sábado, 6 de novembro de 2010

Carolina Maria de Jesus


É necessário registrar alguns detalhes da vida da autora para que se possa compreender a importância de seus escritos e explicar como uma pessoa da sua condição social possuía tantas informações sobre a vida política e social da época e uma sensibilidade rara para entender o mundo.


Carolina Maria de Jesus saiu de Sacramento, pequena cidade do Triângulo Mineiro, em 1947, fugindo da pobreza da zona rural.


Perambulou pelo interior do Estado até chegar a São Paulo, onde trabalhou como doméstica em casa de pessoas importantes, como a família Zerbini. Não se adaptando ao trabalho doméstico, Carolina mudou-se para a hoje extinta favela do Canindé, nos arredores da cidade, passando a trabalhar como catadora de papel. Naquela época era um trabalho até certo ponto “rentável” devido à precariedade dos serviços de coleta de lixo.


Negra, jovem, bonita, inteligente, mãe solteira, independente, Carolina despertava a inveja das vizinhas e a cobiça dos homens.


Alfabetizada até o 2º ano primário, desenvolveu e cultivou o gosto pela leitura e o hábito de escrever. Tudo indica que deve ter tido acesso a algumas obras dos grandes autores brasileiros nas casas em que trabalhou, o que lhe manteve acesso o desejo de ser “artista” e explica a menção a poetas como Casimiro de Abreu e Castro Alves. Tais informações não teria uma menina que houvesse estudado até o 2º ano primário em uma escola do interior.


Carolina dividia seu tempo entre as tarefas de catar papéis, cuidar dos afazeres domésticos (que, na verdade eram poucos, pois quase nada havia a cozinhar, lavar ou arrumar no pequeno barraco) e a escrever o seu diário, onde registrava os fatos corriqueiros de uma favela.

Um dia houve uma inauguração de um parque infantil, próximo da favela. Todo mundo foi... conta Carolina. A certa altura, os adultos começaram a expulsar as crianças e a tomar conta das gangorras e balanços. Carolina disse para uma companheira, que morava ao lado: “Este é o tipo de animal com quem eu tenho que viver. Eu os porei no meu diário, assim jamais serão esquecidos”.
Quando eu vou na cidade tenho a impressão de que estou no paraíso. Acho sublime ver aquelas mulheres e crianças tão bem vestidas. Tão diferentes da favela. As casas com seus vasos de flores e cores variadas. Aquelas paisagens há de encantar os visitantes de São Paulo, que ignoram que a cidade mais afamada da América do Sul está enferma. Com as suas ulceras. As favelas”.
... Cheguei na favela: eu não acho jeito de dizer que cheguei em casa. Casa é casa. Barracão é barracão. O barraco tanto no interior como no exterior estava sujo.
... Eu classifico São Paulo assim: o Palácio é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam o lixo”.
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