domingo, 26 de setembro de 2010

México: A verdade sobre o massacre de Tamaulipas

Via Patria Latina

20 mil imigrantes sequestrados por ano
Sobre o massacre de 72 imigrantes em Tamaulipas, onde dias depois foram assassinados o juiz encarregado da investigação e o prefeito da cidade de Hidalgo, o complexo desinformativo mundial quis passar a idéia de que as vítimas tinham sido recrutadas pelos narcotraficantes ou tinham tentado se vender melhor aos cartéis.
É uma interpretação carente de fundamento, caluniosa e racista, que quer ocultar a verdade da exploração até o último centavo da vida dos 600.000 imigrantes do Centro e Sul do continente americano que cada ano se atrevem a atravessar todo o México.
A realidade é que estes imigrantes são constantemente acossados, vítimas de extorsões, violações e ameaças, inclusive antes de empreender a travessia do deserto – o muro construído por George Bush –, de ser vítimas das patrulhas de minutemen, – milícias armadas de anglo-americanos –, das leis raciais de Estados como Arizona e de tantos outros infortúnios na sua busca de trabalho nos Estados Unidos. Para o sacerdote católico Alejandro Solalinde, os “cachucos” (sujos imigrantes, na gíria) desde o momento em que saem de seu país “deixam de ser pessoas e viram mercadoria, uma mina de ouro tanto para as máfias como para as autoridades.”
Os grandes meios de imprensa os apresentam como mão de obra criminosa de baixo custo disponível para o narcotraficante, dejeto da sociedade, indesejáveis, cúmplices se não membros eles mesmos das máfias, e, portanto, sem direitos nem dignidade humana. Contra eles apontarão agora aviões não tripulados – drones – que não conseguirão deter a entrada de uma grama sequer de cocaína, mas que ajudarão a jogar nos braços da delinqüência os imigrantes, que na realidade são vítimas de uma autêntica emergência humanitária que os governos de Calderón e Obama deveriam enfrentar.
Os imigrantes são um negócio de 3 bilhões de dólares por ano que se repartem os cartéis criminosos e as forças de poliícia corruptas, tanto dos EUA como do México. Para passar para o outro lado pagam entre 4.000 e 15.000 dólares.
Para monsenhor Felipe Arizmendi Esquivel, bispo de San Cristóbal de las Casas, em Chiapas, pelo menos dois terços dos imigrantes, uma vez no México, sofrem extorsões ou roubos, e um de cada dez é vítima de violação durante a viagem. Cerca de uma quinta parte é detida e enviada de regresso. Trata-se de um número que tem diminuído, por que os que interceptam os imigrantes preferem tirar tudo deles a enviá-los a seus países. A situação tem piorado sem cessar na última década, com a violenta campanha contra os imigrantes que levou George Bush a construção do muro na fronteira entre EUA e México, que logo se complementará com um muro duplo na fronteira entre o México e Guatemala. As medidas adotadas para deter a emigração, como em outras fronteiras entre o Sul e o Norte, longe de impedir o tráfico de seres humanos, não fazem mais que aumentar o preço, fazer o negócio mais lucrativo e por ainda mais em risco a vida dos imigrantes.
Cada ano, segundo estatísticas oficiais do México, pelo menos 20.000 imigrantes acabam sendo sequestrados pelos cartéis criminosos e obrigados a pagar, além do preço da travessia da fronteira, resgates de entre 1.000 e 5.000 dólares cada um, e a ser objeto de comércio entre os cartéis, como se fossem pacotes, ou ser assassinados como reféns para induzir a outros a pagar.
Segundo Jorge Bustamante, relator especial da Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH), o México é o país onde se cometem as mais graves agressões aos direitos humanos do continente.
Em 2009, a CNDH publicou um volume intitulado “Bem-vindos ao inferno dos sequestros”, no qual se denunciava o maltrato aos imigrantes centro-americanos, e recolhia inúmeras testemunhas relativas à implicação das autoridades mexicanas nos sequestros.
No informe se descrevem as características dos sequestros. O imigrante é frequentemente detido pela policia e vendido às organizações criminosas, que o conduzem a lugares isolados, como a fazenda de San Fernando onde ocorreu o massacre em Tamaulipas. Aqui começam as surras, as violações e as torturas. O objetivo é obter os números de telefone dos familiares que permitam obter resgates exorbitantes dos imigrantes, quase todos muito pobres. Em geral, quem não pode pagar é assassinado.
O massacre de Tamaulipas se enquadra neste atroz contexto de 20.000 sequestros por ano. Setenta e dois imigrantes que provavelmente não podiam pagar foram fuzilados como nos massacres nazistas. Soubemos disso só porque Freddy Lala, um jovem equatoriano de 18 anos, conseguiu sobreviver e dar o alarme, depois de caminhar durante mais de 20 quilômetros com uma bala no pescoço. Ou talvez fosse que, como em tempos do Plano Condor ou no genocídio da Guatemala, lhe permitiram sobreviver para que contasse a historia e induzisse mais terror. Os imigrantes são vítimas, não cúmplices.



Copiado do blog Gilson Sampaio



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