sábado, 28 de julho de 2012

En Cuba los ciegos también van al cine.

buscado no Serrabulhada



El Instituto de Cine cubano ha creado sesiones de cine para los ciegos. Las películas son presentadas con el sonido original y una descripción de las imágenes. Un reportaje de la agencia Reuters presentada por el diario Guardian.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Ser chefe de índio é arriscado

Buscado no Cirandeiras

 

por Sérgio Domingues em Pílulas diárias

Ainda aprendendo com os índios, continuamos citando o livro “Convite à Filosofia”, de Marilena Chauí:
As sociedades indígenas são tribais ou comunais. Nelas, não há propriedade privada nem divisão social do trabalho, não havendo, portanto, classes sociais nem luta de classes. A propriedade é tribal ou comum e o trabalho se divide por sexo e idade. São comunidades no sentido pleno do termo, isto é, são internamente homogêneas, unas e indivisas, possuindo uma História e um destino comuns. São sociedades do cara-a-cara, onde todos se conhecem pelo nome e são vistos uns pelos outros diariamente.
Por isso mesmo, nelas o poder não se destaca nem se separa, não forma uma instância acima dela (como na política), nem fora dela (como no despotismo). A chefia não é um poder de mando a que a comunidade obedece. O chefe não manda; a comunidade não obedece. A comunidade decide para si mesma, de acordo com suas tradições e necessidades.
Se não tem poder,o que faz o chefe? O texto diz que ele exerce “três funções: doar presentes,fazer a paz e falar”. Segundo Marilena:
A doação de presentes é a maneira deliberada que a comunidade inventou para impedir que alguém possa concentrar bens e riquezas, tornar-se proprietário privado, criar desigualdade econômica e social, de onde surgem a luta de classes e a necessidade do poder do Estado.
Quanto à fala, o chefe a usa para manter a paz. Como a comunidade não dispõe de leis para resolver conflitos, o chefe apela ao bom senso, aos costumes, à memória e à tradição.Mas há outra função para a fala. É a Grande Palavra:
Todas as tardes, o chefe se dirige a um local distante da aldeia, mas visível e de onde possa ser ouvido, e ali discursa. Embora ouvido, ninguém deve dar-lhe atenção e o que ele diz não é ordem ou comando obrigando à obediência. Que diz ele? Diz a palavra do poder: canta sua força e coragem, seu prestígio, sua relação com os deuses, seus grandes feitos. Mas ninguém lhe dá atenção. Ninguém o escuta.
A Grande Palavra tem significado simbólico: a comunidade lembra a si mesma,diariamente, o risco e o perigo que correria se possuísse um chefe que lhe desse ordens e ao qual devesse obedecer. A Grande Palavra simboliza a maneira pela qual a comunidade impede o advento do poder como algo separado dela e que a comandaria pela coerção da lei e das armas. Com a cerimônia da Grande Palavra, a sociedade se coloca contra o surgimento do Estado.
Segundo o texto,se o chefe tenta usar suas funções para criar uma forma separada de poder, ele é morto pela comunidade.
É, parece que esses povos têm muito a nos ensinar.

Aos mestres indígenas, com carinho

Grande parte das pessoas ainda encara os indígenas como povos ingênuos, que têm muito a aprender e evoluir. Espécie de crianças a serem educadas. Algo bastante conveniente para o poder econômico, que está de olho em suas terras.
Sobre isso, vejamos um trecho do livro “Convite à Filosofia”, de Marilena Chauí. Referindo-se aos povos ameríndios que não estavam organizados em grandes impérios, a filósofa diz que:
…os conquistadores encontraram as demais nações americanas organizadas de maneira incompreensível para os padrões europeus. Transformaram o que eram incapazes de compreender em inferioridade dos americanos. Considerando-os selvagens e bárbaros, justificavam a escravidão, a evangelização e o extermínio.
A esta visão dá-se o nome de etnocentrismo. Isto é, uma concepção que considera como corretos apenas padrões e valores dos brancos. O atraso dos povos indígenas estaria no fato de não terem mercado, escrita, história e Estado. Não é bem assim, explica Marilena:
O antropólogo francês Pierre Clastres estudou essas sociedades por um prisma completamente diferente, longe do etnocentrismo costumeiro. Mostrou que possuem escrita, mas que esta não é alfabética nem ideográfica ou hieroglífica (isto é, não é a escrita conhecida pelos ocidentais e orientais), mas é simbólica, gravada nos corpos das pessoas por sinais específicos, inscrita com sinais específicos em objetos determinados e em espaços determinados. Somos nós que não sabemos lê-la.
Mostrou também que possuem memória – mitos e narrativas dos povos -, transmitida oralmente de geração em geração, transformando-se de geração em geração. Mostrou, pelas mudanças na escrita e na memória, que tais sociedades possuem História, mas que esta é inseparável da relação dos povos com a Natureza,diferentemente da nossa História, que narra como nos separamos da Natureza e como a dominamos. Mas, sobretudo, mostrou por que e como tais sociedades são contra o mercado e contra o Estado. Em outras palavras, não são sociedades sem comércio e sem Estado, mas contrárias a eles.
Diante disso, é bem duvidoso que sejamos nós os que têm algo a ensinar. Basta ver o que estamos fazendo com o ambiente e o que é o Estado sob o qual vivemos. Amanhã, continuaremos a aprender com os índios.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Dança das Polaridades

buscado no A línguagem do caos 

 

por Lyra 

Desde os tempos mais remotos da cultura chinesa, o Yin está associado a feminino e o Yang ao masculino. Em biologia humana, as características masculinas e femininas não estão nitidamente separadas, mas ocorrem, em proporções variáveis, em ambos os sexos. Da mesma forma os chineses acreditavam que todas as pessoas , homens ou mulheres, passam por fases Yin e Yang. A personalidade de cada homem e de cada mulher não é uma entidade estática, mas um fenómeno dinâmico resultante da interação entre elementos masculinos e femininos.




