sábado, 28 de junho de 2014

O que faz a Icann?


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ICANN-domains
No coração da internet, corporação responsável para liberar solicitações de novos endereços, necessita de autorização do Departamento de Comércio norte-americano para trabalhar


Por Thiago Domenici
A Icann tem muitas funções e coordena componentes técnicos da internet. É seu papel controlar o uso de nomes de domínios – as terminações finais no endereço de um site, como o “.com” –, além de estabelecer os parâmetros técnicos que permitem que um computador converse com outro em qualquer lugar do planeta. Ou seja, o acesso de qualquer máquina a qualquer página se deve à existência de um sistema central que compreende o endereço da página como algo único. Sem essa centralização, a internet seria caótica, com mais de uma página tendo endereço idêntico. Por isso, atribuir e conceder os chamados top-leveldomain (TLD, domínios de topo da internet, que também podem aparecer como gTLD) é uma das atribuições da Icann, que ainda centraliza as informações de todos os “servidores-raiz” da rede.
Um domínio de topo é identificável pelo que vem após o “ponto” nos endereços. Por exemplo: “www.google.com” está no domínio de topo “.com”. O que vem antes do ponto seria equivalente, num endereço físico, ao número de uma casa, e o que vem após, à rua em que ela se localiza. Para atribuir os endereços referentes aos casos “.com”, “.net”, “.name”, “.tv” e “.cc”, a Icann tem um contrato com a empresa americana de segurança de redes VeriSign, atualmente a responsável por essas terminações.
Cada país possui um gTLD específico, chamado de ccTLD — “cc” corresponde ao “código de país”. É o caso, por exemplo, do “.br” brasileiro. Assim como os gTLD comuns, os ccTLDs respondem a diferentes entidades que facilitam a localização dos endereços cadastrados. O “.br”, por exemplo, é de responsabilidade do “registro.br”, um departamento do NIC.br.
Há também alguns gTLDs mantidos por instituições privadas ou não, que não são geridos pela Icann, como o “.edu” – controlado pelo instituto Educause – e o “.gov” – controlado pelo governo dos EUA. No ano passado, a Icann fez uma expansão dos gTLDs, elevando os 22 gTLD habituais para 1,4 mil possibilidades, alguns curiosos, como “.pink”, “.luxury”, “.guitars”, “.tatoo” e “.sexy”.
A corporação possui ainda solicitações pendentes, como “.google”, “.android” e “.youtube”. Outras companhias de tecnologia também fizeram pedidos, mas ainda não foram atendidas. A Apple quer “.apple”, e a Microsoft, “.microsoft”, “.skype” e “.bing”. A Amazon queria registrar o endereço “.amazon”, mas o conselho da Icann se manifestou contra a empresa de comércio eletrônico, porque a expressão representa uma área geográfica, a Amazônia. Governos de países da região amazônica, como Brasil e Peru, fizeram pressão para que a autorização não saísse.

No mês passado foi divulgado que as Organizações Globo são a primeira entidade brasileira a obter um dos novos gTLDs, cuja extensão será “.globo”. O custo de uma terminação personalizada não sai barato. O Icann cobra, em média, 185 mil dólares só para analisar um pedido, mas os custos totais, incluindo exigências técnicas e jurídicas, chegam a 700 mil dólares. A manutenção do domínio pode chegar a 150 mil dólares anuais.
A Icann também coordena o Sistema de nomes de Domínio (DNS, na sigla em inglês). Para acessar, por exemplo, www.retratodobrasil.com.br, existe uma central que identifica esse domínio e o traduz para o endereço IP correto – uma sequência de números única, que mostra aos computadores o local exato em que eles devem buscar os dados para a navegação. Cada servidor possui um endereço de IP único. Logo, cada domínio leva a um IP específico. Nesse trato, a Icann basicamente faz o gerenciamento dessas traduções – dos nomes para os endereços numéricos. Por isso, os sites precisam estar armazenados em servidores registrados nas entidades que administram os gTLDs, para que seus domínios sejam compreendidos pelo Icann.
Em relação aos “servidores-raiz” do sistema, que funcionam como um índice principal dos livros de endereço da internet, das 13 máquinas principais existentes em todo o mundo, dez estão nos EUA – grande parte controlada por agências governamentais americanas –, duas na Europa e outra no Japão. No entanto, existem centenas de “máquinas-espelho” em outros países, inclusive no Brasil, que armazenam a mesma informação das principais e podem substituí-las a qualquer momento, o que facilita a comunicação e a operacionalidade. Como disse um dos pioneiros da internet, Jon Postel, “os servidores-raiz sabem que procuramos algo pelo nome e o traduzem para um endereço de IP”. Pelo contrato do governo americano com a Icann, mudanças nas listas da raiz só podem ser feitas com autorização do Departamento de Comércio.


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