Via O Diário.info
James Petras
A
expansão do império americano através do norte de África e Médio
Oriente foi montada com o armamento e financiamento de estados-vassalos
para servirem de postos avançados. O arco de bases militares imperiais
americanas que se estende do Egipto, através de Israel, da Turquia, da
Jordânia, do Iémen, do Iraque, do Bahrain e da Arábia Saudita, está
protegido por uma série de campos prisionais contendo dezenas de
milhares de prisioneiros políticos.
Introdução
Durante
o início do seu primeiro mandato, o presidente Obama prometeu “refazer o
Médio Oriente numa região de prosperidade e liberdade”. Seis anos
depois, a realidade é totalmente contrária: o Médio Oriente é governado
por regimes despóticos cujas prisões transbordam de presos políticos. A
grande maioria dos activistas pró-democracia que foram presos foram
submetidos a duras torturas e cumprem longas penas de prisão. Os
governantes não têm legitimidade, uma vez que tomaram o poder e o
mantiveram através de um estado policial centralizado e da repressão
militar. Decisivas para a construção da série de prisões desde o norte
de África até aos estados do Golfo são a intervenção directa de
militares americanos e da CIA, os fornecimentos maciços de armas, as
bases militares, as missões de treino e as Forças Especiais.
Prosseguiremos
documentando a escala e o alcance da repressão política em cada estado
policial apoiado pelos EUA. Descrevemos depois a escala e alcance da
ajuda militar americana de apoio a esse “refazer do Médio Oriente” numa
série de prisões políticas conduzidas pelo e para o império dos EUA.
Os
países e regimes incluem o Egipto, Israel, Arábia Saudita, Bahrain,
Iraque, Iémen, Jordânia e Turquia, todos eles promotores e defensores
dos interesses imperiais dos EUA contra a maioria pró-democracia
representada pelos seus movimentos sociopolíticos independentes.
Egipto: Estado vassalo estratégico
Desde
há muito estado vassalo e o maior país árabe do Médio Oriente, a actual
ditadura militar do Egipto que resultou de um golpe em Julho de 2013
lançou uma onda de repressão selvagem a seguir à tomada do poder. De
acordo com o Centro Egípcio dos Direitos Sociais e Económicos, foram
presos entre Julho e Dezembro de 2013 21.317 manifestantes
pró-democracia. Em Abril de 2014, foram encarcerados mais de 16.000
presos políticos. Os julgamentos sumários por tribunais ad-hoc
resultaram em penas de morte para centenas e longas penas de prisão para
a maior parte. O regime de Obama recusou chamar golpe ao derrube
militar do governo Morsi democraticamente eleito, para poder continuar a
fornecer ajuda militar à junta. Em troca, a ditadura militar continua a
apoiar o bloqueio israelita a Gaza e a apoiar as operações militares
dos EUA no Médio Oriente.
Israel: o maior carcereiro da região
Israel, cujos apoiantes nos EUA designam a “única democracia no Médio Oriente”, é de facto o maior carcereiro na região.
De
acordo com o grupo israelita de direitos humanos B’Tselm, entre 1967 e
Dezembro de 2012, foram feitos prisioneiros 800.000 palestinianos, 20%
da população. Mais de 100.000 foram mantidos em “detenção
administrativa” sem acusação ou julgamento. Quase todos foram torturados
e brutalizados. Israel tem actualmente 4.881 prisioneiros políticos nas
cadeias. O que faz do estado judeu escolhido por Deus o primeiro
carcereiro, contudo, é a manutenção de 1,82 milhões de palestinianos que
vivem em Gaza numa virtual prisão a céu aberto. Israel condiciona
viagens, comércio, construção, produção e culturas através de bloqueios e
policiamentos aéreo, marítimo e terrestre. Além disso, 2,7 milhões de
palestinianos dos Territórios Ocupados (Margem Ocidental) estão cercados
por muros como os das prisões, sujeitos a incursões militares diárias,
detenções arbitrárias e assaltos violentos pelas forças armadas
israelitas e pelos colonos israelitas vigilantes empenhados no perpétuo
despojar dos habitantes palestinianos.
