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BRECHT,
Bertolt, 1898-1956 - Writing the
truth: five difficulties (1934) 32 p.
Tradução
de Vitor Pordeus
Enviado por Sílvio
Tendler
A Editora Abadia
Catadora começou a ser gestada no fim de 2011 por moradores e
moradoras da Cidade Estrutural, no Distrito Federal. Seu nome
homenageia uma corajosa cidadã e militante local, antiga
profissional da reciclagem de lixo. A inspiração partiu da oficina
de edição de livros oferecida por integrantes da editora argentina
Eloísa Cartonera, em novembro daquele ano. Com a perspectiva de
trabalhar com edição de livros, disseminar a literatura e contar a
história da comunidade, foi criada a Abadia Catadora. Em comum com
sua congênere argentina, a proposta editorial de produzir livros
artesanais, com capas de papelão reciclado, trabalhadas à mão.
Cada livro é único, expressão artística singular.
A região da
Estrutural começou a ser ocupada, nos anos 1960, a partir da
fixação de pessoas atraídas pela atividade de reciclagem no lixão
da Estrutural, o maior de Brasília, a apenas 20 km do Plano Piloto.
Muitos dos moradores que participaram da oficina são integrantes do
Movimento de Educação e Cultura da Estrutural e participam do
Projeto Ponto de Memória, que busca a valorização da comunidade
por meio do resgate de sua memória e identidade.
Estruturada nos moldes
de uma cooperativa, funcionando de forma participativa, a Editora
Abadia Catadora é um novo canal para textos que estimulam a
reflexão e a discussão política.
A Editora tem ainda
como objetivo apoiar o processo de construção e preservação da
memória social e coletiva, por meio do lançamento de escritores
locais. Iniciará seus trabalhos com a publicação de três
títulos, cada um com tiragem de 50 exemplares: “De mãos abertas
e de punho erguido”, poesias de Carlos Rodrigues Brandão; “As
cinco dificuldades de escrever sobre a verdade”, artigo de
Bertolt Brecht; e “A menina e o rio”, conto de Almir Gomes,
jovem da comunidade, que estreia como escritor.
Algumas palavras
Vitor Pordeus
|
Bertolt Brecht viveu
ferozmente tudo o que escreveu. Depois de testemunhar os horrores da
I Guerra Mundial, parte, ainda estudante de medicina, para o teatro,
com sua primeira peça, Baal (1918).
Quando Hitler chega ao
poder na Alemanha, o nome do dramaturgo alemão estava entre os
cinco mais procurados pelo regime nazista. Dizer a verdade naquele
período era algo extremamente perigoso.
Exilado,
sistematicamente perseguido, foi arrancado de sua terra e de seu
povo.
A partir de sua luta
contra a censura, a ignorância e o preconceito, Brecht nos lega
esse texto, uma espécie de manual de sobrevivência em uma Era
Científica. Nele, estão relacionadas e analisadas as cinco mais
importantes dificuldades para se escrever, ou se comunicar, a
verdade.
Cinco dificuldades de
Escrever sobre a Verdade foi elaborado na mesma época em que Brecht
escreveu uma de suas peças mais conhecidas, A Vida de Galileu. Não
por acaso, essa peça relata a vida do famoso astrônomo Galileu
Galilei, condenado pela Inquisição por defender que a Terra não
era o centro do universo.
O texto é rico e
poético, pois como o próprio diz, os versos ateus de Epicuro são
mais perigosos porque são belos.
Certamente Cinco
dificuldades de Escrever sobre a Verdade nos ajudará, escritores e
leitores, a partir da experiência vivida por Brecht, a desenvolver
uma melhor comunicação da verdade. Ele realmente foi expulso por
um bom motivo.
Obrigado mestre
Brecht, tiraremos máximo proveito.
Expulso por um bom
motivo
de Bertolt Brecht
Eu cresci como filho
De gente abastada.
Meus pais
Me colocaram um
colarinho, e me educaram
No hábito de ser
servido
E me ensinaram a dar
ordens. Mas quando
Já crescido, olhei em
torno de mim
Não me agradaram as
pessoas da minha classe e me juntei
À gente pequena.
Assim
Eles criaram um
traidor, ensinaram-lhe
Suas artes, e ele
Denuncia-os ao
inimigo.
Sim, eu conto seus
segredos. Fico
Entre o povo e explico
Como eles trapaceiam,
e digo o que virá, pois
Estou instruído em
seus planos.
O latim de seus
clérigos corruptos
Traduzo palavra por
palavra em linguagem comum,
Então
Ele se revela uma
farsa. Tomo
A balança da sua
justiça e mostro
Os pesos falsos. E os
seus informantes relatam
Que me encontro entre
os despossuídos, quando
Tramam a revolta.
Eles me advertiram e
me tomaram
O que ganhei com meu
trabalho. E quando me corrigi
Eles foram me caçar,
mas
Em minha casa
Encontraram apenas
escritos que expunham
Suas tramas contra o
povo. Então
Enviaram uma ordem de
prisão
Acusando-me de ter
idéias baixas, isto é
As idéias da gente
baixa.