"Toda a sabedoria é uma espada: serve para matar e curar. A lâmina tem capacidade de destruir o bem ou cortar o mal pela raiz. A espada é sempre a mesma, o que muda é o coração que a mobiliza"

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Por onde anda o petróleo brasileiro? (o pré-sal tá indo pro saco)

buscado no Gilson Sampaio 

 


Por onde anda o petróleo brasileiro?

Wladmir Coelho 

A companhia petrolífera estadunidense ANADARKO colocou a venda os seus ativos no Brasil, avaliados de forma superficial em 3 bilhões de dólares, e não conseguiu compradores. Enquanto isso os valores de suas ações não param de cair gerando a necessidade de apresentação de um plano, de curto prazo, com investimentos baixos e lucros elevados. Como sabemos esta receita não caracteriza a exploração do chamado pré-sal brasileiro.
Este fato, o elevado custo para a exploração do pré-sal, não constitui nenhuma surpresa e para tornar viável o lucro dos oligopólios a Petrobras foi transformada em financiadora de todo o processo.
Para justificar esta ação um elaborado programa de publicidade foi construído em torno do potencial petrolífero nacional recordando o ufanismo da ditadura militar, cujo sentido era o mesmo, apresentando o governo como defensor das riquezas naturais e a Petrobras como executora deste processo.
Tudo fantasia publicitária. A Petrobras na verdade era transformada em operadora de todos os blocos, mas seu controle não ultrapassa os 30%. O fato de exercer esta condição, basta ler o texto da Nova Lei do Petróleo, implica em financiar todo o processo exploratório.
Com 30% a Petrobras paga a maior parte enquanto o restante – o lucro propriamente dito – fica para as empresas de sempre. A mesma lei garante aos oligopólios a liberdade de oferecer a quantidade de óleo que considerarem conveniente em pagamento ao Estado.
Enquanto isso ficavam os governadores e outros agentes brigando por migalhas ocupando as páginas dos jornais com discursos demagógicos em nome do controle royalties que de forma geral representam migalhas no contexto mais amplo desta negociata. O financiamento é nacional enquanto o lucro destina-se aos cofres dos bancos internacionais.
A publicidade oficial ufanista criou a legitimação da urgência em explorar o pré-sal e sua destinação obvia ao mercado internacional simplesmente modificando o produto natural de exportação representado em outras épocas em forma de pau-brasil, cana de açúcar, café, soja... Agora será a vez do petróleo.
Recordemos. A legislação do pré-sal foi elaborada nos anos iniciais da crise econômica mundial, em nossas terras denominada marolinha, fundamentando-se em uma vertente do keynesianismo ou entendimento deste a partir da intervenção do Estado como elemento em condições de patrocinar a salvação de um setor da economia. Todos conhecemos a situação dos oligopólios financeiros internacionais e quanto custa em nossos dias manter em funcionamento este modelo. 
Desta forma os geniais representantes do povo brasileiro – o crime foi cometido por quase unanimidade de nossos representantes – a partir de uma Lei escrita nos Estados Unidos e traduzida em Brasília criaram um fundo a ser formado, de forma obrigatória, com recursos oriundos do pré-sal.
Estes recursos financeiros destinados ao Estado brasileiro devem ser aplicados de modo obrigatório em títulos – que podem pertencer – as empresas que abocanharam parte dos blocos. Vejam: a recuperação dos chamados investimentos internacionais ficaram garantidos e praticamente sem riscos.
            Neste ponto é importante observar que os mesmos grupos financeiros que neste momento controlam a política econômica mundial encontram-se a frente das direções e Conselhos das empresas petrolíferas – todas elas – determinando a forma de atuação e dividindo as áreas que devem ser ocupadas.
O aprofundamento da crise mundial diminuiu o lucro das empresas petrolíferas tornando menos atrativo o investimento em suas ações. Este fato criou maiores dificuldades para a capitalização, todavia a legislação brasileira possibilita a manutenção do modelo.
A situação da petrolífera britânica BG Group mostra com clareza esta situação. As empresas de classificação de risco levantam preocupações quanto a saúde financeira e exigem, da mesma forma que mostrávamos a respeito da Anadarko, um plano de médio prazo para aumento dos lucros.
Segundo analistas – ouvidos recentemente pelo Financial Times – o pré-sal torna-se a salvação da empresa britânica cujo Conselho liberou a assinatura do pedido de empréstimo de 4,5 bilhões de dólares para a aquisição da estrutura de exportação do petróleo brasileiro. Naturalmente a Petrobras, pelos motivos aqui expostos, encontra-se a frente nas responsabilidades com os credores.
A política econômica do petróleo no Brasil precisa ser modificada como urgência, pois seu objetivo maior é capitalizar os oligopólios financeiros internacionais através de uma exploração predatória do pré-sal. A Petrobrás foi criada para abastecer o mercado interno tratando-se de parte integrante de um plano nacional de desenvolvimento.
Trata-se, portanto de uma questão de segurança nacional a revisão da atual legislação que compromete qualquer plano de superação dos efeitos da crise internacional. Os resultados do trabalho no Brasil não podem continuar alimentando os bancos internacionais e sacrificando o nosso povo. Nossa realidade econômica, diferente da marolinha, revela-se nas greves dos servidores da educação federal, nos baixos salários dos professores do ensino fundamental, nos graves problemas observados na saúde.

