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Por: Leila Brito
Minga, zóio de prata
CORA CORALINA
Eram elas as senhoras-donas, ali no beco do
Calabrote.
Quem transitasse pelo beco, tivesse cuidado…
Passasse quieto e bonzinho. Não se engraçasse nem fizesse cara de
pouco. E quem fosse de entrar, empurrasse a porta de dentro, com fala
curta e dinheiro pronto. Escândalo de mulher-dama não dava; nunca
deu; também, nunca foram levadas, como tantas, para capinar na
frente da cadeia. Família de respeito podia passar toda hora, não
via nada. Macho, porém, que não se fizesse de besta… Eram donas e
autoridade no beco. O beco era delas. E tinham prestígio.
Duas irmãs, morando juntas na mesma casa, de
porta e janela aberta aos homens que quisessem entrar; isso a Zóio
de Prata. Já a Dondoca, tinha seu homem e era pontual a ele só.
Também eram conhecidas por As Cômodas, na roda
da macheza. Minga era durona. Não tretasse com ela, saindo sem
deixar a taxa… Um que tentou a rasteira, ela alcançou já fora do
beco e deixou sem as calças no meio da rua.
Tinha mesmo um bugalho branco, saltado, e era
vesga do outro. Espinhenta, de cabelo sarará, mulatona encorpada, de
bacia estreita, peito masculino, de mamilos duros, musculosa;
servindo bem no ofício, de fala curta, braço forte, mãos grandes.
Um dia, voltava ela do mercado com um frango na
mão, deu de cara com a irmã chorando, de cara amassada e beiço
partido. Tinha entrado na peia do amigo — o Izé da Bina — à-toa,
ruindade de pingado ordinário. Dei’stá — disse ela — sai fora
e deixa por minha conta. Óia, vai depená esse frango pra nóis na
casa da vizinha e só entra quando eu chamá…
Dondoca foi fazer o mandado. Estava ela na casa da
vizinha depenando o frango, quando chegou o Izé da Bina, todo
mandante, de paletó preto, gravata borboleta, calça engomada.
Entrou no quarto e gritou autoritário pela
Dondoca. Quem apareceu foi a Zóio de Prata, de manga arregaçada e
porrete na mão. Atirou-se no mulato com vontade e foi porretada de
direita e canhota. Bateu com sustância, sovou com fôlego, quebrou
as carnes, moeu bem moído. No fim, jogou fora o cacete e entrou de
corpo. Numa boa sobarbada deu com o crioulo no chão. Sentou em cima
e esmurrou à vontade. Quebrou as ventas, partiu dois dentes, entrou
no olho… xingou nomes… desses de ouvindo dizer o Antônio
Meiaquarta, tipo de rua, rei dos bocas-sujas da cidade: eu sei dois
contos e quinhentos de nomes indecentes… Zóio de Prata sabe cinco
contos… apanhei dela, bateu em mim… tou descarado, apanhei dela…
muié praceada… êta muié sagais.
Depois de ver o cabra mole, estirado, fungando,
Zóio de Prata assungou a saia, abriu as pernas e mijou na cara de
Izé da Bina.
Estava vingada a Dondoca e consolidada a fama das
Cômodas.
Referência:
CORALINA, Cora. Estórias da Casa Velha da Ponte. São Paulo: Global Editora, 1988, p. 13.
Ilustração:
Beco de favela. Foto de autor desconhecido. Disponível em:.
.
Beco de favela. Foto de autor desconhecido. Disponível em:
Vídeo em Destaque [Cora Coralina]
|Por: Leila Brito - Chá.com Letras
Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas
Filha de Francisco Paula Lins Guimarães Peixoto,
desembargador nomeado por D. Pedro II, e de Jacinta Luísa do Couto
Brandão, nasceu Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, na cidade
de Goiás, em 20 de agosto de 1889, às margens do rio Vermelho, em
casa comprada por sua família no século XIX, quando seu avô ainda
era uma criança, onde foi criada. Estima-se que essa casa foi
construída em meados do século XVIII, tendo sido uma das primeiras
edificações da antiga Vila Boa de Goiás.
