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Via Hora do Povo
Com lucro semelhante ao dos bancos, teles ganham isenção
Ministro anuncia “desoneração” de R$ 6 bilhões
Somente entre 2005 e 2012, a receita líquida - ou seja, depois de pagos os impostos
e feitos alguns descontos - dos monopólios de telecomunicações no
Brasil montou a R$ 911 bilhões e 437 milhões, quase um trilhão de reais.
Os
números de cada ano estão na Pesquisa Anual de Serviços do IBGE (e, no
caso de 2011 e 2012, como ainda não foram publicadas as pesquisas do
IBGE referente a esses anos, usamos os números do próprio balanço das
teles).
Quase um trilhão de reais, depois de pagos os impostos.
São esses pobres oprimidos e explorados pelos terríveis impostos que o
Estado brasileiro lhes cobra, que o ministro Paulo Bernardo, na última
terça-feira, resolveu “desonerar” em nada menos do que R$ 6 bilhões. Diz
Bernardo que, com essa isenção de impostos, ele espera que as teles
façam investimentos de R$ 18 bilhões até 2016.
O
ministro deveria ler os balanços das teles. Saberia, por exemplo, que a
Telefónica/Vivo declarou que fez investimentos de R$ 6,117 bilhões em
2012 – e, só nos últimos três anos (2010, 2011 e 2012), dizem os
balanços, a Telefónica investiu, no Brasil, R$ 16 bilhões e 788 milhões!
O mesmo, mais ou menos, fizeram as outras teles – no balanço.
Isso, sem qualquer “desoneração” de impostos. Então, porque precisariam de R$ 6 bilhões de isenção para – todas juntas e somadas – investirem apenas R$ 18 bilhões até 2016?
Sobretudo se considerarmos que, desde 1998 – ou seja, desde a privatização -, as teles receberam do BNDES, em financiamentos para investir, R$ 38 bilhões e 381 milhões.
Certamente
que o investimento declarado pelas teles em seus balanços é uma farsa.
Mas o próprio fato de declararem esses “investimentos” e mesmo assim
lucrarem quase tanto quanto os quatro maiores bancos instalados no país,
mostra que elas não precisam de “desoneração” alguma para investir – o
necessário é que o poder público (o Ministério das Comunicações, antes
de tudo) acabe com essa farsa.
Porém, se elas
não investiram foi porque sua opção preferencial é aumentar os lucros
para remetê-los ao exterior. Entre 2002 e 2011 as remessas de lucros oficiais
(ou seja, declaradas oficialmente) das teles para suas matrizes
aumentaram 1.099,51%. Mesmo em 2012, ano em que elas diminuíram um
pouco, atingiram US$ 1,027 bilhão (1 bilhão e 27 milhões de dólares), sem contar os pagamentos de empréstimos intercompanhias e outros artifícios para enviar lucros sem declará-los.
No
entanto, o próprio ministro Bernardo declarou que as teles estavam
“retardando” seus investimentos. Como “retardando”? E os balanços que
elas publicaram? Será que o ministro acha que os investimentos que
constam dos balanços das teles não são reais? Não acreditamos...
Porém,
em vez de responder a um inquérito policial, as teles receberam R$ 6
bilhões em isenção de impostos, mais a promessa de acabar com o regime
público na telefonia (apesar de que, segundo o ministro, “isso não foi conversado com a presidente Dilma e precisamos da autorização dela para tocar pra frente”)
e, ainda por cima, Bernardo falou em recursos do PAC para investir em
redes de fibra ótica. Que redes? Somente pode ser a rede das teles, pois
a do governo já existe há muito – e as teles, há muito, querem usá-la.
A
“desoneração” do ministro Paulo Bernardo, portanto, é um plano para
substituir a rede de cabos de cobre das teles por redes de fibra ótica,
às custas do Erário, ou seja, do distinto público. Em vez delas gastarem
uma parte dos seus lucros (só o lucro líquido da Telefónica, em 2012,
foi mais de R$ 4 bilhões), gastarão dinheiro público – os impostos que
não pagarão ao Estado.
Isso, na melhor das
hipóteses. Podem, também, embolsar essa “desoneração”, ou seja, aumentar
sua margem de lucro à custa de não pagar impostos, e continuar
declarando investimentos fantásticos em seus balanços.
Hoje,
depois de tudo o que aconteceu desde 1998, ninguém duvidaria dessa
possibilidade - exceto alguma besta, que sempre as há por aí.
O
plano do governo Lula, elaborado pelo engenheiro Rogério Santanna,
primeiro presidente da Telebrás após sua reativação, era utilizar a rede
de fibras óticas das estatais – especialmente a Eletrobrás e a
Petrobrás – para universalizar a banda larga. Em suma, o Plano Nacional
de Banda Larga (PNBL) partia do reconhecimento de que as teles, com seus
preços extorsivos e sua concentração nos aglomerados de maior renda do
país, eram incapazes de universalizar até mesmo a telefonia fixa,
inventada por Antonio Meucci em 1856 - quanto mais a banda larga.
Como declarou o então presidente da Telebrás ao HP:
“Vislumbramos, então, a seguinte proposta: (…) Em lugar de carregar o passado, o cabo de cobre, todas as tecnologias antigas, nós podíamos usar essa infraestrutura [de fibras óticas estatais] para
criar uma rede independente – deixar as teles com a rede delas e criar
uma rede neutra, pública. A partir de uma tecnologia mais nova, mais
barata, gerar essa rede neutra e vender serviços só no atacado” (HP, 22/10/2010, entrevista de Rogério Santanna).
A
venda de serviços no varejo (a chamada “última milha”, a conexão até a
casa ou estabelecimento do usuário) seria feita por empresas nacionais
privadas. Como disse Santanna, “não precisamos fazer a 'última
milha', porque os pequenos provedores associados podem fazê-la, e nós
vamos gerar milhares de oportunidades de negócios que hoje são
reprimidos”.
O que fez Paulo Bernardo foi
acabar com o PNBL – em primeiro lugar, amofinando a presidente Dilma
para demitir o seu criador da presidência da Telebrás. O objetivo de
Bernardo era – mas, hoje, é mais – evidente: privilegiar as teles, uma
quadrilha de monopolistas que nem mesmo construiu suas empresas: pelo
contrário, receberam de presente o resultado de décadas de esforço do
povo brasileiro. E, para quem estranhe esse “de presente”, lembremos,
além do patrimônio dessas empresas, que, na época da privatização,
Aloysio Biondi demonstrou que o governo Fernando Henrique gastou mais na
“preparação” das empresas estatais de telecomunicações para
privatizá-las, do que recebeu por elas. Estamos nos referindo, é
natural, ao que foi recebido legalmente.
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