Veja abaixo a lista de Universidades em greve pelo país:

  Leia a matéria completa e muito mais no Língua Ferina


Veja abaixo a lista de Universidades em greve pelo país:
  1.  Universidade Federal do Acre
  2. Universidade Federal do Roraima
  3. Universidade Federal de Rondônia
  4. Universidade Federal do Amazonas
  5. Universidade Federal do Pará (Seções Sindicais: Belém e Marabá)
  6.   Universidade Federal Rural da Amazônia (com greve estudantil)
  7. Universidade Federal do Oeste do Pará (com greve estudantil)
  8. Universidade Federal do Amapá
  9.  Universidade Federal do Tocantins
  10. Universidade Federal do Maranhão
  11.  Universidade Federal do Piauí
  12. Instituto Federal do Piauí
  13.  Universidade Federal do Semiárido
  14. Universidade Federal da Paraíba
  15.  Universidade Federal de Campina Grande (Seções Sindicais: Campina Grande; Patos e Cajazeiras)
  16. Universidade Federal de Pernambuco
  17. Universidade Federal Rural de Pernambuco
  18. Universidade Federal de Alagoas
  19. Universidade Federal de Sergipe
  20. Universidade Federal do Vale do São Francisco
  21. Universidade Federal do Recôncavo Baiano
  22. Universidade Federal da Bahia
  23. Universidade Federal do Espírito Santo (com greve estudantil)
  24.  Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
  25. Universidade Federal de Uberlândia (com greve estudantil)
  26. Universidade Federal de Viçosa (com greve estudantil)
  27. Universidade Federal de Lavras (com greve estudantill)
  28. Universidade Federal de Juiz de Fora (com greve estudantil)
  29.  Universidade Federal do Triângulo Mineiro
  30. Universidade Federal Alfenas
  31. Universidade Federal de Ouro Preto (com greve estudantil)
  32. Universidade Federal de São João Del Rey
  33.  Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (com greve estudantil)
  34. Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
  35. Universidade Federal do Rio de Janeiro (com greve estudantil)
  36. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (com greve estudantil)
  37. Universidade Federal do Estado do Rio
  38. Universidade Federal Fluminense (com greve estudantil)
  39. Universidade Federal de São Paulo (com greve estudantil)
  40. Universidade Federal do ABC
  41. Universidade Federal do Mato Grosso (com greve estudantil)
  42. Universidade Federal da Grande Dourados
  43. Universidade de Brasília
  44. Universidade Federal de Goiás (Campus de Jataí e Catalão)
  45. Universidade Federal do Paraná (com greve estudantil)
  46. Universidade Tecnológica Federal do Paraná (com greve estudantil)
  47. Universidade da Integração Latino-Americana (com greve estudantil)
  48. Universidade Federal do Rio Grande (com greve estudantil)
  49. Universidade Federal de Santa Maria
  50.  Universidade Federal do Pampa


Leia e veja também no Língua Ferina:
 




Acerto de contas:  Greve vai ser longa

O Povo:  Insatisfação política ameaça rachar sindicato de professores


Folha: Grupo realiza ato na Paulista em apoio à greve nas universidades federais

“NEGRA E HORROROSA”

Buscado no Infinitoaldoluiz
 
 
A SEMANA “NEGRA E HORROROSA

Laerte Braga

Numa escola privada em Contagem, MG, uma avó “indignada” dirigiu-se à sala de aula de seu neto e de maneira ofensiva e aos gritos, acusou a professora de ter deixado o menino dançar na festa junina com uma aluna “negra e horrorosa”. A direção da escola tentou abafar o caso, a professora não. Fez a denúncia, boletim de ocorrência e acabou demitindo-se por não concordar com o procedimento da direção. Escola Infantil Emília.

Uma dessas arapucas de ensino que pululam por todos os cantos em busca do lucro fácil, na falência do ensino público por obra e graça do poder público. Costumam até ser subsidiadas. A presidente da República assinou decreto nesta semana que termina autorizando universidades e faculdades privadas a trocar débitos junto ao governo por bolsas beneficiando alunos do PROUNI. Na aparência tudo bem, na prática confissão de descaso com a educação pública e de boa qualidade, direito do cidadão e dever do Estado.

Imagine então a situação em redes públicas estaduais. O projeto de nada Antônio Anastásia, que governa Minas Gerais, gasta os tubos para dizer que Minas é um “estado feliz”, porque a educação pública está bem tratada. Esqueceu-se de conversar com os professores, os que dão duro no dia a dia de uma escola pública sem a menor estrutura.

As condições propostas pelo governo federal aos professores das universidades públicas são mais ou menos como a ofensa da avó a menina negra que teve a “ousadia” de dançar com seu neto branco.

O jornalista Michael Keep, há vinte e nove anos no Brasil, atribui a chacina que matou doze pessoas e feriu quase sessenta, num cinema numa cidade do estado do Colorado a alienação dos norte-americanos. Segundo ele esse tipo de crime é cometido por brancos da classe média os mais pressionados pelo caráter competitivo da sociedade naquele país (hoje uma grande corporação) e pela falta de senso comunitário. Numa pesquisa feita uns tempos atrás, perguntados sobre onde ficava a Nicarágua muitos responderam que na Ásia, na África, na Europa e uns poucos acertaram América Central.

Fora do hambúrguer, do catchup, da mostarda, de Hollywood e das preces dos pastores que ocupam boa parte dos programas de rádio e tevê no país e ainda aconselham presidentes, o que há é um imenso deserto nos EUA cercado de prédios monstruosos por todos os lados e zumbis andando, a maior parte do tempo com pastas, no pressuposto que são humanos e os maiores do mundo. Que é preciso exportar o modelo. Incapazes de perceber que sobrevivem da exploração secular sobre outros povos.

Numa situação dessas “negra horrorosa” passa a ser situação comum.

No Brasil temos situações que se assemelham a esse tipo de barbárie. No dia 19 de julho a sede do Grupo Tortura Nunca Mais foi invadida no Rio de Janeiro e de lá levadas fichas de atendimentos psicológicos a vítimas de tortura, revirados os arquivos e o computador estava ligado. O grupo foi fundado para promover a recuperação histórica, entre outras tarefas, do período estúpido da ditadura militar. Os assaltantes levaram 1,5 mil reais.