Depois de cursar somente as primeiras quatro
séries, com a Mestra Silvina, ou Mestre-Escola Silvina Ermelinda
Xavier de Brito (1835 – 1920), começou a escrever os seus
primeiros textos aos 14 anos de idade, publicando-os nos jornais da
cidade de Goiás, e nos jornais de outras cidades, como o semanário
“Folha do Sul” da cidade Goiana de Bela Vista – desde 20 de
janeiro de 1905, e a revista A Informação Goiana do Rio de
Janeiro, editada a partir de 15 de julho de 1917.
A jovem Anna
Conforme atesta Assis Brasil, na sua antologia “A
Poesia Goiana no Século XX” (Rio de Janeiro: IMAGO Editora, 1997,
p. 66), “a mais recuada indicação que se tem de sua vida
literária data de 1907, através do semanário ‘A Rosa’,
dirigido por ela própria e mais Leodegária de Jesus, Rosa Godinho e
Alice Santana.” Todavia tem-se trabalhos seus publicados em
periódicos goianos antes dessa data. É o caso da crônica “A Tua
Volta”, dedicada a ‘Luiz do Couto, o querido poeta gentil das
mulheres goyanas’, estampada semanário “Folha do Sul”, da
cidade de Bela Vista (Folha do Sul, ano 2, n. 64, p. 1, 10 de
maio de 1906).
Por ocasião dessa publicação, ou pouco antes,
Cora Coralina começa a frequentar as tertúlias do “Clube
Literário Goiano”, situado em um dos salões do sobrado de dona
Virgínia da Luz Vieira, que lhe inspira o poema evocativo “Velho
Sobrado”. Nessa época, começa a escrever para o jornal literário
“A Rosa” (1907), fase em que publica, em 1910, o conto Tragédia
na Roça.
A poeta e contista Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas
entre os frequentadores do Gabinete Literário Goiano
Em 1910, casa-se com o advogado Cantídio
Tolentino de Figueiredo Bretas, com quem se mudou, no ano seguinte,
para o interior de São Paulo, onde viveu durante 45 anos,
inicialmente nos municípios de Avaré e Jaboticabal, e depois em São
Paulo (1924). Ao chegar à capital, teve de permanecer algumas
semanas trancada num hotel em frente à Estação da Luz, porque os
revolucionários de 1924 haviam parado a cidade.
Em 1930, presenciou a chegada de Getúlio Vargas à
esquina da rua Direita com a Praça do Patriarca. Um de seus filhos
participou da Revolução Constitucionalista de 1932.
A mulher Anna
Com a morte do marido, passou a vender livros.
Posteriormente, mudou-se para Penápolis, no interior do Estado, onde
passou a produzir e vender linguiça caseira e banha de porco.
Mudou-se em seguida para Andradina, até que, em 1956, retornou para
Goiás.
Ao completar 50 anos de idade, a poeta relata ter
passado por uma profunda transformação interior, a qual definiria
mais tarde como “a perda do medo”. Nessa fase, deixou de atender
pelo nome de batismo e assumiu o pseudônimo que escolhera para si
muitos anos atrás: Cora Coralina.
Durante esses anos, Cora não deixou de escrever
poemas relacionados com a sua história pessoal, com a cidade em que
nascera e com ambiente em que fora criada. Ela chegou ainda a gravar
um LP declamando algumas de suas poesias. Lançado pela gravadora
Paulinas Comep, o disco pode ser encontrado hoje em formato CD.
Foi ao ter a segunda edição (1978) de Poemas
dos becos de Goiás e estórias mais saudada por Carlos Drummond
de Andrade no Jornal do Brasil, em 27 de dezembro de 1980, que Cora
Coralina passou a ser admirada por todo o Brasil. “Não estou
fazendo comercial de editora, em época de festas. A obra foi
publicada pela Universidade Federal de Goiás. Se há livros
comovedores, este é um deles.” Manifesta-se, então, o poeta
Drummond.
A poeta Anna
A primeira edição de Poemas dos Becos de
Goiás e estórias mais, seu primeiro livro, foi publicada pela
Editora José Olympio em 1965, quando a poetisa estava com 75 anos. O
livro reúne os poemas que consagraram seu estilo e a transformaram
em uma das maiores poetas de Língua Portuguesa do século XX. Onze
anos depois da primeira edição de Poemas dos Becos de Goiás e
estórias mais, compôs, em 1976, Meu Livro de Cordel.
