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TODOS SOLTOS
TODOS SOLTOS!
O jornalista, escritor
e colunista da Folha de São Paulo, Elio Gaspari, publicou um artigo
neste jornal no último domingo (19), em que faz um inventário dos
casos de corrupção durante o governo FHC, envolvendo diretamente os
tucanos. o Artigo de Gaspari é uma contribuição importante para a
memória nacional e para a desmistificação do falso moralismo
tucano. Por isso acreditamos que o PSDB não é alternativa para
combater a corrupção no Brasil. O que precisamos de fato é de
pressão social por uma reforma política democrática, que acabe com
o financiamento privado de campanha e estabeleça regras capazes de
ampliar a participação e a fiscalização popular, única forma de
se garantir uma política com ética e transparência.
Segue o artigo na
íntegra.
Elio Gaspari - Folha de
São Paulo 19/10/2014
Todos soltos, todos
soltos, até hoje
Nos debates medíocres
da TV Bandeirantes e do SBT, em que Dilma Rousseff parecia disputar a
Presidência com Fernando Henrique Cardoso e Aécio Neves parecia
lutar por um novo mandato em Minas Gerais, houve um momento
estimulante. Foram as saraivadas de cinco "todos soltos"
desferida pela doutora.
Discutia-se a corrupção
do aparelho petista e ela arrolou cinco escândalos tucanos: "Caso
Sivam", "Pasta Rosa", "Compra de votos para a
reeleição de FHC", "Mensalão tucano mineiro" e
"Compra de trens em São Paulo". A cada um, ela perguntava
onde estavam os responsáveis e respondia: "Todos soltos".
Faltou dizer: todos soltos, até hoje.
Não foi Dilma quem
botou a bancada da Papuda na cadeia, foi a Justiça. Lula e o
comissariado petista deram toda a solidariedade possível aos
companheiros, inclusive aos que se declararam "presos
políticos". Aécio também nada tem a ver com o fato de os
tucanos dos cinco escândalos estarem soltos. Eles receberam essa
graça porque o Ministério Público e o Judiciário não conseguiram
colocar-lhes as algemas. O tucanato deu-lhes graus variáveis de
solidariedade e silêncio.
Pela linha de
argumentação dos dois candidatos, é falta de educação falar dos
males petistas para Dilma ou dos tucanos para Aécio. Triste
conclusão: quando mencionam casos específicos, os dois têm razão.
A boa notícia é que ambos prometem mudar essa escrita.
A doutora Dilma listou
os cinco escândalos tucanos, todos do século passado, impunes até
hoje. Vale relembrá-los.
CASO SIVAM
Em 1993 (governo Itamar
Franco), escolheu-se a empresa americana Raytheon para montar um
sistema de vigilância no espaço aéreo da Amazônia. Coisa de US$
1,7 bilhão, sem concorrência. Dois anos depois (governo FHC), o
"New York Times" publicou que, segundo os serviços de
informações americanos, rolaram propinas no negócio. Diretores da
Thomson, que perdera a disputa, diziam que a gorjeta ficara em US$ 30
milhões. Tudo poderia ser briga de concorrentes, até que um tucano
grampeou um assessor de FHC e flagrou-o dizendo que o projeto
precisava de uma "prensa" para andar. Relatando uma
conversa com um senador, afirmou que ele sabia "quem levou
dinheiro, quanto levou".
O tucano grampeado voou
para a Embaixada do Brasil no México, o grampeador migrou para o
governo de São Paulo e o ministro da Aeronáutica perdeu o cargo.
Só. FHC classificou o noticiário sobre o assunto como
"espalhafatoso".
PASTA ROSA
Em agosto de 1995, FHC
fechou o banco Econômico. Estava quebrado e pertencia a Ângelo
Calmon de Sá, um príncipe da banca e ex-ministro da Indústria e
Comércio. Numa salinha do gabinete do doutor, a equipe do Banco
Central que assumiu o Econômico encontrou quatro pastas, uma da
quais era rosa. Nelas estava a documentação do ervanário que a
banca aspergira nas eleições de 1986, 1990 e 1994. Tudo direitinho:
59 nomes de deputados, 15 de senadores e 10 de governadores, com
notas fiscais, cópias de cheques e quantias. Serviço de banqueiro
meticuloso. Havia um ranking com as cotações dos beneficiados e
alguns ganharam breves verbetes. No caso de um deputado, registravam
43 transações, 12 com cheques.