O grupo tem trabalhado nos últimos tempos pela efetivação da Comissão da Verdade, a abertura dos arquivos da ditadura e o cumprimento da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso da Guerrilha do Araguaia.

Pior que isso só o comportamento da conselheira Marilene Squazi em carta dirigida aos brasileiros residentes no Paraguai. Integrante do Conselho de Imigrantes, ao contrário da orientação oficial do governo Dilma, manifesta apoio ao golpe. Fica no ar a pergunta. Quem manda? Dilma ou a conselheira e o senador que lhe passou a informação do apoio presidencial. O governo vai ganhando cada vez mais um rosto tucano.

A íntegra da carta pode ser lida em
http://www.juntosomos-fortes.blogspot.com.br/2012/07/carta-de-diplomata-brasileira-revela.html


E até prova em contrário a moça e o senador mandam mais que Dilma, ou é o caso de enrolação geral. Patriota nem cito aqui, o cara engasga na hora de falar o nome.

Os professores universitários continuam em greve. Justa e legítima. Não é só a questão salarial que está em jogo. É a universidade pública, dever do Estado. O governo não negocia, endurece com servidores públicos federais, mas apronta um pacote de benefícios para o setor privado com o objetivo de disfarçar a crise que pára a economia brasileira. Cada vez mais com cara de FHC.


Já os 10 bilhões para socorrer bancos europeus falidos... Isso é outra história, a velha mania de colonizados. Ou a arrogância de uma potência que se desmancha no vento.


O governo Lula não fez e o governo Dilma se mostra incapaz de promover as reformas estruturais necessárias a que o Brasil se torne de fato um país soberano e independente, cada vez mais disparamos numa vertiginosa corrida para o século XIX.


O modelo político e econômico traçado por FHC e como disse Brizola, “que veio de longe”, não mudou na essência nos quase dez anos de petismo. Continuam achando que a saída é diminuir IPI de montadoras estrangeiras instaladas no Brasil para entupir as cidades de automóveis. A desculpa é garantir empregos.


Breve, nos altares de todas as igrejas modelos dos últimos tipos de cada uma das montadoras. O número de fiéis vai ser maior tanto quanto for o número de prestações e menor as taxas de juros.


Os serviços públicos, esses, na economia de mercado, no Estado mínimo, que prossegue sendo implantado, vão para o brejo.


Se um senador desautoriza a presidente da República e uma conselheira acata a palavra do senador e tranqüiliza brasiguaio a despeito da fala “oficial” da presidente, é porque virou casa da mãe Joana.


A impressão que Dilma dá é que deve ter ouvido o conselho de Sarney e vai levar essa história até as eleições, depois deixa o trem descarrilar, arrebentar, aí, vem copa do mundo, etc, etc. Falo do velho Plano Cruzado que levou o esquema eleitoral até o dia da eleição. No dia seguinte saiu o Cruzado II e todo mundo se arrebentou. Todo mundo é modo de dizer. Bancos, grandes corporações, latifundiários, os principais acionistas do poder público, esse se regalaram com os lucros. Não mudou nada, nem com a entrevista de Roseane Collor, a pastora que só ganha 18 mil reais de pensão por mês.


Por fim, que nome dão ao atirador que matou 12 no Colorado? Feriu 60? Já imaginou se fosse um árabe, ou um negro? Iria ser chamado de terrorista. Já o americano é um “atirador”.


Os EUA são uma sociedade doente e demente. E espalham isso pelo mundo afora.


O capitalismo faliu se sustenta na mídia de mercado vendendo alienação e em caso de resistência, em milhares de ogivas nucleares. E o “capitalismo a brasileira” de Lula nem alçou vôo. Está fazendo a reversão no fim da pista.

domingo, 22 de julho de 2012

Mario Balotelli, um jogador esculpido a golpe

buscado no Gilson Sampaio

do Viomundo



Mario Balotelli, um jogador esculpido a golpes
Seu caráter indomável resulta de uma vida marcada pela rejeição e pelo desejo de melhorar

