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A professora da UFRGS critica o processo de espetacularização do
julgamento em curso no STF e identifica um preocupante quadro de
esquizofrenia política no país com a degradação do quadro partidário,
advertindo para os riscos da campanha sistemática contra a política e
contra os políticos. Céli Pinto enxerga no horizonte uma configuração
paradoxal que define como “o pior dos mundos”. Se por um lado os
governos Lula e Dilma trazem consigo enormes avanços sociais, no plano
de valores parece haver um avanço conservador:
“Há uma falta de vontade política de enfrentar mais de frente as
forças conservadoras deste país. Essas forças conservadores ganham, por
um lado, com o crescimento econômico e o aumento de consumo, e, por
outro, há um avanço de valores conservadores, de avanço de valores das
igrejas pentecostais e da igreja católica, dando o tom do que pode e do
que não pode no país. Então, temos uma combinação que é o pior dos
mundos. E esse pior dos mundos não é contra o desenvolvimento social.
Nem a Igreja Católica nem os pentecostais são contra o aumento do
consumo e de emprego. Muito menos a burguesia brasileira, desde que não
haja aumento de poder das pessoas, que divida um pouco a imensa
concentração de poder que há neste país”.
Como agravante, temos ainda uma campanha midiática diária e sistemática
contra a política e os políticos, descrita assim por Céli Pinto:
“Enfrentamos um processo de despolitização e até de glorificação da
despolitização que afirma que o que é político é ruim e o que não é
político é bom. Esse discurso vem sendo repetido incessantemente, dia e
noite. Em sempre disse para meus alunos e em entrevistas que eu não
acreditava que a grande mídia dominava corações e mentes em lugar nenhum
do mundo e muito menos no Brasil; que se dominasse o Lula não teria
sido presidente da República ou o Olívio não teria sido governador aqui
no Rio Grande do Sul. Mas, neste momento, eu acho que há uma influência
sim, muito mais espalhada, menos política, mais na escala de valores,
que está muito entranhada nas pessoas. Você pega um táxi, vai a um
consultório, conversa com as pessoas e quase todas estão falando mal da
política e dos políticos. Esse discurso é repetido à exaustão
diariamente na mídia: os políticos são corruptos, não são sérios, não
trabalham”.
Integrante da Comissão Estadual da Verdade no Rio Grande do Sul, ela
define um dos principais objetivos desse trabalho: “queremos contar a
história de quem foi preso, torturado, morto ou desaparecido e também
apontar quem torturou e matou. Queremos mostrar que a tortura, a morte, o
desaparecimento e a humilhação não foram exceções, mas sim uma
política de Estado”.
Marco Aurélio Weissheimer
No RS Urgente
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