sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Hoje na História: 1982 - 3 mil palestinos são massacrados nos acampamentos de Sabra e Shatila




Na noite de 16 para 17 de Setembro de 1982, milícias cristãs falangistas entraram em dois campos de refugiados palestinos - Sabra e Chatila - que estavam sob o controlo das tropas israelitas ocupantes do Líbano e massacraram milhares de pessoas, na sua maior parte à faca. Nesta altura o exercito sionista havia invadido o Líbano e o ministro da Defesa era Ariel Sharon.
Como em todo o mundo islâmico, o mês do Ramadã em Sabra e Chatilla é comemorado como uma festa de purificação e de partilha. Mas apesar da grande alegria e da movimentação que precede o pôr-do-sol - e o fim do jejum diurno -, as marcas do massacre ocorrido há 20 anos neste campo de refugiados palestinos do Líbano ainda estão bem visíveis. Estivemos lá, vimos o descampado onde, numa vala comum, foram enterrados mais de 2.500 corpos, deambulámos pelas vielas daquele imenso bairro degradado e falamos com um sobrevivente da tragédia.
Monib Daher teve um mau pressentimento quando ouviu o estrondo de uma forte explosão no centro do campo de refugiados palestinos de Sabra e Chatilla. Eram já duas horas da tarde do dia 16 de Setembro de 1982, mas Monib não sabia ainda que aquela data ficaria gravada a ferro para o resto dos seus dias e da história do seu povo. Habituado às explosões e ao matraquear dos tiros que marcavam já sete anos de guerra civil no Líbano, o palestino pensou a princípio que os autores da explosão não deveriam ser os cristãos falangistas, que não se atreviam a entrar no território dos palestinos, em plena Beirute ocidental. Algo, no entanto, lhe dizia que se estava a passar qualquer coisa muito má. Fora despertado cedo pela passagem de jactos israelitas voando muito baixo sobre a região. Dois dias antes, uma bomba retirara a vida ao líder falangista Bachir Gemayel e a outras 60 pessoas.
Mandou a mulher ver o que se passava. Esgueirando-se pelo emaranhado de vielas do campo - um enorme bairro de lata - ela viu apavorada os cadáveres que começavam a juncar as ruas. A vingança pelo atentado contra Gemayel já estava em curso, e o alvo eram os palestinos, enfraquecidos pela saída forçada de Yasser Arafat e dos combatentes da OLP de Beirute, na seqüência da invasão israelita do país e do cerco e bombardeamento a Beirute ocidental.
"Eram realmente os falangistas. Eles entravam de casa em casa, em silêncio, e usavam facas para matar sem fazer barulho." Monib lembra-se de um amigo que ouviu perto de si o gorgolejar de alguém a ser degolado e pensou que era um dos seus carneiros. Não era. Ao confirmar que uma matança estava em curso, um grupo de vizinhos de Monib decidiu formar uma delegação para ir negociar com os israelitas e os falangistas. Ele recusou-se a acompanhá-los. "Disse-lhes que se fossem já não voltariam mais". E assim foi. A decisão salvou-lhe a vida.
Fuga para o hospital
Monib Daher sobreviveu ao massacre porque conhecia bem o território e porque só ¾ do campo estavam cercados pelas tropas israelitas. A sorte levou-o a decidir mandar a mulher e os filhos para o hospital Gaza, um edifício de cinco andares hoje totalmente destruído. Ele ficou mais atrás, com a filha mais velha. Apesar do testemunho da mulher e dos vizinhos, queria ver tudo com os próprios olhos. Polidor e pintor de móveis de profissão, a guerra civil e a luta pela sobrevivência tinham empurrado Monib Daher para a participação ativa na guerra.
Organizador militar ligado à FPLP, facção marxista de Georges Habache, ele era já na altura um combatente experiente. Mas logo se apercebeu que nada havia a fazer além de fugir. Viu mulheres e crianças chorando, corpos por todo o lado, e sentiu as balas a zunir à sua volta. As armas de fogo tinham já substituído as armas brancas. "Todos os palestinianos que escaparam ao massacre foram levados para interrogatório. Na verdade, o objetivo era impedi-los, durante o máximo de tempo possível, de revelar o que tinha acontecido. Punham-nos numa área minada para que não pudessem escapar."
