sábado, 29 de novembro de 2014

Dívida Pública Brasileira: a soberania na corda bamba

 

buscado no Brasil de Fato


Reprodução
Documentário reúne opiniões de economistas, sindicalistas e professores sobre o impasse econômico; a versão completa está disponível no Youtube
09/09/2014

Da Redação,
A dívida total brasileira no ano de 2013 chegou ao valor aproximado de R$ 4 trilhões; o pagamento de juros e amortizações alcançou R$ 718 bilhões, o que corresponde a aproximadamente R$ 2 bilhões por dia. Tudo isso representa um desembolso anual de cerca de 40% do orçamento da nação.

Essas e outras questões são temas abordados no documentário “Dívida Pública Brasileira: a soberania na corda bamba”, de Carlos Pronzato. O filme reúne diversas opiniões de economistas, sindicalistas e professores e tem a pretensão de contribuir na conscientização do povo brasileiro sobre o assunto da dívida pública.
“A sociedade brasileira tem vários problemas estruturais que impedem a melhoria das condições de vida do povo, um deles é a chamada Dívida Pública Interna”, João Pedro Stédile, economista e da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “O tema da taxa de juros e o tema do superávit primário precisa ganhar as ruas para que a população tenha conhecimento”, complementa.
Para pagar apenas os juros da dívida os governos têm cortado repasses para setores de necessidades básicas da população como transporte, saúde e educação. Segundo Eulália Alvarenga, economista e coordenadora do núcleo MG da Auditoria Cidadã da Dívida: “a dívida interessa a todos e é de responsabilidade nossa exigir que seja auditada. Que a gente pague a dívida, mas se for legal e legítima, e que ela não seja uma dívida de espoliação do povo”.
Ditadura
A dívida pública federal começou na época da ditadura militar com o empréstimo de dinheiro dos Estados Unidos a juros flutuantes, que chegou a elevar os juros de 5% para 23%. Mesmo sendo considerada ação criminosa pela Convenção de Viena de 1969, o governo da ditadura aceitou a situação dos juros flutuantes imposta pelos EUA, o que interfere na pauta econômica do país até hoje.
A produção do documentário é feita pelo Instituto Rede Democrática-RJ, Núcleo RJ da Auditoria Cidadã da Dívida Publica e Sindipetro-RJ. A versão completa está disponível no Youtube




domingo, 23 de novembro de 2014

TODOS SOLTOS!







TODOS SOLTOS

TODOS SOLTOS!
O jornalista, escritor e colunista da Folha de São Paulo, Elio Gaspari, publicou um artigo neste jornal no último domingo (19), em que faz um inventário dos casos de corrupção durante o governo FHC, envolvendo diretamente os tucanos. o Artigo de Gaspari é uma contribuição importante para a memória nacional e para a desmistificação do falso moralismo tucano. Por isso acreditamos que o PSDB não é alternativa para combater a corrupção no Brasil. O que precisamos de fato é de pressão social por uma reforma política democrática, que acabe com o financiamento privado de campanha e estabeleça regras capazes de ampliar a participação e a fiscalização popular, única forma de se garantir uma política com ética e transparência.
Segue o artigo na íntegra.