PAULO ORDAZ


Seu sonho era vestir a camisa da seleção italiana de futebol, mas no dia em que vestiu e conseguiu uma vitória com a qual sonhava, tirou a camisa. Ninguém sabe porque ele fez isso, nem ele mesmo, mas no gesto poderoso e provocador, ficar nu e imóvel como uma estátua, sabendo que receberia um cartão amarelo, descansam todas as contradições de um africano chamado Mario Balotelli, de um negro italiano, de um rebelde que, quando milhões de espectadores da Eurocopa esperavam um pouco de sua loucura real ou fingida, correu para as arquibancadas para se derreter em um abraço com sua mãe, branca, uma senhora de Brescia, que o adotou quando ele tinha dois anos de idade e era um menino magricela, sem futuro.
A vida de Mario Balotelli, que ainda não completou 22 anos de idade, daria três filmes. O primeiro teria o roteiro de uma dessas séries que passam depois do almoço de Natal. Falaria de um bebê doente nascido no sul da Itália, filho de imigrantes de Gana… Mas, não vamos não antecipar os acontecimentos. O segundo filme poderia ser de ação, de automóveis de luxo, brigas, situações-limite, seria filmado entre Milão e Londres e poderia ser assistido por todos os públicos. O terceiro, este não.
Trataria de festas em Saint Tropez e Ibiza, e seus protagonistas seriam um gigante de 1m88cm de altura e seus amigos famosos, de uma tal de Paris Hilton à modelo italiana Raffaella Fico que, no fim das contas, engravidou, presumivelmente do protagonista.
Todos os filmes, porém, seriam perpassados pelo futebol, porque essa é a paixão louca de Mario Balotelli. E não falta, é claro, o bom muito bom e o ruim muito ruim. O primeiro papel poderia ser de Silvia Balotelli, italiana que, ao adotá-lo, tornou a vida possível. O segundo seria de quem a tornou impossível. Um clássico do gênero. José Mourinho.
Mas as primeiras coisas, primeiro. Mario Balotelli nasceu em Palermo (Sicília) em 12 de agosto de 1990. Seus pais jovens, Thomas e Rose Barwuah, tinham acabado de chegar de Gana. Sua situação não poderia ser pior, de modo que, com Mario ainda bebê, decidiram mudar-se novamente, desta vez para o norte próspero da Itália. Eles se estabeleceram em Bagnolo Mella, Brescia (Lombardia). O menino passou seus dois primeiros anos em um hospital sofrendo de uma grave doença intestinal. Os Barwuah, que viviam com outros imigrantes, decidiram colocar o filho para adoção.
Um dia, no final de 1992, os serviços sociais de Brescia bateram à porta de Francesco e  Silvia Balotelli. Eles tiveram três filhos naturais — Corrado, Giovanni e Cristina — e davam apoio a outras famílias em dificuldades. Tanto que em uma ocasião a Sra. Balotelli telefonou para os serviços sociais: “Eu lhes peço, não nos telefonem mais”. Mas voltaram a fazê-lo. Agora, recorda: “Ligaram para eu ver uma criança de cor de dois anos, Mario Barwuah. Já não estava doente. Meu marido levou um carrinho de bebê e a criança pegou na mão dele”. Em 1993 ele se tornou Balotelli, um garoto negro de um bairro branco, um menino travesso que sentiu que seu futuro era ligado à bola. “Enquanto seus irmãos estavam jogando PlayStation”, diz Silvia, “ele sempre estava no corredor, era o seu campo de futebol, e nunca deixou sua bola, nem ao deitar. Jogava jogos intermináveis ​​contra adversários imaginários”.
Não demorou muito até que os rivais imaginários se tornassem reais. Sua carreira tem a velocidade de um de seus piques. Já em seu primeiro time bateu recorde de gols. Depois de rejeitar ofertas de grandes clubes, assinou com a Inter de Milão.
Nunca um jogador de 16 anos tinha assinado um grande contrato. Agora joga no Manchester City, onde ganha quatro milhões de euros por ano. Mas seu sonho sempre foi vestir a camisa azul da seleção italiana. Na verdade, dias antes de completar 17 anos, recebeu uma oferta para jogar na seleção de Gana contra Senegal, mas disse que não. Esperou até completar 18 anos, obteve a cidadania italiana e aguardou a chamada: “Para mim nada é mais fascinante que a camisa da seleção italiana”.
A seção de esportes do El Pais há anos vem contando as danças e andanças de Balotelli, sempre à beira do impedimento, lutando contra seus adversários e contra si mesmo. Massimo Boninsegna, treinador do Lumezzane, primeiro clube de Balotelli, recorda: “O presidente do clube o promoveu de categoria porque os técnicos do infantil tinham dificuldade em controlá-lo. Eu dizia a ele que para ser líder não bastava a qualidade, tinha de conquistar seus companheiros de equipe”. Mas Balotelli era um rebelde. O próprio jogador reconhece que a primeira imagem que se lembra é de sua mãe Silvia gritando. “Depois de cada truque sujo eu dizia: ‘Mãe, me desculpe, eu prometo que este foi o último’”. Mas continuou fazendo. E ainda o faz. E nunca faltam aqueles que argumentam que o pior inimigo de Balotelli é o seu próprio caráter, seu comportamento imprevisível. O técnico Fabio Capello disse, de Cassano e Balotelli: “A Itália tem dois grandes talentos. Mas eles são loucos”.
As loucuras de Balotelli já fazem parte do mito. No Reino Unido existem programas de rádio onde os ouvintes se dedicam a contar as excentricidades do atacante. Eles dizem que o automóvel dele foi rebocado 30 vezes. Embora seu restaurante favorito fique a 100 metros de casa, ele sempre vai em seu Maserati e estaciona na calçada. Diz-se que quase incendiou a própria casa brincando com fogos de artifício, que já encheu o tanque para todos os motoristas em um posto de gasolina, que deu 1.000 libras a um vagabundo e que uma vez entrou na biblioteca de uma universidade e pagou as multas de todos os alunos que não haviam retornado os livros a tempo. Vale tudo para aumentar a lenda de um cara que, aliás, todos têm o prazer de conhecer. Em 2010, quando ganhou o troféu Golden Boy de melhor jogador sub 21, Balotelli disse: “Espero que esse troféu se transforme na Bola de Ouro. Só existe um jogador ligeiramente melhor do que eu: Messi”.
O filme sobre Balotelli, qualquer um deles, terá um fotograma inevitável. O momento em que, depois de marcar seu segundo gol contra a Alemanha na Eurocopa, tirou a camisa e, como escreveu Cayetano Ros, “apertou os músculos da parte superior do corpo em um gesto que imitava o Incrível Hulk, o super-herói dos quadrinhos” . Naquela noite, dizem os cronistas, “verificou-se que não há melhor antídoto para a arrogância [da Alemanha] que um cara como Balotelli, descomplexado e brilhante”.
Sua postura desafiadora às vezes complica sua vida, mas em outros casos é a solução. De todas as frases que Silvia disse após o jogo da Eurocopa, houve uma que retratou bem a vida do filho. Ela contou que quando o menino correu para as arquibancadas e abraçou-a e beijou-a e disse coisas bonitas em seu ouvido, também chorou. “É difícil Mario chorar. Talvez a última vez foi por causa do Mourinho”.
E aqui está, chegamos ao bandido da película. O treinador do Real Madrid comandou Balotelli na Inter. Inicialmente, o técnico português foi atraído pela natureza rebelde, mas logo se cansou. Puniu-o com o banco, mostrou-lhe a porta da rua.
Massimo Boninsegna relata o problema: “Mario precisa ser tratado como um filho. Mourinho deveria ser compreensivo”. Não era. Sua falta de tato — vamos ficar por aqui — fez o jogador passar por momentos difíceis.
Apesar de não termos tratado tanto do assunto, Balotelli é negro, um italiano negro e o racismo na Itália encontra sua caixa de ressonância nos campos de futebol. Mourinho e o racismo se juntaram aos 88 minutos da partida de janeiro de 2010, que a Inter jogava no campo de Chievo Verona. Uma parte do público tinha passado o jogo vaiando cada vez que Balotelli pegava na bola. Mourinho poderia ter esperado dois minutos para o jogador sair de campo abraçado por colegas. Mas preferiu substituí-lo. O público aproveitou e reforçou sua vaia racista. O atacante, implacável, respondeu com aplausos de ironia. Um tribunal esportivo multou — não ao público, a ele, Balotelli — em 7.000 euros. Por provocação…
Meses depois, ao jogar contra a Romênia, o atacante foi novamente vaiado e teve de suportar a ladainha absurda: “Não há italianos negros”. Mas desta vez no banco estava o treinador Cesare Prandelli, que depois da partida disse palavras bonitas e sinceras: “Vamos todos abraçar Mario porque é mentira que insultos não deixam marcas”.
Diz sua mãe branca que quando se sente mal Mario se isola, em silêncio. Agora ele deve estar se sentindo fenomenal, porque de todas as praias luxuosas da Europa chegam fotos de Balotelli na companhia de belas garotas, algumas famosas e outras tentando se tornar, acompanhados por Enock Barwuah, seu irmão de sangue, e amigos.
Para trás está ficando uma infância doentia, uma adolescência de criança negra em bairro de brancos, e um momento de sobressalto quando, já como jogador de futebol, sua mãe biológica o procurou — não se sabe se em busca de carinho ou de seu dinheiro. Durante anos, a Sra. Silvia o educou como mais um de seus filhos. Ela contou — e esta é a parte do filme que sempre emociona — que o aconselhou a ser respeitoso, tolerante com os diferentes. Que muitos outros antes dele sofreram o assédio do racismo, do fascismo. Ao fazer isso a Sra. Silvia procurava um maço de cartas escritas à mão, cheias de riscos de tinta azul, e contava uma história. Sua mãe —  a avó branca de Mario  – era uma judia alemã. Nasceu em Wroclaw, uma cidade polonesa da Baixa Silésia. Durante a Segunda Guerra Mundial, a mãe da Sra. Silvia chegou à Itália por causa do amor de um piloto italiano, mas a família não teve tanta sorte. A irmã mais nova de Silvia, de 19 anos, e os pais foram levados a campos de concentração e ali morreram. Os riscos em azul nas cartas foram resultado da censura dos guardas nazistas…
Quando Balotelli, junto com seus companheiros de equipe, visitou Auschwitz, estava usando fones de ouvido; não ouvia música, mas uma gravação dos horrores sofridos pelos prisioneiros. Depois de deixar o local, o atacante contou à mãe Silvia o que tinha visto. Todas estas emoções estão contidas naquela fotografia de Balotelli, nu e calado diante do estádio, mas especialmente naquela outra, em que mãe e filho juntos se abraçam e falam sobre o Sr. Francesco, agora com 83 de idade, que dava chocolate branco — o seu favorito, Goody — ao  filho antes de cada partida. Prandelli pode estar certo. Insultos não vão embora sem deixar vestígios. Nem erros. Nem o sucesso. Nem as dores da infância. Balotelli, nu diante de todos, foi esculpido a golpes. A golpes muito duros, de sucessos e fracassos.

