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por
Rui Martins, Direto da
Redação
segunda-feira, 23 de dezembro de 201
“A Suíça não
tem mais segredo bancário. É verdade mesmo ? Sim, porém é uma verdade relativa,
acabou o segredo bancário para os europeus e para os estadunidenses. Ou seja, o
segredo vai continuar para os africanos, os asiáticos e para... os brasileiros
!
O governo dos EUA, que é
extremamente severo em termos de pagamento dos impostos, descobriu que os
bancos suíços, entre eles o maior banco suíço o UBS, andaram abrindo contas
secretas para cidadãos norteamericanos, permitindo-lhes burlar o fisco.
Isso graças a vazamentos de
nomes e contas gravados em Cds e vendidos por funcionários e informáticos
desses bancos à Alemanha e França, mas que acabaram indo parar nos
departamentos de impostos de outros países europeus e a onda chegou aos EUA.
O leão norte-americano, mais
voraz e mais forte, como o leão da fábula de La Fontaine, não teve
dúvidas e, em lugar de comprar Cds piratas, intimou a Suíça e os bancos suíços
para entregarem tudo na bandeja, tipo nomes dos clientes e valor das contas. No
começo, a Suíça quis rejeitar em nome de soberania e os bancos rosnaram que
isso seria um desrespeito e uma traição aos clientes, porém o fisco
norteamericano tratou a ambos como ladrões e cúmplices de evasão fiscal. Se não
obedecessem teriam multas colossais e a proibição de haver bancos suíços nos
EUA.
Os parlamentares
esbravejaram, bronquearam, mas os bancos foram enviando discretamente os nomes
de seus clientes norteamericanos. Alguns correram se autodenunciar para escapar
da prisão, porque nos EUA jamais haveria essa história da Globo Televisão,
Rádio e Jornal esquecer de pagar impostos, outros já estão com processo e risco
de perderem o que depositaram na Suíça mais uns anos de prisão.
Faz alguns dias, um dos mais
importantes diretores do UBS, o número 3 em importância, Raoul Weil foi preso e
compareceu diante do juiz como qualquer ladrãozinho de galinhas – algemado e de
pés travados. Embora soubesse estar com o nome na Interpol e ser procurado a
pedido do leão norteamericano, Raoul Weil, que deve ganhar mais de um milhão
por mês, bobeou e foi com a esposa fazer turismo na Itália, hospedando-se num
hotel de luxo, onde foi acordado de madrugada pela Polícia italiana e, depois
de um rápido processo, foi extraditado para os EUA.
Milionários alemães e
franceses, mesmo espanhóis, têm vivido pesadelos desde que vazaram suas contas
secretas para os fiscos de seus países. E os governos não brincaram – ou se
autodenunciavam, tendo multa menor, ou perderiam tudo. É aquela história dos
que tendo muito querem ainda mais.
Embora nadando no luxo, comendo do bom e do
melhor, não queriam pagar imposto de renda e de fortuna, esquecendo-se que seus
países precisam dos impostos para os programas sociais e mesmo para o
desenvolvimento.
Essa história envolve
bilhões de dólares. Ninguém precisa ficar com dó dessas pessoas porque são
multimilionários.
Porém, existe para os bancos
suíços a outra possibilidade – a de continuar usando a oferta da conta secreta
para os cidadãos dos países fora da União Européia e dos EUA. E entre os
favorecidos estão os milionários brasileiros, entre eles muitos militares da
época da ditadura e quase todos nossos valentes e previdente políticos, quem
sabe até de esquerda.
Quando escrevi meu livro
Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas secretas do Maluf, havia 130
bilhões de dólares de brasileiros nos cofres suíços. Só isso 130 bilhões de
dólares. Vez ou outra, surgem na imprensa casos de brasileiros autuados na
Suíça por utilizarem dinheiro da fraude, como comissões nas concorrência de obras
públicas, mas nunca sobre brasileiros que colocaram seu capital na Suíça em
operações de evasão fiscal. Existe numerosas maneiras para se exportar o
dinheiro brasileiro para a Suíça, alguns grandes bancos estrangeiros e mesmo
nacionais se encarregam, sem o risco dos doleiros.
O caso mais conhecido, porém
se tratam de pequenas contas comparadas com as dos privatizadores da riqueza
nacional, é o do ex-governador biônico e prefeito Paulo Maluf. Embora tenha
sido a própria Suíça a delatora, até hoje o dinheiro bloqueado não foi
devolvido a São Paulo porque não se concluiu no famoso STF, que pelo jeito só
se apressou com os chamados mensaleiros. O STF teria de condenar Maluf, na
última instância, e com base nisso São Paulo poderia pedir à Suíça o que restou
por lá do dinheiro bloqueado, mas transferido a tempo para a Ilha de Jersey.
O ano que vem, vai fazer dez
anos o bloqueio e a Suíça não terá outra solução senão a de levantar o bloqueio
e transformar o dinheiro em contas normais.
Para terminarem as contas secretas
dos brasileiros na Suíça, o governo deveria fazer como a UE e os EUA – assinar
um acordo bilateral pelo qual os impostos seriam devidos ao Brasil seriam
retirados das contas dos brasileiros ou, então, informar ao fisco brasileiro
sobre as contas dos brasileiros para os impostos serem pagos no Brasil.
E vocês acreditam que um dia
o governo brasileiro fará isso ? No mesmo livro citado, lembrei ao fisco
brasileiros que Paulo Roberto de Andrade, dono da falida empresa Boi Gordo,
tinha conta em Miami, nos EUA, que não foi incluída no total da concordata para
pagamentos dos credores e das coitadas das 30 mil pessoas que acreditaram ou
foram induzidas a acreditar nos bois gordos.
Houve alguma reação ?
Nenhuma, tanto que Paulo Roberto de Andrade foi mesmo absolvido penalmente e a
concordata ficou só no plano civil. Quem sabe algum dia, antes do fim do mundo,
os pobres credores irão receber 10 ou 20% do que investiram. Mas sobre a conta
na qual muitos depositaram em Miami, nem sinal e nem sindicância. Isso é o Brasil
mesmo com governo de esquerda.
Quem sabe, se muita gente
acredita em Papai Noel
e mesmo em Deus, haverá neste ano de 2014 um político, um ministro, alguém, que
acione a necessidade do Brasil celebrar um acordo bilateral com a Suíça pondo
fim ao segredo bancário no estilo dos acordos com os EUA e com a UE. Seria a
maneira de se recuperar 130 bilhões de dólares, que já devem ser muito mais.
Porém, infelizmente todo
mundo tem o rabo preso e eu sinceramente não acredito. Maluf recuperará seus
milhões, Roberto de Andrade continuará rindo dos otários que acreditaram no boi
gordo, todos saberão que os privatizadores têm conta na Suíça, mas nem
deputados e nem ministros não farão nada para isso mudar, porque é provável
que, numa quantia menor, mas quase todos já têm também sua conta secreta na
Suíça.”
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