domingo, 8 de julho de 2012

A LUTA DAS MULHERES!

“O segredo da felicidade está na liberdade;
o segredo da liberdade, na coragem.”
Tucídides (c. 465-395 a.C.)


por
Carlos Fernando Priess (*)

A ditadura militar revelou, entre tantos fatos, a participação efetiva das mulheres que, corajosamente, foram em busca da liberdade de seus companheiros, filhos, irmãos, enfim, daquele familiar ou amigo, que estava preso.


Em Recife, um jovem estudante de economia, Sérgio Rezende, filho do Marechal Estevão Taurino de Rezende, Presidente da Comissão Geral de Investigações - CGI, diante da repressão policial da ditadura resolveu pichar os muros com protestos, assinando o seu próprio nome. Foram protestos explícitos de um jovem estudante que teve a coragem audaciosa de contestar as violências praticadas pelos militares, mesmo tendo seu pai como Presidente da CGI.


Detido pelas autoridades militares de Pernambuco confirmou que havia sido ele, sim, que pichara os muros como forma de protesto pelos desmandos da ditadura que se instalara no país. Militares de Recife ligaram para seu pai, o Marechal Taurino de Rezende. O jovem estudante disse ao pai, pelo telefone, de sua indignação pelo que estava acontecendo. A violenta repressão exercida pelos militares assumia contornos extremos, a ponto de ferir, com o não cumprimento, o Código Penal que previa, nenhum cidadão poderia ficar detido por mais de 50 dias, sem culpa formada.


Convencido da justeza dos argumentos de seu filho, Taurino de Rezende baixou um Ato determinando que todos os presos políticos, com mais de 50 dias de prisão, fossem liberados. O corajoso herdeiro, respondeu um inquérito junto a CGI presidida pelo seu pai Marechal Taurino de Rezende, e teve como defensor o marxista e grande advogado Fábio Konder Comparato.


Foi este Ato que, ao possibilitar a liberdade de muitos comunistas e simpatizantes das reformas de base, instigou algumas mulheres a lutar por seus companheiros, ainda presos, pois em Santa Catarina, as forças militares pareciam não dar credibilidade ao mesmo, mantendo-os confinados.


Este fato resultou na união de quatro mulheres companheiras de presos políticos para, juntas, lutarem por justiça, por igualdade de liberdade. Nesta luta encontraram o apoio do então, Vereador Nilton Kucker que solidário com os comunistas de Itajaí emprestou seu próprio carro para que elas fossem a Curitiba, numa audiência com General Comandante da 5ª Região Militar.


Ficou combinado, entre elas, que cada uma teria um papel durante a audiência: as professoras HILDA BUCHELE e AGÍLIA BALLAND fariam a argumentação em defesa dos presos; IRENE ROSA PRIESS, grávida, exibiria sua avantajada barriga que poderia, eventualmente, sensibilizar o General; ROSA CORDEIRO tinha grande facilidade para chorar, choraria.

Foram recebidas com respeito, quando puderam expor a situação de seus companheiros e dos demais presos de Santa Catarina que apesar da determinação expressa do Marechal Presidente da CGI, ainda continuavam detidos. Ouviu atentamente os argumentos de Hilda e Agília, enquanto Rosa chorava copiosamente e Irene, grávida, pedia água.

Voltaram esperançosas que os presos seriam colocados em liberdade. A viagem de Curitiba a Itajaí era, na época, muito sacrificada e demorada. A rodovia não era asfaltada e tiveram quatro pneus do carro, furados. Foi um dia inteiro de viagem. Quando chegaram em casa uma grande surpresa e emoção, muitos já estavam em liberdade, sem saberem, inicialmente, que foram estas guerreiras mulheres que abriram caminho para a liberdade.


A luta dessas corajosas mulheres foi brava e decidida para sensibilizar a ditadura militar. Provaram mais uma vez, a máxima milenar de Tucídides, que “o segredo da felicidade está na liberdade, e o segredo da liberdade, na coragem”.


(*) Advogado/economista – carlos@priess.com.br

Foi preso político durante a ditadura militar em Santa Catarina

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