Aonde vou sou marcado
Aos olhos dos
possuidores.
Mas os despossuídos
Lêem a ordem de
prisão
E me oferecem abrigo.
Você, dizem
Foi expulso por bom
motivo
Cinco dificuldades de
escrever sobre a verdade
Bertolt Brecht
|
Hoje em dia, quem
quiser combater a mentira e a ignorância e escrever a verdade deve
superar pelo menos cinco dificuldades. Deve ter a coragem de
escrever a verdade, embora ela seja negada em toda a parte;
inteligência para reconhecê-la, pois ela está oculta em todos os
espaços; habilidade para manipulá-la como arma; discernimento para
selecionar as pessoas em cujas mãos ela será eficiente; e
engenhosidade para
disseminá-la entre essas pessoas. Essas dificuldades são enormes
para escritores que vivem sob o fascismo, mas também existem para
aqueles que fugiram ou foram exilados. E mesmo para escritores que
trabalham onde a liberdade civil prevalece.
1. A coragem para
escrever a verdade
Parece óbvio que quem
quer que escreva não pode suprimir ou ocultar a verdade ou escrever
algo
deliberadamente falso.
O escritor não deve se submeter aos poderosos, nem enganar os
fracos. Naturalmente, é muito difícil não se submeter aos
poderosos, e é altamente
vantajoso enganar os
fracos.
Desagradar os
proprietários significa transformar-se em um dos despossuídos.
Renunciar ao pagamento pelo trabalho pode ser o equivalente a
desistir do trabalho. Rejeitar a fama, quando essa é oferecida
pelas classes dominantes, pode significar rejeitá-la para sempre.
Isso exige coragem.
Geralmente, em tempos
de extrema opressão, fala-se muito sobre assuntos sofisticados e
elevados. Tais tempos exigem coragem para escrever sobre questões
baixas e ignóbeis, como a comida e a moradia dos trabalhadores.
Exigem coragem quando
todos os outros estão vociferando sobre a importância vital do
sacrifício. Quando se derramam todos os tipos de honra sobre os
camponeses, é necessário coragem para falar de máquinas e
forragem barata que poderiam aliviar seu honrado trabalho. Quando
cada canal de comunicação afirma ruidosamente que um homem sem
conhecimento ou educação é melhor que aquele que estudou, é
preciso coragem para perguntar: melhor para quem?
Quando se fala sobre
raças superiores ou inferiores, exige coragem perguntar se não é
a fome, a ignorância e a violência que produzem deformidades. E
também exige coragem dizer a verdade sobre nós mesmos, sobre os
vencidos.
Muitos dos perseguidos
perdem a capacidade de reconhecer seus próprios erros. Para eles, a
perseguição em si é a maior injustiça. Os perseguidores são
maus simplesmente porque perseguem; os perseguidos sofrem por causa
de sua bondade. Mas essa bondade foi agredida, derrotada, suprimida;
era, desse modo, uma bondade fraca, indefensável, não confiável.
Por isso, não pensemos que a bondade precisa ser fraca, como a
chuva precisa ser molhada. Exige coragem dizer que os bons foram
derrotados não porque eram bons, mas porque eram fracos.
Naturalmente, na
batalha contra a mentira, a verdade deve ser escrita, e essa verdade
não pode ser uma afirmação genérica, ambígua e sofisticada. A
inverdade é feita precisamente desse caráter genérico, ambíguo,
sofisticado.
Quando se diz “ele
disse a verdade”, isso significa que antes alguns ou muitos, ou no
mínimo uma pessoa, falaram algo diferente da verdade – uma
mentira ou afirmação vaga. Ele, porém, falou a verdade, algo
prático, factual, inegável, preciso.
Não é preciso muita
coragem para reclamar em um lamento genérico da maldade do mundo e
do triunfo da barbárie, ou gritar energicamente que a vitória do
espírito humano está garantida, onde as reclamações são ainda
permitidas.
Há muitos que fingem
que o canhão está apontado para eles próprios, quando na verdade
são alvo de meros binóculos de ópera! Eles proclamam suas
demandas vagas para um mundo de amigos e pessoas inofensivas.
Exigem uma justiça em
geral, pela qual nunca fizeram nada; pedem por uma liberdade
genérica para obter uma parcela de algo do qual já se aproveitam
há muito tempo. Acham que a verdade é apenas o que soa bem. Se a
verdade fosse algo estatístico, seco ou factual, algo difícil de
encontrar, que exigisse estudo, não reconheceriam-na como verdade.
Eles possuem apenas a aparência de quem diz a verdade.
O seu problema é:
eles ignoram a verdade.
2. A inteligência
para reconhecer a verdade
Como é difícil
escrever a verdade, uma vez que a mesma está suprimida em toda a
parte, para a maioria das pessoas trata-se de questão de for o
íntimo escrever ou não a verdade. Acreditam que somente é
necessária a coragem.
Esquecem do segundo
obstáculo: a dificuldade de encontrar a verdade. De forma alguma
pode-se dizer que é fácil encontrá-la. Primeiro de tudo,
encontramos problemas para determinar qual verdade deve ser dita.
