buscado no Gilson Sampaio
Via Sul 21
“Nós
vamos fazer uma chamada de experiências de sustentabilidade no Estado.
Nós não estamos reinventando a roda, queremos pegar essa massa de
conhecimento e socializar por meio de um banco de dados na internet. A
ideia é oferecer experiências para que as pessoas possam adaptar de
acordo com sua própria realidade.”
Plano
RS Sustentável quer mudar atual padrão de produção e consumo de
alimentos no RS, explica ambientalista | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Marco Aurélio Weissheimer
Coordenador
do Grupo de Trabalho criado pelo governador Tarso Genro para formular o
Plano Rio Grande do Sul Sustentável, Francisco Milanez apresentou no
dia 9 de agosto os quatro princípios que devem orientar a elaboração
desse plano: ser ambientalmente sustentável, socialmente justo,
economicamente viável e culturalmente respeitoso. As propostas de ações e
políticas apresentadas envolvem as áreas de meio ambiente, saúde,
tecnologia e educação. Uma delas prevê o incentivo em alta escala do
consumo de alimentos orgânicos no Estado.
Em entrevista ao Sul21,
Milanez fala sobre a elaboração do Plano RS Sustentável e um de seus
principais objetivos: mudar o atual padrão de produção e consumo que
provoca sérios problemas de saúde, como doenças degenerativas, obesidade
infantil e adulta, reduzindo a qualidade de vida. “Podemos fazer uma
revolução nesta área. Temos condições tecnológicas, físicas e comerciais
para fazer uma mudança radical na alimentação da população do Rio
Grande do Sul. Não há nenhum sentido em continuarmos nos envenenando”,
defende. Milanez também fala sobre a recente saída da Associação Gaúcha
de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) do Conselho Estadual de Meio
ambiente. “Isso está sendo custoso para mim. Exatamente no momento em
que entrei para mediar aconteceram estas coisas”.
Sul21: Em que consiste e como está sendo elaborado o Plano Rio Grande do Sul Sustentável?
Francisco Milanez: Em primeiro lugar, gostaria de esclarecer que não se trata exclusivamente de um plano no sentido do planejamento tradicional, porque nós não temos tempo para isso. Trata-se, na verdade, de um planejamento que começa com ações. É algo como trocar o pneu com o carro andando. Estou trabalhando para fazer uma integração entre várias secretarias e órgãos do Estado que estão demandando coisas diferentes. Essa é uma construção para uns dois ou três anos, de modo que possamos ter uma base de planejamento geo-referenciada de altíssima qualidade, cuja meta é deixar muito bem definido para qualquer investidor, daqui ou de fora do Estado, o que pode e o que não pode ser feito em cada região e que tipo de investimento interessa ao Estado e em que regiões.
Francisco Milanez: Em primeiro lugar, gostaria de esclarecer que não se trata exclusivamente de um plano no sentido do planejamento tradicional, porque nós não temos tempo para isso. Trata-se, na verdade, de um planejamento que começa com ações. É algo como trocar o pneu com o carro andando. Estou trabalhando para fazer uma integração entre várias secretarias e órgãos do Estado que estão demandando coisas diferentes. Essa é uma construção para uns dois ou três anos, de modo que possamos ter uma base de planejamento geo-referenciada de altíssima qualidade, cuja meta é deixar muito bem definido para qualquer investidor, daqui ou de fora do Estado, o que pode e o que não pode ser feito em cada região e que tipo de investimento interessa ao Estado e em que regiões.
Isso
falando em médio e longo prazo. Em curto prazo, estamos começando a
implementar ações que são indiscutíveis, sobre as quais não é preciso
ficar trinta anos planejando para chegar a uma conclusão. Por exemplo,
sabemos que pela revolução provocada nos oito últimos anos pela
bio-mineralização, a agricultura orgânica hoje pode ser uma agricultura
de massa, em grande escala, com grande qualidade de produtos, inclusive
fazendo com que o Brasil deixe de ser um importador de insumos para a
agricultura e se torne autossuficiente nesta área. Podemos fazer uma
revolução nesta área. Temos condições tecnológicas, físicas e comerciais
para fazer uma mudança radical na alimentação da população do Rio
Grande do Sul. Não há nenhum sentido em continuarmos nos envenenando.
“O
grande discurso da indústria dos agrotóxicos sempre foi dizer que esses
produtos eram necessários para não faltar alimentos. Hoje, temos todas
as condições de produzir alimentos sem agrotóxicos” | Foto: Ramiro
Furquim/Sul21
O grande discurso da indústria
química dos agrotóxicos sempre foi dizer que esses produtos eram
necessários para não faltar alimentos. Hoje, temos todas as condições de
produzir alimentos sem agrotóxicos. Não estou falando das commodities, mas sim de alimentos. O que nós estamos discutindo são as formas de acelerar esse processo.