Arábia Saudita: monarquia absolutista
De
acordo com o “refazer do Médio Oriente” do presidente Obama, a Arábia
Saudita figura como o “aliado mais fiel no mundo árabe”. Como estado
vassalo leal, as suas prisões transbordam de dissidentes pró-democracia
encarcerados por procurarem eleições livres, liberdades civis e o fim de
políticas misóginas. De acordo com a Comissão de Direitos Humanos
Islâmicos, os sauditas detêm 30.000 presos políticos, a maior parte
arbitrariamente detidos sem acusação ou julgamento.
A
ditadura saudita desempenha um papel principal no financiamento dos
regimes de estados policiais na região. Despejaram 15 mil milhões de
dólares nos cofres da junta do Egipto a seguir ao golpe militar, como
recompensa pela purga sangrenta em massa dos eleitos e seus apoiantes
pró-democracia. A Arábia Saudita desempenha um importante papel no apoio
ao domínio de Washington, financiando e armando “regimes carcereiros”
no Paquistão, Iémen, Bahrain, Jordânia e Egipto.
Bahrain: pequeno país – muitas prisões
De
acordo com o respeitado Centro de Direitos Humanos local, o Bahrain
possui a duvidosa distinção de ser o primeiro país globalmente em número
de presos políticos per capita. Segundo o Economist (4/2/14), o Bahrain
tem 4.000 presos políticos para uma população de 750.000. De acordo com
o Pentágono, a ditadura absolutista do Bahrain desempenha um papel
vital no proporcionar aos EUA bases aéreas e marítimas para o ataque ao
Iraque, ao Irão e ao Afeganistão. A maioria dos dissidentes
pró-democracia estão presos por procurarem acabar com a vassalagem, a
autocracia e o servilismo perante os interesses imperiais dos EUA e da
ditadura saudita.
Iraque: Abu Ghraib com caracteres árabes
Tendo
começado na invasão e ocupação americanas do Iraque em 2003 e
prosseguido com o seu vassalo primeiro-ministro Nouri Al-Maliki, dezenas
de milhares de cidadãos iraquianos foram torturados, encarcerados e
assassinados. A junta iraquiana no poder continuou a apoiar-se nas
tropas e forças especiais dos EUA e a envolver-se no mesmo tipo de
“varredelas” militares e policiais que aniquilam qualquer pretensão
democrática. Al-Maliki apoia-se em ramos especiais da sua polícia
secreta, a notória Brigada 56, para assaltar comunidades da oposição e
baluartes dissidentes. Quer o regime xiita, quer a oposição sunita se
envolvem em contínuas lutas terroristas. Ambos serviram de colaboradores
próximos de Washington em momentos diferentes.
A
lista diária de mortos é da ordem das centenas. O regime de Al- Maliki
assenhoreou-se dos centros de tortura (incluindo Abu Ghraib) e das
técnicas e prisões antes chefiadas e conduzidas pelos EUA e retiveram os
conselheiros americanos das “Forças Especiais” para a supervisão das
batidas policiais aos críticos dos direitos humanos, sindicalistas e
dissidentes democratas.
Iémen: satélite do grupo EUA-Arábia Saudita
O
Iémen foi governado durante décadas por ditadores clientes dos EUA e
Arábia Saudita. O governo autocrático de Ali Abdullah Saleh foi
acompanhado da prisão e tortura de milhares de activistas
pró-democracia, tanto seculares como religiosos, do mesmo modo que
serviu de centro clandestino de tortura para dissidentes políticos
raptados e transportados pela CIA no seu chamado programa de “rendição”.
Em 2011, apesar da prolongada e violenta repressão pelo regime de Saleh
apoiado pelos EUA, explodiu uma rebelião de massas ameaçando a
existência do Estado e as ligações aos regimes americano e saudita. Para
preservarem o seu domínio e as ligações aos militares, Washington e a
Arábia Saudita orquestraram um “rearranjo” do regime: fizeram-se
eleições manipuladas e tomou o poder um tal Abdo Rabbo Mansour Hadi,
leal amigo de Saleh e criado de Washington. Hadi continuou onde Saleh
tinha ficado: raptos, tortura e assassínio de contestantes
pró-democracia. Washington optou por chamar ao regime de Hadi “uma
transição para a democracia”. De acordo com o Yemen Times (4/5/14), mais
de 3.000 presos políticos enchem as prisões do Iémen. “Democracia de
cárcere” serve para consolidar a presença militar americana na península
da Arábia.
