O Brasil apreendeu 1,6 milhão de CDs piratas em 2010, segundo balanço da Associação Brasileira das Empresas de Software em conjunto com Entertainment Software Association divulgados pelo Uol e a Folha.com nesta segunda. Isso representa um crescimento de 42% em relação ao ano anterior. Foram 730 operações em centros comerciais para combater esses artigos – 10% a mais que em 2009. A matéria aponta que a consultoria IDC afirma que a indústria de softwares e serviços pode incorporar cerca de R$ 7 bi nos próximos quatro anos, se reduzir em dez pontos percentuais o índice de pirataria no mercado local – 74% dessa renda iria para a economia nacional, gerando 12 mil novos empregos.
Trago aqui um debate que publiquei anteriormente neste espaço, mas que acho bastante pertinente. De tanto ouvir e ver propagandas em rádios, TVs e cinemas que fazem o consumidor sentir-se um pedaço de lixo, financiador do tráfico de drogas, responsável pelo desemprego e pela fome no mundo, por não se atentar à origem dos CDs e DVDs que compra, creio que se faz necessária uma pergunta: empresas de software, gravadoras e a indústria do entretenimento em geral aplicam o mesmo terror em suas relações comerciais?
Inexiste, por parte de muitas delas, uma política para evitar a compra de equipamentos eletrônicos (utilizados na criação de programas, gravação de músicas, filmagens de películas) que contêm crimes contra a humanidade e o meio ambiente em seu processo de fabricação. As únicas restrições que impõem são: que o produto tenha preço baixo e a qualidade técnica desejada. Enquanto isso, a indústria de aparelhos eletrônicos consome proporções cada vez maiores de minérios preciosos e raros encravados pelo mundo. Muitos desses metais são extraídos em minas de países pobres nas quais trabalhadores, crianças e adultos, enfrentam condições aterradoras. Ou comunidades são removidas para dar mais espaço para a mineração. Fora a contaminação da água e a poluição do solo.
Alguns vão dizer que é ilegal baixar músicas e copiar DVDs, mas comprar de quem escraviza e desmata para a produção de matéria-prima não? A resposta sobre o porquê de o mundo ser assim reside no fato de que, historicamente, as leis criadas para proteger a propriedade e o lucro são mais severas e efetivas do que as que foram implantadas para defender a vida e a dignidade.
Se a indústria da informação e do entretenimento não podem comprovar para o consumidor comum de que o seu processo de produção é social e ambientalmente responsável, como é que eles vão exigir responsabilidade de nós?
E isso não significa doar computadores para orfanatos, informatizar ONGs ou ser simpático ao distribuir softwares gratuitos a instituições de ensino (há várias formas de viciar uma criança, sabia? – mas isso é assunto para outro texto). Também não basta recolher o lixo digital produzido pela obsolescência programada das máquinas desse admirável mundo novo. É preciso mais, muito mais. Deveria-se chegar ao ponto de discutir o consumismo tresloucado da era digital e aonde vamos todos com esse culto ao gadget (do qual, não nego, sou participante ativo).
A provocação não é uma apologia à pirataria, mas sim um chamado à responsabilidade. Coisa que anda em falta nos dias de hoje.
Buscado no Sakamoto
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