Sul21:
Do ponto de vista das políticas públicas, o que é necessário para
tornar essa meta realidade? E o que é exatamente o “curto prazo” neste
plano?
Francisco Milanez: Se não dependesse do ser humano, em três, quatro anos poderíamos ter toda essa agricultura convertida no Estado. Isso levando em conta o tempo mínimo de limpeza do solo para que ele volte a ser orgânico. Nesse período, já teríamos alimentos pré-orgânicos, ou seja, criados organicamente, mas com algum nível de contaminação residual do solo. O problema é o ser humano. Aí temos que enfrentar o medo, a resistência, a ignorância, a manipulação da informação e da propaganda. O agricultor é muito abandonado. Muitas vezes, é uma pessoa isolada e seu principal amigo é o vendedor. Então, ele é dependente dos agroquímicos até por uma relação social. Nós precisamos acolher esse produtor e entender as suas dúvidas, o seu medo de mudar, a acomodação, o medo de quebrar e ficar devendo, todas essas experiências pelas quais a maioria dos agricultores já passou. Todo mundo já se atrapalhou na vida com uma safra ruim e ninguém quer repetir essa situação.
Francisco Milanez: Se não dependesse do ser humano, em três, quatro anos poderíamos ter toda essa agricultura convertida no Estado. Isso levando em conta o tempo mínimo de limpeza do solo para que ele volte a ser orgânico. Nesse período, já teríamos alimentos pré-orgânicos, ou seja, criados organicamente, mas com algum nível de contaminação residual do solo. O problema é o ser humano. Aí temos que enfrentar o medo, a resistência, a ignorância, a manipulação da informação e da propaganda. O agricultor é muito abandonado. Muitas vezes, é uma pessoa isolada e seu principal amigo é o vendedor. Então, ele é dependente dos agroquímicos até por uma relação social. Nós precisamos acolher esse produtor e entender as suas dúvidas, o seu medo de mudar, a acomodação, o medo de quebrar e ficar devendo, todas essas experiências pelas quais a maioria dos agricultores já passou. Todo mundo já se atrapalhou na vida com uma safra ruim e ninguém quer repetir essa situação.
Precisamos
oferecer uma garantia de compra de produto. Muitos agricultores não
sabem, mas nós já estamos fazendo isso por meio da política de compras
das escolas. Muitos prefeitos não conseguem comprar produtos orgânicos
em suas cidades e acabam importando de outros municípios. Agora, essa
informação demora para chegar no agricultor. Em geral, o ser humano tem
medo de mudar. Como é que a gente lida com isso? Dando segurança. Aí
entram as políticas públicas: precisamos dar assessoria técnica,
garantia de compra, reconhecimento da sociedade e informação para que o
agricultor é o mais prejudicado no atual processo de produção, muito
mais do que nós. Nós comemos alimentos com agrotóxicos. Eles comem,
bebem, respiram e absorvem veneno. No passado, sempre foram uma
referência de saúde, a imagem do campesino forte, saudável e bonito.
Hoje, os agricultores são as pessoas mais doentes da nossa sociedade. É
uma coisa muito triste.
Mesmo tomando cuidado,
muitas vezes esses produtos acabam indo parar numa nascente cuja água é
utilizada para consumo e aí o agricultor não tem como escapar. Ele
precisa ser informado dessas questões, precisa saber que pode se
libertar optando por uma cultura que é melhor inclusive do ponto de
vista econômico, gerando produtos de maior valor. Para isso, é claro,
precisa ter assistência técnica, pois é uma atividade mais complexa.
Quando aparece um bicho em uma lavoura é muito mais fácil colocar veneno
logo, ao invés de descobrir qual é o bicho, como é que se controla,
onde está o ponto de ajuste. Nos primeiros anos a agroecologia é um
desafio mesmo. Outra coisa que precisa ocorrer é a sociedade dizer que
quer esses produtos e vai valorizar quem optar por esse modo de
produção.
Sul21: Existe algum
levantamento sobre o tamanho da agroecologia hoje no Rio Grande do Sul? O
que ela representa em termos de mercado?