Elio Gaspari - Folha de São Paulo 19/10/2014

Todos soltos, todos soltos, até hoje
Nos debates medíocres da TV Bandeirantes e do SBT, em que Dilma Rousseff parecia disputar a Presidência com Fernando Henrique Cardoso e Aécio Neves parecia lutar por um novo mandato em Minas Gerais, houve um momento estimulante. Foram as saraivadas de cinco "todos soltos" desferida pela doutora.
Discutia-se a corrupção do aparelho petista e ela arrolou cinco escândalos tucanos: "Caso Sivam", "Pasta Rosa", "Compra de votos para a reeleição de FHC", "Mensalão tucano mineiro" e "Compra de trens em São Paulo". A cada um, ela perguntava onde estavam os responsáveis e respondia: "Todos soltos". Faltou dizer: todos soltos, até hoje.
Não foi Dilma quem botou a bancada da Papuda na cadeia, foi a Justiça. Lula e o comissariado petista deram toda a solidariedade possível aos companheiros, inclusive aos que se declararam "presos políticos". Aécio também nada tem a ver com o fato de os tucanos dos cinco escândalos estarem soltos. Eles receberam essa graça porque o Ministério Público e o Judiciário não conseguiram colocar-lhes as algemas. O tucanato deu-lhes graus variáveis de solidariedade e silêncio.
Pela linha de argumentação dos dois candidatos, é falta de educação falar dos males petistas para Dilma ou dos tucanos para Aécio. Triste conclusão: quando mencionam casos específicos, os dois têm razão. A boa notícia é que ambos prometem mudar essa escrita.
A doutora Dilma listou os cinco escândalos tucanos, todos do século passado, impunes até hoje. Vale relembrá-los.
CASO SIVAM
Em 1993 (governo Itamar Franco), escolheu-se a empresa americana Raytheon para montar um sistema de vigilância no espaço aéreo da Amazônia. Coisa de US$ 1,7 bilhão, sem concorrência. Dois anos depois (governo FHC), o "New York Times" publicou que, segundo os serviços de informações americanos, rolaram propinas no negócio. Diretores da Thomson, que perdera a disputa, diziam que a gorjeta ficara em US$ 30 milhões. Tudo poderia ser briga de concorrentes, até que um tucano grampeou um assessor de FHC e flagrou-o dizendo que o projeto precisava de uma "prensa" para andar. Relatando uma conversa com um senador, afirmou que ele sabia "quem levou dinheiro, quanto levou".
O tucano grampeado voou para a Embaixada do Brasil no México, o grampeador migrou para o governo de São Paulo e o ministro da Aeronáutica perdeu o cargo. Só. FHC classificou o noticiário sobre o assunto como "espalhafatoso".
PASTA ROSA
Em agosto de 1995, FHC fechou o banco Econômico. Estava quebrado e pertencia a Ângelo Calmon de Sá, um príncipe da banca e ex-ministro da Indústria e Comércio. Numa salinha do gabinete do doutor, a equipe do Banco Central que assumiu o Econômico encontrou quatro pastas, uma da quais era rosa. Nelas estava a documentação do ervanário que a banca aspergira nas eleições de 1986, 1990 e 1994. Tudo direitinho: 59 nomes de deputados, 15 de senadores e 10 de governadores, com notas fiscais, cópias de cheques e quantias. Serviço de banqueiro meticuloso. Havia um ranking com as cotações dos beneficiados e alguns ganharam breves verbetes. No caso de um deputado, registravam 43 transações, 12 com cheques.
Nos três pleitos, esse pedaço da banca deve ter queimado mais de US$ 10 milhões. A papelada tornara-se uma batata quente nas mãos da cúpula do Banco Central. De novo, foi usada numa briga de tucanos e deu-se um vazamento seletivo. Quando se percebeu que o conjunto da obra escapara ao controle, o assunto começou a ser esquecido. FHC informou que os responsáveis pela exposição pagariam na forma da lei: "Se for cargo de confiança, perdeu o cargo na hora; se for cargo administrativo, será punido administrativamente". Para felicidade da banca, deu em nada.
COMPRA DE VOTOS PARA A REELEIÇÃO DE FHC
Em maio de 1997, os deputados Ronivon Santiago e João Maia revelaram que cada um deles recebera R$ 200 mil para votar a favor da emenda constitucional que criou o instituto da reeleição dos presidentes e governadores. Ronivon e Maia elegiam-se pelo Acre e pertenciam ao PFL, hoje DEM. Foram expulsos do partido e renunciaram aos mandatos. Ronivon voltou à Câmara em 2002. De onde vinha o dinheiro, até hoje não se sabe.
MENSALÃO TUCANO MINEIRO
Em 1998, Eduardo Azeredo perdeu para o ex-presidente Itamar Franco a disputa em que tentava se reeleger governador de Minas Gerais. Quatro anos depois, elegeu-se senador e tornou-se presidente do PSDB. Em 2005, quando já estourara o caso do mensalão petista, o nome de Azeredo caiu na roda das mágicas de Marcos Valério. Quatro anos antes de operar para o comissariado, ele dava contratos firmados com o governo de Azeredo como garantia para empréstimos junto ao banco Rural (o mesmo que seria usado pelos comissários.) O dinheiro ia para candidatos da coligação de Azeredo. O PSDB blindou o senador, abraçou a tese do "caixa dois" e manteve-o na presidência do partido durante três meses.
Quando perdeu a solidariedade de FHC, Azeredo disse que, durante a disputa de 1998, ele "teve comitês bancados pela minha campanha". Em fevereiro passado, o Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia do procurador-geral contra Azeredo e ele renunciou ao mandato de deputado federal (sempre pelo PSDB). Com isso, conseguiu que o processo recomeçasse na primeira instância, em Minas Gerais. Está lá.
COMPRA DE TRENS EM SP
Assim como o caso Sivam, o fio da meada da corrupção para a venda de equipamentos ao governo paulista foi puxado no exterior. O "Wall Street Journal" noticiou em 2008 que a empresa Alstom, francesa, molhara mãos de brasileiros em contratos fechados entre 1995 e 2003. Coisa de US$ 32 milhões, para começar. O Judiciário suíço investigava a Alstom e tinha listas com nomes e endereços de pessoas beneficiadas. Um diretor da filial brasileira foi preso e solto. Outro, na Suíça, também foi preso e colaborou com as autoridades.
Um aspecto interessante desse caso está no fato de que a investigação corria na Suíça, mas andava devagar em São Paulo. Outras maracutaias, envolvendo hierarcas da Indonésia e de Zâmbia, resultaram em punições. Há um ano a empresa alemã Siemens, que participava de consórcios com a Alstom, começou a colaborar com as autoridades brasileiras e expôs o cartel de fornecedores que azeitava contratos com propinas que chegavam a 8,5%.
Em 2008, surgiu o nome de Robson Marinho, chefe da Casa Civil do governo de São Paulo entre 1995 e 2001, nomeado ministro do Tribunal de Contas do Estado. Em março passado, os suíços bloquearam uma conta do doutor num banco local, com saldo de US$ 1,1 milhão. Ele nega ser o dono da arca, pela qual passaram US$ 2,7 milhões. (Marinho tem uma ilha em Paraty.) O Ministério Público de São Paulo já denunciou 30 pessoas e 12 empresas. Como diz a doutora, "todos soltos".


