sábado, 18 de agosto de 2012

Artigo – Rick Falkvinge criador do movimento do Partido Pirata

buscado no Trezentos

 

O Partido Pirata do Brasil está formalmente fundado. Eu passei os últimos dias viajando pelo  Brasil, palestrando em conferências e encontrando ativistas, e fiquei com uma impressão muito positiva do movimento e cultura.
Enquanto eu escrevo isso, o ritual de fundação formal está sendo  encaminhado – o programa do partido está sendo lido alto para os  ativistas reunidos e futuros membros fundadores, e o estatuto do Partido Pirata do Brasil vai ser votado, depois do qual 101 membros fundadores de nove estados brasileiros assinarem a fundação.
Eu comecei essa viagem ao Brasil visitando a convenção do FISL (Forum Internacional de Software Livre) em Porto Alegre, palestrando lá, e voando para Recife, onde encontrei mais ativistas e palestrei na Campus Party Recife. Minha impressão de que o Brasil tem a habilidade e a capacidade para derrubar as atuais economias dominantes permanece, e foi de alguma forma fortalecida.
A internet torna possível realizar muitas tarefas com o mesmo resultado a um décimo ou mesmo um centésimo do custo prévio. Basta olhar como o Partido Pirata da Suécia  se tornou o maior partido abaixo dos 30 nas Eleições Europeias com um centésimo do orçamento de campanha dos nossos competidores. Os EUA e a União Europeia parecem infernalmente determinados a resistir e rejeitar esse aperfeiçoamento radical na produtividade em nome de “salvar empregos”, o que é totalmente contraprodutivo para tudo, a não ser o curtíssimo prazo, o que deixa o campo aberto para qualquer outra potência que quer colocar em prova os Estados Unidos e União Europeia rejeitando monopólios que quebram e atrasam esses aperfeiçoamentos em eficiência de magnitude.
Veja os países BRIC(S), que estão em meu foco há algum tempo. As assim chamadas “economias emergentes”.  Brasil, Rússia, Índia, China e alguns ainda incluem a África do Sul na lista. Eu realmente não acredito na ascenção da China além do meio termo – duas decadas por aí – baseado na maneira pela qual eles tratam a internet. A China ativamente impede a liberdade de expressão com o objetivo de silenciar dissidentes domésticos, e então, eles também impedem pessoas e ideias de crescer até seu potencial pleno. A Rússia, lamentavelmente escolheu a mesma rota.
Eu mantinha grandes espectativas pela Índia por um bom tempo, vendo a sua crescente  indústria farmacêutica de genéricos e um entendimento assumido que mais monopólios de copyright e patentes não estavam necessariamente nos interesses nacionais da Índia, mas, no ano passado, parecia que a Índia estava começando a atacar a liberdade de expressão e a internet mais e mais, a pedido dos lobbies usuais. Isso deixa uma necessidade maior por  um Partido Pirata da Índia, mas também estabelece uma batalha morro-a-cima lá.
 Assim sobra o Brasil, que parece ir na direção completamente oposta. Por exemplo, há atualmente uma proposta de lei no Brasil chamada “Marco Civil da Internet” que estabelece uma firme escritura de direitos online – estabelece a neutralidade de rede, estabelece que o  acesso à internet é pré-condição para o exercídio da cidadania, e estabelece que os provedores nunca são responsáveis pelo tráfico de dados que carreiam. Se colocado em prática, isso estabeleceria uma firme liderança mundial em ver a internet como uma força de mudança fundamentalmente positiva.

