é que a estrutura subterrânea do poço esteja danificada e que o petróleo se infiltre através das rochas e acabe fluindo em múltiplos pontos do solo marítimo"? Por que a British Petroleum declarou que não lhe podem culpar pelo petróleo que brotou a 15km do poço acidentado?
Haveria que esperar outros 15 dias que tardaria em perfurar o poço auxiliar, que tem uma trajetória quase paralela ao que originou o derrame, a uma distância de menos de 5 metros um do outro, segundo opina o grupo cubano que analisa o problema. Enquanto isso, devemos esperar como crianças bem educadas.
Se se confia tanto no poço paralelo, por que não aplicou-se antes essa medida? Que faremos depois se essa medida fracassar como ocorreu com todas as demais?
Em um encontro recente que tive com uma pessoa totalmente bem informada dos detalhes do acidente, devido a interesses de seu país, soube que, pelas características e a situação ao redor do poço, não existe ali, nesse caso, o risco de uma fuga do metano.
No dia 23 de julho não apareceu notícia alguma sobre o problema. No dia 24, a agência DPA afirma que "um eminente cientista estadunidense acusou a petroleira britânica BP de subornar especialistas que investigam a maré negra no Golfo do México para atrasar a publicação de dados, segundo denunciou a cadeia televisiva BBC", mas não relaciona essa imoralidade com dano algum na estrutura do fundo marinho, e as emanações de petróleo e os níveis bruscos de metano.
No dia 26 de julho, os principais meios da imprensa de Londres – BBC, Sunday Times, Sunday Telegraph e outros – informaram que "em conselho da direção" da British Petroleum "decidiram hoje a saída do presidente executivo" - Tony Hayward - "pelo mal manejo que teve frente ao derrame de petróleo no Golfo do México".
Por sua vez, Notimex e El Universal, do México, publicam que na British Petroleum "... não foi tomada uma decisão sobre mudanças entre seus executivos, e agrega que uma junta de sua direção está prevista para esta mesma tarde." No dia 27 as agências de notícias informavam que o Presidente Executivo da BP havia sido despedido.
28 de julho. Doze informes de agências e 14 países, entre eles os Estados Unidos e vários de seus mais importantes aliados, formularam declarações constrangedoras pela divulgação, por parte da organização WikiLeaks, de documentos secretos sobre a guerra no Afeganistão. Ainda que "Barack Obama admitiu que encontra-se 'preocupado' pelo vazamento, [...] disse que as informações são antigas e não contém nada de novo."
Foi uma declaração cínica.
"O fundador do WikiLeaks, Julián Assange, disse que os documentos são evidência de crimes de guerra cometidos pelas forças estadunidenses."
Tão certeiramente o evidenciaram, que comoveram até os cimentos do sigilo norte-americano. Nelas fala-se de "mortes de civis das quais nunca se informou publicamente". Criou conflitos entre as partes envolvidas nessas atrocidades.
Sobre os riscos de gás metano emanado dos poços que não estão em produção, silêncio total.
Júlio, dia 29. Um informe da AFP informa o nunca imaginado: Osama Bin Laden era um homem dos serviços de inteligência dos Estados Unidos: "...Osama Bin Laden aparece nos informes secretos publicados pelo WikiLeaks como um agente ativo, presente e bajulado por seus homens na zona afegão-paquistanesa."
Conhecia-se que, na luta dos afegãos contra a ocupação soviética do Afeganistão, Osama cooperou com os Estados Unidos, mas o mundo supunha que, em sua luta contra a invasão estrangeira, aceitou o apoio dos Estados Unidos e da OTAN como uma necessidade e que, já liberado o país, repudiava a ingerência estrangeira, criando a Al-Qaeda para combater os Estados Unidos.
Muitos países, Cuba entre eles, condenam seus métodos terroristas que não excluem a morte de incontáveis vítimas inocentes. Qual não seria agora a surpresa da opinião mundial ao conhece que a Al-Qaeda era uma criação do governo desse país.
Foi a justificativa para a guerra contra os talibãs no Afeganistão e um dos motivos, entre outros, para a posterior invasão e ocupação do Iraque pelas forças militares dos Estados Unidos. Dois países onde morreram milhares de jovens norte-americanos e grande número deles foram mutilados. Entre ambos, mais de 150 mil soldados norte-americanos estão comprometidos por tempo indefinido, e junto a eles, os integrantes das unidades da organização belicista da OTAN, e outros aliados como Austrália e Coreia do Sul.
No dia 29 publicou-se a foto de um jovem norte-americano de 22 anos, Bradley Manning, analista de inteligência, que vazou ao sítio web WikiLeaks 240 mil documentos secretos. Não se pronunciaram sobre sua culpabilidade ou inocência. Não poderão lhe tocar nem mesmo um pelo. Os integrantes do WikiLeaks juraram fazer o mundo conhecer a verdade.