Assim, por exemplo, aos olhos de todo o mundo, grandes nações
civilizadas, uma após a outra, caem na barbárie.
Ademais, todos sabem
que a guerra interna travada com a utilização dos mais
assustadores métodos pode, a qualquer momento, converter-se em uma
guerra internacional, com o potencial de transformar nosso
continente em um monte de ruínas. Essa, sem dúvida, é uma
verdade, mas existem outras. Assim, por exemplo, não deixa de ser
verdade que as cadeiras têm assentos ou que a chuva cai de cima
para baixo.
Muitos poetas escrevem
verdades desse tipo. Eles parecem pintores que pintam naturezas
morta nas paredes de um navio que está afundando.
Nossa primeira
dificuldade não os incomoda e suas consciências estão tranquilas.
Não perturbados por aqueles que estão no poder, tampouco pelos
gritos dos desesperados, seguem pintando. A irracionalidade de sua
conduta produz neles um “profundo” pessimismo, que vendem a bons
preços; recompensa que seria mais adequada àqueles que observam
esses mestres e suas vendas. Ao mesmo tempo, não é fácil se dar
conta que suas verdades são simples como aquelas sobre cadeiras ou
chuva; elas costumam parecer verdades sobre coisas importantes. Pois
é da natureza da criação artística conferir importância a
qualquer objeto. Mas, sob um exame mais rigoroso, é possível
enxergar o que eles meramente dizem: uma cadeira é uma cadeira; e
ninguém pode impedir a chuva de cair para baixo. Eles são
incapazes de descobrir as verdades que devem ser escritas.
Por outro lado,
existem alguns que lidam somente com as mais urgentes tarefas, que
abraçam a pobreza e não temem os poderosos e que, miseravelmente,
não podem encontrar a verdade. A esses falta conhecimento. Eles
estão cheios de antigas superstições, de óbvios preconceitos,
que em dias passados eram frequentemente apresentados em belas
palavras. O mundo é complicado demais para eles. Não conhecem os
fatos; não percebem relações. Além da convicção, é necessário
conhecimento, que pode ser adquirido, e método, que pode ser
aprendido.
O que é necessário a
todos os escritores desta era de perplexidade e mudanças relâmpago
é conhecer o materialismo dialético, a economia e a história.
Esses conhecimentos podem ser adquiridos em livros e compêndios, se
a dedicação necessária for aplicada.
Muitas verdades podem
ser descobertas de modo mais simples. Ou ao menos parte da verdade
ou fatos que levam à descoberta da verdade.
Método é bom em toda
pesquisa, mas também é possível fazer descobertas sem usar método
algum, mesmo sem pesquisa. Mas, por meio de um procedimento trivial,
é quase impossível encontrar uma
verdade que
possibilite aos homens agir.
Pessoas que
simplesmente descrevem pequenos fatos não são capazes de entender
as coisas deste mundo, de modo que são facilmente controláveis.
Só a verdade leva ao
entendimento, e nada mais. Tais pessoas não conseguem superar os
desafios para que possam escrever a verdade. Se uma pessoa tem
coragem para escrever a verdade e é capaz de reconhecê-la, restam
ainda três dificuldades.
3. A habilidade de
manipular a verdade como arma
A verdade deve sempre
ser dita com atenção aos resultados produzidos por ela na esfera
da ação. Como exemplo de verdade que não leva a resultado algum,
mesmo que errado, podemos citar a visão geralmente aceita em
determinados países de que más condições sociais são resultado
da barbárie.
Segundo essa visão, o
fascismo é uma onda de barbárie que estourou sobre alguns países
com a força elemental de um fenômeno natural. De acordo com essa
opinião, o fascismo é um novo, terceiro poder, além (e acima) do
capitalismo e do socialismo; não apenas o movimento socialista, mas
também o capitalismo teriam sobrevivido sem a intervenção do
fascismo. Naturalmente, essa é uma afirmação fascista; concordar
com ela é render-se ao fascismo.
O fascismo é uma fase
histórica do capitalismo; assim, é algo ao mesmo tempo novo e
velho. Em países fascistas, o capitalismo continua a existir, mas
somente na forma do fascismo; e o fascismo somente pode ser
combatido como o próprio capitalismo, como a mais nua, crua,
vergonhosa, opressiva e perigosa forma de capitalismo. Mas como pode
alguém dizer a verdade sobre o fascismo, a menos que considere
criticar o capitalismo que o produz? Quais serão os resultados
práticos dessa verdade? Aqueles que são contrários ao fascismo
sem ser contra o capitalismo, os que lastimam a barbárie como
resultado da barbárie, são como as pessoas que querem comer vitela
sem sacrificar a bezerra.
Eles querem comer a
carne, mas odeiam ver sangue. Ficam satisfeitos se o açougueiro
lava as mãos antes de pesar a carne. Eles não são contra as
relações de propriedade que produzem a barbárie; apenas são
contra a barbárie em si.
Elevam a voz contra
ela, e o fazem em países onde existem perniciosas relações de
propriedade, mas onde os açougueiros lavam as mãos antes de pesar
a carne.
