Vocês que aprendi a respeitar, admirar e acompanhar peço-lhes ajuda para um momento que tornou-se inevitável. É com tristeza que abrirei publicamente aquilo que tenho evitado desde que inaugurei este blog. Uma luta...uma luta árdua, doída e de consequências sofridas diretamente na minha vida profissional e pessoal ( e de muitas outras pessoas) por não aceitar atos inescrupulosos, ardis, covardes, ditatoriais.
Os motivos são muitos e aos que se interessarem - espero que sejam os que se dizem contra tudo o que citei acima - terão muitas razões para acompanhar e principalmente, divulgar o que se inicia agora com uma Carta de Indignação elaborada por um servidor público (professor) de Hortolândia-SP, que assim como eu trabalha em prol de uma sociedade no mínino coerente e na mesma cidade. Leiam na íntegra e a divulguem por que isso é só o começo de um grande conto que tenho pra lhes contar.
"Adolescente “surta” e mata primo de 7 anos: o que temos a ver com isso?"
Nos últimos dias uma manchete sobre o assassinato de uma criança nos pegou de surpresa: Adolescente chega em casa, provavelmente sob efeito de alguma substância ilícita, tem alucinações, mata primo de sete anos e fere prima também adolescente... Muitos de nós ficamos chocados com a história, mas já estamos acostumados com tanta violência e sabemos que com o tempo esqueceremos.
Desta vez, comigo foi diferente.
Era uma noite de sábado, estava em casa e de repente o telefone toca. Já era dez e meia da noite. Minha chefe diz: “Ronaldo, lembra daquele nosso aluninho, Reinaldo? Esse ano ele está com a professora Denise, ano passado esteve com a Deicla...” Assim pelo nome não conseguia lembrar, e eis que ela continuou, “lembra que teve um garoto que caiu na rampa da escola e machucou o rosto? É ele...”. Neste momento me lembrei daquele rostinho levemente desfigurado por causa de um tombo, afinal as crianças adoram correr na escola, e perguntei a ela o motivo do telefonema...
“Então, o primo mais velho esfaqueou e matou ele...”
(...)
Desde aquele momento até agora estou perplexo. Além de sofrer com a perda de um aluno (pois em nossa escola um aluno não é apenas de um professor, mas de todos), fico pensando sobre o que este ato de violência está nos querendo dizer. Uma vida tão pequena não pode ter sido abruptamente interrompida e ser passada assim. Ela nos ensina algo.
Se este final de semana deveria ser festivo para todos nós, afinal é carnaval, tenho certeza que minha comunidade está em luto. Ainda não consegui conversar com todos de lá. Apenas sei que fiquei tão chocado que não tive forças para ir ao enterro. Jamais conseguiria me deparar com aquele rostinho, que outrora estava machucado por um tombo corriqueiro, agora desfigurado por golpes de facas que lhe custaram a vida. Como alguém que é apaixonado por crianças e seus barulhos, conseguiria ver o silêncio e a quietude de um corpinho num caixão?
O sentimento de ódio e indignação pulsava em mim. E é óbvio que meu primeiro alvo foi o adolescente-assassino. Mas foi apenas pensar em tudo o que ocorrera que mudei minha opinião. O hoje adolescente possui marcas de uma infância muito mais presentes em sua vida, do que a de um ser já adulto. Mas que marcas são essas?
Comecei a lembrar de minha adolescência. Estudei em uma escola pública de período integral com mestres intelectuais que até hoje são referência para mim. Durante esta fase da minha vida, estes profissionais trabalhavam conosco o desejo por um sonho, por um projeto de vida, e como faríamos para alcançar nossos objetivos.
Quais são os sonhos deste adolescente? Qual será sua utopia? Ou será ele mais uma vítima da sociedade em que vivemos? Em quais escolas ele passou? O que o poder público fez e fará dele daqui pra frente, principalmente quando este caso cair no ostracismo? Será que teremos profissionais da saúde mental dando todo o suporte necessário para este, também, menino?
O que mais me impressiona neste caso é o silêncio das autoridades competentes no município de Hortolândia: Onde está a deputada estadual, o prefeito, a vice-prefeita, os secretários e os vereadores? Qual é o vosso pronunciamento? Quais atitudes serão tomadas daqui pra frente para que não tenhamos outros Reinaldos esfaqueados em nossa cidade? (grifo meu)
Infelizmente, este caso apenas deflagra a carência de políticas públicas eficazes neste mundo em que vivemos. Afinal, crianças que crescem em contato com educação, cultura e lazer não deixam de sonhar. Possuem um projeto de vida. Não se tornam adolescentes que se contentam em viver seus dias lidando com medidas e punições judiciais.
Acho que esta foi a gota d’água que faltava em meu copo de indignação política. Precisamos de medidas urgentes e eficazes nesta cidade. Os responsáveis por esta cidade precisam assumir as rédeas de suas responsabilidades. Não dá pra esperar mais! (grifo meu)
Por hora, ainda não sei como será voltar para a escola depois do carnaval. Já soube que algumas crianças disseram que Reinaldo estará lá na quinta-feira. Ainda precisaremos ensinar as crianças a lidar com a perda, num mundo que está cada vez mais violento e sem perspectivas. Ainda não sei se aprendi a lidar esta perda, mas terei que fazê-lo: Ser professor não é tarefa fácil.
E ao nosso pequeno Reinaldo, a única coisa que posso dizer é que fique com Deus!
(Ronaldo Alexandrino)
Mestre em Educação e professor na mesma escola onde estudou Reinaldo.
Hortolândia...não lhes parece um nome que nos leva intuitivamente a pensar numa terra distante...de contos...da terra do nunca?
Ahh...antes fosse a terra dos contos de fadas, dos nobres bondosos contra as bruxas do mal onde o bem sempre vence. Infelizmente é exatamente o contrário. Uma legião de súditos de origem humilde, porém de brava gente são os meros servos desse nobre poder que administra essa cidade.
Porque a ironia? Aos muito bem informados, certamente saberão do que estou falando e que fique bem claro que o desabafo é independente de questões partidárias, até por que sabemos que partidos políticos não retratam mais uma ideologia irrevogável. Trata-se do Poder econômico (independente das fontes) que se sobrepõem aos ideais políticos e partidários, lamentavelmente.
Conto com vocês e aguardem o desenrolar do "conto"...
(Rosa Zamp)
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