Jordânia: um Estado policial cliente de longa duração
Durante
mais de meio século, três gerações de monarcas absolutistas no trono da
Jordânia estiveram na lista de pagamentos da CIA e serviram os
interesses dos EUA no Médio Oriente. Os governantes vassalos da Jordânia
brutalizam os nacionalistas árabes e os movimentos de resistência
palestinianos e assinaram um chamado “acordo de paz” com Israel para
reprimirem qualquer apoio através da fronteira da Palestina e
proporcionam bases militares de apoio ao treino, armamento e
financiamento dos mercenários que invadem a Síria pelos EUA, Arábia
Saudita e UE.
A corrupta monarquia e a sua
íntima oligarquia controlam uma economia perpetuamente dependente de
subsídios estrangeiros para se manter à tona: desemprego acima dos 25% e
metade da população subsistindo na pobreza. O regime encarcerou
milhares de opositores pacíficos. De acordo com um recente relatório da
Amnistia Internacional (Jordan 2013), a ditadura do rei Abdullah
“prendeu milhares sem acusação”. A monarquia de cárcere desempenha um
papel central fortalecendo a construção do império americano no Médio
Oriente e facilitando a apropriação de terra por Israel na Palestina.
Turquia: bastião da NATO e democracia de cárcere
No
reinado do auto-intitulado “Partido Justiça e Desenvolvimento” liderado
por Tayyip Erdoğan, a Turquia transformou-se numa importante base
operacional militar para a invasão da Síria apoiada pela NATO. Erdoğan
tem tido as suas diferenças com os EUA, especialmente o esfriar de
relações da Turquia com Israel sobre a apreensão pela última de um navio
turco em águas internacionais e o assassínio de nove activistas
humanitários turcos desarmados. Mas, à medida que a Turquia se tornou
mais dependente dos fluxos internacionais de capital e da integração em
guerras internacionais da NATO, Erdoğan tornou-se mais autoritário.
Enfrentando desafios populares em larga escala à sua privatização
arbitrária de espaços públicos e a despejos em bairros da classe
trabalhadora, Erdoğan lançou uma purga da sociedade civil, dos
movimentos de classe e das instituições do Estado. Em face das
manifestações pró-democracia de grande dimensão no verão de 2013,
Erdoğan desencadeou um assalto selvagem aos dissidentes. De acordo com
os grupos de direitos humanos, mais de 5.000 pessoas foram presas e
8.000 feridos durante os protestos no Parque Gezi. Antes, Erdoğan
estabeleceu “Tribunais Autorizados Especiais” que organizaram
julgamentos políticos de fachada baseados em provas falsificadas que
facilitavam a detenção e prisão de centenas de oficiais militares,
activistas partidários, sindicalistas, advogados de direitos humanos e
jornalistas, em particular os críticos do seu apoio à guerra contra a
Síria. Apesar da retórica conciliatória, as prisões de Erdogan encerram
vários milhares de dissidentes curdos, incluindo ativistas eleitorais e
juristas (Global Views 10/17/12).
Enquanto
Erdoğan serviu como âncora islamita leal e capaz contra os movimentos
populares democráticos e nacionalistas no Médio Oriente, a sua procura
de maior influência turca na região levou os EUA a aprofundar os laços
políticos com o movimento Gulenista mais submisso, pró- Washington e
pró- Israel, infiltrado no aparelho de Estado, no comércio e no ensino.
Este movimento adoptou uma estratégia permeacionista: sanear os
adversários na sua marcha tranquila para o poder por dentro do Estado.
Os EUA apoiam-se ainda na “democracia de cárcere” de Erdoğan para
reprimir movimentos anti-imperialistas na Turquia, para servir de âncora
militar para a guerra contra a Síria, para apoiar sanções contra o Irão
e para apoiar o regime pró-NATO de Maliki no Iraque.
O super-guantánamo* do Médio Oriente e a ajuda militar americana
Os
regimes de Estado policial e a cultura política autoritária de longo
prazo no mundo árabe são um produto do apoio militar de longo prazo dos
EUA aos governos despóticos. A ausência de democracia é uma condição
necessária para a expansão e o avanço da presença militar imperial dos
EUA na região.