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Sistema livre



por Jader Resende

Pra suavizar um pouco esse pesado clima de políticas presumidamente confiáveis, nada como falar sobre sistema livre.
Que não podemos trabalhar livremente nossas ideias nem mesmo questioná-las, isso todos sabem.
Somos seguidamente interpretados pela lei do lucro imediato e mais fácil, somos sufocados pelas manipulações dos poderosos ou dos que vivem a sombra deles.
É fundamental expor a prisão em que vivemos. Sentimos na pele a dominação total dos nossos passos e pensamentos.
Viver numa sociedade onde a dignidade alheia vale muito pouco, podemos sim, cuidar do outro, agora e para o futuro. A educação dos jovens poderá fazer brilhar lampejos de luz em gerações futuras.
Arquivo livre é viável, única arma de defesa da nossa vulnerabilidade diante do sistema proprietários, pelo menos é a única alternativa.
Uma empresa 100% proprietária, quando usada seja para qual fim for, será dominada pelo proprietário, ele estipula sem consideração ao mercado o seu preço e ponto final.
O controle do mercado como podem constatar, pode ser feito através da incompatibilidade intencional dos sistemas operacionais, dos milhares de supostos programas gratuitos que na verdade ao pouco alicia e escraviza todos nós, lentamente amarra este mundo binário a seu modo. Esta incompatibilidade pode provocar o desaparecimento da nossa história.
O arquivamento de toda história estará sequestrado em mãos de quem não conseguimos imaginar.
Enfim, tudo é gravado em sistemas, nossos movimentos e documentos estão lá, quando um proprietário resolver não aceitar sistemas passados ou de concorrentes que há muito não existem. Como ficara todo passado ali gravado? Acredito que nenhum governo terá forças para impor a História do seu povo, se por acaso até lá existir.
Quem nunca ouviu esta frase. “Não tenho culpa é o sistema", "O sistema caiu” ou “O sistema só liberou 2 vagas”.
Vamos imaginar uma pessoa a espera de um avião para uma planejada e longa viajem. No aeroporto resolve fazer uma transação bancaria, perto do fim, cai o sistema, seus documentos ficam retidos, não tem como terminar, cancelar ou ter seu cartão de volta, sem ele não pode viajar, é obrigado a esperar e só muito horas depois volta ao ar e uma trabalheira surge para remarcar a viajem e seus planos, isto se for a recreio do contrario nem é bom falar...
Comemos, dormimos, cuidamos da saúde, lemos, ouvimos musicas e nos divertimos somente o que determina o poder, pouco ou nada podemos questionar e podemos perder nosso passado e nossas tradições.
Tudo não passa de manipulação e domínio. Enfim, tudo na internet e principalmente sistemas e programas estão atrelado ao poder econômico.
Quem controla os sistemas proprietários, tem nas mãos a indústria, engenharia e meio mundo de operários, é muito dinheiro e poder rolando pra um só lugar.
É de grande importância o conhecimento do sistema livre no aprendizado dos jovens nesta geringonça chamada computador e seus programas. Através da educação pode-se fornecer elementos para reforçar os valores sociais e a liberdade de criação, não só agora como no futuro.
Temos em comum um grande inimigo e ele se chama poder econômico e pouco pode-se fazer a não ser conhecer as entrelinhas do sistema de domínio, ter consciência do que acontece a nossa volta e tentar levar para gerações futuras conhecimentos transmitidos através da importância dos códigos e do sistema livre.
Mesmo com toda essa parafernália logaritima, a realidade de Matrix pairando sobre as nuvens e 1984 chegando sorrateiramente, continuamos a ver gerações desvalorizando a cultura e uma rica fonte de conhecimentos livres.
Devemos lutar contra a ignorância, principal requisito imposto pelo poder aos 99%.  Sentimos no dia a dia a destruição da cultura e do conhecimento pela imposição da ignorância.
A arte imita a vida e vida imita a arte, assim vamos levando nosso presente.
Acredito que em 2006 Mel Gibson realizou o filme “Apocalipse”.
Retrata a decadência e os últimos dias da civilização Maia antes da chegada dos espanhóis.
Os sacerdotes e governantes supremos dos Maias, donos da vida e da morte de um povo, dominavam a ciência entre outras artes e sabedores da eclipse fazem sacrifícios humanos para acalmar os deuses e manter o povo sob domínio do medo e da ignorância.
Em nome dos deuses, impôs centenas de sacrificados que duraram dias e noites antes da eclipse.
Terminada a eclipse o sol volta a brilhar como prometera os sacerdotes, quando o caçador de pessoas para serem sacrificados pergunta ao pé de ouvido do sacerdote chefe.
— E agora o que eu faço com o restante de presos e ele responde.
— Não precisamos mais deles. Leve para a floreta e mate como quiser.
O medo e ignorância do povo foi e ainda é forma de domínio
O final do filme leva também a dominação através da ignorância.
Os maias esperavam os deuses chegar na terra trazendo uma nova vida para todos e a chegada dos espanhóis era para eles a chegada dos deuses em forma de homens. Ai, começa a extinção do povo Maia e termina o filme.
É muito triste a sensação de impotência diante das gerações perdidas que nós rodeia diariamente, terrivelmente vulneráveis diante da força bruta em nome de uma suposta segurança, como os sacerdotes quando se dirigem ao povo depois do s sacrifícios;
 —Com estes sacrifícios acalmei os deuses e fiz voltar a luz dos sol, vocês agora podem voltar com segurança para seus afazeres. Não existe segurança alguma a não ser manipulações para impor obediência e servidão.
O sistema livre não vingou ainda, esta em faze difícil diante do estrangulamento econômico, deixa um bom legado para gerações. Não custa conhecê-lo, dominá-lo e entender melhor o mundo computadorizados a nossa volta.
Pouco pode fazer os migrantes tatuados pela natureza com o poder do código livre.
O poder esta nas mãos jovem, precisam dominar o sistema Livre.


Jader Resende






terça-feira, 11 de novembro de 2014

Os pilares da estupidez



buscado no Gilson Sampaio

 
Ora, os mesmos internautas que insultam, hoje, o Judiciário, sem serem incomodados — afirmando que o ministro Toffoli fraudou as eleições — já atacaram pesadamente Aécio Neves e sua família, quando ele disputava a indicação como candidato à Presidência pelo PSDB em 2010. São eles os mesmos que agridem os comandantes militares, acusando-os de serem "frouxos" e estarem controlados pelos comunistas, e deixam claro seu desprezo pelas instituições brasileiras, incluindo as Forças Armadas, pedindo em petição pública à Casa Branca uma intervenção dos Estados Unidos no Brasil, como se fôssemos reles quintal dos EUA, quando são eles os que se comportam como abjetos vira-latas, em sua patética submissão ao estrangeiro. 



