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Mercadante ignora o compromisso da Folha com a repressão da ditadura
Os carros dos agentes policiais e os veículos da Folha ficavam
estacionados nas garagens da empresa. Não havia grande preocupação em
esconder a logomarca da empresa nos veículos disponibilizados para a
repressão. Certamente, o ministro Aloizio Mercadante, não sabia disto.
Economista competente, Aloizio Mercadante desconhece também que eu fui
um dos jornalistas presos em janeiro de 1974, no portão de entrada da
Folha.
O artigo é de Dermi Azevedo.
Em 1970, a redação da Folha, no quarto andar de um prédio da Alameda
Barão de Limeira, centro de São Paulo, era espacialmente dividida entre
os jornais Folha de S.Paulo, Folha da Tarde e Última Hora e por
policiais do DEOPS e do DOI-CODI. Eles espionavam diariamente os
jornalistas e os colaboradores. Seguiam de perto, de modo especial, o
jornalista Samuel Wainer, que havia negociado o jornal Ultima Hora com
Otávio Frias de Oliveira. “Eles acompanham todos os meus passos e
censuram as minhas informações”, queixou-se comigo Wainer, quando entrei
na sua pequena sala para lhe propor uma pauta. “Eu posso ser preso a
qualquer momento”, desabafou...
Os carros dos agentes policiais e os veículos da Folha ficavam
estacionados nas garagens da empresa. Eram kombis e fuscas, em sua
maioria. Não havia grande preocupação em esconder a logomarca da empresa
nos veículos disponibilizados para a repressão.
Um jornalista de São Paulo, Humberto Kinjô, que estava sendo perseguido
pela repressão, conseguiu um trabalho em um jornal colombiano. Pediu
ajuda aos seus colegas na redação da Folha para o envio de alguns
documentos. Os papéis foram interceptados e os jornalistas, intimidados.
Certamente. o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, não sabia disto.
Economista competente, com o qual trabalhei dois anos no Centro
Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), Aloizio Mercadante
desconhece também que eu fui um dos jornalistas presos em janeiro de
1974, no portão de entrada da Folha.
Coerente
A cessão de veículos da Folha para os órgãos da repressão da ditadura é
coerente com o compromisso dessa empresa com forças da direita. Sempre
foi muito forte, por exemplo, a relação entre a Folha e a TFP (Tradição,
Família e Propriedade,) uma organização de extrema direita, dirigida
pelo advogado Plinio Corrêa de Oliveira. Uns dos jornalistas mais
poderosos da Folha, Bóris Casoy, e citado pelo jornalista Flavio Decker,
como membro do CCC (Comando de Caça aos Comunistas). Bóris sempre negou
essa informação. Outras organizações com as quais a Folha sempre
manteve um bom relacionamento são a Opus Dei e a UDR (União Democrática
Ruralista).
Fui escalado nos anos 90 para fazer uma reportagem sobre a Opus Dei.
Pouco tempo depois de começar a minha pesquisa, fui surpreendido pela
“visita” de um representante dessa organização de origem franquista. Ele
propôs a minha candidatura a uma bolsa de estudos na Espanha. Recusei
imediatamente.
A Folha participou de uma entrevista coletiva do presidente da UDR,
deputado federal Ronaldo Caiado, em um hotel no centro paulistano.
Quando chegamos, Caiado distribuiu cópias de boletins de ocorrências
contra lideres como Chico Mendes, Paulo Fonteles , padre Josimo Moraes
Tavares, e Margarida Maria Alves, entre outros. Protestamos contra a
divulgação de documentos policiais contra pessoas assassinadas sem terem
mais direito de defesa. Diante de sua agressividade contra os
jornalistas, decidimos retirar-nos do local. Ao chegar à redação, fui
convocado pelo dono da empresa e fui advertido.
Outros admiradores
Aloizio não está sozinho na lista de admiradores de Otávio Frias. Antes
dele, o ex- ministro da Saúde, José Serra, deu o nome de Frias a um dos
viadutos mais trafegados de São Paulo.
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