terça-feira, 27 de março de 2012

Por um punhado de dólares

buscado no Terrorismo Climático

 


Rogério Arioli Silva *
 
   
No filme de 1964 (nome original: a Fistful of Dollars) o pistoleiro sem nome estrelado por Clint Eastwood e apelidado de Joe pela população local, percebe a possibilidade de ganhar dinheiro intermediando ações de dois grupos rivais, um deles contrabandista de bebidas e outro de armas. A história é ambientada em San Martin, um pequeno vilarejo na fronteira entre México e Estados Unidos onde a lei inexiste, e sobrevivem os mais fortes. A San Martin brasileira chama-se Jacareacanga no Pará e o Joe da atualidade bem poderia ser o irlandês Ciaran Kelly atual CEO da Celestial Green Ventures empresa dublinense líder mundial do mercado voluntário de créditos de carbono.

Ao deparar-se com uma terra sem lei, no caso o Brasil, este esperto irlandês protagonizou a mesma história do faroeste da década de 60, aproveitando-se da miséria indígena e do contrabando de irresponsabilidades onde se confundem ONGs, FUNAIs e parte da Justiça brasileira que, com o argumento de proteger os indígenas, entrega o patrimônio nacional e, agora, faz de conta que não sabia de nada.


Notícias dão conta de que 20 milhões de ha, ou seja, uma área do tamanho da Suíça mais a Áustria juntas, já foram negociadas pela Celestial Green Ventures em 17 projetos que totalizam seis bilhões de t de carbono. Assim, grandes empresas podem continuar emitindo CO2 pelo mundo afora que os silvícolas brasileiros se encarregarão de deixar suas áreas intocadas, armazenando o carbono emitido pelos ricos poluidores. Este processo, batizado como REED (reduções por desmatamento evitado), tem sido discutido desde 2003 na COP -9 e a partir daquela época tem sido aperfeiçoado (?), sem que haja consenso da sua melhor utilização. Fato é que a simples compensação do C02 emitido pelos poluidores através da compra do carbono estocado na floresta tropical não garante que se tenha um clima melhor no futuro, paralisando o famigerado aquecimento global, servindo apenas para proporcionar status de “politicamente correto” às empresas adquirentes deste crédito.


Enquanto a discussão segue, com dezenas de ONGs patrocinando a FUNAI e seus fajutíssimos estudos antropológicos, com o objetivo de aumentar cada vez mais as reservas indígenas brasileiras e participar deste grande negócio, surgem os espertalhões como a Celestial Green negociando direto com os índios e deixando todos os envolvidos com aquela incômoda sensação de crescimento auricular. Trata-se de um enorme filão, pois estimativas dão conta de que as florestas tropicais possuem 15% da superfície terrestre e contêm 25% de todo o carbono existente na biosfera.


Fica clara agora a imagem de alguns líderes europeus circulando pelo mundo com os índios brasileiros a tiracolo, com o argumento da preocupação de preservarem-se os direitos dos povos da floresta. O que está em curso há muito tempo é a implantação de uma moderna governança florestal através da criação da Comunidade Indígena Internacional para gerir toda esta riqueza com sendo “patrimônio da humanidade”. Aos menos desavisados basta que pesquisem toda a chamada “calha norte brasileira” e suas reservas indígenas já interligadas, prontas para virar uma nova nação independente a ser administrada pelos defensores do meio ambiente (dos outros).


A Raposa-Serra do Sol, desapropriada em área contínua pelo STF, foi apenas mais uma das muitas que estão em gestação, com o apoio de muitos engajados neocapitalistas entre os quais, grande parte da sociedade brasileira utilizada ingenuamente neste processo.


A Ministra do Meio Ambiente, coitada, com cara de quem caiu de um caminhão de mudanças tem medo de que a valorização da biodiversidade tropical brasileira abra as portas para a biopirataria. Já abriu faz um tempinho, Senhora Ministra. Agora escancara as portas que sobraram para o mercado voluntário dos créditos de carbono onde os índios venderão por uma “merreca” o bilionário patrimônio brasileiro armazenado nas suas florestas tropicais. Melhor pros índios que não agüentam mais as promessas vagas do indigenismo sem resultados. Tomara que, pelo menos, saibam gastar seu punhado de dólares com a melhoria de sua qualidade de vida ao invés de permanecerem como “museus vivos”, situação ainda defendida por alguns antropólogos e indigenistas radicais.


No faroeste antigo Clint, ou se quiserem, Joe, surgia como o mocinho alto e musculoso com o cigarro no canto da boca e, os bandidos por sua vez, apareciam como mexicanos gordinhos, sujos e foras-de-forma. No cenário atual, os mocinhos já se sabe quem são. Os bandidos ainda não foram apresentados, mas bem poderíamos ser todos nós, que ainda insistimos nesta história de soberania nacional, um assunto que já está muito fora de moda nos dias de hoje.


* O autor é Engº Agrº e Produtor Rural no Mato Grosso.

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