Fonte Mauro Santayana
buscado no Gilson Sampaio
Ora,
os mesmos internautas que insultam, hoje, o Judiciário, sem serem
incomodados — afirmando que o ministro Toffoli fraudou as eleições — já
atacaram pesadamente Aécio Neves e sua família, quando ele disputava a
indicação como candidato à Presidência pelo PSDB em 2010. São eles os
mesmos que agridem os comandantes militares, acusando-os de serem
"frouxos" e estarem controlados pelos comunistas, e deixam claro seu
desprezo pelas instituições brasileiras, incluindo as Forças Armadas,
pedindo em petição pública à Casa Branca uma intervenção dos Estados
Unidos no Brasil, como se fôssemos reles quintal dos EUA, quando são
eles os que se comportam como abjetos vira-latas, em sua patética
submissão ao estrangeiro.
Mauro Santayana
Está em curso, há anos, nas "redes sociais" insidiosa campanha de agressão à democracia e crescentes ataques às instituições.
Quem
cala, consente. Os governos do PT têm feito, em todo esse período, cara
de paisagem. Nem mesmo quando diretamente insultados, ou caluniados, os
dirigentes do partido tomaram qualquer providência contra quem os
atacava, ou atacava as instituições, esquecendo-se de que, ao se
omitirem, a primeira vítima foi a democracia. Nisso, sejamos francos,
foram precedidos por todos os governos anteriores, que chegaram ao poder
depois da redemocratização do país.
Mergulhados
na luta política e na administração cotidiana dos problemas nacionais,
nenhum deles percebeu que o primeiro dever que tínhamos, nesta nação,
depois do fim do período autoritário, era regar e proteger a frágil flor
da Liberdade, ensinando sua importância e virtudes às novas gerações,
para que sua chama não se apagasse no coração dos brasileiros. Se,
naquele momento, o da batalha pela reconquista do Estado de Direito,
cantávamos em letras de rock que queríamos votar para presidente, hoje
parece que os polos da razão foram trocados, e que vivemos sob a égide
da insânia e da vilania.
Em absoluta inversão
de valores, da ética, da informação, da própria história, retorna a
velha balela anticomunista de que Jango — um latifundiário liberal
ligado ao trabalhismo — ia implantar uma ditadura cubano-soviética no
Brasil, ou que algumas dezenas de estudantes poderiam derrubar, quatro
anos depois, um regime autoritário fortemente armado, quando não havia
nenhuma condição interna ou externa para isso.
Retorna a velha balela anticomunista de que Jango ia implantar uma ditadura cubano-soviética no Brasil
Agora,
para muitos que se manifestam pela internet, quem combatia pela
democracia virou terrorista, os torturadores são incensados e
defendidos, e prega-se abertamente o fim do Estado de Direito, como se o
fascismo e o autoritarismo fossem solução para alguma coisa, ou o
Brasil não fosse ficar, política e economicamente, imediata e
absolutamente, isolado do resto do mundo, caso fosse rompida a
normalidade constitucional.
Ora, os mesmos
internautas que insultam, hoje, o Judiciário, sem serem incomodados —
afirmando que o ministro Toffoli fraudou as eleições — já atacaram
pesadamente Aécio Neves e sua família, quando ele disputava a indicação
como candidato à Presidência pelo PSDB em 2010. São eles os mesmos que
agridem os comandantes militares, acusando-os de serem "frouxos" e
estarem controlados pelos comunistas, e deixam claro seu desprezo pelas
instituições brasileiras, incluindo as Forças Armadas, pedindo em
petição pública à Casa Branca uma intervenção dos Estados Unidos no
Brasil, como se fôssemos reles quintal dos EUA, quando são eles os que
se comportam como abjetos vira-latas, em sua patética submissão ao
estrangeiro.
São eles os que defendem o
extermínio dos nordestinos e a divisão do país, como se apenas naquela
região a candidata da situação tivesse obtido maioria, e não
estivéssemos todos misturados, ou nos fosse proibida a travessia das
fronteiras dos estados.