Francisco Milanez: Eu não tenho esse dado, mas é um número ainda muito pequeno, apesar de o Rio Grande do Sul ser o Estado mais estruturado em agricultura orgânica, com uma variedade maior, com produtores de agricultura familiar muito mais disseminados, uma estrutura de assessoria de ONGs e de órgãos públicos como a Emater, que está fazendo um belíssimo trabalho. Então, nós temos uma bela estrutura, mas essa produção ainda é consumida por uma elite. Nós precisamos priorizar aqueles que mais precisam, a população mais pobre. A nossa meta é levar as feiras de produtos orgânicos o mais perto possível dos bairros de baixa renda, pois a população desses bairros tem maior dificuldade de transporte. O ideal, claro, é que elas estejam bem distribuídos pela cidade.
Francisco Milanez: Eu não tenho esse dado, mas é um número ainda muito pequeno, apesar de o Rio Grande do Sul ser o Estado mais estruturado em agricultura orgânica, com uma variedade maior, com produtores de agricultura familiar muito mais disseminados, uma estrutura de assessoria de ONGs e de órgãos públicos como a Emater, que está fazendo um belíssimo trabalho. Então, nós temos uma bela estrutura, mas essa produção ainda é consumida por uma elite. Nós precisamos priorizar aqueles que mais precisam, a população mais pobre. A nossa meta é levar as feiras de produtos orgânicos o mais perto possível dos bairros de baixa renda, pois a população desses bairros tem maior dificuldade de transporte. O ideal, claro, é que elas estejam bem distribuídos pela cidade.
Francisco
Milanez: “A doença, na maioria dos casos, é um desequilíbrio
desnecessário, mas ninguém mais lembra isso. Parece que o normal, hoje, é
ter alguma doença” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
O
impacto dessa política de estímulo ao consumo de alimentos orgânicos no
sistema de saúde tem que ser marcante. Nós temos um ar razoável, a água
que consumimos, dentro das atuais condições, ainda é razoável. Uma
pessoa com ar, água e comida de qualidade dificilmente ficará doente. A
doença, na maioria dos casos, é um desequilíbrio desnecessário, mas
ninguém mais lembra isso. Parece que o normal, hoje, é ter alguma
doença. Nós vivemos um processo de normalização da perda, da
esterilidade, de doenças degenerativas como o câncer. Hoje temos
ocorrência de diferentes tipos de câncer em todas as idades. Há 30, 40
anos, não tínhamos câncer infantil como temos hoje. O Hospital de Câncer
da Criança está lotado. O índice de câncer de mama nas mulheres está em
torno da faixa de um para três. E todo mundo está achando isso normal. É
um absurdo completo. A sociedade se acomodou com algo que pode ser
evitado.
Sul21: Uma das ideias do plano é
trabalhar essa temática nas escolas. Como isso seria feito? Por meio de
uma mudança curricular ou algo do gênero? Já existe algo sendo feito
neste sentido nas nossas escolas públicas?
Francisco Milanez: Não. Precisamos trabalhar a educação e também a legislação. Queremos fazer isso por meio do diálogo. Não queremos prejudicar nenhuma indústria. As próprias empresas que hoje vendem agrotóxicos, e que são grandes empregadoras de agrônomos e veterinários, poderiam passar a vender serviços em agroecologia. Elas têm uma estrutura altamente organizada e preparada para isso. Precisamos fazer conversões em vários níveis. Em relação à infância, tem que haver controle e proibição de venda de produtos não desejáveis em escolas. Mas isso não precisa ser feito de forma impositiva. Antes disso, temos que tentar o diálogo com a indústria. A própria indústria pode testar e ver se há mercado para os produtos e valores da agroecologia. Se houver, como acreditamos que há, as empresas terão todo o interesse também. Elas produzem o que produzem hoje porque as pessoas foram acostumadas a comer coisas coloridas e artificiais. Se elas passarem a desejar comidas honestas, a indústria terá que converter sua produção.
Francisco Milanez: Não. Precisamos trabalhar a educação e também a legislação. Queremos fazer isso por meio do diálogo. Não queremos prejudicar nenhuma indústria. As próprias empresas que hoje vendem agrotóxicos, e que são grandes empregadoras de agrônomos e veterinários, poderiam passar a vender serviços em agroecologia. Elas têm uma estrutura altamente organizada e preparada para isso. Precisamos fazer conversões em vários níveis. Em relação à infância, tem que haver controle e proibição de venda de produtos não desejáveis em escolas. Mas isso não precisa ser feito de forma impositiva. Antes disso, temos que tentar o diálogo com a indústria. A própria indústria pode testar e ver se há mercado para os produtos e valores da agroecologia. Se houver, como acreditamos que há, as empresas terão todo o interesse também. Elas produzem o que produzem hoje porque as pessoas foram acostumadas a comer coisas coloridas e artificiais. Se elas passarem a desejar comidas honestas, a indústria terá que converter sua produção.