Um pequeno exército de
universitários, “peritos”, jornalistas e pânditas islamofóbicos dos
media americanos ignoram totalmente o papel dos EUA na promoção, apoio e
reforço de ditadores reinantes e na repressão de movimentos de massas
profundamente democráticos que têm surgido ao longo de um grande período
de tempo. Tendo como pontas de lança escribas e académicos desde sempre
pró-Israel de universidades da Ivy League no Médio Oriente, estes
propagandistas clamam que as ditaduras árabes são um produto da “cultura
islâmica” ou da “personalidade autoritária dos árabes” em busca de um
“homem forte” que os guie e governe. Ignorando ou distorcendo a história
das lutas da classe trabalhadora e os protestos e posições
pró-democracia em todos os principais países árabes, estes intelectuais
justificam as ligações americanas às ditaduras como “política realista”
dadas as “opções disponíveis”. Onde quer que a real democracia comece a
emergir e onde os direitos políticos comecem a ser exercidos, Washington
promove golpes e intervém para apoiar o aparelho repressivo estatal
(Bahrain 2011-14, Iémen 2011 a 2014, Egipto 2013, Jordânia 2012, entre
muitos outros casos). Enquanto a maioria dos “peritos” sobre o Médio
Oriente responsabilizam os cidadãos árabes pelos regimes autoritários,
ignoram completamente e encobrem a maioria racista de Israel que apoia
solidamente o encarceramento e tortura de centenas de milhares de
palestinianos pró-democracia.
Perceber o
super-guantánamo* do Médio Oriente requer uma discussão da “política de
ajuda” que é central para a sustentação dos “regimes carcereiros”.
A ajuda dos EUA ao Egipto: milhares de milhões para ditadores
O
Estado policial egípcio é uma âncora do “arco imperial” dos EUA desde o
norte de África até ao Médio Oriente. O Egipto esteve activamente
empenhado na desestabilização da Líbia, do Sudão, do Líbano, da Síria e
colaborou com o desalojamento dos palestinianos por Israel. A ditadura
de Mubarak recebeu de Washington 2 mil milhões de dólares por ano –
cerca de 65 mil milhões para os seus serviços imperiais. A ajuda dos EUA
reforçou a sua capacidade para encarcerar e torturar ativistas
pró-democracia e sindicalistas. Washington prosseguiu o apoio militar ao
regime ditatorial depois do golpe militar contra o primeiro governo
democraticamente eleito do Egipto na ordem de 1,55 mil milhões de
dólares para 2014. Apesar dos “sinais de preocupação” pelo assassínio de
milhares de manifestantes pró-democracia pelo novo homem forte militar,
general Abdul Fattah al-Sisi, não houve qualquer corte no financiamento
para o chamado “contra-terrorismo” e “segurança”. Para continuar a
financiar a ditadura sob legislação do Congresso dos EUA, Washington
recusou caracterizar a tomada violenta do poder como golpe, referindo-se
a ela como uma “transição para a democracia”. O papel chave do Egipto
na política externa dos EUA é a protecção do flanco ocidental de Israel.
A ajuda dos EUA ao Egipto é produto da pressão e influência da
configuração de poder sionista no Congresso e na Casa Branca. A ajuda
dos EUA está dependente do “policiamento” da fronteira de Gaza pelo
Egipto, garantindo que o bloqueio por Israel é efectivo. A Casa Branca
apoia a repressão pelo Cairo da maioria nacionalista e anticolonial dos
egípcios contrária ao desalojamento dos palestinianos. Uma vez que são
os interesses israelitas a definir a política externa dos EUA no Médio
Oriente, o financiamento por Washington da ditadura carcereira do Egipto
está de acordo com a estratégia sionista de Washington.
