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Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Um dos traços mais inspiradores de Julian [Assange] é que ele sempre soube dos riscos & fez o que fez em benefício de toda a *humanidade* #wikileaks
Jacob Appelbaum
As ações de Julian não são baseadas em egoísmo ou megalomania – são baseadas em princípios de justiça universal, que depende de as pessoas conhecerem a verdade.
A disposição de Julian para aparecer na arena pública só é desqualificada como “dispensável” por gente que ainda terá de demonstrar que basta(ria) o anonimato para fazer todo o serviço.
Daniel Ellsberg tampouco é sujeito egoísta – poderia ter vazado anonimamente os Pentagon Papers, mas quis que se conhecesse seu nome, porque nunca acreditou que bastaria o anonimato.
Gente inspirada pela coragem das ações de Assange/Ellsberg inspiram outros e outros a, pelo menos, fazer alguma coisa protegido pelo anonimato, enquanto não se decide a fazê-lo também publicamente.
Não temos de criar e cultuar ídolos, mas não podemos deixar que os que assumem plenamente os seus riscos sejam desmoralizados, apenas porque se conhecem sua identidade e sua história pessoal.
Nem podemos desacreditar a ação positiva, apenas porque os valentes também têm defeitos, como todos nós temos.
Nelson Mandela
Nelson Mandela é grande exemplo de sujeito que, embora não seja perfeito, provocou mudanças profundas que merecem elogios, e não pode ser acusado de ter ego/id doentes.
Tanta gente tão sensacional, que trabalha por melhor justiça, é tão cheia de defeitos... E é bem fácil esquecer o quanto de intriga, ofensas, agressões, eles enfrentam na luta que fazem.
Tome qualquer um dos que lutam por justiça social, contra as guerras injustas, contra forças de opressão de, praticamente, todos os tipos – como são tão duramente atacados, sem alívio!
Esses ataques, ainda que haja na motivação alguns traços de verdade, não podem ser usados para desqualificar a luta que eles lutam, os objetivos positivos pelos quais lutam e os objetivos que as lutas buscam alcançar.
Alguns dos pais fundadores dos EUA foram racistas, mas lá estavam, lutando contra a tirania dos britânicos. Temos de tocar adiante a luta.
Nelson Mandela usou táticas que podem ser melhoradas, como fizeram os revolucionários norte-americanos contra os ingleses. E #wikileaks jamais recorreu à violência.
O fato de que #wikileaks obteve todo o impacto que se vê, trabalhando sobre as lições de lutas passadas, é a causa, precisamente, de tantos atacarem tanto o movimento e Assange.
Sem disparar um tiro, #wikileaks alterou resultados de eleições, expôs assassinos, mostrou corrupção massiva – expôs e impediu um sem número de ações de violência e de corrupção.
#wikileaks não seria #wikileaks sem Julian Assange e toda a equipe envolvida com ele, que assumiram riscos bem conhecidos, em nome de um mundo melhor.
Mesmo que alguém não goste de Julian em termos pessoais, ninguém pode permitir que seja enforcado. A humanidade ganhou muito, com o trabalho de #wikileaks. Assange não fez mal a ninguém, nem expôs alguém que não merecesse ser exposto [e só expôs gente que já estaria exposta há muito tempo, não fosse a grande empresa-imprensa, em todo mundo, o que é]. Assange ajudou o mundo.
Há os que dizem que #wikileaks não precisa de Assange e que Assange é um risco para #wikileaks, mas essa é, exatamente, a conclusão mais errada. Ninguém tem o direito de não ajudar Assange a conseguir o que quer conseguir para todos.
Quando falei a HOPE, substituindo Julian, citei Solzhenitsyn:
“E a única salvação possível para a humanidade depende de cada um fazer de todas as questões, assunto seu, e de o povo do ocidente tornar-se vitalmente envolvido em tudo que se pensa no ocidente, e de o povo do ocidente envolver-se vitalmente com o que acontece no oriente”.