Finalmente, em 1983 lançou Vintém de Cobre – Meias Confissões
de Aninha (Editora Global).
Cora Coralina recebeu o título Doutor Honoris
Causa da UFG em 1983. E, logo depois, no mesmo ano, foi eleita
Intelectual do Ano e contemplada com o Prêmio Juca Pato da
União Brasileira de Escritores. Em 31 de janeiro de 1999, a sua
principal obra, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais,
foi aclamada através de um seleto júri organizado pelo jornal O
Popular, de Goiânia, como uma das vinte obras mais importantes
do século XX.
Em 10 de abril de 1985, Cora Coralina faleceu em
Goiânia, tendo sido a sua casa na Cidade de Goiás
transformada no museu que guarda sua história de vida e sua produção
literária.
Obras Publicadas
PoesiaCORALINA, Cora. Poemas
dos Becos de Goiás e Estórias Mais. Rio de Janeiro: Livraria
José Olympio Editora, 1965.
CORALINA, Cora. Meu Livro de Cordel. Livraria e Editora Cultura Goiana, 1976, p. 93.
CORALINA, Cora. Vintém de Cobre: Meias Confissões de Aninha. UFG Editora, 1983, p. 195.
CORALINA, Cora. O tesouro da Casa Velha. [publicação póstuma]. São Paulo: Global, 1996.
CORALINA, Cora. Vila Boa de Goyáz. [publicação póstuma]. São Paulo: Global, 2001.
CORALINA, Cora. Meu Livro de Cordel. Livraria e Editora Cultura Goiana, 1976, p. 93.
CORALINA, Cora. Vintém de Cobre: Meias Confissões de Aninha. UFG Editora, 1983, p. 195.
CORALINA, Cora. O tesouro da Casa Velha. [publicação póstuma]. São Paulo: Global, 1996.
CORALINA, Cora. Vila Boa de Goyáz. [publicação póstuma]. São Paulo: Global, 2001.
Conto CORALINA, Cora. Estórias
da Casa Velha da Ponte. São Paulo: Global, 1985.
Infantil e juvenil CORALINA,
Cora. Os Meninos Verdes. São Paulo: Global, 1986.
CORALINA, Cora. A Moeda de Ouro que um Pato Engoliu. [publicação póstuma]. São Paulo: Global, 1999.
CORALINA, Cora. O Prato Azul-Pombinho. [publicação póstuma]. São Paulo: Global, 2002.
CORALINA, Cora. A Moeda de Ouro que um Pato Engoliu. [publicação póstuma]. São Paulo: Global, 1999.
CORALINA, Cora. O Prato Azul-Pombinho. [publicação póstuma]. São Paulo: Global, 2002.
Referência:
WIKIPEDIA. Cora Coralina. Disponível em:. Acesso em:
21 out. 2012.
WIKIPEDIA. Cora Coralina. Disponível em:
Ilustrações:Foto 1 – Anna
Lins dos Guimarães Peixoto Bretas – Foto de autor
desconhecido.
Disponível em:
Foto 2 – A jovem Anna – Foto de autor desconhecido.
Disponível em: Disponível em: http://elfikurten.blogspot.com.br/2011/12/cora-coralina-venho-do-seculo-passado-e.html
Foto 3 – Foto 2 – A poeta e contista Anna – Foto de autor desconhecido.
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Foto 4 – A mulher Anna – Foto de autor desconhecido.
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Foto 5 – A poeta Anna – Foto de autor desconhecido.
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Foto 2 – A jovem Anna – Foto de autor desconhecido.
Disponível em: Disponível em: http://elfikurten.blogspot.com.br/2011/12/cora-coralina-venho-do-seculo-passado-e.html
Foto 3 – Foto 2 – A poeta e contista Anna – Foto de autor desconhecido.
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Foto 4 – A mulher Anna – Foto de autor desconhecido.
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Foto 5 – A poeta Anna – Foto de autor desconhecido.
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Vídeo:
Gyn Teen conta a história de Cora Coralina
Produção: Gyn Teen.avi
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Gyn Teen conta a história de Cora Coralina
Produção: Gyn Teen.avi
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