quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Serra é autoritário, elitista e sem carisma, dizem especialistas!

Serra é autoritário, elitista e sem carisma, dizem especialistas

do 'Vermelho'

O apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à candidata Dilma Rousseff (PT) é o ponto mais favorável ao crescimento da petista nas últimas pesquisas eleitorais, segundo especialistas. Já o candidato à presidência pelo PSDB, José Serra, está ligado à oposição e isso é apontado como um dos pontos que mais pode prejudicá-lo na disputa. No entanto, ele possui mais experiência em cargos executivos, item que ainda é fraco no currículo da ex-ministra-chefe da Casa Civil.

Estas características foram citadas por professores da área de política como os principais fatores que podem ser levados em consideração pelo eleitorado na hora de decidir o voto e que deveriam ser trabalhados pelos dois candidatos nesse pouco mais de um mês que ainda falta até o dia da votação.

Os especialistas confrontaram defeitos e qualidades dos três candidatos à presidência do Brasil nas eleições deste ano com maiores chances de vitória, segundo pesquisas recentes.

Dilma Rousseff (PT)

De acordo com a pesquisa do Ibope, divulgada no dia 16 de agosto, a aprovação do governo Lula bateu novo recorde e atingiu 78%. Segundo o levantamento, esta fatia da população considerara a administração do presidente como ótima/boa e demonstra que a vontade da população de manter a atual forma de governar mantém-se alta. Com isso, a ligação de continuísmo que existe entre Lula e a candidata do PT é a característica mais forte da campanha de Dilma, explica a professora de Ciência Política da Universidade Fedral de Minas Gerais, Helcimara Souza Telles.

Ela afirma que o crescimento da candidata entre os eleitores parece não ser apenas circunstancial, mas cristalizado, já que “há uma satisfação muito grande com as políticas governamentais”. As pessoas querem um presidente que dê continuidade ao governo atual ou que faça poucas mudanças, diz Helcimara. Segundo a pesquisa Ibope de 28 de agosto, a petista aumento para 24 pontos sua diferença para Serra (51% contra 27%) e venceria a disputa no primeiro turno.

Apesar de concordar com o fato da imagem de Lula estar sempre ao lado da ex-ministra, e ser um dos principais fatores de sucesso da candidata, a professora do Programa de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Maria Socorro Braga, considera que Dilma tem conseguido um desempenho melhor do que o esperado em debates e reações mais confiantes ao receber perguntas “muitas vezes bastante complicadas”.

Maria Socorro explica que “é importante para o eleitorado sentir que ela é capaz de governar um País não só dependendo de uma figura prestigiada como o presidente Lula”. E esse, na opinião da professora da Ufscar, é um dos grandes desafio de Dilma, já que ela nunca enfrentou o eleitorado, sempre ocupou cargos nomeados como o de secretária e ministra.

“Ela (Dilma) não tem experiência parlamentar e jamais ocupou cargos majoritários”, diz Helcimara. E essa inexperiência impede que os eleitores avaliem a candidata nessa situação.

Uma imagem relativamente autoritária também foi citada pela professora da UFMG como um ponto a ser trabalhado pela petista, mas ela ainda considera que essa característica é mais latente no principal concorrente da ex-ministra, o candidato do PSDB, José Serra.

José Serra (PSDB)

José Serra já foi secretário, deputado federal, ministro, prefeito de São Paulo e governador do Estado paulista. Sua experiência política após ter passado em todos esses cargos é, na avaliação do professor de Ciência Política da (Universidade de Brasília) UNB, David Fleisher, a característica que mais pode impulsionar a candidatura do tucano.

“Ele é considerado pelos eleitores como mais experiente, mais realizador e mais preparado para exercer a presidência da República”, afirma a professora da UFMG. Por isso mesmo, ela diz que ele deve fortalecer esses pontos na campanha. Segundo Helcimara, por estar sempre atrelado a ideia de que Serra favoreceria os ricos e empresários no seu governo, essas duas parcelas da população podem ser consideradas sua “fortaleza”.

