buscado no Gilson Sampaio
Via Sakamoto
O
jornalista Pedro Ribeiro Nogueira, que cobria a manifestação contra o
aumento nas passagens do transporte público de São Paulo, foi cercado e
surrado por um grupo de policiais militares ao tentar proteger outras
pessoas na terça, dia 11 de junho. Detido às 22h, na 78a Delegacia de
Polícia, onde ficou sabendo que havia sido indiciado por dano ao
patrimônio público e formação de quadrilha, acabou transferido para a 2a
DP. Não lhe deram o direito de fazer o exame de corpo de delito.
Ignoraram um vídeo que correu a internet em que a versão dele é
corroborada e no qual aparece sendo violentamente espancado (abaixo).
Por conta de muita pressão social e da competência de seus advogados, um
juiz decidiu pela soltura, que veio a ocorrer às 16h20 da sexta (21).
Mas é uma liberdade provisória, com restrições: não pode sair de casa
das 20h às 6h e deixar a cidade. Vale ressaltar que o Ministério Público
defendeu a sua permanência na cadeia. Ele ainda terá que responder
pelos crimes do qual foi acusado.
Fonte: Centro de Mídia Independente (CMI)
O
estudante de arquitetura Pierre de Oliveira incitou pessoas que
protestavam diante da Prefeitura de São Paulo a depredarem o prédio –
durante ato contra o aumento na tarifa do transporte público nesta terça
(18). Vestindo uma máscara contra gás lacrimogênio, ele quebrou vidros,
agrediu guardas e tentou invadir o prédio. Ele fez parte de um grupo
que também ameaçou os próprios manifestantes que usaram seus próprios
corpos em um cordão humano a fim de defender a sede do governo
paulistano. As imagens da depredação correram a internet e ele acabou
sendo identificado. Entregou-se após ter sido procurado em casa. Pediu
desculpas pelo ocorrido e chorou ao depor. O delegado o considerou
arrogante: “achou que era o dia dele e começou a quebrar tudo”. Ele
foi indiciado por dano ao patrimônio público e liberado após prestar
depoimento. A juíza negou prisão temporária por formação de quadrilha,
apesar do pedido da polícia.
Pierre usa grade para atacar a Prefeitura (Joel Silva/Folhapress)
Pedro,
que foi trabalhar para reportar à população o que estava acontecendo e
defendeu manifestantes de sofrerem violência, foi espancado e ficou três
dias detido apesar das imagens mostrarem que ele nada fez. Pierre, que
incitou violência, apavorou os presentes e desancou a fúria sobre o
patrimônio público, foi embora, apesar das imagens que mostrarem que ele
fez tudo.
Sei que há diferenças judiciais
entre os casos. E – pelas divindades da mitologia cristã! – não defendo
que Pierre sofra o que Pedro sofreu. Mas é completamente ridículo que
Pedro tenha sido vítima de brutal injustiça, tendo seus direitos
enterrados e sido acusado no melhor estilo de “O Processo”, de Kafka.
Pedro
apanhou porque era jornalista e a polícia desceu, sistematicamente, a
porrada em jornalista até o dia 13, quando isso transbordou e sujou o
chão da sala, com colegas de grandes empresas de jornalismo entre os
feridos e presos. Pierre se beneficiou do “monitoramento à distância” da
Polícia Militar que demorou para se mexer enquanto pessoas que não eram
manifestantes faziam o que queriam no Centro de São Paulo.
O
ato desta quinta será de festa para quem se conscientizou e foi às ruas
por seus direitos e viu sua reivindicação atendida com a revogação do
aumento do valor da passagem. Mas também de reflexão. Sobre o nosso
poder real, muitas vezes esquecido. E sobre o comportamento do poder
público que deveria proteger, mas ataca as liberdades de seus cidadãos.
Pois um governo decente é aquele que respeita a liberdade de imprensa,
mas também a liberdade de expressão.
Entidades divulgam nota de repúdio
Na
tarde desta quinta (20), organizações sociais de defesa à liberdade de
imprensa e direitos humanos deram uma coletiva à imprensa no Sindicato
dos Jornalistas do Estado de São Paulo, manifestando repúdio à violência
contra jornalistas e manifestantes. Cobraram medidas concretas para
apuração das responsabilidades. Segue a nota pública assinada, entre
outros, pelo Aprendiz, Artigo 19, Conectas Direitos Humanos, Fórum
Nacional pela Democratização da Comunicação, Intervozes, Repórter Brasil
e Repórteres sem Fronteiras.
As
organizações de jornalistas e de defesa de direitos humanos abaixo
assinadas, preocupadas com a garantia da liberdade de imprensa e da
liberdade de manifestação e expressão, vêm a público manifestar:
O
repúdio às graves violações a direitos de liberdade de imprensa e de
manifestação e expressão em virtude da violência policial ocorrida nos
recentes protestos pela redução da tarifa de transporte, que só em São
Paulo resultou em mais de vinte jornalistas feridos e dois jornalistas
presos. Entendemos que a violência se deveu não apenas a abusos
individuais, mas foi incentivada por declarações de autoridades públicas
e inclusive de editoriais de opinião dos próprios órgãos da imprensa em
defesa da forte repressão à manifestação;
A
preocupação com aumento dos casos de ameaças a jornalistas por parte de
integrantes da Polícia Militar, agravada pelo medo que impede os
profissionais em dar encaminhamento às denúncias;
O
repúdio a todas as tentativas de dificultar e impedir o trabalho de
cobertura jornalística dos eventos, inclusive aquelas promovidas pelos
próprios manifestantes.
Nesse sentido, reivindicamos as seguintes ações:
• Identificação e responsabilização dos responsáveis por todas as agressões ocorridas nas recentes manifestações;
• Garantia da liberdade de manifestação, com revisão das doutrinas, manuais e procedimentos para uso de armas menos letais;
• Criação de Grupo de Trabalho em âmbito estadual em São Paulo para adoção de medidas específicas de proteção à liberdade de imprensa, com sugestão de participação da Secretaria de Segurança Pública, Polícia Militar, Sindicato dos Jornalistas e organizações da sociedade civil.
• Garantia da liberdade de manifestação, com revisão das doutrinas, manuais e procedimentos para uso de armas menos letais;
• Criação de Grupo de Trabalho em âmbito estadual em São Paulo para adoção de medidas específicas de proteção à liberdade de imprensa, com sugestão de participação da Secretaria de Segurança Pública, Polícia Militar, Sindicato dos Jornalistas e organizações da sociedade civil.
As
organizações também consideram fundamental o acompanhamento do Grupo de
Trabalho sobre proteção a jornalistas da Secretaria Especial de
Direitos Humanos da Presidência da República e a denúncia dos casosàs
relatorias de liberdade de expressão da OEA e da ONU.
Salientamos,
por fim, que a violência contra jornalistas e comunicadores atenta não
apenas contra os profissionais e veículos envolvidos, mas contra o
direito de toda a sociedade a ser informada, configurando-se, na
prática, como uma forma de censura.
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