Mauro Santayana

Está em curso, há anos, nas "redes sociais" insidiosa campanha de agressão à democracia e crescentes ataques às instituições.
Quem cala, consente. Os governos do PT têm feito, em todo esse período, cara de paisagem. Nem mesmo quando diretamente insultados, ou caluniados, os dirigentes do partido tomaram qualquer providência contra quem os atacava, ou atacava as instituições, esquecendo-se de que, ao se omitirem, a primeira vítima foi a democracia. Nisso, sejamos francos, foram precedidos por todos os governos anteriores, que chegaram ao poder depois da redemocratização do país.
Mergulhados na luta política e na administração cotidiana dos problemas nacionais, nenhum deles percebeu que o primeiro dever que tínhamos, nesta nação, depois do fim do período autoritário, era regar e proteger a frágil flor da Liberdade, ensinando sua importância e virtudes às novas gerações, para que sua chama não se apagasse no coração dos brasileiros. Se, naquele momento, o da batalha pela reconquista do Estado de Direito, cantávamos em letras de rock que queríamos votar para presidente, hoje parece que os polos da razão foram trocados, e que vivemos sob a égide da  insânia e  da vilania.
Em absoluta inversão de valores, da ética, da informação,  da própria história, retorna a velha balela anticomunista de que Jango — um latifundiário liberal ligado ao trabalhismo — ia implantar uma ditadura cubano-soviética no Brasil, ou que algumas dezenas de estudantes poderiam derrubar, quatro anos depois, um regime autoritário fortemente armado, quando não havia nenhuma condição interna ou externa para isso.
Retorna a velha balela anticomunista de que Jango ia implantar uma ditadura cubano-soviética no Brasil
Agora, para muitos que se manifestam pela internet, quem combatia pela democracia virou terrorista, os torturadores são incensados e defendidos, e prega-se abertamente o fim do Estado de Direito, como se o fascismo e o autoritarismo fossem solução para alguma coisa, ou o Brasil não fosse ficar, política e economicamente, imediata e absolutamente, isolado do resto do mundo, caso fosse rompida a normalidade constitucional.
Ora, os mesmos internautas que insultam, hoje, o Judiciário, sem serem incomodados — afirmando que o ministro Toffoli fraudou as eleições — já atacaram pesadamente Aécio Neves e sua família, quando ele disputava a indicação como candidato à Presidência pelo PSDB em 2010. São eles os mesmos que agridem os comandantes militares, acusando-os de serem "frouxos" e estarem controlados pelos comunistas, e deixam claro seu desprezo pelas instituições brasileiras, incluindo as Forças Armadas, pedindo em petição pública à Casa Branca uma intervenção dos Estados Unidos no Brasil, como se fôssemos reles quintal dos EUA, quando são eles os que se comportam como abjetos vira-latas, em sua patética submissão ao estrangeiro.
São eles os que defendem o extermínio dos nordestinos e a divisão do país, como se apenas naquela região a candidata da situação tivesse obtido maioria, e não estivéssemos todos misturados, ou nos fosse proibida a travessia das fronteiras dos estados.
São eles  que inventam generais de araque, supostos autores de manifestos igualmente falsos, e usam, sem autorização, o nome de oficiais da reserva, em documentos delirantes, tentando manipular, a todo momento, a base das Forças Armadas e as forças de segurança, dando a impressão de que existem sediciosos no  Exército, na Marinha, na Aeronáutica, quando as três forças se encontram unidas, na execução de projetos como o comando das  Operações de Paz da ONU no Haiti e no Líbano; as Operações Ágata, em nossas fronteiras; o novo Jato Cargueiro Militar KC-390 da Embrer; o novo Sistema de Mísseis Astros 2020 da Avibras; ou o novo submarino nuclear brasileiro, no cumprimento, com louvor, de sua missão constitucional.
O site SRZD, do jornalista Sérgio Rezende, entrou em contato com oficiais militares da reserva, que supostamente teriam "assinado" um manifesto, que circula, há algum tempo, na internet. O texto se refere a "overdose de covardia, cumplicidade e omissão dos comandantes militares" e afirma que, como não há possibilidade de tirar o PT do poder, é preciso dar um golpe militar, antes que o Brasil se transforme em uma "Cuba Continental".
Segundo o SRZD, todos os oficiais entrevistados, incluindo alguns generais, negaram peremptoriamente terem assinado esse "manifesto" e afirmaram já ter entrado em contato com o Ministério do Exército, denunciando tratar-se o e-mail que divulgava a mensagem de uma farsa e desmentindo sua participação no suposto movimento.
Por mais que queiram os novos hitlernautas, os militares brasileiros sabem que o governo atual não é comunista e que o Brasil não está, como apregoam os “aloprados” de extrema direita que tomaram conta da internet, ameaçado pelo comunismo internacional.
Como dizer que é comunista, um país em que os bancos lucram bilhões, todos os trimestres; em que qualquer um — prerrogativa maior da livre iniciativa — pode montar uma empresa a qualquer hora, até mesmo com apoio do governo e de instituições como o Sebrae; no qual investidores de todo o mundo aplicam mais de 60 bilhões de dólares, a cada 12 meses,  em Investimento Estrangeiro Direto; onde dezenas  de empresas multinacionais se instalam, todos os anos, junto às milhares já existentes, e mandam, sem nenhuma restrição, a cada fim de exercício, bilhões e bilhões de dólares e euros em remessa de lucro para e exterior?
Como taxar de comunista um país que importa tecnologia ocidental para seus armamentos, tanques, belonaves e aeronaves, cooperando, nesse sentido, com nações como a França, a Suécia, a Inglaterra e os Estados Unidos? Que participa de manobras militares com os próprios EUA, com países democráticos da América do Sul e com democracias emergentes, como a Índia e a África do Sul?
Baboso, atrasado, furibundo, ignorante, permanentemente alimentado e realimentado por mitos e mentiras espatafúrdias, que medram como fungos nos esgotos mais sombrios da Rede Mundial, o anticomunista de teclado brasileiro é sobretudo hipócrita e mendaz.
Nada contra alguém ser de direita, desde que se obedeçam as regras estabelecidas na Constituição
Ele acredita "piamente" que Dilma Rousseff assaltou bancos e matou pessoas e que José Genoino esquartejou pessoalmente um jovem, começando sadicamente pelas orelhas, quando não existe nesse sentido nenhum documento da ditadura militar.
Ele vê em um site uma foto da Escola Superior de Agricultura da USP, a Esalq, situada em Piracicaba, e acredita, também, "piamente", que é uma foto da mansão do "Lulinha", que teria virado o maior fazendeiro do país, junto com seu pai, sem que exista uma única escritura, ou o depoimento — até mesmo eventualmente comprado — de um simples peão de fazenda ou de um funcionário de cartório, que aponte para alguma prova ou indício disso, como de outras "lendas urbanas", como a participação da família do ex-presidente da República na propriedade de um grande frigorífico nacional.