Aleksandr Solzhenitsyn
Isso precisamente é o que #wikileaks e Julian Assange fizeram: tornaram possível, para nós, fazer exatamente o que Aleksandr Solzhenitsyn esperava que se fizesse.
Hoje sabemos muito mais sobre quanta gente o Estado assassinou com as próprias mãos – apesar de o Estado não se deixar julgar e condenar por suas guerras e mentiras.
Conhecemos muito mais, hoje, sobre as táticas de corrupção do Quênia ao Iraque; da Líbia, da Tunísia – do ocidente, do oriente e do Sul Global.
A ação de Julian com #wikileaks não foi pensada para acabar morta, nem exilada, nem famosa. Suas ações criaram oportunidade para que todos nós também entremos em ação.
Quando Howard Zinn falava sobre democracia, mostrava que é muito mais do que apenas votar, é conhecimento, cultura, discussões, informação transparente.
Quando Julian fala sobre democracia, ele age para criar condições melhores para o conhecimento, a cultura, para que as discussões melhorem, para abrir avenidas que levam à transparência.
Ninguém tem o direito de esquecer que Julian empreendeu ações de luta contra o autoritarismo que há em todas as estruturas exploráveis de governo.
No “ocidente”, falamos hoje de dissidentes e ativistas, como os do Bahrain, que praticamente não tem voz alguma. Até o departamento de Estado fala deles!
Ninguém tem o direito de esquecer que o povo oprimido do Bahrain merece liberdade, não porque seja povo do Bahrain, mas porque é gente que vive e sofre.
Por todo o mundo, Julian e muitos outros viabilizaram muitas lutas porque as conectaram a fatos há muito tempo conhecidos, mas que não se podiam provar.
O que está vindo e vira depois, terá de vir de nós, se não desperdiçarmos nossa geração. Não haverá mártires e, tampouco, não nos deixaremos ser esmagados pelo Estado.
Nunca mais poderemos esquecer que o Estado mente – todos os estados que se envolveram na caçada contra Assange mentiram e mentem aos seus cidadãos. Essa é uma questão estrutural.
A estrutura dos governos modernos pega gente boa e os mete em situações impossíveis. Uma corrente de realimentação que nós podemos alterar.
A estrutura desses governos é uma melhora em relação ao que havia antes, mas temos de melhorar a estrutura, para melhorar os resultados.
Muitos dos governos modernos, em parte como efeito de escala, perderam a confiança das pessoas, que já não confiam que façam a coisa certa, no exercício da representação.
Temos de lembrar a todos que vivem nas estruturas dos governos, que a justiça não é coisa que só apareça para gente que ocupa o centro do palco, como Julian.
Como faremos isso? Como comunicar esses objetivos? Como comunicaremos nossas ideias partilhadas de unidade e nossos objetivos de justiça?
Faremos o que fizermos, com ações. Ações individuais e ações tomadas em conjunto, como um todo, na busca para alcançar aqueles pontos de unidade, aqueles objetivos.
Temos de começar por fazer ver a todos que estejam em posição de poder que: acreditamos firmemente que o que acontece a Julian acontecerá a TODOS nós, mais dia, menos dia.
Julian Assange
Temos de convencê-los também de que, se o que se teme acontecer a Julian, acontecerá, exatamente igual, a eles, antes que aconteça a todos nós.
Temos de descobrir nomes e cargos de todos os responsáveis e impedir, a todo custo, que escapem. Iniciem ações judiciais, tranquem as portas, imprimam panfletos.
Temos de descobrir quem sabe o quê, quem sabia, quem não se manifestou – dos assassinatos com drones à caçada/perseguição contra Julian Assange – todos terão de responder pelo que tenham feito ou deixado de fazer.
Eu, que sou cidadão norte-americano, fui preso pelo exército dos EUA/ICE/DHS em solo norte-americano – roubaram-me os objetos que eu carregava, impediram que procurasse um advogado, ameaçaram me matar – é esse o mundo que queremos?
Nada disso representa qualquer avanço na direção da justiça , quando a polícia é protegida e tem o direito de mentir – e quando os militares não têm nenhum limite.