Israel: o pivot americano no Médio Oriente
A
maior parte dos especialistas independentes e conhecedores concordam
que a política dos EUA no Médio Oriente é largamente ditada por uma
multidão de fiéis sionistas que ocupam posições-chave de tomada de
decisão no Tesouro, no Departamento de Estado, no Pentágono e no
Comércio, assim como pelo domínio do Congresso pelos presidentes das 52
maiores organizações americano-judaicas e respectivos 171.000 ativistas
pagos a tempo inteiro. Enquanto existe alguma verdade no que alguns
críticos citam como divergência entre o “real interesse nacional” dos
EUA e as ambições coloniais de Israel, o facto é que os dirigentes dos
EUA em Washington entendem haver convergência entre o domínio imperial e
o militarismo israelita. Na verdade, um Egipto submisso serve os
interesses imperiais mais vastos dos EUA e os interesses coloniais de
Israel. A guerra de Israel no Líbano contra o movimento
anti-imperialista Hezbollah serviu tanto os esforços dos EUA para
instalarem um cliente dócil, como os esforços de Israel para destruírem
um partidário da autodeterminação palestiniana. A divergência de
Washington com Israel sobre o despojamento de todos os palestinianos por
Israel vai contra o interesse de Washington num mini-estado
palestiniano governado por funcionários árabes neocoloniais. Em
resultado da influência sionista, Israel é o maior beneficiário per
capita de ajuda americana no mundo, apesar de possuir um nível de vida
mais elevado do que 60% dos cidadãos americanos. Entre 1985-2014, Israel
recebeu mais de 100 mil milhões de dólares, dos quais 70% para fins
militares, incluindo a mais avançada alta tecnologia sobre armas.
Israel, que é o país com o record mundial de presos políticos e ataques
militares contra países vizinhos nos últimos quarenta anos, tem também o
record de ajuda militar americana. Israel, como primeira “democracia
carcereira” é um elo chave no super-guantánamo* que se estende do norte
de África até aos estados do Golfo.
Arábia Saudita
A
Arábia Saudita compete com Israel como centro de encarceramento de
dissidentes pró-democracia. Os sauditas reciclam centenas de milhares de
milhões de petro-rendas através da Wall Street, enriquecendo déspotas
sauditas locais e banqueiros de investimento pró-israelitas no
estrangeiro. A convergência saudis-EUA-Israel é mais do que
circunstancial. Partilham interesses militares na guerra contra os
movimentos árabes pró-independência e pró-democracia através do Médio
Oriente. A Arábia Saudita alberga a maior base militar dos EUA e as
maiores operações de espionagem no Golfo. Apoiou a invasão do Iraque.
Financia milhares de mercenários islâmicos na guerra por procuração dos
EUA-NATO contra a Síria. Invadiu o Bahrain para esmagar o movimento
pró-democracia. Intervém com Washington em apoio ao estado policial do
Iémen. É o maior e mais lucrativo mercado para o complexo
militar-industrial dos EUA. As vendas militares dos EUA entre 1951-2006
totalizaram 80 mil milhões de dólares. Em Outubro de 2010, assinou a
compra de 60,5 mil milhões de armas e serviços aos EUA.
Bahrain: um porta-aviões dos EUA com nome de país
O
Bahrain serve de base naval da 5ª Frota dos EUA e é uma base
operacional para atacar o Irão. Tem estado ao serviço da ocupação do
Afeganistão e do controle americano das rotas de transporte marítimo do
petróleo. A ditadura de Al-Khalifa está extremamente isolada, é
altamente impopular e enfrenta constante pressão da maioria
pró-democracia. Para amparar os governantes seus vassalos, Washington
aumentou as vendas militares ao pequeno estado de 400 milhões entre
1993-2000 para 1400 milhões de dólares na década seguinte. Washington
aumentou as vendas e o programa de treino militar na proporção directa
do aumento do descontentamento democrático, resultando no aumento
geométrico do número de presos políticos.
Iraque: guerra, ocupação e os campos da morte de uma democracia de cárcere
A
invasão americana e ocupação do Iraque levaram à matança de cerca de
1,5 milhões de iraquianos (a maior parte civis, não combatentes) com um
custo de 1,5 biliões (milhões de milhões) de dólares e 4.801 mortos
militares americanos. Em 2006, as “eleições” preparadas pelos EUA
levaram à instalação do regime de Maliki, suportado pelas armas, por
mercenários, por conselheiros e pelas bases americanas. De acordo com um
estudo recente para o Gabinete de Investigação do Congresso (Fevereiro
de 2014) por Kenneth Kilzman, há 16.000 militares e “empreiteiros”
americanos actualmente no Iraque. Mais de 3500 empreiteiros militares
americanos no Gabinete de Cooperação de Segurança dão apoio ao estado
policial corrupto de Maliki. A democracia de cárcere foi abastecida com
mísseis e drones americanos e mais de 10 mil milhões de dólares de
assistência militar, o que inclui 2,5 mil milhões de ajuda e 7,9 mil
milhões de vendas entre 2005-2013. Para 2014-2015, Malaki pediu 15 mil
milhões de dólares em armas, incluindo 36 aviões de combate americanos
F-16 e grande número de helicópteros de ataque Apache. Em 2013, o regime
de Malaki registou 8.000 mortes políticas resultantes da guerra
interna.