No dia 30 de julho, o teólogo brasileiro Frei Betto publicou um artigo intitulado "Grito da terra, clamor dos povos". Dois parágrafos expressam a essência de seu conteúdo. "Os antigos gregos já haviam percebido: Gaia, a Terra, é um organismo vivo. E somos fruto dela, engendrados em 13.7 bilhões de anos de evolução. Entretanto, nos últimos 200 anos, não soubemos cudiar dela, e a convertemos em mercadoria, da que espera-se obter o máximo de lucro."
"Hoje estão ameaçadas todas as formas de vida no planeta, inclusive a humana (2/3 da população mundial sobrevivem abaixo da linha de pobreza) e a mesma Terra. Evitar a antecipação do Apocalipse exige questionar os mitos da modernidade – como mercado, desenvolvimento, estado uninacional –, todos eles baseados na razão instrumental."
De sua parte, nesse mesmo dia, a AFP publicou: "A República Popular China 'desaprova as sanções unilaterais' adotadas' pela União Europeia contra o Irã, declarou hoje o porta-voz da chancelaria chinesa, Jiang Yu". Do mesmo modo, a Rússia manifestou com energia a condenação das sanções dessa região estreitamente aliada com os Estados Unidos.
No dia 30 de julho, uma matéria da AFP informa que o Ministro de Defesa de Israel declarou: "As sanções que a ONU impôs ao Irã [...] não farão suspender suas atividades de enriquecimento de urânio em busca da bomba atômica".
No dia 1º de agosto, um correspondente da AFP informa que o "Alto chefe militar dos Guardiões da Revolução advertiu hoje os EUA contra um eventual ataque contra o Irã." "Israel não descartou uma ação militar contra o Irã para deter seu programa nuclear."
"A comunidade internacional, encabeçada por Washington, intensificou recentemente sua pressão sobre o Irã, acusando-o de buscar dotar-se da arma nuclear com um encoberto programa nuclear civil."
"As afirmações de Javani precederam uma declaração do chefe do Estado Maior Conjunto estadunidense, Michael Mullen, que assegurou neste domingo que um Plano de ataque dos Estados Unidos contra o Irã está previsto para impedir Teerã de dotar-se da arma nuclear."
No dia 2 de agosto, uma matéria noticiosa da AFP de conteúdo semelhante aos das demais agências de notícias informou: "Tenho que viajar em setembo a Nova York para participar na Assembleia Geral das Nações Unidas. Estou disposto a me sentar com Obama, cara a cara, de homem para homem, para falar livremente de questões mundiais ante os meios de comunicação para encontrar a melhor solução', afirmou Ahmadinejad durante um discurso difundido pela televisão estatal."
"Mas o presidente Ahmadinejad advertiu de que o diálogo deverá estar baseado no respeito mútuo".
"Se acreditam que podem agitar uma vara e dizer-nos que devemos aceitar tudo o que dizem, isto não ocorrerá", acrescentou. As potências ocidentais 'não entendem que as coisas mudaram no mundo', acrescentou."
"Vocês respaldam um país que conta com centenas de bombas atômicas mas dizem que querem deter o Irã, que poderia eventualmente ter-la um dia..."
Os iranianos declararam que disparariam cem foguetes contra cada um dos barcos dos Estados Unidos e Israel que bloqueiam o Irã, assim que registre um mercante iraniano. De modo que, quando Obama dê a ordem de cumprir a Resolução do Conselho de Segurança, estará decretando o afundamento de todos os barcos de guerra norte-americanos naquela zona.
A nenhum Presidente dos Estados Unidos lhe caiu tão dramática decisão. Devia prevê-lo.
Nesta ocasião, me dirijo pela primeira vez na vida ao Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama: o senhor deve saber que em suas mãos está oferecer à humanidade a única possibilidade real de paz. Só em uma ocasião poderá fazer uso de suas prerrogativas ao dar a ordem de disparar.
É possível que depois, a partir desta traumática experiência, encontrem-se soluções que não nos conduzam outra vez a esta apocalíptica situação. Todos em seu país, inclusive seus piores adversários de esquerda ou de direita, com segurança, o agradecerão, e também o povo dos Estados Unidos, que não é de forma alguma culpado pela situação criada.
Solicito-lhe que se digne a escutar esta apelação que, em nome do povo de Cuba, lhe transmito. Compreendo que não se pode esperar, nem o senhor daria nunca, uma resposta rápida. Pense bem, consulte seus especialistas, peça opinião sobre o assunto aos seus mais poderosos aliados e adversários internacionais.
Não me interessam honras ou glórias. Faça-o!
O mundo poderá se liberar realmente das armas nucleares e também das convencionais. A pior de todas as variantes será a guerra nuclear, que é já virtualmente inevitável. Evite-a!
Fidel Castro
3 de agosto de 2010
Fonte: Vermelho
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