Outra característica de Serra, na opinião de Maria Socorro, da Ufscar, é ser “um líder muito auto centrado, que tenta resolver as questões sozinho”. Se for utilizada na dose certa, ela pode ser uma qualidade, segundo a especialista em Ciência Política, no entanto, também pode acabar prejudicando o candidato. “Para ser uma liderança, é necessário ter a capacidade de buscar uma equipe que seja capaz de, juntos, resolver os problemas do País. Não dá para resolver sozinho.”

A professora afirma que esse é um ponto que o tucano deve melhorar na sua imagem, para não parecer autoritário, como acontece. Ela explica que ele precisaria conversar mais, ser mais aberto e não resolver tudo “de cima para baixo”.

Já Fleisher considera que um item que pode ser atribuído pelo eleitor de forma negativa a Serra é sua ligação ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, “que não deixou uma imagem muito boa entre o eleitorado”. No debate promovido pela “Folha de São Paulo” e pelo portal “UOL”, no dia 18 de agosto, o candidato defendeu tanto FHC quanto o outro ex-presidente Itamar Franco, após declarações críticas de Dilma sobre os governos anteriores ao de Lula.

A falta de carisma também já foi muitas vezes citada em publicações e sátiras sobre o ex-governador. Maria Socorro afirmou que realmente esse ponto pode influenciar o eleitor. De acordo com ela, a empatia pode ser decisiva no resultado de uma eleição. Ela explica que a população deve se sentir mais a vontade em votar no candidato, já que muitas pessoas fazem suas escolhas baseadas no vínculo emocional, principalmente a parcela da sociedade com menos acesso à informação.

Por isso mesmo, é possível perceber que muitas campanhas têm uma base nesse lado sentimental.

Marina Silva (PV)

Para a professora da UFMG, a candidata do PV tem esse carisma, esse apelo emocional que falta no ex-governador de São Paulo. Além disso, ela também possui uma experiência política mais diversificada em relação à Dilma. Esses pontos podem ser utilizados pela candidata à favor de sua campanha, segundo Maria Socorro. Marina foi vereadora, deputada estadual, senadora e ministra, e além disso, trabalhou com o PT, partido do atual presidente, por 30 anos.

Maria Socorro aponta também uma certa abertura na agenda de discussões da candidata como incentivo à sua campanha, que costumava ser baseada apenas em questões ambientais. A professora considera que ela conseguiu uma boa equipe para prepará-la melhor e atualizá-la de diversos assuntos importantes.

No entanto, para Helcimara, o discurso ecológico ainda tem sido um ponto de desequilíbrio para a ex-ministra do Meio Ambiente. Na opinião da professora da UFMG, Marina deveria ter uma agenda mais desenvolvimentista. O cientista político Fleisher, da UnB, concorda que candidata tenha uma insistência exagerada no assunto.

Já o ponto fraco da candidata, de acordo com a opinião de Maria Socorro, seria a religião. Esse tema ficou atrelado à imagem de Marina, segundo ela, e é muito diferente das propostas e ideais do partido, o que acaba levando a uma perda de parte do eleitorado. O desafio desta campanha, segundo a especialista da Ufscar, é compatibilizar as diferenças de interesses.

Um outro problema na campanha de Marina é uma questão de utilidade de voto. Helcimara explica que muitos eleitores que se sentem próximos a um candidato que não tem possibilidade de chegar ao poder, acabam mudando sua escolha para “evitar perder seu voto”. Isso acaba prejudicando Marina, que, na pesquisa do Ibope de 28 de agosto, registrou 7% das intenções de voto.

A especialista afirmou que apesar das pesquisas, ela deveria ousar mais, mostrar mais energia, entusiasmo e se colocar como uma candidata com possibilidades reais de vitória. Não apenas mais uma participante do debate presidencial.

Link:

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=1&id_noticia=136227



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