Qualquer país que comece a ter um resultado dez vezes ou cem vezes maior com o mesmo investimento  de tempo e recursos vai simplesmente derrubar as potências geopolíticas  dominantes, fazendo eles girarem tão rápido que nem verão de onde veio. O  Brasil está numa posição de fazer exatamente isso, e os Estados Unidos e a União Europeia estão sendo desastrosamente estúpidos em rejeitar e postergar essas mudanças estruturais para satisfazer os custos irrecuperáveis de Hollywood, Louis Vitton e Vivendi Universal.
Nesse ambiente, o Partido Pirata do Brasil tem uma significativa vantagem na largada, em termos de corações e mentes antes de muitos outros países. As pessoas viram a internet, viram as vantagens que ela traz, e rejeitam os monopólios industriais dominados pelos Estados Unidos. Ele começa com um programa substancialmente maior do que a maioria dos PPs tiveram no primeiro dia, um programa que inclui diversidade social, estado laico, e acesso à internet. Fazendo as contas, parece que uma vez registrado como partido, eles tem uma excelente oportunidade de se sair bem nas eleições dentro de dois anos.
Mais que qualquer outro país, o Brasil está coberto de fadiga política e apatia. As pessoas estão  lamuriando – não, gritando – pelo próprio conceito de político que não… bem, não se comporta como um. Conversando com as pessoas, a mensagem “nós não somos políticos, somos ativistas dos direitos civis em quem vocês podem votar” parece evocar uma ressonância maior aqui do que na maioria dos outros lugares, aumentando ainda mais o potencial do PPBR.
O próximo passo depois de hoje será coletar 500.000 assinaturas (sim, são quinhentas mil) apoiando o registro do partido.  Esse é o maior número que eu já vi em qualquer lugar do mundo – mas eu  tenho certeza que pode ser conseguido. 

Bem-vindo à comunidade, Partido Pirata do Brasil!

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu tô fora!

Assinar embaixo da petição de registro do "Partido Pirata" é assinar embaixo da institucionalização da sociopatia.
É alçar a Internet - um meio (em todas as suas acepções), não um fim - a projeto nacional (e não a tema inserido dentro de um contexto maior, ou seja, dos tais fins).
É pretender participar da realidade concreta guiado pela forma com que ela se reflete na Internet.
É tomar o todo, não pela parte (ex.: movimentos de defesa das minorias), mas por uma projeção muito grosseira do todo na parte (a Internet é uma imagem em baixíssima resolução, e distorcida, da realidade).
Ou muito me engano, ou essa história de Partido Pirata é um sintoma tipicamente europeu: uma sociedade moribunda de jovens entediados, mimados, e sem perspectivas.
Quando se adentra um pouco mais esse universo de apoiadores de uma iniciativa como essa percebe-se que a grande motivação primal é a defesa pura e simples do direito de compartilhar toda a porcaria produzida pela tão famigerada indústria do entretenimento (essa que eles elegem como o seu principal inimigo). Deriva disto que o grande projeto para a Humanidade é a distribuição gratuita de toda a porcaria produzida por essas mesmas indústrias que eles tanto dizem odiar, querem uma espécie de bolsa-Hollywood.
Nesta semana um site que congrega esse tipo de pessoas postou um artigo a respeito da recente decisão do Google de desclassificar sites que tenham tido conteúdo removido por infrações de direitos autorais. O artigo gerou uma enorme quantidade de comentários, e a sua leitura é reveladora da superficialidade de discussões produzida por essa turma (clássicos apoiadores de Partidos Piratas), e corrobora o diagnóstico que fiz acima.
Registrar um Partido Pirata no Brasil é copiar a doença dos outros (a Europa? De novo?).
Se é justificável o enfrentamento à indústria de direitos autorais não é porque ela cobra pela venda dos seus produtos e me impede de baixá-los e consumi-los, trancado no meu quarto, entediado, mas pelos contextos político, social e econômico em que essa indústria se insere.
Se o tema Internet deve ser levado a plenário - e acho que deve! - não será pelo Partido Pirata, mas por toda a sociedade e inserido dentro dos diversos projetos nacionais (os partidos que, mal ou bem, traduzem projetos de país) e internacionais - por exemplo, na próxima reunião da União Internacional de Telecomunicações, quando estará em pauta a polêmica discussão sobre mudanças na governança global da Internet.
O Partido Pirata acha que pode criar esses contextos do zero - o que não deixa de ser uma tremenda pretensão (no sentido pejorativo mesmo).
Desculpem o comentário fora do padrão Facebook.

jader resende disse...

Caro Glapido, obrigado pelo comentário.
Que vale um post, vale.

Um grande abraço.