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De acordo com o autor, mais
que uma bancada, Brasil tem um sistema político ruralista.
Lançamento ocorre nesta segunda-feira (20) na Livraria Cultura, em
São Paulo
Aline Scarso*
O jornalista Alceu Luís
Castilho se debruçou por cerca de três anos sobre os registros do
Tribunal Superior Eleitoral e analisou 13 mil declarações entregues
em 2008 e 2010 por prefeitos, vice-prefeitos, governadores e
vice-governadores, deputados estaduais, federais e senadores, que
disputavam o pleito nesses anos. Desse trabalho, surgiu o livro
“Partido da Terra – como os políticos conquistam o território
brasileiro”, que mostra o domínio de políticos sobre o território
brasileiro e como o Brasil tem uma face rural muito mais acentuada do
que se proclama.
Segundo Castilho, das 13
mil declarações entregues em 2008 e 2010, 346 são de políticos
que declararam possuir mais de 1 mil hectares. Ele pontua,
entretanto, que o número pode ser bem maior. Além de muitos
políticos não terem concorrido nesses pleitos, outros declararam
somente o valor das terras, sem informar ao leitor o tamanho delas.
“Isso deveria ser obrigatório. E temos ainda as terras registradas
em nome de empresas, parentes etc. Entre várias outras
caixas-pretas”, destaca.
Blairo Maggi (PR), cuja
empresa possui mais de 200 mil hectares, e o senador Eunício de
Oliveira (PMBD), que possui dezenas de propriedades rurais, são dois
dos políticos proprietários de terras no país. “José Sarney e
Renan Calheiros (ambos do PMDB) são ruralistas, mas nem sempre
apontados como tais. E se revezam na presidência do Senado. Mais que
uma bancada, temos um sistema político ruralista. Com gente de quase
todos os partidos”, aponta o autor. O livro traz ainda uma lista de
31 políticos que declararam possuir mais de 10 mil hectares cada um
e tem nomes conhecidos, como o ex-governador de Goiás, ex-ministro e
ex-prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMBD).
De acordo com ranking de
“Partido da Terra”, no âmbito municipal, 62,33% dos municípios
brasileiros têm o prefeito ou o vice-prefeito como proprietário de
terra. No Mato Grosso, a porcentagem chega a 78,72. No que se refere
ao Congresso Nacional, o PMDB é o partido que tem mais senadores,
deputados estaduais e federais eleitos em 2010 com propriedades de
terra, seguido do DEM, do PR, do PDT e do PSDB.
E há implicações
políticas e econômicas desse quadro? Segundo Castilho, a pesquisa
mostra que sim. “O livro ajuda a mostrar que esses homens públicos
possuem interesses diretos em relação ao território brasileiro. A
partir do momento que entendemos a lógica fica mais fácil ver como
há dezenas de políticos envolvidos em casos de trabalho escravo, de
ameaças a camponeses, indígenas - e mesmo mortes. Quem tem poder
não o larga. A violência é expressão disso. Mas ela não ocorre
só a mão armadas, nos grotões. Certas votações no Congresso são
violentas, mantêm a exclusão de milhões. Certas decisões de
prefeitos, governadores e presidentes são igualmente violentas. Mas
estão disfarçadas. Esqueçam da bancada ruralista. Ela é apenas
uma cortina de fumaça. Ali estão os ruralistas assumidos. Há muita
gente mais discreta bancando esses senhores”, argumenta o autor.
“Partido da Terra” é
certamente um esforço jornalístico valoroso, que mostra a partir da
investigação o que os movimentos sociais do campo falam há
décadas: o forte domínio dos interesses de latifundiários e dos
empresários da terra na política nacional.
Veja o comentário do
autor sobre o livro
Fonte: Brasil deFato
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