O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou nesta sexta-feira (31) a atualização semestral do cadastro de empregadores flagrados com mão-de-obra escrava.  Ao todo, 88 novos nomes foram inseridos e 14 retirados em definitivo  após quitarem suas pendências com o poder público. A lista passa a  contar com 220 empregadores. Entre os listados, há empresas do setor  sucroalcooleiro e siderúrgico e uma libertação ocorrida em uma obra que  estava relacionada no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Essa é a última atualização realizada no governo Lula e a maior em  número de entradas. Isso decorre do grande número de estabelecimentos  inspecionados nos últimos três anos (350 em 2009; 301 em 2008; e 206 em  2007). Esse período entre a libertação e a entrada do empregador na  “lista suja” ocorre devido ao processo administrativo dentro do MTE, que  inclui o direito de defesa por parte do fiscalizado. Nesse intervalo de  tempo, o número de pessoas libertadas, de acordo com o ministério, foi  de 3.769 em 2009; 5.016 em 2008; e 5.999 em 2007. 
A “lista suja” tem sido um dos principais instrumentos no combate a  esse crime, através da pressão da opinião pública e da repressão  econômica. Após a inclusão do nome do infrator, instituições federais,  como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Banco da Amazônia, o  Banco do Nordeste e o BNDES suspendem a contratação de financiamentos e  o acesso ao crédito. Bancos privados também estão proibidos de conceder  crédito rural aos relacionados na lista. Quem é nela inserido também é  submetido a restrições comerciais e outros tipo de bloqueio de negócios  por parte das empresas signatárias do Pacto Nacional pela Erradicação do  Trabalho Escravo. 
O nome de uma pessoa física ou jurídica é incluído na relação depois  de concluído o processo administrativo referente à fiscalização dos  auditores do governo federal e lá permanece por, pelo menos, dois anos.  Durante esse período, o empregador deve garantir que regularizou os  problemas e quitou suas pendências com o governo e os trabalhadores.  Caso contrário, permanece na lista. 
Atividades econômicas presentes da “lista suja” vão desde a criação  de gado bovino, passando pela produção de carvão vegetal para a  siderurgia, de cana-de-açúcar, produção de soja, milho, cebola, frutas,  erva-mate e pinhão-manso (usado no Brasil como matéria-prima para  biodiesel). Café, algodão até extrativismo vegetal (eucalipto, pinus e  látex) e mineral. Também estão presentes empreendimentos da área da  construção civil e da siderurgia.
Empresas do setor sucroalcooleiro como a Elcana Goiás Usina de Álcool  e a Usina Fortaleza de Açúcar entraram na lista pela primeira vez. A  Energética do Cerrado Açúcar e Álcool retorna após a queda de uma  liminar judicial que a mantinha fora da lista. As três são de Goiás,  pólo de expansão da cana no país. 
Destaque também para a inserção de construtoras – cada vez mais  trabalhadores têm sido libertados na construção civil no país. Um  exemplo é a Construtora Lima e Cerávolo, incluída por conta da  libertação de 95 pessoas.
Fiscais do grupo móvel do governo federal encontraram, no final de  agosto de 2009, os trabalhadores em condições análogas à de escravidão  no desmate de áreas para a construção da Usina Hidrelétrica Salto do Rio  Verdinho. A Lima & Cerávolo era prestadora de serviço terceirizado  de “supressão vegetal” à Rio Verdinho Energia S/A (administrada pela  Votorantim Energia). A obra no Sul de Goiás, entre os municípios de Caçu  e Itarumã, faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 
De acordo com a fiscalização, as vítimas foram aliciadas  criminosamente por “gatos” (intermediários de mão-de-obra) no Norte do  Mato Grosso e no Oeste de Minas Gerais, não recebiam salários regulares,  eram submetidos a um sistema ilegal de endividamento, viviam em  alojamentos impróprios e não tinham alimentação adequada. Dentro de uma  única casa de fazenda desapropriada que submergirá com a barragem, 52  pessoas se apertavam. “Dormiam umas em cima das outras, em redes e  beliches”, descreveu na época a auditora fiscal do trabalho Virna  Damasceno, que coordenou a operação. Segundo os fiscais, o pagamento dos  trabalhadores não passava de ficção: houve concessão de “adiantamentos”  pontuais para compra de alimentos que foram contabilizados como dívidas  que seriam descontadas no final da empreitada. Os “gatos” anunciavam  que, ao término do serviço todos receberiam as quantias totais  pendentes. Aqueles que decidissem ir embora antes da conclusão do  trabalho, não ganhariam nada. Os dados das fiscalizações foram reunidos  pela Repórter Brasil.
Por fim, um exemplo na área e produção e carvão é a inclusão da  Rotavi Industrial, após a libertação e 174 pessoas de uma carvoaria em  Jaborandi, na Bahia. Segundo informações do grupo móvel de fiscalização  do governo federal, o carvão vegetal era utilizado na fabricação de  liga-leve, produto usado na cadeia produtiva da indústria  automobilística, e a Rotavi era a dona da propriedade, montou a  estrutura das carvoarias e aproveitava integralmente a produção. Na  época, a empresa informou que os trabalhadores da carvoaria não eram  seus, mas de empresas terceirizadas que lhes prestavam serviço. De  acordo com juízes do trabalho que atuam nessa área, de acordo com a lei,  a empresa responde pelas condições trabalhistas encontradas. O Grupo  Rotavi atua ainda nas áreas de transporte e mineração.
Os trabalhadores não tinham carteira assinada e não recebiam  regularmente. Parte da alimentação era oferecida pelos empregadores, mas  itens complementares eram vendidos – e depois descontados do “virtual  pagamento” – a preços abusivos aos empregados. Dois “gatos” (aliciadores  de mão-de-obra e intermediários da empreitada) atuavam na fazenda.  Parte dos trabalhadores relatou que estava há três meses no local sem  receber absolutamente nada.
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