Ele crê, piamente, e divulga isso, todo o tempo, que todos os 600 mil presos brasileiros têm direito a auxílio-reclusão quando quase 50% deles sequer foram julgados, e menos de 7% recebem esse benefício, e mesmo assim porque contribuíram normalmente, antes de serem presos, para a Previdência, durante anos, como qualquer trabalhador comum.
Nada contra alguém ser de direita, desde que se obedeçam as regras estabelecidas na Constituição. Nesse sentido, o senhor Jair Bolsonaro presta um serviço à democracia quando diz que falta, no Brasil, um partido com essa orientação ideológica, e já se declara candidato à Presidência, por essa provável agremiação, ou por essa parcela do eleitorado, no pleito de 2018.  
Os mesmos internautas que pensam que Cuba é uma ditadura contagiosa e sanguinária, da qual o Brasil não pode se aproximar, ligam para os amigos para se gabar de seu novo smartphone ou do último gadget da moda, Made in República Popular da China, que acabaram de comprar.
Eles são os mesmos que leem os textos escritos, com toda a iberdade, pela opositora cubana Yoami Sanchez —  já convenientemente traduzidos por "voluntários" para 18 diferentes idiomas — e não se perguntam, por que, sendo Cuba uma ditadura, ela está escrevendo de seu confortabilíssimo, para os padrões locais, apartamento de Havana, e não pendurada em um pau de arara, ou tomando choques e sendo espancada na prisão.
Mas  fingem ignorar que 188 países  condenaram, na semana passada, em votação de Resolução da ONU, o embargo dos Estados Unidos contra Cuba, exigindo o fim do bloqueio.
Ou que os EUA elogiaram e agradeceram a dedicação, qualidade e profissionalismo de centenas de médicos cubanos enviados pelo governo de Havana para colaborar, na África,  com os Estados Unidos, no combate à pandemia e tratamento das milhares de vítimas do ebola.  
Ou que a Espanha direitista de Mariano Rajoy, e não a Coreia do Norte, por exemplo, é o maior sócio comercial de Cuba.
Ou que há  poucos dias acabou em Havana a XXXIII FIHAV, uma feira internacional de negócios  com 4.500 expositores de mais de 60 países — aproximadamente 90% deles ocidentais — com a apresentação, pelo governo cubano, a ávidos investidores  estrangeiros, como os italianos, canadenses e chineses, de 271 diferentes projetos de infraestrutura, com investimento previsto de mais de 8 bilhões de dólares.
Radical, anacrônica, desinformada e mais realista que o rei, a minoria antidemocrática que vai, eventualmente, para as ruas e se manifesta raivosamente na internet querendo falar em nome do país e do PSDB, pedindo o impeachment da presidente da República e uma intervenção militar, ou dizendo que é preciso se armar para uma guerra civil, baseia-se na fantasia de que a nação está dividida em duas e que houve fraude nas urnas, mas se esquece, no entanto, de um "pequeno" detalhe:  quase um terço dos eleitores, ou mais de 31 milhões de brasileiros, ausentes ou donos de votos brancos e nulos, não votaram nem em Dilma nem em Aécio, e não podem ser ignorados, como se não existissem, quando se fala do futuro do país.
Cautelosa e consciente da existência de certos limites intransponíveis, impostos pelo pudor e pela razão, a oposição tem se recusado a meter a mão nessa cumbuca, fazendo questão de manter razoável distância desse pessoal.
Guindado, pelo voto, à posição de líder inconteste da oposição, o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, por ocasião de seu primeiro discurso depois do pleito, no Congresso, disse que respeita a democracia permanentemente e que "qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de retrocesso terá a nossa mais veemente oposição. Eu fui o candidato das liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem de forma autoritária e truculenta estão no outro campo político, não estão no nosso campo político".
Antes dele, atacado por internautas, por ter classificado de "antidemocráticas"  as manifestações pedindo o impeachment da presidente Dilma e a volta do autoritarismo, o sociólogo Xico Graziano, também do PSDB, já tinha afirmado que "a truculência dessa cambada fascista que me atacou passa de qualquer limite civilizado. No fundo, eles provaram que eu estava certo: não são democratas. Pelo contrário, disfarçam-se na liberdade para esconder seu autoritarismo".
E o vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman,  também negou, no dia primeiro, em São Paulo, que o partido ou a campanha de Aécio Neves estivessem por trás ou apoiassem — classificando-as de "irresponsáveis" — as manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
É extremamente louvável a iniciativa do presidente da OAB, Marcus Vinícius Furtado Côelho, de pedir a investigação e o indiciamento, que já estão em curso, pela Polícia Federal, com base na Lei do Racismo por procedência, dos internautas responsáveis pela campanha contra os nordestinos, lançada logo após a divulgação do resultado da eleição.
Mas, se essa campanha é grave, mais grave ainda, para toda a sociedade brasileira, tem sido a pregação constante, que já ocorre há anos, pelos mesmos internautas, da realização  de um Golpe de Estado, do assassinato e da tortura de políticos e intelectuais de esquerda, e de "políticos" de modo geral, além do apelo à mobilização para uma guerra civil, incluindo até mesmo a sugestão da compra de armas para a derrubada das instituições.
Cabe ao STF, ao Ministério Público, ao TSE, e aos tribunais eleitorais dos estados, que estão diretamente afeitos ao assunto, e à OAB, por meio de seus dirigentes, pedir, como está ocorrendo nos casos de racismo, a imediata investigação, e responsabilização, criminal, dos autores desses comentários, cada vez mais rançosos e afoitos, devido à impunidade, e o estabelecimento de multas para os veículos de comunicação, que os reproduzem, já  que na maioria deles existem mecanismos de "moderação" que não têm sido corretamente aplicados nesses casos.
A Lei 7.170 é  clara, e define como "crimes contra a Segurança Nacional e a Ordem Política e Social, manifestações contra o atual regime representativo e democrático, a  Federação e o Estado de Direito".
Há mais de 30 anos, pelas mãos de Tancredo Neves e de Ulisses Guimarães — em uma luta da qual Aécio também participou — e de milhões de cidadãos brasileiros, que foram às ruas, para exigir o fim do arbítrio e a volta do Estado de Direito, o Brasil reconquistou a democracia, pela qual havia lutado, antes, a  geração de Dilma Rousseff, José Dirceu, José Serra e Aluísio Nunes, entre outros.
Por mais que se enfrentem, agora, essas lideranças, não dá para apagar, de suas biografias, que todos tiveram seu batismo político nas mesmas trincheiras,  enfrentando o autoritarismo. 
Cabe a eles, principalmente os que ocupam, neste momento, alguns dos mais altos cargos da República, assumir de uma vez por todas sua responsabilidade na defesa e proteção da democracia, para que a Liberdade e o bom-senso não esmoreçam, nem desapareçam, imolados no altar da imbecilidade. 
Jornalistas, meios de comunicação, Judiciário, militares, Ministério Público, Congresso, Governo e Oposição, precisamos, todos, derrubar os pilares da estupidez, erguidos com o barro pisado, diuturnamente, pelas patas do ódio e da ignorância, antes que eles ameacem a estabilidade e a sobrevivência da nação, e da democracia. 