Heróis da direita: Lacerda, o corvo golpista

buscado no História e Política

por Gustavo Moreira


            É comum encontrarmos nas ruas do Rio de Janeiro, em especial nos bairros que cultivam uma auto-imagem aristocrática, conservadores e liberais que enaltecem a memória de Carlos Lacerda (1914-1977).  Antigo militante comunista, ainda jovem Lacerda se bandeou para as forças que compuseram a União Democrática Nacional (UDN), partido do qual seu pai, Maurício de Lacerda (1888-1959), foi um dos fundadores.  Tornou-se em pouco tempo o líder incontestável da direita na capital do país.     
           Mais do que as obras de engenharia realizadas por Carlos Lacerda durante seu governo no estado da Guanabara (1960-1965), como a construção da estação de tratamento de águas do Guandu, dos túneis Santa Bárbara e Rebouças, e a urbanização do Aterro do Flamengo, os lacerdistas reverenciam a disposição implacável para o combate retórico e prático aos trabalhistas e comunistas, bem como a todos os dirigentes contrários às suas cruzadas supostamente moralizantes. 
          Relega-se ao esquecimento o caráter ardiloso e truculento de Lacerda, que lhe valeu o apelido de Corvo do Lavradio, logradouro carioca em que funcionava A Tribuna da Imprensa, jornal de sua propriedade.  Carlos Lacerda foi uma das figuras mais antidemocráticas da política brasileira do terceiro quartel do século XX.  Na ânsia de chegar à Presidência da República, fez o que esteve ao seu alcance para desestabilizar as gestões de Getúlio Vargas, Jânio Quadros e João Goulart, além de conspirar contra a posse de Juscelino Kubitschek.  Para isto, recorreu aos numerosos contatos que estabelecidos com elementos golpistas das Forças Armadas.          
           A exposição de todas as patifarias de Lacerda, mesmo que sucinta, poderia formar um robusto livro.  Fica a sugestão, para quem dispuser de tempo para a tarefa.  Por ora, apresento um breve roteiro, o bastante para delinear o perfil de um político que aliava a índole reacionária à incoerência e a um feroz oportunismo.  