Precisamos
discutir também o uso de distorcedores de apetite na indústria de
alimentos, produtos químicos que estimulam as pessoas a comerem mais do
que precisam. Isso não é razoável em uma sociedade democrática. O
monoglutamato de sódio, considerado um “intensificador de sabor”, é um
exemplo. Além de fazer mal à saúde é um distorcedor de apetite. A
obesidade infantil está se ampliando, como mostrou o documentário Muito além do peso.
É um sofrimento profundo para a criança, para sua autoimagem e para
toda sua família, que pode muito bem ser evitado. Há uma coordenação de
forças entre as indústrias da alimentação e da publicidade, frente à
qual os pais são impotentes. E não são apenas pais e mães da periferia
que são impotentes, mas também pais universitários e mesmo especialistas
na área. O fato é que temos pais que trabalham com nutrição e têm
filhos com problemas de obesidade.
Outro diálogo
que queremos travar com a indústria e com os donos de restaurantes é a
adoção de pratos especiais para pessoas com necessidades especiais, como
diabéticos, celíacos e tantos outros casos de intolerância alimentar.
“Estamos
tratando de coisas importantes que não podem mais ser postergadas”, diz
coordenador de grupo responsável pelo Plano RS Sustentável | Foto:
Ramiro Furquim/Sul21
Sul21: Como é que
está funcionando esse Grupo de Trabalho do Plano RS Sustentável, que
reúne representantes de várias secretarias e órgãos? Qual é a
metodologia e os prazos desse grupo?
Francisco Milanez: Temos um grupo executivo reunindo representantes de várias secretarias e órgãos como a Emater, que está reunindo informações sobre as políticas e ações já existentes no Estado e definindo o que cada um pode ser feito para que elas avancem e para que outras sejam implementadas. Também há um grupo que vai pensar o médio e o longo prazo, mas isso é menos emergencial. O que acontece geralmente na administração das secretarias, e é absolutamente normal, é que a gente faz o mais urgente e deixa o resto para depois. Nós estamos tratando de coisas importantes que não podem mais ser postergadas. O Rio Grande do Sul precisa pensar o seu desenvolvimento industrial em uma linha de futuro e buscar investimentos de empresas de tecnologia com visão de futuro. Para isso, precisamos criar um ambiente educativo, informativo e técnico capaz de atrair essas empresas. Nos interessam as empresas que também querem um ar de qualidade e uma água de qualidade. As outras não queremos. Precisamos sinalizar isso. E precisamos administrar os recursos que nós temos. O carvão é um problema, mas também é uma enorme fonte de energia. Nós temos quase todo o carvão do Brasil. Santa Catarina tem um pouco e nós temos o resto.
Francisco Milanez: Temos um grupo executivo reunindo representantes de várias secretarias e órgãos como a Emater, que está reunindo informações sobre as políticas e ações já existentes no Estado e definindo o que cada um pode ser feito para que elas avancem e para que outras sejam implementadas. Também há um grupo que vai pensar o médio e o longo prazo, mas isso é menos emergencial. O que acontece geralmente na administração das secretarias, e é absolutamente normal, é que a gente faz o mais urgente e deixa o resto para depois. Nós estamos tratando de coisas importantes que não podem mais ser postergadas. O Rio Grande do Sul precisa pensar o seu desenvolvimento industrial em uma linha de futuro e buscar investimentos de empresas de tecnologia com visão de futuro. Para isso, precisamos criar um ambiente educativo, informativo e técnico capaz de atrair essas empresas. Nos interessam as empresas que também querem um ar de qualidade e uma água de qualidade. As outras não queremos. Precisamos sinalizar isso. E precisamos administrar os recursos que nós temos. O carvão é um problema, mas também é uma enorme fonte de energia. Nós temos quase todo o carvão do Brasil. Santa Catarina tem um pouco e nós temos o resto.
Sul21: É possível explorar essas reservas de carvão sem causar danos ambientais?
Francisco Milanez: Estamos chegando perto disso, mas a pressão hoje é para usar carvão da pior forma, e não concordamos com isso. Não há porque se usar o carvão de uma forma poluente se ele pode ser destilado e utilizado com muito menos impacto ambiental. É que nem o caso da celulose. Nós utilizamos papel, mas ele pode ser produzido sem dióxido de cloro ou outras substâncias utilizadas para branqueamento e que acabam liberando dioxinas, que são os elementos mais tóxicos que existem.