Acusações contra
medidas bárbaras podem surtir efeito quando aqueles que as escutam
pensam que tais medidas estão fora de questão em seus próprios
países. As relações de propriedade são mantidas de forma menos
violenta em alguns países. Neles, a democracia ainda serve para
alcançar resultados, como a garantia da propriedade privada dos
meios de produção, que em outros países somente são atingidos
por meio da violência.
O monopólio privado
das fábricas, minas e terras cria condições bárbaras em toda a
parte, embora nem sempre evidentes. A barbárie chama atenção
quando o monopólio da propriedade somente pode ser protegido por
meio da violência.
Alguns países que
ainda não consideram necessário defender seus monopólios bárbaros
por meio da dispensa de garantias formais do Estado Constitucional e
de amenidades como a arte, a filosofia e a literatura são
particularmente interessados em ouvir visitantes que cometem abusos,
ao negar aquelas amenidades em seus países. Eles escutam com
alegria, porque a partir do que ouvem esperam
obter vantagens em
guerras futuras.
Diremos nós que
alguém reconheceu a verdade quando, por exemplo, exige aos gritos
um ataque impiedoso contra a Alemanha “porque aquele país é a
verdadeira pátria do mal de nossos dias, a filial do Inferno, o lar
do anticristo”? Deveríamos dizer que esses são os tolos e
perigosos. Pois o que se deve concluir a partir dessa
irracionalidade é que como o gás venenoso e as bombas não
escolhem os culpados, a Alemanha deveria ser exterminada – todo o
país e seu povo.
Aquele que realmente
não sabe a verdade se expressa em termos sofisticados, gerais e
imprecisos. Ele grita sobre “os” alemães, queixa-se do mal em
geral, romanceando as coisas de tal maneira que quem quer que o ouça
não consegue decidir o que fazer. Decidirá ele não mais ser
alemão? Desaparecerá o inferno se ele próprio for bom?
A conversa mole sobre
a barbárie, cuja fonte é a barbárie, é também uma verdade desse
tipo. Ela é combatida através da cultura. Ela é dita em termos
gerais; não serve de guia para a ação e é, na verdade, destinada
a ninguém.
Tais descrições
vagas apontam apenas para poucas conexões na cadeia das causas. Seu
obscurantismo oculta as forças reais que geram desastres. Se
pudesse ser jogada luz sobre o assunto, rapidamente ficaria claro
que os desastres são causados por certos homens. Pois vivemos em um
mundo onde o destino do homem é determinado pelos homens.
O fascismo não é um
desastre natural que pode ser entendido simplesmente em termos de
“natureza humana”. Mas, mesmo quando estamos lidando com
catástrofes naturais, existem formas de retratá-las que são
dignas dos seres humanos, porque apelam ao espírito de luta dos
homens.
Após o grande
terremoto que destruiu Yokohama, muitas revistas americanas
publicaram fotografias mostrando montanhas de ruínas. Na legenda de
uma dessas fotografias lia-se: “STEEL STOOD” (O AÇO FICOU DE
PÉ).
Apesar de só ver
ruínas à primeira vista, o olho distinguia, depois de ler a
legenda, que alguns arranha-céus permaneceram de pé.
Entre as muitas
descrições sobre um terremoto, aquelas feitas por engenheiros
civis sobre movimentações do solo, forças de estresse, calor etc.
são as de maior importância, pois levarão a construções que
resistirão aos terremotos.
Se alguém deseja
descrever o fascismo e a guerra, grandes desastres que não são
catástrofes naturais, deve fazê-lo em termos da verdade prática.
Precisa mostrar que esses desastres são lançados pelas classes
dominantes para controlar um vasto número de trabalhadores que não
possuem os meios de
produção.
Se alguém deseja
escrever com sucesso a verdade sobre as condições malignas deve
escrever de modo que as causas evitáveis possam ser identificadas.
Se as causas evitáveis podem ser identificadas, as condições
malignas podem ser combatidas.
4. O discernimento
para selecionar aqueles em cujas mãos a verdade será eficiente
A comercialização
por séculos de publicações críticas e descritivas e o fato de
que o escritor foi liberado de se preocupar com o destino de seus
escritos levaram-no a uma falsa impressão. Ele acha que seu editor
ou intermediário distribui o que ele escreveu para todos.
O escritor pensa: Eu
falei, e aqueles que desejam ouvir me ouvirão. Na verdade, ele
falou e aqueles que podem pagar o ouvirão.
Muito já foi dito
sobre isso, apesar de ainda ser pouco. Eu simplesmente quero
enfatizar que “escrever para alguém” foi transformado
simplesmente em “escrever”. Mas a verdade não pode ser
simplesmente escrita; ela tem que ser escrita para alguém; alguém
que possa fazer algo com ela. O processo de reconhecer a verdade é
o mesmo para escritores e leitores.
Para dizer boas
coisas, é preciso ouvir bem e ouvir coisas boas. A verdade precisa
ser dita deliberadamente e ouvida deliberadamente.
E para nós escritores
é importante a quem falamos a verdade e quem nos fala a verdade.