São eles que inventam
generais de araque, supostos autores de manifestos igualmente falsos, e
usam, sem autorização, o nome de oficiais da reserva, em documentos
delirantes, tentando manipular, a todo momento, a base das Forças
Armadas e as forças de segurança, dando a impressão de que existem
sediciosos no Exército, na Marinha, na Aeronáutica, quando as três
forças se encontram unidas, na execução de projetos como o comando das
Operações de Paz da ONU no Haiti e no Líbano; as Operações Ágata, em
nossas fronteiras; o novo Jato Cargueiro Militar KC-390 da Embrer; o
novo Sistema de Mísseis Astros 2020 da Avibras; ou o novo submarino
nuclear brasileiro, no cumprimento, com louvor, de sua missão
constitucional.
O site SRZD, do jornalista
Sérgio Rezende, entrou em contato com oficiais militares da reserva, que
supostamente teriam "assinado" um manifesto, que circula, há algum
tempo, na internet. O texto se refere a "overdose de covardia,
cumplicidade e omissão dos comandantes militares" e afirma que, como não
há possibilidade de tirar o PT do poder, é preciso dar um golpe
militar, antes que o Brasil se transforme em uma "Cuba Continental".
Segundo
o SRZD, todos os oficiais entrevistados, incluindo alguns generais,
negaram peremptoriamente terem assinado esse "manifesto" e afirmaram já
ter entrado em contato com o Ministério do Exército, denunciando
tratar-se o e-mail que divulgava a mensagem de uma farsa e desmentindo
sua participação no suposto movimento.
Por mais
que queiram os novos hitlernautas, os militares brasileiros sabem que o
governo atual não é comunista e que o Brasil não está, como apregoam os
“aloprados” de extrema direita que tomaram conta da internet, ameaçado
pelo comunismo internacional.
Como dizer que é
comunista, um país em que os bancos lucram bilhões, todos os trimestres;
em que qualquer um — prerrogativa maior da livre iniciativa — pode
montar uma empresa a qualquer hora, até mesmo com apoio do governo e de
instituições como o Sebrae; no qual investidores de todo o mundo aplicam
mais de 60 bilhões de dólares, a cada 12 meses, em Investimento
Estrangeiro Direto; onde dezenas de empresas multinacionais se
instalam, todos os anos, junto às milhares já existentes, e mandam, sem
nenhuma restrição, a cada fim de exercício, bilhões e bilhões de dólares
e euros em remessa de lucro para e exterior?
Como
taxar de comunista um país que importa tecnologia ocidental para seus
armamentos, tanques, belonaves e aeronaves, cooperando, nesse sentido,
com nações como a França, a Suécia, a Inglaterra e os Estados Unidos?
Que participa de manobras militares com os próprios EUA, com países
democráticos da América do Sul e com democracias emergentes, como a
Índia e a África do Sul?
Baboso, atrasado,
furibundo, ignorante, permanentemente alimentado e realimentado por
mitos e mentiras espatafúrdias, que medram como fungos nos esgotos mais
sombrios da Rede Mundial, o anticomunista de teclado brasileiro é
sobretudo hipócrita e mendaz.
Nada contra alguém ser de direita, desde que se obedeçam as regras estabelecidas na Constituição
Ele
acredita "piamente" que Dilma Rousseff assaltou bancos e matou pessoas e
que José Genoino esquartejou pessoalmente um jovem, começando
sadicamente pelas orelhas, quando não existe nesse sentido nenhum
documento da ditadura militar.
