terça-feira, 20 de dezembro de 2011

ECONOMIA CRIATIVA – NUNCA FOI TÃO CARO SER ARTISTA NO BRASIL


Buscado no trezentos



Por Carlos Henrique Machado Freitas

Reza a lenda que o termo “pra inglês ver” surgiu quando os barões do café, pressionados pelos ingleses, em troca de empréstimos, foram obrigados, no século XIX, a colocar janelas nas senzalas. Os barões sabendo que a inspeção dos ingleses seria à distância, de dentro do trem em movimento, mandaram pintar janelas, como estas existissem. Assim seria satisfeita a exigência dos ingleses que financiavam as dívidas dos barões falidos.
É muito comum hoje, entre nós, falar da rentabilidade da cultura de acordo com a lógica do terceiro setor, a mesma saída da costela do financeirismo global. Entre tantos mecanismos, arranjos e rearranjos neoliberais, não há informação de uma pesquisa organizada sobre a gritante inflação que isso vem resultando, sobretudo quando está incluída na agenda a captação de recursos públicos via leis de incentivos. Esta é a maior ausência da chamada política específica do setor cultural. E mostra então quanto esse quadro trabalha com as chamadas “variáveis” para impor a complexidade de um modelo de gestão que incrivelmente não discute os custos de produção.
Ora, desde que me entendo como gente, aprimorar os custos, ou seja, reduzi-los é a semente abordada em qualquer assunto econômico para se ter uma coleta em lucros que acompanhe a curva de crescimento das firmas.
No Brasil, particularmente, a participação desse quesito, no mundo da cultura corporativa, é ignorada, então temos um armazém multidisciplinar pós-graduado em lucros e, ao mesmo tempo, um mercado que não sabe, por conta da economia geral, seus custos. Isso não só revela uma contradição, mas todo um mecanismo de proteção aos atravessadores. É que classicamente essa falsa economia depende cem por cento de arranjos políticos e empresariais para extrair do suor do povo os recursos públicos, sem limites de crédito. Ou seja, a cangalha, novamente, não é computada. Daí o papel do pelego em transportar recursos públicos para o setor privado sem querer discutir o paraíso, a fonte.
Para ser mais objetivo e direto, entre as diferentes mercadorias com que o terceiro setor ou setor de serviços tem brindado à sociedade, o resultado dessa revolução às avessas é que o Brasil é o país no mundo que paga mais alto suas atrações internacionais ou realiza tais espetáculos com os custos mais altos do planeta, detalhe, com o esteio de recursos públicos, vide Ronck in Rio. Falta no nosso debate um mínimo de verdade. Em determinado momento invocam a inviolabilidade do lar do artista, uma série de argumentos sofismáticos no esteio da relatividade do conceito. Aí temos a maior produção mundial de sofismas. E sob o imperativo da saúde pública das artes brasileiras, o diretor geral desse espetáculo de sangria aos cofres públicos trabalha no saneamento a partir de seus lucros, o que significa que ele arrecada muito, exige muito tecnicamente e os artistas enfrentam uma dramática miséria, agora em aspiral.
A nossa história tem sido esta, em que os recursos permanentes via leis de inventivo passam por uma serpentina de interesses bastante instigante, sendo praticamente no mundo das artes um representante oficial do que vem escandalizando a sociedade brasileira, o livro “A Privataria Tucana”.
Como já demonstrado fartamente, as mãos que controlam os cofres das grandes empresas captadoras de recursos públicos são as mesmas fundadoras dessa moderna forma de terceirização e quarteirização da privatização em cascata dos recursos públicos da cultura. Daí as oportunidades para separar os custos do lucro desse sistema de “incentivar” a produção cultural não aparecem em nenhum contexto de oratória. Ou seja, dentro do modelo de privatização permanente dos recursos públicos, estamos cada vez mais distantes da representação de nossas identidades e vendo cada vez mais a capacidade que tem esse sistema de regime jurídico de manipular e saquear a sociedade.
Por outro lado, mesmo com toda a revolução tecnológica, os custos para se produzir arte no Brasil em espaços abertos ou fechados, nunca estiveram tão altos, ao passo que o ganho médio dos artistas brasileiros nunca foi tão baixo.

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