Via Direto da Redação
Mário Augusto Jakobskind
As atenções do mundo seguem voltadas para os acontecimentos do Egito, onde Hosny Mubarak nos seus estertores ainda tenta uma sobrevida, que tudo indica ser rigorosamente impossível. Mubarak terá o mesmo destino que Suharto, da Indonésia, que passou três décadas mandando em seu país graças ao apoio de sucessivos governos estadunidenses e depois de prestar inestimáveis serviços a Washington foi expelido para a lata de lixo da história.
Não será nenhuma surpresa se logo após o fim de Mubarak o Egito venha a ser governado pelo Nobel da Paz Mohamed El Baradei, que inclusive já deu sinais claros que seu provável mandato, provisório ou por eleição, não desestabilizará a região e manterá os acordos com o vizinho Israel. E isso apesar da intromissão indevida do Presidente israelense Shimon Peres tecendo loas ao sanguinário ditador do Egito, que até há poucos dias era ainda chamado de Presidente pela mídia de mercado.
O que intriga é o fato de os EUA estarem tentando impor uma transição sob o comando de Omar Suleiman, que tem tanta culpa no cartório como Hosny Mubarak, peça já descartada e que se tenta a chamada ”saída honrosa”. Questão de mais dias menos dias.
Mas em outras partes do mundo acontecem fatos que não aparecem nas páginas ou são apresentados de forma bastante escondida nos jornalões, como no caso da prisão de cinco cubanos nos Estados Unidos, país cuja opinião pública só tem acesso a essa informação através de matérias pagas que custam uma fábula nos grandes jornais.
Nesse sentido, se tiver vontade política, a Presidenta Dilma Rousseff poderá ter grande influência no caso dos cinco presos cubanos nos EUA, no encontro que terá em Brasília, em março, com o Presidente estadunidense Barak Obama.
Como ela tem se destacado na defesa incondicional dos direitos humanos, já tendo reafirmado que a política externa de seu governo será norteada por esses preceitos, Dilma Rousseff se fortalecerá ainda mais diante da opinião pública nacional e internacional caso se disponha a conversar com o Presidente Barak Obama e fazer um apelo pela soltura dos inocentes que na verdade evitaram mais ações terroristas contra Cuba.
A Presidenta Dilma Rousseff deve estar informada sobre o caso. Se por acaso não estiver, o que deve ser difícil, tanto o Ministro do Exterior, Antonio Patriota, como o assessor especial de política internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia provavelmente conhecem bem o caso e podem fornecer subsídios valiosos à Presidenta.
Para quem eventualmente ainda não sabe, desde 1998 encontram-se presos nos Estados Unidos cinco cubanos acusados absurdamente de “espiões” quando, na verdade, o que eles fizeram foi alertar as autoridades sobre planos da extrema direita do exílio cubano nos Estados Unidos relacionados com o terrorismo. A ação destes setores inclusive provocou vítimas fatais como a explosão de bombas em hotéis de Havana.
A mídia de mercado praticamente ignora o tema e também o fato de o julgamento que os condenou ter sido uma farsa, até porque notórias figuras da extrema direita do exílio cubano influíram na decisão do júri.
No julgamento a que foram submetidos e em que receberam penas que variam de prisão perpétua a 30 anos, teve até militares estadunidenses que atestaram a inocência dos cinco cubanos que estão mofando na prisão e impedidos de receberem visitas de familiares. Mas não adiantou nada, porque os acusados já estavam condenados de antemão e a justiça propriamente dita passou longe do Tribunal.
Na verdade, o que está acontecendo nos Estados Unidos é uma aberração. Enquanto os inocentes estão presos há mais de 12 anos, um tal de Posadas Carriles, um ex-agente da CIA comprovadamente responsável por mortes em ações terroristas está impune e vai ser julgado não por terrorismo, mas se mentiu ou não ao retornar de forma ilegal ao país que sempre o estimulou para realizar ações contra Cuba.
E qual a importância da Presidenta Dilma Rousseff pedir a Barak Obama para que tenha um gesto de grandeza e com uma canetada liberte os inocentes? É que em termos jurídicos estão quase esgotadas todas as tentativas de advogados para a libertação ou até mesmo novo julgamento que não seja em Miami sob a influência direta da extrema direita do exílio cubano. Se tiver vontade política Obama pode ordenar o indulto.
Na verdade, mesmo partindo da hipótese de que eles tenham sido mesmo espiões, o que nunca foram, é o caso também de perguntar: por que os Presidentes Bill Clinton, o hediondo George Bush filho e agora Obama, não extraditaram os “espiões” para o país de origem, como é praxe nestes casos? Quem tiver dúvidas deve consultar os anais da historia recente.
É isso ai, Presidenta Dilma, pedir a canetada do Obama vai realmente reforçar a sua imagem como defensora intransigente dos direitos humanos e além do mais estará dando visibilidade, nacional e internacional, ao caso dos cinco cubanos. A senhora, como ex-presa política em sua juventude quando combatia o arbítrio, sabe mais do que ninguém como é duro enfrentar uma cadeia, ainda por cima de forma totalmente injusta, como foi o caso da senhora nos anos 70 e agora o dos cinco cubanos.
Pode estar certa, Presidenta Dilma Rousseff, se fizer o que deve ser feito, da mesma forma que condenou o veredito de morte (depois revogado) da iraniana Sakiné, estará contribuindo sobremaneira para o fortalecimento dos direitos humanos no mundo.
Buscado no Gilson Sampaio
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