Todos esses são exemplos de tirania, de injustiça, de sistemas estruturalmente falhados.
#wikileaks trabalhou e trabalha para nos informar sobre, precisamente, esses sistemas. Não podemos perder essa chance. Não podemos permitir que o mundo desperdice Julian!
Cada um, cada pessoa impactada por ação do Grande Júri nos EUA deve vir a público e falar de suas experiências. Não podemos permitir que continuem a dizer que o que está acontecendo não está acontecendo.
Cada um, cada pessoa, que tenha o que dizer contra o artigo 1021 da NDAA [1] que se manifeste. Nenhuma prisão sem tempo definido e sem julgamento, em lugar algum, nunca.
Temos de falar alto e falar forte, temos de escrever sempre que virmos mentiras impressas no New York Times ou no Washington Post.
Não podemos deixar nos esmagar pelo medo ou pelo medo de represálias – temos de nos recusar a nos deixar silenciar. Temos de expor os que nos pressionem e tentem nos ferir.
Quando alguém disser que Julian é irracional e paranoico – temos de responder e mostrar que os EUA estão rompendo todas as suas regras, nossas regras, na perseguição que move contra ele.
Em poucos anos, se não consertarmos os vícios e problemas estruturais que vemos hoje, nós já encontraremos a total tecnologia para o totalitarismo total, aí, à nossa espera, à nossa espreita.
O silêncio não nos protegerá – só estaremos protegidos se nos mantivermos unidos e fortes, apesar de todas as nossas fraquezas e defeitos, contra a injustiça, qualquer injustiça, todas as injustiças.
Enviem um amicus brief [2] ao processo Jewel vs NSA para lutar contra a tirania dos mandados genéricos de prisão. Enviem um amicus brief à ação contra o artigo n. 1.021, sectário.
Registrem manifestação a favor do FOIA [Freedom of Information Act], a propósito de tudo, qualquer causa – agitem, usem a verdade como instrumento de agitação social, forcem os desgraçados a prestar contas de tudo que façam de errado, sempre que usarem contra nós o poder que têm.
Se você está em Londres, a hora agora é de ocupar a Embaixada do Equador – sejam os olhos do mundo contra a tirania do Reino Unido.
Para cada um semelhante a Julian ou Bradley Manning, há dúzias cujos nomes não sabemos – temos de apoiar todos eles, em sua luta.
Não desesperem, se não conseguirmos ganhar todas as lutas. O importante é não nos deixar desanimar. A luta moral é lutada em nome da moral, não da chance de vencer.
Não desanimem, porque encontrem alguns covardes. Mostrem a cada covarde que eles podem mudar de ideia e, quando o covarde, afinal, estiver pronto, ajudem-no, na luta dele.
Nossa geração pode vencer a apatia e todos os fracassos das últimas décadas. Rejeitamos a noção de que o Estado seria perfeito ou honesto.
O destino de Julian Assange está em nossas mãos; agora, é hora de agir! Vamos à luta antes que seja tarde demais, para Julian e para nós.
Nota dos tradutores
*Os que não conheçam Jacob Applebaum, podem vê-lo em entrevista a Assange, no programa “The World Tomorrow”,Russia Today, transcrita e traduzida na redecastorphoto em: - @“Assange entrevista n. 6: Cypherpunks” http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/06/assange-entrevista-no-8-cypherpunks-1.html@ (partes 1 e 2).
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Notas de rodapé
[1] “National Defense Authorization Act” é a lei de segurança nacional dos EUA. A seção 1.021 (do subtítulo D – “Contraterrorismo”), autoriza as forças armadas dos EUA a prender qualquer pessoa suspeita de ação terrorista, com uso de força militar.
[2] Amicus brief [lat.: amicus curiae] é o documento jurídico pela qual qualquer cidadão que tenha conhecimento de informação relevante para causa que esteja sendo julgada pode apresentar-se espontaneamente ao juiz para dizer o que sabe. Cabe à corte, em cada caso, aceitar ou não a contribuição espontânea do amicus curiae, literalmente, “amigo do tribunal”.
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