Nos três pleitos, esse
pedaço da banca deve ter queimado mais de US$ 10 milhões. A
papelada tornara-se uma batata quente nas mãos da cúpula do Banco
Central. De novo, foi usada numa briga de tucanos e deu-se um
vazamento seletivo. Quando se percebeu que o conjunto da obra
escapara ao controle, o assunto começou a ser esquecido. FHC
informou que os responsáveis pela exposição pagariam na forma da
lei: "Se for cargo de confiança, perdeu o cargo na hora; se for
cargo administrativo, será punido administrativamente". Para
felicidade da banca, deu em nada.
COMPRA DE VOTOS PARA A
REELEIÇÃO DE FHC
Em maio de 1997, os
deputados Ronivon Santiago e João Maia revelaram que cada um deles
recebera R$ 200 mil para votar a favor da emenda constitucional que
criou o instituto da reeleição dos presidentes e governadores.
Ronivon e Maia elegiam-se pelo Acre e pertenciam ao PFL, hoje DEM.
Foram expulsos do partido e renunciaram aos mandatos. Ronivon voltou
à Câmara em 2002. De onde vinha o dinheiro, até hoje não se sabe.
MENSALÃO TUCANO
MINEIRO
Em 1998, Eduardo
Azeredo perdeu para o ex-presidente Itamar Franco a disputa em que
tentava se reeleger governador de Minas Gerais. Quatro anos depois,
elegeu-se senador e tornou-se presidente do PSDB. Em 2005, quando já
estourara o caso do mensalão petista, o nome de Azeredo caiu na roda
das mágicas de Marcos Valério. Quatro anos antes de operar para o
comissariado, ele dava contratos firmados com o governo de Azeredo
como garantia para empréstimos junto ao banco Rural (o mesmo que
seria usado pelos comissários.) O dinheiro ia para candidatos da
coligação de Azeredo. O PSDB blindou o senador, abraçou a tese do
"caixa dois" e manteve-o na presidência do partido durante
três meses.
Quando perdeu a
solidariedade de FHC, Azeredo disse que, durante a disputa de 1998,
ele "teve comitês bancados pela minha campanha". Em
fevereiro passado, o Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia do
procurador-geral contra Azeredo e ele renunciou ao mandato de
deputado federal (sempre pelo PSDB). Com isso, conseguiu que o
processo recomeçasse na primeira instância, em Minas Gerais. Está
lá.
COMPRA DE TRENS EM SP
Assim como o caso
Sivam, o fio da meada da corrupção para a venda de equipamentos ao
governo paulista foi puxado no exterior. O "Wall Street Journal"
noticiou em 2008 que a empresa Alstom, francesa, molhara mãos de
brasileiros em contratos fechados entre 1995 e 2003. Coisa de US$ 32
milhões, para começar. O Judiciário suíço investigava a Alstom e
tinha listas com nomes e endereços de pessoas beneficiadas. Um
diretor da filial brasileira foi preso e solto. Outro, na Suíça,
também foi preso e colaborou com as autoridades.
Um aspecto interessante
desse caso está no fato de que a investigação corria na Suíça,
mas andava devagar em São Paulo. Outras maracutaias, envolvendo
hierarcas da Indonésia e de Zâmbia, resultaram em punições. Há
um ano a empresa alemã Siemens, que participava de consórcios com a
Alstom, começou a colaborar com as autoridades brasileiras e expôs
o cartel de fornecedores que azeitava contratos com propinas que
chegavam a 8,5%.
Em 2008, surgiu o nome
de Robson Marinho, chefe da Casa Civil do governo de São Paulo entre
1995 e 2001, nomeado ministro do Tribunal de Contas do Estado. Em
março passado, os suíços bloquearam uma conta do doutor num banco
local, com saldo de US$ 1,1 milhão. Ele nega ser o dono da arca,
pela qual passaram US$ 2,7 milhões. (Marinho tem uma ilha em
Paraty.) O Ministério Público de São Paulo já denunciou 30
pessoas e 12 empresas. Como diz a doutora, "todos soltos".
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