Francisco Milanez: Estamos chegando perto disso, mas a pressão hoje é para usar carvão da pior forma, e não concordamos com isso. Não há porque se usar o carvão de uma forma poluente se ele pode ser destilado e utilizado com muito menos impacto ambiental. É que nem o caso da celulose. Nós utilizamos papel, mas ele pode ser produzido sem dióxido de cloro ou outras substâncias utilizadas para branqueamento e que acabam liberando dioxinas, que são os elementos mais tóxicos que existem.
Nós
estamos procurando construir uma agenda positiva. Não adianta só
criticar, sem apresentar uma alternativa plausível. As pessoas precisam
viver. O agricultor precisa ganhar, alimentar sua famílias e educar seus
filhos. Para que as coisas mudem, precisamos apontar alternativas
viáveis também no curto prazo.
O dossiê do nosso
grupo será o que fizermos neste período. Estamos apontando também
algumas coisas de médio e longo prazo, como a necessidade de se ter um
referencial comum de geoprocessamento. A Fepam hoje exige os estudos que
são necessários, pela simples razão de que não eles não existem. Se
existissem, ela não precisava exigir e poderia dizer o que pode e o que
não pode ser feito em uma determinada área. Se eu conheço o meu meio
ambiente, posso dizer qual será o impacto desta ou daquela atividade
econômica.
Queremos agir também na área da
energia, em especial na democratização da produção da energia. Já temos
condições tecnológicas para que as pessoas produzam sua própria energia
por meio de células solares, turbinas eólicas, telhados verdes. A
energia solar vai disparar nos próximos. Nós temos aqui em Porto Alegre
uma tecnologia de energia solar de boa qualidade, desenvolvida na
universidade, que não deslancha. Ao invés de importar dos chineses, nós
podemos produzir nossas próprias células solares, com mais garantia e
segurança. Não tem cabimento hoje fazer aquecimento de água com outra
coisa que não seja energia solar. No limite, podemos pensar em ter uma
casa autossuficiente em termos de energia e ainda ter algum lucro com um
excedente de energia.
Mais
do que orgânica, alimentação pode e precisa ser sustentável, sem ser
obtida mediante exploração, defende Milanez | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Nós
temos um grande problema a enfrentar no campo da informação. A maior
parte da informação que circula hoje é propaganda, em suas mais variadas
formas. Como é que alguém escolhe um carro hoje? A imensa maioria da
informação disponível é superficial, quando tem alguma informação. A
sociedade precisa ter alguma referência de informação que seja
confiável. A ideia de índice de sustentabilidade pode virar uma arma
poderosa. Essa ideia inclui não só as questões de meio ambiente, mas
também as de justiça social. Uma alface pode ser orgânica e produzida
explorando pessoas. Mas ela não é sustentável se ela é obtida mediante
exploração. Então, justiça social e respeito cultural são acréscimos
importantes ao conceito de orgânico. Não basta ser orgânica, precisa ser
sustentável também.
Sul21: Como está a
relação com as entidades ambientalistas neste trabalho de elaboração do
Plano RS Sustentável? Houve esse episódio recente da saída da Agapan do
Conselho
Estadual de Meio Ambiente. Qual sua avaliação sobre esse momento?
Francisco Milanez: Isso está sendo custoso para mim. Exatamente no momento em que entrei para mediar aconteceram estas coisas. Mas para mim não é problema, até porque adoro levar pedrada, não gosto de jogar pedra.
Estadual de Meio Ambiente. Qual sua avaliação sobre esse momento?
Francisco Milanez: Isso está sendo custoso para mim. Exatamente no momento em que entrei para mediar aconteceram estas coisas. Mas para mim não é problema, até porque adoro levar pedrada, não gosto de jogar pedra.
Sul21: Está levando pedrada agora?
Francisco Milanez: Algumas. E vou levar muito mais. Porque minha ideia é acelerar. Nós vamos fazer uma chamada de experiências de sustentabilidade no Estado. Nós não estamos reinventando a roda, queremos pegar essa massa de conhecimento e socializar por meio de um banco de dados na internet. A ideia é oferecer experiências para que as pessoas possam adaptar de acordo com sua própria realidade.
Francisco Milanez: Algumas. E vou levar muito mais. Porque minha ideia é acelerar. Nós vamos fazer uma chamada de experiências de sustentabilidade no Estado. Nós não estamos reinventando a roda, queremos pegar essa massa de conhecimento e socializar por meio de um banco de dados na internet. A ideia é oferecer experiências para que as pessoas possam adaptar de acordo com sua própria realidade.
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