Nós temos que falar a
verdade sobre condições terríveis àqueles cujas condições são
piores, e precisamos também conhecer a verdade deles. Precisamos
nos dirigir não somente àqueles que já sustentam certas posições,
mas às pessoas que, devido a sua situação, deveriam sustentar
essas
posições. E o
público está continuamente mudando. Mesmo os carrascos podem ser
abordados se o pagamento pelos enforcamentos não estão em dia ou o
trabalho fica muito perigoso.
Os camponeses da
Bavária eram contra qualquer revolução, mas quando a guerra se
prolongou demais e os filhos que voltavam para casa não encontravam
oportunidades em suas fazendas, tornou-se possível conquistá-los
para a revolução.
É importante para o
escritor encontrar o tom da verdade. Geralmente, ouvimos um tom
muito suave e melancólico, um tom de pessoas que não machucariam
uma mosca. Ouvindo-os, os miseráveis ficam mais miseráveis.
Aqueles que assim usam
a verdade podem não ser inimigos, mas certamente não são aliados.
A verdade é beligerante; ela ataca não somente a falsidade, mas
particularmente pessoas que espalham a falsidade.
5. A engenhosidade
para espalhar a verdade entre muitos
Muitas pessoas,
orgulhosas por possuírem a coragem necessária para escrever sobre
a verdade, felizes por terem conseguido encontrá-la, cansadas
talvez pelo trabalho necessário para colocá-la em uma forma viável
e impacientes para que ela seja agarrada por aqueles cujos
interesses estão apoiando, consideram supérfluo aplicar qualquer
engenhosidade especial ao espalhar a verdade. Por esse motivo, elas
frequentemente sacrificam toda a eficácia de seu trabalho.
Historicamente, a
engenhosidade tem sido utilizada para espalhar a verdade, sempre que
essa é suprimida ou ocultada.
Confúcio adulterou
uma tradicional lenda histórica, alterando algumas palavras. Onde
se lia “O governante de Hun mandou matar o filósofo Wan porque
ele disse isso e aquilo,” Confúcio substituiu “matar” por
“assassinar”. Quando se dizia que o tirano tal “morreu
assassinado”, ele substituiu por “foi executado”. Desse modo,
Confúcio abriu caminho para uma nova interpretação da história.
Em nossos tempos,
qualquer um que diga “população” no lugar de “povo” ou
“raça”, e “propriedade privada” no lugar de “terra”,
está, por esse simples ato, retirando seu apoio a grandes mentiras.
Ele está tirando dessas palavras suas implicações místicas e
degradadas. A palavra povo (Volk) implica certa unidade e certos
interesses comuns; assim ela deveria ser utilizada quando se fala a
respeito de povos, porque só nesses casos será concebível algo
como uma comunidade de interesses.
A população de um
território pode ter muitos interesses diferentes, até mesmo
opostos – e essa é uma verdade geralmente suprimida. De modo
semelhante, quem fala da terra e descreve vividamente seu cheiro e
cor está apoiando as mentiras dos poderosos. Pois a fertilidade do
solo não é a questão, nem o amor dos homens pela terra, nem mesmo
as técnicas que utilizam para trabalhá-la; o que é de importância
capital é o preço dos cereais e o preço do trabalho. Aqueles que
extraem lucros do solo não são os mesmos que extraem os grãos
dele, e o cheiro de terra sulcada pelo arado é desconhecido na
Bolsa de Valores. A última, aliás, tem um cheiro completamente
diferente. “Propriedade privada ‘ é a expressão correta; ela
oferece menos oportunidade de engano.
Onde existe opressão,
a palavra obediência deveria ser empregada ao invés de disciplina,
pois disciplina pode ser auto-imposta e, desse modo, tem algo de
nobre em seu caráter que falta à obediência. E uma palavra melhor
que honra é dignidade humana; a última tende a manter o indivíduo
em foco.
Todos sabemos muito
bem que tipo de pilantras se metem a defender a honra de um povo. E
como
eles distribuem honras
aos famintos que os sustentam. A engenhosidade de Confúcio ainda é
válida hoje.
Thomas More em sua
Utopia descreveu um país onde as condições justas de vida
prevaleciam. Era um país muito diferente da Inglaterra em que
viveu, mas lembrava muito a Inglaterra, exceto pelas
condições de vida.
Lênin queria
descrever a exploração e opressão na Ilha Sakalina, mas ele
precisava tomar cuidado com a polícia Czarista. No lugar da Rússia
ele colocou o Japão, e no lugar da Sakalina, a Coreia.
Os métodos da
burguesia japonesa lembravam a todos os seus leitores os da
burguesia russa na Sakalina, mas o panfleto não foi censurado pois
a Rússia era hostil ao Japão. Há muitas coisas que não podem ser
ditas na Alemanha sobre a Alemanha, mas podem ser ditas sobre a
Áustria.
Há muitas formas
engenhosas com as quais se pode trapacear um Estado fascista.