Agosto de 1953- Carlos Lacerda publica n'A Tribuna da Imprensa um documento falso para denegrir João Goulart, então ministro do Trabalho:

A Tribuna da Imprensa acusava-o ora de corrupção ora de aliar-se aos comunistas, o que muitos candidatos da UDN também fizeram sem que ninguém por isto os criticasse.  E Lacerda chegou ao ponto de divulgar uma carta falsa, atribuída ao deputado argentino Antonio Brandi, procurando comprometer Goulart com um suposto plano de "coordenação sindical entre o Brasil e a Argentina", criação de "brigadas operárias de choque" e contrabando de material bélico pela fronteira de Uruguaiana.  O inquérito realizado pelo general Emílio Maurell Filho concluiu que a carta era "incontestavelmente falsa", forjada por dois falsários argentino, conhecidos como Mestre Cordero e Malfussi, conforme depois se comprovaria.  E não seria demais supor que a CIA também estivesse envolvida no caso.  Joaquim Miguel Vieira Ferreira, secretário-geral da Cruzada Brasileira Anticomunista e agente do Serviço de Informações da Marinha, vangloriou-se certa vez de ter inspirado a famosa Carta Brandi.  Esse homem, conhecido pelo pseudônimo de Victor, recebia Cr$ 300.000,00 do serviço secreto norte-americano e, em 1958, falsificaria outros documentos, como um acordo do PTB com os comunistas e um memorial de militares, reclamando a renúncia de Kubitschek e Goulart, bem como a paralisação das obras de Brasília. (BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz.  O governo João Goulart: as lutas sociais no Brasil, 1961-1964.  Rio de Janeiro: Revan; Brasília: UnB, 2001, p. 58)  




24 de agosto de 1954- Carlos Lacerda festeja uma suposta renúncia de Getúlio Vargas para depois simular consternação com o suicídio do presidente: 

Ainda no dia 24 de agosto, O Dia, em edição extra, precipitadamente anunciava que Getúlio Vargas havia renunciado.  Na primeira página, sob o título "Calma na Cidade", dizia:

"O desfecho da crise não surpreendeu o carioca, que, desde as últimas horas de ontem aguardava, com impaciência, a renúncia do chefe da Nação.  Absoluta calma em todos os setores da cidade, que despertou sem ter notado a mais leve alteração em sua habitual fisionomia.  Apenas mais policiamento nos edifícios públicos e um movimento um tanto fora do comum na órbita do Catete."

Carlos Lacerda, logo ao saber da renúncia do presidente às 4 horas da madrugada, dirigiu-se à residência do sr. Café Filho e, muito sorridente e caloroso, cumprimentou-o efusivamente.

                                                          (...)

Os jornais também recuaram diante dos acontecimentos.  A Tribuna da Imprensa, ainda no dia 24, declarava na primeira página: "Seu sacrifício serve de lição e advertência.  Paz à alma de Getúlio Vargas.  E paz, na terra, ao Brasil e ao seu atribulado povo".
Carlos Lacerda, na mesma página, dizia:
"Inclino-me diante do corpo do Presidente e imploro à misericórdia de Deus perdão para o seu gesto de desespero.  (...) Com seu suicídio, Getúlio Vargas repudiou os mandantes do crime, que agora se escondem na emoção de sua morte (...).  Traíram-no os falsos amigos.

( FERREIRA, Jorge.  O carnaval da tristeza: os motins urbanos do 24 de agosto.  In: Vargas e a crise dos anos 50/Angela de Castro Gomes [org.],  Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994, pp. 93/94)


Novembro de 1955- O general Henrique Lott, para assegurar a posse do presidente eleito, Juscelino Kubitschek, depõe o presidente interino, Carlos Luz.  Carlos Lacerda se esconde em um navio da Marinha e depois na embaixada da Cuba de Fulgencio Batista:

O que importa ressaltar é que, do ponto de vista militar, o golpe foi um sucesso.  O Rio de Janeiro ficou inteiramente sob controle e os comandos de Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná enviaram tropas para São Paulo, onde se esperava uma reação, devido à partida do Brigadeiro Eduardo Gomes, entrincheirado em Cumbica com 40 aviões da FAB.  Mas o governador Jânio Quadros permanece indiferente e o General Falconiere aí assume o comando pró-legalidade.  Frustra-se a reação de Carlos Luz que, em companhia de alguns ministros, vários oficiais e políticos como Carlos Lacerda (que mais tarde se refugiaria na embaixada de Cuba) embarca no Cruzador Tamandaré, na esperança de um desembarque vitorioso em Santos. (BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita.  A UDN e o udenismo.  Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981, pp. 98/99) 


Carlos Lacerda, em suas memórias, admite que a postura de seu partido, a UDN, de negar a legitimidade da eleição de Juscelino e Jango, em 1955, com o argumento de que a chapa não obteve maioria absoluta, foi uma tentativa fracassada de enganar o eleitorado:

A maioria absoluta, defendida principalmente pela "Banda de Música" e seu principal orador, Aliomar Baleeiro, não teve a mesma repercussão que em 1950, quando da eleição de Getúlio Vargas.  O desgaste do recurso era inevitável, como reconheceria Carlos Lacerda em suas memórias: "vamos dizer a verdade, o povo sentiu que era uma manobra em cima da eleição, para mudar as regras do jogo, depois do jogo começado.  E, evidentemente, não pegou" (1978, p. 102).  (A UDN e o udenismo, p. 97)

1961- O corvo se junta aos porcos:

Anteriormente, ocorreu o episódio em que o embaixador dos Estados Unidos, Moors Cabot, fora ao palácio entrevistar-se com Jânio para protestar contra a política externa independente de seu governo.  Como a conversa ficara ríspida, Jânio levantou-se e ordenou que o embaixador se retirasse.  O presidente John Kennedy enviara seu emissário especial, Adolf Berle Jr., para sondar sobre possível invasão a Cuba com forças internacionais das quais o Brasil participaria.  Recebeu forte negativa de Jânio.  Mais tarde, essa invasão se daria pela baía dos Porcos, rechaçada por Fidel.  O governador da Guanabara, Carlos Lacerda, saúda a invasão e recebe muitos anticastristas no Rio.  
(BARBOSA, Vivaldo.  A Rebelião da Legalidade: documentos, pronunciamentos,noticiário, comentários.  Rio de Janeiro: FGV, 2002, p. 17)  


Agosto de 1961- Renunciando Jânio, Lacerda é figura de proa nas articulações golpistas para impedir a posse do vice João Goulart, prevista pela Constituição:

Enquanto Ranieri Mazzilli desenvolve essas articulações, os ministros militares, por seu lado, tomaram providências na área militar e procuraram contatos políticos.  Não encontram grande ressonância no Congresso, apenas o respaldo de alguns deputados e senadores que com eles passaram a manter contatos frequentes, embora raramente utilizem a tribuna para demonstrar alinhamento com o golpe.  Só encontram mesmo um eco forte: o governador Carlos Lacerda, da Guanabara, estado em que foi transformada a cidade do Rio de Janeiro, antigo Distrito Federal, por ocasião da mudança da capital para Brasília, em 1961, feita pelo presidente Juscelino Kubitschek.  Esse engajamento do governador Carlos Lacerda ficou evidenciado pelas articulações e contatos que desenvolveu junto à direita no setor político e na área militar, pela forte repressão que desencadeou às manifestações populares que aconteciam no Rio, talvez as maiores no país depois de Porto Alegre, como parte da Rebelião da Legalidade, e pela censura a rádios, jornais e à incipiente televisão.  Machado Lopes assim descreve a forte participação de Lacerda no golpe:

Na Guanabara, o governador Carlos Lacerda reunia em palácio alguns governadores filiados à UDN e políticos influentes do mesmo partido, e propunha lançar um manifesto à nação, com teor que podia ser assim resumido:

1- impedir a posse do sr. João Goulart na presidência da República;
2- apoio incondicional à ação dos três ministros militares;    
3-eleição indireta, pelo Congresso Nacional, do sr. Juracy Magalhães para a presidência da República

(A Rebelião da Legalidade,, pp. 93/94)

Outubro de 1962- Durante a Crise dos Mísseis em Cuba, Lacerda ordena repressão selvagem aos manifestantes anti-EUA:

Houve comícios em todo o país, realizados pelos sindicatos e associações estudantis.  As manifestações evidenciaram, pelo seu vigor, o acirramento do antiamericanismo.  Alguns dirigentes comunistas, que tentavam conter a exaltação dos ânimos, nem sempre alcançaram êxito.  E, no Rio de Janeiro, os líderes do CGT, moderados, não conseguiram evitar que uma concentração de massas, em frente da antiga Câmara dos Deputados, se convertesse em passeata de protesto e marchasse contra a Embaixada dos EUA, tendo que enfrentar bombas de gás lacrimogêneo, jatos d'água e outras violências da polícia do governo Lacerda. (O governo João Goulart, p. 91)


1964- Carlos Lacerda forma com a linha dura do golpismo e clama por mais cassações:

Carlos Lacerda opunha-se às iniciativas do presidente Castello Branco quanto à antecipação da Constituinte Nacional, e, sobretudo, quanto à prorrogação do mandato.  Esta prorrogação se daria através de uma emenda, dos senadores udenistas João Agripino e Afonso Arinos, vista por Lacerda como "um instrumento contra sua vitória certa nas eleições de 65".  A verdade é que Lacerda se aproximara da "linha dura", anti-Castello, e passara a contar com a oposição dos setores mais liberais dentro da própria UDN, como Afonso Arinos, João Agripino, Milton Campos e Daniel Krieger, para quem Lacerda, se eleito, "seria um ditador" (cit. por Viana Filho, 1975, p. 103).  Em dezembro de 1964, por exemplo, Lacerda chega a pedir o expurgo do Supremo Tribunal Federal e a continuação do Ato primeiro, "contra o legalismo de Castello Branco (Carlos Castello Branco, 1977, p. 169).  (A UDN e o udenismo, pp. 130/131)    


1966/1967- Frustrado em suas pretensões de ser conduzido à Presidência da República pela ditadura, Lacerda busca o apoio dos que sempre ofendeu e repudiou:

A radicalização e o aguçamento do autoritarismo militar, com a decretação do Ato Institucional n. 2, terminaram por desintegrar a frente política que apoiara o golpe de Estado em 1964.  Carlos Lacerda, cuja ambição consistia em suceder Castelo Branco na Presidência da República, frustrou-se, ao ver que o caminho para realizá-la se lhe fechara, primeiro com a prorrogação do mandato de Castelo Branco até 15 de março de 1967 e, em seguida, com a virtual escolha do marechal Artur da Costa e Silva, ministro da Guerra, para sucedê-lo no governo, a partir de 15 de março de 1967.  Como o jornalista Carlos Heitor Cony observou, Lacerda "ficara no vácuo, na posse de direitos políticos que não lhe davam direito nem à política (que deixara de haver em seu escalão civil) nem a mais nada, a não ser ruminar a frustração de não ser aquilo que podia ter sido".  E, em tais circunstâncias, ele rompeu com Castelo Branco, de quem disse ser "mais feio por dentro do que por fora", debandou para a oposição, com o propósito de conquistar-lhe a liderança, e passou a atacar violentamente o regime militar, ao mesmo tempo em que tratava de compor uma Frente Ampla com seus antigos adversários, Kubitschek e Goulart, bem como com Brizola e Miguel Arraes, o ex-governador de Pernambuco, e até os comunistas, visando à redemocratização do Brasil.  (O governo João Goulart, p. 191)