Ele vê em um
site uma foto da Escola Superior de Agricultura da USP, a Esalq, situada
em Piracicaba, e acredita, também, "piamente", que é uma foto da mansão
do "Lulinha", que teria virado o maior fazendeiro do país, junto com
seu pai, sem que exista uma única escritura, ou o depoimento — até mesmo
eventualmente comprado — de um simples peão de fazenda ou de um
funcionário de cartório, que aponte para alguma prova ou indício disso,
como de outras "lendas urbanas", como a participação da família do
ex-presidente da República na propriedade de um grande frigorífico
nacional.
Ele crê, piamente, e divulga isso,
todo o tempo, que todos os 600 mil presos brasileiros têm direito a
auxílio-reclusão quando quase 50% deles sequer foram julgados, e menos
de 7% recebem esse benefício, e mesmo assim porque contribuíram
normalmente, antes de serem presos, para a Previdência, durante anos,
como qualquer trabalhador comum.
Nada contra
alguém ser de direita, desde que se obedeçam as regras estabelecidas na
Constituição. Nesse sentido, o senhor Jair Bolsonaro presta um serviço à
democracia quando diz que falta, no Brasil, um partido com essa
orientação ideológica, e já se declara candidato à Presidência, por essa
provável agremiação, ou por essa parcela do eleitorado, no pleito de
2018.
Os mesmos internautas que pensam que
Cuba é uma ditadura contagiosa e sanguinária, da qual o Brasil não pode
se aproximar, ligam para os amigos para se gabar de seu novo smartphone
ou do último gadget da moda, Made in República Popular da China, que
acabaram de comprar.
Eles são os mesmos que leem
os textos escritos, com toda a iberdade, pela opositora cubana Yoami
Sanchez — já convenientemente traduzidos por "voluntários" para 18
diferentes idiomas — e não se perguntam, por que, sendo Cuba uma
ditadura, ela está escrevendo de seu confortabilíssimo, para os padrões
locais, apartamento de Havana, e não pendurada em um pau de arara, ou
tomando choques e sendo espancada na prisão.
Mas
fingem ignorar que 188 países condenaram, na semana passada, em
votação de Resolução da ONU, o embargo dos Estados Unidos contra Cuba,
exigindo o fim do bloqueio.
Ou que os EUA
elogiaram e agradeceram a dedicação, qualidade e profissionalismo de
centenas de médicos cubanos enviados pelo governo de Havana para
colaborar, na África, com os Estados Unidos, no combate à pandemia e
tratamento das milhares de vítimas do ebola.
Ou que a Espanha direitista de Mariano Rajoy, e não a Coreia do Norte, por exemplo, é o maior sócio comercial de Cuba.
Ou
que há poucos dias acabou em Havana a XXXIII FIHAV, uma feira
internacional de negócios com 4.500 expositores de mais de 60 países —
aproximadamente 90% deles ocidentais — com a apresentação, pelo governo
cubano, a ávidos investidores estrangeiros, como os italianos,
canadenses e chineses, de 271 diferentes projetos de infraestrutura, com
investimento previsto de mais de 8 bilhões de dólares.
Radical,
anacrônica, desinformada e mais realista que o rei, a minoria
antidemocrática que vai, eventualmente, para as ruas e se manifesta
raivosamente na internet querendo falar em nome do país e do PSDB,
pedindo o impeachment da presidente da República e uma intervenção
militar, ou dizendo que é preciso se armar para uma guerra civil,
baseia-se na fantasia de que a nação está dividida em duas e que houve
fraude nas urnas, mas se esquece, no entanto, de um "pequeno" detalhe:
quase um terço dos eleitores, ou mais de 31 milhões de brasileiros,
ausentes ou donos de votos brancos e nulos, não votaram nem em Dilma nem
em Aécio, e não podem ser ignorados, como se não existissem, quando se
fala do futuro do país.
Cautelosa e consciente
da existência de certos limites intransponíveis, impostos pelo pudor e
pela razão, a oposição tem se recusado a meter a mão nessa cumbuca,
fazendo questão de manter razoável distância desse pessoal.