Voltaire combateu a doutrina de milagres da Igreja escrevendo um
poema galante sobre a virgem de Orléans. Ele descreveu os milagres
que sem dúvida ocorreram para que Joana D’Arc permanecesse virgem
no meio de um exército de homens, de uma corte de aristocratas e de
um grupo de monges. Com a elegância de seu estilo, e descrevendo
aventuras eróticas que caracterizavam a vida luxuriosa da elite,
ele lançou descrédito sobre uma religião que fornecia os meios
para viver uma vida irresponsável. Ele até tornou possível, de
forma ilegal, que seus trabalhos chegassem àqueles a quem eram
destinados.
Seus leitores
poderosos promoveram ou toleraram a distribuição de seus escritos.
Dessa forma, eles retiravam apoio da polícia que defendia seus
privilégios. Outro exemplo: o grande Lucrécio diz expressamente
que um dos maiores estímulos para espalhar o ateísmo de Epicuro
foi a beleza de seus versos.
É fato que o alto
nível literário de uma certa afirmação pode render proteção a
ela. Entretanto, também é comum que levante suspeitas. Em tais
casos poderá ser necessário rebaixar deliberadamente o nível.
Isso ocorre, por exemplo, quando descrições das más condições
são imperceptivelmente escondidas na desprezada forma de uma
história de detetive. Tais descrições justificariam uma história
de detetive.
O grande Shakespeare
deliberadamente baixou o nível de seu trabalho por razões de muito
menor importância.
Na cena em que
Coriolano é confrontado por sua mãe e está de partida para sua
cidade natal, Shakespeare deliberadamente torna o discurso dela ao
filho muito fraco. Era inoportuno para Shakespeare que Coriolano
fosse impedido, por boas razões, de completar seu plano. Era
necessário que se entregasse ao velho hábito com uma certa
submissão.
Shakespeare também
nos dá um modelo de engenhosidade para espalhar a verdade: é o
discurso de Antonio sobre o corpo de Cesar. Antonio continuamente
enfatiza que Brutus é um homem honrado, mas ele também descreve o
acontecido, e a descrição do acontecido é mais impressionante do
que a descrição sobre o executor do acontecimento. O orador,
assim, permite a si próprio ser conquistado pelos fatos; ele deixa
que os fatos falem por si próprios.
Um poeta egípcio, que
viveu há quatro mil anos, empregou método similar. Aquele foi um
tempo de grande luta de classes. A classe que até então governara
estava defendendo-se com dificuldade contra seu grande oponente, a
parte da população que até então servira.
No poema, um homem
sábio aparece na corte do governante e o chama para uma luta contra
o inimigo interno. Ele apresenta uma longa e impressionante
descrição das desordens que foram provocadas pelos levantes das
classes inferiores. Essa descrição era assim:
Então é assim: os
nobres lamentam e os servos se alegram. Cada cidade diz: “Deixe-nos
expulsar os fortes de nosso meio”. Os escritórios são
arrombados e os documentos removidos. Os escravos estão se tornando
senhores.
Então é assim: o
filho de um homem bem nascido não é mais reconhecido. O filho da
patroa torna-se o filho de sua escrava.
Então é assim: os
burgueses foram presos as suas responsabilidades. Aqueles que nunca
viram o dia partiram para a sua luz.
Então é assim: As
pobres caixas de ébano estão sendo quebradas; a nobre madeira está
sendo cortada para fazer camas.
Vejam, a capital foi
derrubada em uma hora.
Vejam, os pobres da
terra tornaram-se ricos.
Vejam, aquele que não
tinha pão, agora possui celeiro cheio com as posses de outro.
Vejam, é bom para o
homem quando ele pode comer sua comida.
Vejam, ele que não
tinha milho agora possui celeiros; aqueles que aceitaram a
generosidade do milho agora o distribuem.
Vejam, ele que não
tinha bois agora possui rebanhos; ele que não conseguia animais de
carga agora possui rebanhos de gado puro.
Vejam, aquele que não
podia construir barraco para si próprio agora possui quatro paredes
fortes.
Vejam, os ministros
buscam abrigo no celeiro, e aquele que não tinha permissão para
dormir em cima de muros, agora possui cama.
Vejam, aquele que não
podia construir para si próprio uma canoa agora possui navios;
quando o proprietário olhar seus navios, descobrirá que não são
mais seus.
Vejam, aqueles que
tinham roupas estão vestidos em trapos, e ele que não teceu nada
para si próprio agora possui o mais fino linho. O homem rico vai
com sede para a cama, e ele que uma vez implorou por restos agora
tem uma cerveja forte.
Vejam, ele que não
entendia nada de música agora possui uma harpa; ele para quem
ninguém cantava agora aprecia música.
Vejam, ele que dormia
sozinho por falta de esposa agora tem mulheres; aqueles que olhavam
suas faces na água, agora têm espelhos.
Vejam, os mais altos
do país agora vagam por aí sem emprego. Nada mais é relatado aos
poderosos. Ele que uma vez foi mensageiro agora envia outros com
suas mensagens.
Vejam, cinco homens
cujo mestre os enviou. Eles dizem: vá por si próprio; nós
chegamos. É significativo que essa descrição seja de um tipo de
desordem que pareça muito desejável aos oprimidos.
E ainda assim, a
intenção do poeta não é transparente. Ele condena expressamente
essas condições, apesar de condená-las insuficientemente.
