Buscado no Pragmatismo
Politico
É realmente errado, como tanto critica a mídia brasileira, utilizar a Petrobras para fazer política econômica?
Planejava, primeiramente, tratar neste artigo
sobre a polêmica do leilão
de Libra. No entanto, muitos artigos já contemplaram minha
posição acerca do que é, e o que deveria ser a exploração de
nosso pré-sal, ou seja, uma exploração 100% estatal. Minha decisão
para não escrever sobre este assunto especificamente foi tomada após
ler a coluna do cientista político e ex-porta-voz da presidência da
república no primeiro mandato do governo Lula, André Singer,
intitulada de “A biografia de Dilma”, na edição deste sábado
(26 de outubro) da Folha de São Paulo.
Com isto, me reservarei aqui a tratar de uma
polêmica colocada dentro das discussões do pré-sal, a de que,
afinal de contas, é realmente errado, como critica tanto a mídia
brasileira, utilizar a Petrobras para fazer política econômica?
Para rebater os críticos do sistema de partilha,
grande parte dos analistas econômicos ligados a empresas de
gerenciamento de investimentos, consultorias e aos próprios bancos,
colocaram o endividamento da Petrobras e a sua suposta ineficiência
como argumento de impossibilidade da estatal poder explorar de forma
monopolista a região de Libra. Mas a empresa perder lucro em
potencial para servir como política de diminuição do preço da
gasolina nos postos, ou qualquer outra forma de política econômica,
não é de forma alguma um mal. A Petrobras não deve servir às
empresas que estes analistas trabalham, e, sim, ao conjunto da
sociedade. Dois argumentos sustentariam esta ideia.
O primeiro, o qual justificaria formalmente a quem
deve servir a empresa, é que, apesar do governo já ter aberto
capital e ter vendido grande parte da empresa, tornando a Petrobras
uma empresa de capital misto, o sócio majoritário ainda é o
governo federal, o qual detém a maior parte das ações ordinárias
(em 2010, último dado que consegui ter acesso, este número era de
64% das ações ordinárias – a que dá direito a voto –, e do
total da empresa era de 56%). Ou seja, ainda quem manda na empresa,
através do conselho administrativo, é o governo, mesmo se todos os
outros acionistas decidirem por algo, quem terá a posição
determinante será o governo.
O segundo argumento é que a função de uma
empresa estatal é justamente servir à sociedade que financiou sua
criação e detém, em tese, a sua posse. A Petrobras, o Banco do
Brasil, a Caixa Econômica, etc., são do governo, logo sua função
deve ser o desenvolvimento da sociedade, e não o lucro por si só,
tal como se comporta uma empresa privada capitalista. O mesmo grito
de indignação aconteceu quando o governo utilizou os dois referidos
bancos públicos, no ano passado, para baixar a taxa média de juros
da nossa economia, como se ela por si só já não fosse um absurdo,
figurando entre as maiores taxas de juros do mundo – segundo o site
MoneYou, após a última elevação da taxa básica de juros por
parte do Banco Central, o Brasil hoje ocupa a maior taxa real de
juros básicos de todo o mundo, seguido por China e Chile.
Além disto, a Petrobras não parece estar, nem de
perto, no buraco o qual alarmam por aí. O lucro líquido da estatal
em 2012 foi de R$21,8 bilhões, e nos três primeiros trimestres
deste ano já acumula lucro de R$17,289 bilhões, 29% a mais do que
nos três primeiros trimestres do ano anterior. Segundo a Fortune
Global 500, a Petrobras foi a 25ª maior empresa do mundo, com ativos
de 331,6 bilhões de dólares, sendo a 7ª no ranking de empresas
energéticas. Infelizmente, apesar de tudo, o conselho administrativo
da Petrobras já autorizou o reajuste do preço da gasolina, e para
aumentar ainda mais o lucro da empresa, e os dividendos dos
acionistas privados, os preços dos combustíveis serão elevados nos
próximos meses.
Pra finalizar, é bom lembrar mais uma instituição
pública, o BNDES. Muito foi questionado sobre a possibilidade da
Petrobras poder financiar a exploração do pré-sal. Mas qual é a
função do BNDES? Emprestar mais de 10 bilhões de reais ao Eike
Batista, ou viabilizar a exploração do pré-sal por parte de uma
empresa estatal, para que os lucros sejam retornados para os cofres
do governo federal?
*Eric
Gil é economista do Instituto
Latino-americano de Estudos Socioeconômicos (ILAESE) formado pela
Universidade Federal da Paraíba, mestrando no Programa de
Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do
Paraná; escreve quinzenalmente para Pragmatismo
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