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

NILDA CARVALHO CUNHA. PARA NÃO ESQUECER JAMAIS!



História de NILDA CARVALHO CUNHA

 buscado no blog do Carlos Leen




 

Data e local de nascimento: 05/07/1954, Feira de Santana (BA)
Filiação: Esmeraldina Carvalho Cunha e Tibúrcio Alves Cunha Filho
Organização política ou atividade: MR-8
Data e local da morte: 14/11/1971, em Salvador
Nilda Carvalho Cunha foi presa na madrugada de 19 para 20 de agosto de 1971, no cerco montado ao apartamento onde morreu Iara Iavelberg. Foi levada para o Quartel do Barbalho e, depois, para a Base Aérea de Salvador. Sua prisão é confirmada no relatório da Operação Pajuçara, desencadeada para capturar ou eliminar Lamarca e seu grupo. Foi liberada no início de novembro, profundamente debilitada em conseqüência das torturas sofridas e morreu no dia 14 de novembro, com sintomas de cegueira e asfixia. Nilda tinha acabado de completar 17 anos quando foi presa. Fazia o curso secundário e trabalhava como bancária quando passou a militar no MR-8 e viver com Jaileno Sampaio.
Foram eles que abrigaram Iara Iavelberg em seu apartamento, durante sua estada em Salvador. Emiliano José e Oldack Miranda relatam no livro Lamarca, o capitão da guerrilha, levado ao cinema por Sérgio Rezende, um pouco do que Nilda contou de sua prisão:
“(...) Você já ouviu falar de Fleury? Nilda empalideceu, perdia o controle diante daquele homem corpuloso. - Olha, minha filha, você vai cantar na minha mão, porque passarinhos mais velhos já cantaram. Não é você que vai ficar calada (...). Dos que foram presos no apartamento do Edifício Santa Terezinha, apenas Nilda Cunha e Jaileno Sampaio ficaram no Quartel do Barbalho. Ela, aos 17 anos, ele, com 18. - Mas eu não sei quem é o senhor... – Eu matei Marighella. Ela entendeu e foi perdendo o controle.
Ele completava: – Vou acabar com essa sua beleza – e alisava o rosto dela. Ali estava começando o suplício de Nilda. Eram ameaças seguidas, principalmente as do Major Nilton de Albuquerque Cerqueira. Ela ouvia gritos dos torturados, do próprio Jaileno, seu companheiro, e se aterrorizava com aquela ameaça de violência num lugar deserto. Naquele mesmo dia vendaram-lhe os olhos e ela se viu numa sala diferente quando pode abri-los. Bem junto dela estava um cadáver de mulher: era Iara, com uma mancha roxa no peito, e a obrigaram a tocar naquele corpo frio.
 


Puxadinho do Jader 
Comentário publicado no blog do Carlos Lenn que merece destaque
Leonia Cunha disse...
NILDA CARVALHO CUNHA, meiga e linda em toda a sua curta vida ceifada de forma cruel por monstros, torturadores. Não se fez ainda JUSTIÇA a grande REVOLUCIONARIA que foi e a nossa mãe ESMERALDINA CARVALHO CUNHA.
Vivem cotidianamente na minha lembrança, assim como a sede de JUSTIÇA em meu coração.
Leonia Cunha


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Confissão de um terrorista!

Israel diz que matou mais 3 terroristas palestinos ontem 

 

Buscado no Bourdoukan


                              Confissão de um terrorista!




                                              Mahmoud Darwish*

Ocuparam minha pátria
Expulsaram meu povo
Anularam minha identidade
E me chamaram de terrorista

Confiscaram minha propriedade
Arrancaram meu pomar
Demoliram minha casa
E me chamaram de terrorista

Legislaram leis fascistas
Praticaram odiada apartheid
Destruíram, dividiram, humilharam
E me chamaram de terrorista

Assassinaram minhas alegrias,
Seqüestraram minhas esperanças,
Algemaram meus sonhos,
Quando recusei todas as barbáries
 Eles... mataram um terrorista!

*Mahmoud  Darwish (1942-2008), poeta palestino, foi Redator-Chefe da Revista Al Jadid, porta-voz da ala árabe do Partido Comunista de Israel, o Rakah.




quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Lei dos domésticos e a revolta da elite



buscado no Altamiro Borges

 


Por Altamiro Borges

Finalmente, após muita protelação de setores patronais, passou a valer nesta quinta-feira (7) a Lei dos Empregados Domésticos – uma conquista histórica dos trabalhadores brasileiros. A Lei 12.964/14 garante o registro em carteira de trabalho e fixa multa ao patrão que descumprir as novas regras. Segundo a última Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad), do IBGE, dos 6,35 milhões de domésticos no país, 4,45 milhões são informais. Sem direitos trabalhistas, a maior parte é tratada como escrava, com jornadas excessivas e péssimas condições de trabalho. A nova lei serve como uma carta de alforria e deverá despertar ainda mais ódio na histérica “elite branca”, que rejeita os avanços sociais dos últimos anos.

Segundo informa Karine Melo, da Agência Brasil, “o Ministério do Trabalho fará a fiscalização por meio de denúncias. Para fazer uma denúncia, o trabalhador, parente ou pessoa próxima deverá procurar uma unidade regional do ministério – Agência do Trabalhador, Delegacia do Trabalho, Superintendência do Trabalho –, onde terá de preencher um formulário... O patrão será notificado a comparecer a uma Delegacia do Trabalho para prestar esclarecimentos. ‘Caso o empregador não compareça, a denúncia será encaminhada ao Ministério Público do Trabalho para que ele tome as providências cabíveis’, garantiu o coordenador-geral de Recursos, da Secretaria de Inspeção do Trabalho, Roberto Leão”.

Com a vigência da lei, a expectativa é que o registro em carteira aumente de 10 a 15%. Segundo Mário Avelino, presidente do Instituto Doméstica Legal, “a informalidade vai ficar mais cara”. Para ele, o fato de a multa começar a vigorar de imediato “quebra a espinha da cultura patriarcal”. A legislação anterior até falava em direitos trabalhistas, mas não fixava multas e outras punições. “Ela sempre foi benéfica para o patrão. Por isso, a informalidade é tão alta”. Agora, o registro em carteira passa a ser obrigatório, mesmo nos casos em que o profissional esteja em período de experiência. Se a pessoa trabalha pelo menos três dias por semana para uma família, ela deverá ser registrada dentro das normas.