Jonathan Swift, em seu
famoso panfleto, sugeriu que a prosperidade da terra poderia ser
restaurada por meio do assassinato dos filhos dos pobres e da venda
de sua carne.
Ele apresentou
cálculos exatos demonstrando as economias que poderiam ser feitas
se as classes dominantes não parassem por nada. Swift fingiu
inocência. Ele defendeu um modo de pensar que ele odiava com
intenso ardor e profundidade, utilizando como tema uma questão que
expunha abertamente a crueldade daquele modo de pensar.
Qualquer um podia ser
mais talentoso que Swift, ou de algum modo mais humano –
especialmente aqueles que não haviam se incomodado previamente em
considerar quais eram as conclusões lógicas a respeito de seus
pontos de vista.
Propaganda que
estimula a reflexão, não importa em que campo, é útil para a
causa dos oprimidos. Esse tipo de propaganda é muito necessária.
Sob governos que
servem à promoção da exploração, qualquer reflexão é
considerada uma coisa baixa, assim como qualquer coisa que sirva
àqueles que são oprimidos. É baixo estar constantemente
preocupado em conseguir o suficiente para comer; é baixo rejeitar
honras oferecidas aos defensores de um país, os quais passam fome;
baixo é duvidar do Líder, mesmo quando sua liderança leva à
desgraça; é baixo resistir a realizar um trabalho que não
alimenta o trabalhador; baixo é revoltar-se contra a obrigação de
cometer atos irracionais; baixo é estar indiferente a uma família
que não pode ser ajudada por maior preocupação que se tenha.
Os famintos são
insultados como lobos vorazes que não tem nada a perder; aqueles
que duvidam de seus opressores são acusados de duvidar de sua
própria força; aqueles que exigem pagamento por seu
trabalho são
denunciados como preguiçosos. Sob tais governos, a reflexão em
geral é considerada baixeza e cai em descrédito.
Pensar não é mais
ensinado em lugar algum. O ato de pensar é perseguido. Contudo,
sempre é possível chamar a atenção para os triunfos do
pensamento em alguns campos, sem medo de punição. São campos em
que as ditaduras necessitam de pensamento. Por exemplo, é possível
referir-se aos triunfos do pensamento em campos como o da ciência e
tecnologia militares. Mesmo assuntos como aumento dos estoques de lã
por meio de organização mais eficiente, ou invenção de materiais
substitutos, exigem pensamento.
Adulteração de
comida, treinamento de jovens para a guerra – todas essas coisas
exigem pensamento; e em relação a esses assuntos, o processo de
pensamento pode ser descrito.
Enaltecer a guerra, o
objetivo automático desse tipo de pensamento, pode ser
engenhosamente evitado, e desse modo, o pensamento que surge da
questão de como a guerra é melhor travada pode levar a outra
questão: se a guerra faz realmente sentido. O pensamento pode ser
então aplicado a outra questão: como pode uma guerra sem sentido
ser prevenida? Naturalmente, essa pergunta mal pode ser feita
abertamente. Sendo assim, não poderá o pensamento que estimulamos
ser utilizado? Isto é, pode ele ser colocado de modo a levar à
ação? Pode.
Para que a opressão
da parte maior da população pela menor possa continuar em tempos
como os nossos, uma certa atitude é necessária, e essa atitude
deve permear todos os campos. Uma descoberta no campo da biologia,
como aquela do inglês Darwin, poderia, de repente, colocar em
perigo a exploração.
Apenas a Igreja esteve
alarmada por certo período de tempo; o povo não notou nada de
novo. Em anos recentes, as pesquisas dos físicos nos levaram a
consequências no campo da lógica que poderiam muito bem colocar em
risco dogmas que sustentam a opressão. Hegel, o filósofo do Estado
prussiano, que realizou investigações complexas no campo da
lógica, sugeriu a Marx e Lênin, os expoentes clássicos da
revolução proletária, métodos de valor inestimável.
O desenvolvimento das
ciências está interrelacionado, mas é desigual, e o Estado nunca
é capaz de manter seu olho em tudo. A guarda avançada da verdade
pode escolher posições de batalha que estão relativamente pouco
vigiadas.
O que conta é que o
tipo correto de pensamento seja ensinado, um tipo de pensamento que
investiga os aspectos transitórios e mutáveis de todas as coisas e
processos.
Governantes têm forte
desagrado por mudanças significativas. Eles prefeririam ver tudo
permanecer o mesmo – por mil anos, se possível. Eles amariam se o
Sol e a Lua ficassem parados. Assim, ninguém mais cresceria
faminto, ninguém desejaria seu jantar. Os governantes que mandam
disparar um tiro não querem que o inimigo seja capaz de atirar; o
deles há de ser o último tiro.
Uma forma de
pensamento que privilegia a mudança é uma boa forma para encorajar
os oprimidos.
Outra ideia com
a qual os vencedores podem ser confrontados é que, em tudo e em
todas as condições, contradições aparecem e crescem. Tal visão
(a dialética, a doutrina de que todas as coisas fluem e mudam) pode
ser estimulada em domínios que por um tempo escapem da percepção
dos poderosos.