O Iraque é um centro crucial para o
controle americano do petróleo e do Golfo e como plataforma de
lançamento para atacar o Irão. Enquanto Maliki faz “gestos” para o Irão,
o seu papel como ligação avançada no gulag imperial dos EUA define a
sua “função” real na região do Golfo.
Iémen: o posto avançado militar do deserto para o super-guantánamo* americano
O
Iémen é um dispendioso posto avançado militar para o despotismo saudita
e para o poder americano na península das Arábia. Segundo o estudo
“Iémen: Bases e Relações com os EUA” de Jeremy Sharp para o Serviço de
Investigação do Congresso (2014), os EUA forneceram 1,3 mil milhões de
dólares de ajuda militar ao Iémen entre 2009-2014. A Arábia Saudita doou
3,2 mil milhões de dólares em 2012 para apoiar a ditadura de Saleh
perante um levantamento anti-ditatorial popular de massas. Washington
maquinou uma transferência de poder de Saleh para o “Presidente” Hadi e
assegurou a sua continuidade duplicando a ajuda militar para manter as
prisões cheias e a resistência em cheque. De acordo com o New York Times
(31/6/2013), Hadi era um “continuador do ditador Saleh”. A continuidade
da democracia de cárcere no Iémen é uma ligação crucial entre o eixo
Egipto-Israel-Jordânia e o super-guantánamo* imperial Bahrain-Arábia
Saudita.
Jordânia: eterno vassalo e monarquia mendicante
A
monarquia despótica da Jordânia tem estado na lista de pagamentos dos
EUA há mais de meio século. Serviu recentemente como centro de tortura
de vítimas raptadas e capturadas pelas Forças Especiais dos EUA
envolvidas no programa “rendição”. A Jordânia colaborou com Israel no
assalto e prisão de palestinianos envolvidos na luta pela liberdade.
Actualmente, a Jordânia com a Turquia servem para treino e depósito de
armas para os terroristas mercenários que invadem a Síria apoiados pela
NATO. Graças à sua colaboração com Israel, Washington e a NATO, a
corrupta monarquia de cárcere recebe ajuda militar e económica de larga
escala e a longo termo. A monarquia e a sua extensa rede de patifes,
carcereiros e família, rapam dezenas de milhões de dólares de ajuda
externa, lavados em contas estrangeiras em Londres, na Suíça, no Dubai e
em Nova Iorque. Segundo o relatório do Serviço de Investigação do
Congresso (27 Janeiro 20114), a ajuda americana à ditadura real jordana
atinge 660 milhões de dólares por ano. Uma ajuda militar adicional de
150 milhões foi canalizada para o regime com o desencadear da
intervenção da NATO na Síria. O fundo foi destinado a aumentar a
infra-estrutura à volta da fronteira Jordânia-Síria. Além disso, a
Jordânia serve de principal conduta de armas para os terroristas que
atacam a Síria: 340 milhões de dólares para “contingências no
estrangeiro” são provavelmente encaminhados através de Amman para armar
os terroristas que invadem a Síria. Em Outubro de 2012, a Jordânia
assinou acordos com os EUA permitindo que um grande contingente de
Forças Especiais estabelecesse campos de aviação e bases para
fornecimento e armamento dos terroristas.