A nova lei deriva da aprovação, em abril de 2013, da “PEC das Domésticas”, a emenda constitucional que igualou os direitos destes trabalhadores aos dos demais celetistas do país. Mas vários outros direitos previstos nesta histórica PEC ainda não foram regulamentados, como o que institui o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o salário-família, o seguro-desemprego e o adicional noturno. Setores patronais com forte presença no parlamento devem protelar ao máximo estes novos avanços. “Com o ano eleitoral, a expectativa é que a regulamentação, parada na Comissão Especial do Congresso Nacional que trata do assunto, só saia no ano que vem”, relata Karine Melo.



segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Os novos judeus



buscado no ODiario.inf



 
Dizem os jornais do sistema que 90% dos israelitas apoiam a acção genocida do seu governo. Até pode ser que assim seja, num Estado em cuja população é sistematicamente incutida a ideologia racista do “povo eleito” e do seu direito divino ao “Grande Israel”. E se assim é, mais um motivo para saudar fraternalmente os 10% que não apoiam tal acção criminosa. Neles reside uma pequena parte da esperança de que um dia seja encontrada uma solução justa para a causa do martirizado povo palestino. Essa causa é hoje uma prioridade para toda a humanidade progressista e amante da paz.


“Há um fosso ético entre o nome do nosso exército, Forças de Defesa de Israel, e o que fazem os soldados. Eu e meus amigos fomos mobilizados para empreender ações “preventivas” na Cisjordânia, mas o que fazíamos nada tinha de preventivo.”
Segundo Yehuda Shaul, ex-oficial do exército israelense e autor destas palavras, o chefe do estado-maior, Moshe Yaalon, exortava os soldados a “queimar a consciência palestina”.
De acordo com testemunhas, os soldados patrulham as ruas e penetram ao acaso nas casas, a qualquer hora do dia ou da noite. Revistam tudo e todos, encostam as pessoas na parede e tiram fotos. Ninguém fica de fora: homens e mulheres, velhos e crianças Detalhe: as operações não são motivadas por nenhuma solicitação dos serviços de informação. De acordo com o sargento Nadav Bigelman, é frequente que as fotos nem sequer sejam enviadas à análise. O que se deseja é inibir o protesto, amedrontar e humilhar.
Shaul e Bigelman fazem parte de uma ONG, a Breaking the silence/Quebrando o silêncio, que já reuniu cerca de 950 depoimentos de militares e de ex-militares israelenses. Para recordar os dez anos de sua existência, houve manifestação recente na praça Habima, em Tel Aviv. Durante dez horas, políticos, jornalistas e ex-militares leram relatos atestando violências cometidas nos territórios palestinos ocupados. A ocupação, raiz da revolta palestina, e inteiramente ilegal, como sublinha Shaul, “não é mais uma segunda natureza para nós, ela incorporou-se à nossa própria natureza”.
Em nenhum dos depoimentos há qualquer aprovação aos atos de terrorismo ou aos foguetes lançados contra Israel por organizações islâmicas. Considerados “horríveis” porque suscitam medo, ferem e matam, tais atos, entretanto, não justificam fazer “de todos os habitantes de Gaza alvos de uma destruição em massa”.
É disso mesmo que se trata, pois o ataque desferido pelo exército de Israel a partir do 16 de julho último está destruindo em massa a população de Gaza – um terrorismo de Estado. Fontes publicadas pelo New York Times, nove dias depois do início da ofensiva, em 23 de julho, registravam 3.209 alvos atingidos, provocando um pouco mais de 800 mortos, milhares de feridos e dezenas de milhares de refugiados entre os palestinos.
A situação torna-se desesperadora.
Em Gaza, segundo dados do Le Monde, vivem 1,8 milhão de pessoas, com média de 18,2 anos, um alto índice de desemprego, maior entre os mais jovens (50%). Comprime-se num território de 45 km de comprimento por 10 km de largura, uma das mais altas densidades populacionais do mundo: 4.505 pessoas por quilômetro quadrado.
Em 1948, quando da fundação do Estado de Israel e da partilha da Palestina, o território ficou sob jurisdição egípcia, verificando-se um grande afluxo de refugiados. Depois da guerra de 1967, passou à ocupação israelense. A partir de 1994, os acordos de Oslo atribuíram seu controle à Autoridade Nacional Palestina. Entretanto, a região continuou triplamente aferrolhada: por terra, os postos fronteiriços com Israel e Egito filtram a conta-gotas os que desejam entrar ou sair. Por ar, o espaço é vigiado pelo Estado israelense. E por mar, Israel estabeleceu um limite de apenas 6 milhas náuticas (5,5 kilômetros) para o tráfego de embarcações.
Gaza virou um imenso gueto. E os palestinos converteram-se em novos judeus, cuja consciência precisa ser “queimada”.
“Novos judeus”: foi assim que, há pouco mais de trinta anos, Helena Salem intitulou um livro sobre a tragédia dos palestinos depois da II Guerra Mundial. Judia, teve que se haver com a crítica – às vezes, insultuosa - de judeus no Brasil e no mundo. Corajosa, recusou-se à autocensura. É trágico que sejam os próprios judeus, trucidados em guetos durante a II Guerra Mundial, os responsáveis por fazer reviver, agora, a maldita experiência.
Os palestinos não querem piedade.
Por destemidos, dela não carecem. Às vezes, como disse o Doutor Gilbert, médico norueguês, no hospital de Al-Shifa, em Gaza, “a gente só tem vontade de chorar e apertar num abraço as crianças cobertas de sangue”. Mas as lágrimas de dor, de raiva ou de medo não são bem vindas. Nem honrariam a capacidade de resistência e a resolução que, nas piores condições, demonstram os palestinos.
Eles precisam é de solidariedade ativa. Das gentes, nas ruas do mundo, manifestando apoio, obrigando os respectivos governos a agirem, através de pressões políticas e diplomáticas.
O mundo não pode assistir de braços cruzados e em silêncio ao massacre de um povo, agredido por uma força maior e mais poderosa. É preciso impedir que os judeus fabriquem novos judeus. Como disse Eric Goldstein, do Observatório dos Direitos Humanos, “Israel precisa fazer mais do que tentar explicar ataques ilegais. Precisa parar com eles”. Para o bem dos palestinos, da humanidade e dos próprios judeus. 

*Professor de História Contemporânea da UFF
Email: daniel.aaraoreis@gmail.com


sexta-feira, 1 de agosto de 2014

“Não vai ter verdade!”

buscado no Gilson Sampaio 

 




Edson Teles.