Pode se empregada na
biologia ou na química por exemplo. Mas também pode ser indicada
na análise do destino de uma família, e aqui também não deve
chamar muita atenção.
A noção de que as
coisas dependem de fatores que estão constantemente mudando é uma
idéia
perigosa para os
ditadores, e essa ideia pode aparecer disfarçada, sem
atrair a atenção da polícia.
Uma descrição
completa de todos os processos e circunstâncias encontradas por um
homem que abre uma tabacaria pode desferir um golpe contra a
ditadura. Quem refletir sobre isso rapidamente
descobrirá o porquê.
Governos que levam as massas à miséria precisam proteger-se contra
o pensamento das massas sobre os governos enquanto elas estão na
miséria. Tais governos falam muito sobre Destino. É o Destino, e
não eles, o culpado por tanto sofrimento. Qualquer um que
investigue o assunto é preso antes de chegar à conclusão e que a
culpa é do governo. Mas é possível opor-se a toda essa
irracionalidade sobre Destino, demonstrando que o Destino do Homem é
determinado pelos homens.
Isso pode ser feito de
muitas formas.
Por exemplo, pode-se
contar a história de uma fazenda de camponeses –uma fazenda na
Islândia, digamos. A vila inteira está falando sobre a maldição
que assola a fazenda. A camponesa se jogou dentro de um poço. Seu
marido enforcou-se. Um dia, o filho do camponês casa-se com uma
garota, cujo dote é de vários acres de boa terra. A maldição
parece se desfazer sobre a fazenda. A vila divide-se no julgamento
sobre a causa dessa feliz mudança dos acontecimentos. Alguns
atribuem à disposição solar do filho do camponês, outros, às
novas terras que a jovem esposa somou à fazenda, tornando-a
suficiente para prover uma vida decente.
Mas, mesmo em um poema
que simplesmente descreve a paisagem, algo pode ser alcançado, se
as coisas criadas pelos homens são incorporadas à paisagem.
É necessário
engenhosidade para espalhar a verdade.
Resumo
Atualmente, a grande
verdade é que nosso continente está cedendo espaço à barbárie
porque a propriedade privada dos meios de produção está sendo
mantida pela violência.
Reconhecer
simplesmente essa verdade não é suficiente, mas também se ela não
for reconhecida, nenhuma outra verdade relevante poderá ser
descoberta.
Qual a utilidade de
escrever algo corajoso sobre a barbárie na qual estamos ingressando
(o que é verdade) se não está claro porque nós estamos entrando
nessa condição?
Precisamos afirmar que
a tortura está sendo utilizada para preservar relações de
propriedade. Para falar a verdade, ao afirmarmos isso, perderemos
muitos amigos, que são contra a tortura apenas porque pensam que as
relações de propriedade podem ser mantidas sem a tortura, o que é
uma inverdade.
Precisamos falar a
verdade sobre as condições bárbaras em nosso país a fim de que
algo seja feito para lhes dar um fim – algo, a saber, que mudará
as relações de propriedade. Mais ainda, precisamos dizer essa
verdade àqueles que mais sofrem em decorrência das relações de
propriedade existentes e que têm o maior interesse em sua mudança
– os trabalhadores e aqueles a quem podemos induzir a que sejam
seus aliados, porque eles também não têm qualquer controle sobre
os meios de produção, mesmo que participem de seus lucros.
E devemos agir com
muita engenhosidade.
Todas essas cinco
dificuldades devem ser superadas ao mesmo tempo, uma vez que não
podemos descobrir a verdade sobre condições bárbaras sem pensar
naqueles que sofrem em função delas; não podemos agir sem que nos
livremos de qualquer traço de covardia; e quando pretendemos
esclarecer o estado real das coisas para aqueles que estão prontos
a utilizar essa verdade, devemos também considerar a necessidade de
oferecer-lhes a verdade de forma que seja uma arma em suas mãos, e
ao mesmo tempo devemos fazer isso de forma tão engenhosa que o
inimigo não descubra nem impeça nosso oferecimento da verdade.
Isso é o que se
requer de um escritor quando ele é convidado a escrever a verdade.
________________________________
Editora Abadia
Catadora
Abadia Catadora, 2012,
Quadra 3 conj. 14 casa
4, Setor Leste
Cidade Estrutural –
DF
CEP 71261-275
Tel: (61) 3465-4933
Arte da capa
Erica, Douglas, Lucas,
Almir, Regiane, Vicente, Ana, Abadia, Samuel, Marcos, Mateus,
Diagramação
Michelli Costa
Revisão
Fabio Ariston
Agradecimentos:
Editora Eloísa
Cartonera (Cristian e Washington)
Embaixada da Argentina
(Gonzalo Entenza)
Movimento de Educação
e Cultura da Estrutural / Projeto Ponto de
Memória
Universidade Católica
(Professor Lunde Braghini)
Organização dos
Estados Ibero-Americanos (Cláudia Castro)
Nicolas Behr
Vitor Pordeus
Maestro Alexandre
Schubert
Fernando Lopes
Carlos Rodrigues
Brandão
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