buscado no Quem Tem Medo da Democracia
Por Maria Helena Oliveira(*)
A presidente Dilma depois de seu
pronunciamento na ONU em que deu forte reprimenda nos irmãos do norte
denunciando a espionagem sofrida como violação do direito internacional,
mudou de enfoque na conversa com cerca de 350 empresários, gestores de
fundos, consultores e banqueiros. No tête à tête com estes, abrandou
sua postura, dizendo que o Brasil é um país civilizado e respeita contratos. Neste caso não está preocupada com a soberania nacional, pois vender o país, é preciso.
Como o governo não tem um projeto
autônomo e independente para o país, vai buscar no exterior as parcerias
para entregar portos, aeroportos, ferrovias e exploração do pré-sal aos
parceiros privados. Enquanto isto, nós, brasileiros, não somos chamados
a opinar em nada. Que inveja dos irmãos venezuelanos, submetidos a
seguidos referendos.
O governo quer vender o maior poço de
petróleo já descoberto no país, com reservas de 15 bilhões de barris que
valem cerca 1 trilhão e 500 bilhões de dólares, sem ouvir a população.
Que democracia é esta em que decisões de alienar recursos preciosos que
serviriam para resolver todos o problemas – na educação, saúde,
segurança pública, transporte, habitação – são tomadas e ninguém é
ouvido? Que democracia é esta em que os irmãos do campo sofrem com a
falta de gleba para cultivar enquanto os ruralistas concentram cada vez
mais terras, que ficam muitas vezes ociosas para constituir reserva de
valor? Que democracia é esta em que o governo usa mais da metade do
orçamento para pagar os juros das dívidas interna e externa e o povo não
é chamado para opinar? Os recursos carreados para o exterior são da
ordem de cerca de 140 a 150 bilhões de reais, constituindo as famosas
perdas internacionais denunciadas por Brizola.
Ante tal quadro a digníssima presidente
sai mundo afora feito caixeiro viajante da mesma forma que seus
antecessores para vender o país. Entregar em leilões seus ativos, já que
não tem recursos para investir na infra-estrutura. Como pode um país da
extensão continental como o nosso não ter ferrovias que o cortem de
norte a sul, de leste a oeste? Com litoral extenso e tantos rios não ter
o modal aquaviário dimensionado? Como pode entregar o Campo de Libra –
montanha de recursos – em troca de um prato de lentilha (15 bilhões de
bônus)? Uma vez consumada essa entrega indecorosa o governo do PT será
colocado no mesmo patamar de seu antecessor – entreguista mor da Nação.
Ou talvez pior, já que todas as privatizações de FHC significam
pequeníssima parte do valor do campo em tela.
Chego à conclusão de que nossa
democracia é apenas formal, com eleições de dois em dois anos,
independência relativa dos poderes e as demais instituições republicanas
funcionando, muitas vezes precariamente. Nos aspectos básicos da
cidadania o Brasil apenas claudica, pois os índices de violência mostram
que aqui as mortes de jovens pretos e pardos com idade entre 16 e 24
anos são das maiores do mundo. Na educação encontramos o mesmo quadro de
precarização e na saúde e segurança pública, idem. Enfim que país é
este, como disse o poeta Renato Russo?
Dilma afirmou ainda que, diante dos
gargalos na infra-estrutura que impedem o desenvolvimento do país, é
preciso estabelecer parceria privada para deslanchar investimentos,
ganhar competitividade para se consolidar como grande economia.
*Maria Helena Santos Oliveira é
militante histórica do PDT, diretora de Assuntos da Mulher da Nova
Central Sindical e licenciada em Ciências Sociais pela USP. Assina no
“Quem tem medo da democracia?” a coluna “O trabalhismo vive“.
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