segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Porquê conhecer a história da L’Oreal? Porque você merece.


Do apoio ao regime nazi aos atuais negócios à custa dos territórios roubados na Palestina, podemos dizer que a grande especialidade deste gigante é mesmo a maquilhagem.

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Do apoio ao regime nazi aos actuais negócios à custa dos territórios roubados na Palestina, podemos dizer que a grande especialidade deste gigante é mesmo a maquilhagem.
Aparentemente está tudo calmo após o escândalo que denunciou as perigosas relações entre a mulher mais rica de França, Lilliane Bettencourt, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Muito se escreveu sobre Sarko, quase nada sobre o gigante da cosmética, a L’Oreal. E é precisamente sobre o negócio da cosmética que quero falar, uma das práticas mais rentáveis à escala global que a história desta grande multinacional nos conta. Entre assombro e lógica é maquilhando-se e escolhendo quem detém mais poder que se chega ao topo.
O segredo das grandes multinacionais reside em dois factores: aplicar a lei do mais forte sobre os mais fracos e escolher sempre as melhores amizades. Assim é a história deste gigante fundado em 1907 pelo pai de Lilliane, Eugéne Schueller. Rapidamente, este químico de formação descobre como fazer bons negócios e aproveita os feridos da Grande Depressão para comprar empresas como a Monsavon, as tintas Valentine, os champôs Dop ou a revista Votre Beauté.
Mas as ligações perigosas começam com o aproximar-se da 2ª Guerra Mundial e a ascensão do nazi-fascismo na Europa, do qual Schueller era um grande admirador e teórico. Funda nos anos 30 uma organização de extrema-direita na qual forja importantes amizades: François Mitterrand ou André Bettencourt, futuro marido da sua filha Lilliane. A Organização Secreta de Acção Revolucionária Nacional (OSARN), rapidamente alia-se à Alemanha de Hitler e à Itália de Mussolini, servindo a causa colaboracionista em França ou abrindo caminhos para a Espanha de Franco, pelos quais circularam armas que ajudaram à vitória contra a República durante a Guerra Civil.
Chegando a 1940 Schueller funda o Movimento Social Revolucionário, MSR, com o beneplácito do director da Gestapo, Reinhardt Heydrich. No seu programa, escrito na sede do MSR – os escritórios da L’Oreal – proclamava-se: Nós queremos construir a nova Europa em cooperação com a Alemanha nacional-socialista e todas as outras nações europeias libertas do capitalismo liberal, do judaísmo, do bolchevismo e da franco-maçonaria (…) regenerar racialmente a França e os franceses…
Por seu lado André Bettencourt já é o chefe francês da Propaganda Staffel e trabalha directamente para Joseph Goebbels, para a Wehrmacht e para a Gestapo. É por ele que passam todas as publicações, dirige a publicação La Terre Française, revista nazi onde Schueller tem publicações regulares. Corre bem a guerra para os nazis, correm bem os negócios para a L’Oreal.
Mas a L’Oreal começa a perceber que a maquilhagem é mesmo o seu forte e lentamente, com o aproximar do final da guerra começam a aperceber-se da iminente derrota nazi. Então Bettencourt parte para a Suiça com o intuito de “arianizar” a Nestlé, que ainda hoje detém cerca de 25% do capital do grupo L’Oreal. Bettencourt começa a procurar novas amizades nos futuros vencedores e reúne-se com Allen Dulles, agente secreto do governo dos EUA, mais tarde director da CIA.
Com o fim da guerra e a vitória dos Aliados, começam as perseguições aos nazis franceses, mas Mitterrand e Bettencourt salvam Eugène Schueller. A L’Oreal torna-se no refúgio de velhos amigos e Mitterrand é nomeado director da revista Votre Beauté. A impunidade reina na Europa e os negócios da L’Oreal conhecem novas fronteiras. Henri Deloncle, irmão de Schueller, funda a L’Oreal Espanha com a ajuda da Opus Dei. Jacques Corrèze torna-se patrão da L’Oreal nos Estados Unidos e André Bettencourt acaba o namoro casando-se finalmente com a filha única de Eugène Schueller, Liliane.
André Bettencourt, seguidor do grande império, não tarda em ajudar as suas amizades. Dos tempos em que era responsável da propaganda nazi, resta o seu escritório, oferecido à Opus Dei para fazer uma residência. Como jornalista a sua carreira é brilhante, passando várias vezes pela política. Os leitores da extinta La Terre Française podem agora deleitar-se com a nova revista Journal Agricole. Na política, aproveitando a sua experiência em propaganda, François Mitterrand cria a figura do Secretário de Estado da Informação para colocar o seu amigo no posto que ocupa entre 1954 e 1955, o tempo necessário para forjar toda a nova imprensa francesa. Até aos anos 80, estes dois homens são inseparáveis, alimentando-se um do outro. Alimentando a L’Oreal e alimentando um negócio que não pára de crescer.
 
A L’Oreal e os dias de hoje.
Claro que a história não acaba aqui e para insistir no facto de que a maquilhagem é a grande especialidade deste gigante, deixamos mais umas linhas para as relações com Israel.
Se nos anos 80 a empresa via com a Liga Árabe esperanças de futuro, nestes temos é com o governo de Israel que se fazem grandes negócios sangrentos. E se antes apoiaram um boicote contra Israel, hoje é com este país que têm grandes amizades e interesses. Como o prova o louvor recebido do Congresso Judeu Americano em 1995 por chegar a acordo com a “Office of Anti-Boycott Compilance”, pagando 1,4 milhões de dólares ao Tesouro dos Estados Unidos por terem pertencido ao grupo de boicote.
Agora é na Baixa Galileia, em territórios roubados ao povo palestino que a L’Oreal tem a sua fábrica e produz o “Natural Sea Beauty”, um produto conseguido pelo livre acesso que a empresa tem ao mar Morto. A colaboração estreita com o Weizmann Institute of Science em Israel é outra prova que a empresa só se dá bem com negócios assassinos. Este lugar dedica-se a investigações secretas no âmbito do desenvolvimento nuclear, bem como de armas químicas e biológicas ao serviço do exército israelita. Gad Propper, presidente da L’Oreal Israel foi também o fundador da Câmara de Comércio Israel – U.E.
Ficamos por aqui, porque o que ainda cabe aqui, daria para muito mais. Ficamos com uma ideia deste gigante, em que escolher quem manda é a alma do negócio. Saber mudar de cor e de cara é altamente rentável.
Ficamos agora do lado da coerência política e da afirmação de valores. “Nós sempre defendemos a causa dos mais fracos e dos desfavorecidos e seguiremos a nossa campanha na defesa da justiça e dos direitos humanos.” São estes os valores afirmados pela Body Shop, reconhecida pela sua ética. São estes os valores da nova ordem mundial: a Body Shop pertence ao grupo L’Oreal. A maquilhagem, como vimos ao longo desta história é mesmo o seu forte. Só nós, criando diálogo e despertando consciências podemos virar uma página mais sã. Criando alternativas de consumo, desde as nossas necessidades e não pelas necessidades impostas por este negócio sujo.





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