Em meio às emoções e protestos durante a Copa do Mundo de futebol no país, as Forças Armadas, por meio do Ministério da Defesa, deram publicidade aos seus relatórios de sindicância sobre as práticas de violações de direitos humanos em suas dependências durante a ditadura militar. O documento atende a uma solicitação feita pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), instituição que apurou e confirmou as violações cometidas pelas Forças Armadas e solicitou a investigação dos documentos e com os agentes militares envolvidos nos fatos. Nos relatórios afirma-se que não foram encontrados registros formais “que permitam comprovar ou mesmo caracterizar o uso das instalações dessas Organizações Militares para fins diferentes dos que lhes tenham sido prescritos”, não permitindo “corroborar a tese apresentada por aquela Comissão [a CNV] de que tenha ocorrido desvio formal de finalidade”, ou seja, que tenham sido usadas como centro de tortura, assassinato e desaparecimento.
Não estivéssemos em pleno século XXI, ao fim do quinto mandato de um presidente civil, todos exercidos por ex-vítimas da ditadura, poderíamos passar pouco estarrecimento por esta informação. Ou ainda, se vivêssemos em meio a um processo de transição, o que historicamente e de acordo com as políticas globais de construção de um novo regime democrático pode exigir negociações e silenciamentos, talvez a notícia pudesse ser considerada até um modo de chamar a atenção para a questão sem contudo colocar em risco a governabilidade. Poderíamos até mesmo lamentar a falta de correlação de forças políticas no governo, o que nos impediria de exigir mais do Estado.
Mas não. O projeto de democracia instituído no país a partir da nova constituição de 1988 e da primeira eleição para um presidente civil em 1989, eventos seguidos por sucessões de passos formais de um Estado de Direito, coloca a chegada deste relatório infame num campo de lutas políticas em torno de qual democracia queremos. Sim, infame, por conter um conteúdo que beira a provocação com os caminhos de uma democracia, afirmando, como consta do relatório da Marinha, que os presos teriam sido bem tratados, de modo “bastante aceitável”. É “aceitável” torturar e assassinar pessoas que discordem do governo?
O caráter desprezível dos relatórios podem também ser confirmado na tese de que os documentos sigilosos da época teriam sido “legalmente destruídos”, inclusive os termos de destruição, os quais indicariam os responsáveis pela eliminação dos arquivos incriminadores. Acredite quem quiser. Ainda que sem os arquivos comprobatórios, por que é que o Ministério da Defesa não convocou os militares responsáveis pelas instalações militares em questão, como a sede do DOI-CODI do II Exército, em São Paulo, chefiado à época pelo coronel Ustra? Aliás, o livro deste criminoso de Estado consta como prova, nos relatórios em questão, de que nada de ilegal ocorreu naquelas dependências.
Contudo, gostaria de chamar a atenção a um aspecto perigoso para uma efetiva democracia e com presença constante na lógica de governo do Estado de Direito: o documento com os relatórios das três Forças usa como argumento fundamental das respostas a ideia de que se pautam pela lógica da “promoção da reconciliação nacional”, como consta na lei de criação da CNV. Este é um ponto que pode passar desapercebido, mas indica uma questão nevrálgica no trato da apuração da verdade sobre a época da ditadura. Passados 25 anos da transição para um Estado de Direito, não vivemos mais sob o perigo de golpe de Estado ou reversão no processo democrático.
A proposição de “reconciliação nacional”, incluída na lei de criação da CNV e repetido exaustivamente em todos os momentos em que chegamos perto da verdade sobre o período ou de passos no sentido da efetivação da justiça, fundamenta-se na falsa versão de que nos anos 60 e 70 houvesse no país o conflito entre duas forças extremas, os “subversivos” da esquerda e a “linha dura” dos militares. Esta versão corroborou, nos anos 80 e 90, a ficção de que a transição para a democracia teria se pautado na reconciliação nacional. Esta peça ficcional e já mitológica teria sido confirmada na década passada pelo Supremo Tribunal Federal quando este confirmou a anistia para os torturadores (maio de 2010).
Chega a ser patológico, como se evidencia na repetição desta ideia nos referidos relatórios, que a democracia insista nesta tese nos dias atuais, especialmente durante os trabalhos de uma comissão da verdade. Mais grave do que isto, esta ficção corrobora a tese de vivemos sob uma espécie de transição (não sabemos para onde transitamos!) e que seria de bom tom não confrontar aqueles fantasmas. Os espectros que não são nomeados, mas que servem como justificativa para não nos aprofundarmos em uma democracia de transformação social e política. Não se trata de jogar contra as demandas de uma política de “justiça de transição” – verdade, memória, justiça e reforma das instituições –, tão necessárias e distantes ainda hoje.
Mas, por que insistir nesta tese da transição e da reconciliação? Como é possível adotar esta formulação nos trabalhos de uma criação da verdade? O que estaria de fato por trás desta ideia?
São questões a serem respondidas com urgência. As reações repressivas e de criminalização dos movimentos sociais, especialmente a partir de junho de 2013, parecem indicar um rastro para encontrar as respostas.
O que parece estarmos vivendo é um conflito, não uma reconciliação. A chamada transição democrática no Brasil configurou-se como a montagem de uma democracia de cunho autoritária e oligárquica. Conquistamos direitos importantes e fundamentais. Porém, a esfera da decisão política continuou nas mãos de poucos, implicando em um Estado voltado prioritariamente aos grandes grupos econômicos e às oligarquias políticas.
Creio que estamos em um momento importante para mudarmos os rumos planejados na “abertura lenta, gradual e segura” dos fins da ditadura, que visou a montagem da atual democracia de segurança e controle. Está instalado no país um conflito aberto, democrático e de rediscussão dos rumos traçados. Mesmo que possamos discordar de certas formas do agir na política, não podemos impor um único modelo de relações sociais.
Não é o momento da reconciliação. É a hora de deixarmos muito claro que houve tortura no país durante a ditadura e que o atual Estado de Direito, por meio de seus agentes e instituições, continua a violar gravemente os direitos humanos. Não há como reconciliar com a política do #NÃOVAITERVERDADE proposta pelo Ministério da Defesa.

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O QUE RESTA DO GOLPE DE 1964
Confira o especial de 50 anos do golpe no Blog da Boitempo, com artigos, eventos e lançamentos refletindo sobre os legados da ditadura para o Brasil contemporâneo, aqui.

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Edson Teles é autor de um dos artigos que compõe a coletânea Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas, que tem sua versão impressa vendida por R$10 e a versão eletrônica por apenas R$5 (disponível naGato Sabido, Livraria da Travessa e outras).

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Edson Teles é doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), é professor de filosofia política na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Pela Boitempo, organizou com Vladimir Safatle a coletânea de ensaios O que resta da ditadura: a exceção brasileira (2010), além de contar com um artigo na coletânea Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas (2012). Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às quartas.