sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Maria Helena Oliveira – Que país é este, Dona Dilma?



 

Por Maria Helena Oliveira(*)

A presidente Dilma depois de seu pronunciamento na ONU em que deu forte reprimenda nos irmãos do norte denunciando a espionagem sofrida como violação do direito internacional, mudou de enfoque na conversa com cerca de 350 empresários, gestores de fundos, consultores e banqueiros. No tête à tête  com estes, abrandou sua postura, dizendo que o Brasil é um país civilizado e respeita contratos. Neste caso não está preocupada com a soberania nacional, pois vender o país, é preciso.
Como o governo não tem um projeto autônomo e independente para o país, vai buscar no exterior as parcerias para entregar portos, aeroportos, ferrovias e exploração do pré-sal aos parceiros privados. Enquanto isto, nós, brasileiros, não somos chamados a opinar em nada. Que inveja dos irmãos venezuelanos, submetidos a seguidos referendos.
O governo quer vender o maior poço de petróleo já descoberto no país, com reservas de 15 bilhões de barris que valem cerca 1 trilhão e 500 bilhões de dólares, sem ouvir a população. Que democracia é esta em que decisões de alienar recursos preciosos que serviriam para resolver todos o problemas – na educação, saúde, segurança pública, transporte, habitação – são tomadas e ninguém é ouvido? Que democracia é esta em que os irmãos do campo sofrem com a falta de gleba para cultivar enquanto os ruralistas concentram cada vez mais terras, que ficam muitas vezes ociosas para constituir reserva de valor? Que democracia é esta em que o governo usa mais da metade do orçamento para pagar os juros das dívidas interna e externa e o povo não é chamado para opinar? Os recursos carreados para o exterior são da ordem de cerca de 140 a 150 bilhões de reais, constituindo as famosas perdas internacionais denunciadas por Brizola.
Ante tal quadro a digníssima presidente sai mundo afora feito caixeiro viajante da mesma forma que seus antecessores para vender o país. Entregar em leilões seus ativos, já que não tem recursos para investir na infra-estrutura. Como pode um país da extensão continental como o nosso não ter ferrovias que o cortem de norte a sul, de leste a oeste? Com litoral extenso e tantos rios não ter o modal aquaviário dimensionado? Como pode entregar o Campo de Libra – montanha de recursos – em troca de um prato de lentilha (15 bilhões de bônus)? Uma vez consumada essa entrega indecorosa o governo do PT será colocado no mesmo patamar de seu antecessor – entreguista mor da Nação. Ou talvez pior, já que todas as privatizações de FHC significam pequeníssima parte do valor do campo em tela.
Chego à conclusão de que nossa democracia é apenas formal, com eleições de dois em dois anos, independência relativa dos poderes e as demais instituições republicanas funcionando, muitas vezes precariamente. Nos aspectos básicos da cidadania o Brasil apenas claudica, pois os índices de violência mostram que aqui as mortes de jovens pretos e pardos com idade entre 16 e 24 anos são das maiores do mundo. Na educação encontramos o mesmo quadro de precarização e na saúde e segurança pública, idem. Enfim que país é este, como disse o poeta Renato Russo?
Dilma afirmou ainda que, diante dos gargalos na infra-estrutura que impedem o desenvolvimento do país, é preciso estabelecer parceria privada para deslanchar investimentos, ganhar competitividade para se consolidar como grande economia.

*Maria Helena Santos Oliveira é militante histórica do PDT, diretora de Assuntos da Mulher da Nova Central Sindical e licenciada em Ciências Sociais pela USP. Assina no “Quem tem medo da democracia?” a coluna O trabalhismo vive.



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