Guindado,
pelo voto, à posição de líder inconteste da oposição, o senador Aécio
Neves, presidente do PSDB, por ocasião de seu primeiro discurso depois
do pleito, no Congresso, disse que respeita a democracia permanentemente
e que "qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer
tipo de retrocesso terá a nossa mais veemente oposição. Eu fui o
candidato das liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem
de forma autoritária e truculenta estão no outro campo político, não
estão no nosso campo político".
Antes dele,
atacado por internautas, por ter classificado de "antidemocráticas" as
manifestações pedindo o impeachment da presidente Dilma e a volta do
autoritarismo, o sociólogo Xico Graziano, também do PSDB, já tinha
afirmado que "a truculência dessa cambada fascista que me atacou passa
de qualquer limite civilizado. No fundo, eles provaram que eu estava
certo: não são democratas. Pelo contrário, disfarçam-se na liberdade
para esconder seu autoritarismo".
E o
vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman, também negou, no dia
primeiro, em São Paulo, que o partido ou a campanha de Aécio Neves
estivessem por trás ou apoiassem — classificando-as de "irresponsáveis" —
as manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
É
extremamente louvável a iniciativa do presidente da OAB, Marcus
Vinícius Furtado Côelho, de pedir a investigação e o indiciamento, que
já estão em curso, pela Polícia Federal, com base na Lei do Racismo por
procedência, dos internautas responsáveis pela campanha contra os
nordestinos, lançada logo após a divulgação do resultado da eleição.
Mas,
se essa campanha é grave, mais grave ainda, para toda a sociedade
brasileira, tem sido a pregação constante, que já ocorre há anos, pelos
mesmos internautas, da realização de um Golpe de Estado, do assassinato
e da tortura de políticos e intelectuais de esquerda, e de "políticos"
de modo geral, além do apelo à mobilização para uma guerra civil,
incluindo até mesmo a sugestão da compra de armas para a derrubada das
instituições.
Cabe ao STF, ao Ministério
Público, ao TSE, e aos tribunais eleitorais dos estados, que estão
diretamente afeitos ao assunto, e à OAB, por meio de seus dirigentes,
pedir, como está ocorrendo nos casos de racismo, a imediata
investigação, e responsabilização, criminal, dos autores desses
comentários, cada vez mais rançosos e afoitos, devido à impunidade, e o
estabelecimento de multas para os veículos de comunicação, que os
reproduzem, já que na maioria deles existem mecanismos de "moderação"
que não têm sido corretamente aplicados nesses casos.
A
Lei 7.170 é clara, e define como "crimes contra a Segurança Nacional e
a Ordem Política e Social, manifestações contra o atual regime
representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito".
Há
mais de 30 anos, pelas mãos de Tancredo Neves e de Ulisses Guimarães —
em uma luta da qual Aécio também participou — e de milhões de cidadãos
brasileiros, que foram às ruas, para exigir o fim do arbítrio e a volta
do Estado de Direito, o Brasil reconquistou a democracia, pela qual
havia lutado, antes, a geração de Dilma Rousseff, José Dirceu, José
Serra e Aluísio Nunes, entre outros.
Por mais
que se enfrentem, agora, essas lideranças, não dá para apagar, de suas
biografias, que todos tiveram seu batismo político nas mesmas
trincheiras, enfrentando o autoritarismo.
Cabe
a eles, principalmente os que ocupam, neste momento, alguns dos mais
altos cargos da República, assumir de uma vez por todas sua
responsabilidade na defesa e proteção da democracia, para que a
Liberdade e o bom-senso não esmoreçam, nem desapareçam, imolados no
altar da imbecilidade.
Jornalistas, meios de
comunicação, Judiciário, militares, Ministério Público, Congresso,
Governo e Oposição, precisamos, todos, derrubar os pilares da estupidez,
erguidos com o barro pisado, diuturnamente, pelas patas do ódio e da
ignorância, antes que eles ameacem a estabilidade e a sobrevivência da
nação, e da democracia.
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