Turquia: Estado vassalo leal com ambições regionais
Como
baluarte militar da NATO a sul, na fronteira da Rússia, a Turquia tem
estado na lista de pagamentos dos EUA há mais de 66 anos. De acordo com o
estudo recente de James Zanotti “Cooperação Turquia-EUA na Defesa:
Perspectivas e Desafios” (Serviço de Investigação do Congresso, 8 Abril
2011), em troca do apoio ao poder militar da “democracia de cárcere” da
Turquia, os EUA asseguraram uma presença militar importante, incluindo
uma grande base aérea em Incirlik, um grande centro operacional
abrigando 1800 militares americanos. A Turquia colaborou com a invasão e
ocupação americanas do Afeganistão e apoiou o bombardeamento da Líbia
pela NATO. Hoje, a Turquia é o centro militar operacional mais
importante para os terroristas jihadistas que invadem a Síria. Apesar
das periódicas e demagógicas pretensões nacionalistas do presidente
Erdoğan, os construtores do império dos EUA continuam a ter acesso às
bases turcas e a corredores de transporte para as suas guerras,
ocupações e intervenções no Médio Oriente e na Ásia central e do sul. Em
troca, os EUA instalaram sistemas de mísseis defensivos e aumentaram
largamente as vendas de armas pela chamada “assistência de segurança”.
Entre 2006-2009, as vendas militares dos EUA ultrapassaram 22 mil
milhões de dólares. Em 2013-14, as tensões entre a Turquia e os EUA
aumentaram quando Erdoğan começou a sanear o Estado de gulenistas, uma
quinta-coluna apoiada pelos EUA que infiltrava o estado turco e usava as
suas posições para apoiar uma colaboração mais próxima com os
interesses militares de Israel e dos EUA.
Conclusão
A
expansão do império americano através do norte de África e Médio
Oriente foi montada com o armamento e financiamento de estados-vassalos
para servirem de postos avançados do império. Estes regimes vassalos,
governados por monarquias ditatoriais e governantes autoritários civis e
militares, apoiam-se na força e na violência para sustentar o seu
mando. Os EUA forneceram armas, conselheiros e financiamento que lhes
permitiu dominarem. O arco de bases militares imperiais americanas que
se estende do Egipto, através de Israel, da Turquia, da Jordânia, do
Iémen, do Iraque, do Bahrain e da Arábia Saudita, está protegido por uma
série de campos prisionais contendo dezenas de milhares de prisioneiros
políticos.
O empenhamento americano e a sua
penetração e presença na região são acompanhados por uma série de
democracias carcereiras e ditaduras. Ao contrário dos pânditas políticos
liberais e conservadores e dos académicos, a política americana durante
mais de 50 anos procurou activamente, instalou e protegeu tiranos
sanguinários que pilharam o tesouro público, concentraram riqueza,
entregaram a soberania e subdesenvolveram as suas economias.
Os
académicos pró-Israel em prestigiadas universidades americanas têm
sistematicamente distorcido as bases estruturais da violência, do
autoritarismo e da corrupção no mundo islâmico, responsabilizando as
vítimas, os povos turco e árabe, e ignorando o papel dos construtores do
império americano no financiamento e no armamento de governos
autoritários civis e militares e de monarquias absolutistas e
respectivos militares, funcionários judiciais e policiais corruptos.
Ao
contrário dos enganadores volumes publicados pelas prestigiosas
imprensas universitárias e escritos por altamente respeitados
propagandistas políticos pró-Israel, o refazer do Médio Oriente depende
da força das correntes democráticas na sociedade islâmica. Elas
encontram-se nos movimentos estudantis, entre os sindicalistas e os
desempregados, nos intelectuais nacionalistas e nas forças seculares e
islâmicas que se opõem ao Império dos EUA por razões muito práticas e
óbvias. Junto com Israel, os EUA são os principais organizadores da
vasta cadeia de campos prisionais políticos que destroem as mais
criativas e dinâmicas forças na região. Mais vassalagem árabe provoca a
explosão periódica da vibrante cultura e movimento democráticos, embora
infelizmente também resulte em maior ajuda militar e presença dos EUA. O
verdadeiro choque de civilizações é entre as aspirações democráticas
das classes populares orientais e o profundamente imbuído autoritarismo
do imperialismo euro-americano.
*Nota do
tradutor: O Autor usa de forma infeliz o termo “gulag” para designar o
carácter concentracionário da região, palco de ditaduras sanguinárias
protegidas pelos EUA e suas aliadas, onde a luta pela democracia é
barbaramente reprimida, não obstante toda a retórica da propaganda
“democrateira” que acompanha as intervenções imperialistas na região.
Símbolo por símbolo, e na convicção de que é respeitado o sentido que o
autor imprime à sua análise, em alternativa e com maior propriedade
“gulag” foi substituído por “super-guantánamo”. JV
Tradução: Jorge Vasconcelos
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