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por Artur
Scavone, encaminhados via e-mail
Internacional é
entoada no antigo DOI-Codi paulista em ato contra torturadores
Ativistas de
direitos humanos e ex-presos políticos lotaram o pátio do local
onde ainda hoje funciona uma delegacia de polícia
Por Lúcia
Rodrigues, especial para o Viomundo
50 anos após o golpe
militar que perseguiu, prendeu, torturou, matou e desapareceu com os
corpos de centenas de ativistas de esquerda durante a ditadura, a
internacional, hino comunista, ecoou na manhã desta segunda-feira,
31, no pátio onde funcionou o antigo DOI-Codi de São Paulo, o
principal centro de torturas do país, no ato que exigiu a punição
dos torturadores e financiadores da repressão.
Dezenas de ex-presos
políticos que tiveram o grito sufocado nas sessões de tortura,
puderam cantar a plenos pulmões a canção que silenciaram durante
os Anos de Chumbo, junto com aproximadamente duas mil pessoas que
compareceram à manifestação.
Do lado oposto do pátio
que dava acesso às celas e salas de tortura, a ex-guerrilheira do
Araguaia, Criméia Almeida, torturada pessoalmente pelo então
comandante do DOI, Carlos Alberto Brilhante Ustra, quando estava
grávida de sete meses, contemplava o local onde ficou presa. “Foi
ali, naquela janela da esquerda, que eu fiquei”, afirma recordando
o inferno que viveu.
Vitória da
resistência
Apesar do sofrimento,
Criméia considera que o ato desta segunda, em repúdio ao golpe, foi
uma vitória daqueles que lutaram contra a ditadura. “Apesar de ser
um lugar de muitas memórias tristes (ela viu o companheiro de
partido, Carlos Nicolau Danielli, ser assassinado sob tortura), a
sensação, hoje, é muito boa. Com muito sacrifício ocupamos este
espaço. É sem dúvida uma vitória”, enfatiza.
O presidente da
Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, deputado Adriano Diogo
(PT-SP), organizador da manifestação, também foi pessoalmente
torturado pelo coronel do Exército, Brilhante Ustra. Ele ficou preso
três meses no centro de tortura. No dia em que chegou ao DOI-Codi
haviam acabado de matar seu colega de classe na Geologia da USP,
Alexandre Vannuchi Leme.
“Este lugar é
macabro. É uma desfaçatez que ainda hoje funcione uma delegacia
neste local. Foi importante os sobreviventes virem até aqui. É uma
demonstração de muita coragem”, afirma ao se referir às torturas
que todos que passaram por ali sofreram.
Na leitura do manifesto
Ditadura Nunca Mais, Adriano defendeu a revisão da
Lei de Anistia. De acordo com ele, a manutenção do entulho
autoritário permite que a polícia continue agindo de forma
truculenta até hoje. “A Lei de Anistia é a pedra de toque da
impunidade. A Comissão Nacional da Verdade devia fazer um relatório
dizendo: Reveja-se a Lei de Anistia”, explica.
No ato desta segunda
não houve discursos, as manifestações foram substituídas por
intervenções artísticas. A atriz Fernanda Azevedo, que ganhou
recentemente o Prêmio Shell de Melhor Atriz, compareceu ao evento e
apresentou parte de sua peça Morro Como Um País, que
está em cartaz em São Paulo. No trecho encenado, Fernanda apresenta
o diálogo do general Geisel com um colega de farda reconhecendo a
tortura e a morte de ativistas como uma necessidade do regime.
Assassinos
Todos os ex-presos
políticos mortos no DOI-Codi paulista foram lembrados no ato. A cada
nome citado, a plateia repetia: Presente. Os torturadores também não
foram esquecidos por quem sofreu nas mãos deles. A cada nome de um
agente da repressão, gritos de assassino ecoavam e invadiam a
delegacia de polícia.
Bem perto dali, no
Comando Militar do Sudeste, o palanque onde sempre se comemoraram
todos os aniversários do golpe militar estava vazio. Do lado de
fora, na calçada do quartel do Ibirapuera, uma dezena de integrantes
da Marcha da Família pediam a volta dos militares em cartazes de
cartolina e ao som do hino nacional tocado do alto de um potente
carro de som.
Fotos Lúcia
Rodrigues
De volta
ao DOI-CODI from Luiz Carlos
Azenha on Vimeo.
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