Quando chegou ao hospital Gaza, a família já lá estava e muitos outros palestinos acorriam ao refúgio. Os funcionários, porém, pediam-lhes que não ficassem, porque não podiam garantir-lhes a segurança, só a do próprio pessoal e dos doentes. Mas não havia para onde ir. Decidiram ficar. As mulheres e as crianças foram mandados para a cave, e os homens ficaram de vigia nos andares superiores. "Durante dois dias, quem saísse era morto", lembra Monib.
Só no fim desse prazo as ambulâncias do Crescente Vermelho foram autorizadas a entrar em Sabra e Chatilla. Na mesma data, os refugiados do hospital puderam sair em liberdade. Mas israelitas e falangistas ainda andavam por lá, ocupados a fazer desaparecer os vestígios da matança. "A minha filha, que trabalhava como voluntária do Crescente Vermelho, viu quando os corpos foram empurrados por buldozzers para dentro da vala comum e cobertos de cal."
A cena está documentada fotograficamente, e alguém que olhe de relance esta imagem de horror não deixará de evocar os enterros maciços de judeus nos campos de concentração nazistas. A fotografia foi transformada em outdoor e está, com as cores já esmaecidas, a marcar o espaço cercado onde se encontra o terreno da vala comum, 29 anos depois. Cercado, este descampado poderia passar despercebido a quem entre pela rua principal do campo, hoje transformada numa imensa feira de vendedores ambulantes, que estendem as suas mercadorias à frente das casas semidestruídas, as paredes esventradas e os ferros retorcidos a exibir o pesadelo que ainda não foi esquecido.
Monib Daher não tem dúvidas sobre as responsabilidades do massacre que deverá, na sua opinião, ter tirado a vida a 2.500 pessoas (a cifra oficial é 3.000 mortos): "O meu amigo Maher Serrour, que teve toda a família morta menos uma filha de oito anos, viu Ariel Sharon a sair de uma casa dentro do próprio campo. Os comandantes do massacre vieram com Sharon de helicóptero e depois juntaram-se aos falangistas em carros especiais. Feita a matança, deixaram Sabra e Chatilla e ficaram só os seus aliados libaneses."
As primeiras notícias do massacre - cujas responsabilidades ainda assombram Israel - causaram uma onda de indignação mundial e as tropas da ONU voltaram a Beirute para proteger o campo de refugiados. Durante muito tempo Monib tinha medo não só dos israelitas como também de qualquer pessoa que levasse vestido um uniforme.
Vinte e nove anos depois, as marcas do massacre de Sabra e Chatilla ainda estão vivas e as feridas de quinze anos de guerra ainda estão abertas, como de resto em todo o Líbano. Mas a vida prossegue e os refugiados palestinos, apesar das péssimas condições, apesar de muito se sentirem esquecidos pelo mundo, ainda conseguem sentir as alegrias dos dias de festa (Ramada). Quanto tempo ainda irá demorar até que o mundo se lembre deles.


Buscado no Gilson Sampaio

Puxadinho do Jader

Valsa com Bashir



A valsa com Bashir é um filme sobre a invasão israelita do Líbano, em 1982, e sobre os dois dias do massacre de centenas, possivelmente milhares, de palestinianos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, em Beirute - massacres realizados pelos cristãos falangistas, aliados de Israel, com a ajuda dos soldados israelitas que, apesar de se terem mantido fora dos campos, cercaram-nos com os seus tanques e iluminaram-nos, facilitando a orgia de violência dos falangistas.
Diria que será mais uma oportunidade para reflectir, mais uma razão para acabar com a eterna guerra do Médio Oriente.
A valsa com Bashir (2008) é um filme realizado por Ari Folman.

O filme retrata as tentativas de Folman, um veterano da Guerra do Líbano de 1982, de recuperar suas memórias perdidas dos eventos que marcaram o massacre de Sabra e Shatila. 



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