buscado no Gilson Sampaio
Imagem original do Ricardo Kotscho foi substituída por essa do bloguezinho mequetrefe.
Gilson Sampaio
Caros leitores,
pelos
comentários enviados até agora, dá para perceber como o tema do texto
abaixo provocou opiniões polêmicas, com muitos discordando de mim, o que
só mostra duas coisas: a riqueza da democracia e do debate na internet,
em que não há espaço para a unanimidade, ao contrário do que ocore com o
pensamento único da grande imprensa.
Só esqueci
de responder uma coisa ao leitor Fernando Aleador, que me levou a
escrever este post: imparcialidade não existe no jornalismo.
Todos
os jornalistas e donos de meios de comunicação têm lado. Só escrevo o
que penso e sinto, sem pedir licença nem querer agradar ou desagradar a
ninguém.
Nem precisava dizer isso para quem
acompanha meu trabalho há quase 50 anos, mas para os que estão chegando
agora é bom repetir: meu lado é o do Lula, do PT e o da maioria do povo
brasileiro, que venceu 500 anos de opressão e hoje vive num país melhor e
mais justo.
Ricardo Kotscho
***
"Por
que o bloguista inexplicavelmente não conta nada sobre Rosemary e o
possível envolvimento do ex-presidente Lula em algumas operações
ilícitas? Aonde está a sua imparcialidade de jornalista?", pergunta o
leitor Fernando Aleador, em comentário enviado às 04h57 desta
sexta-feira.
Tem toda razão o leitor.
Demorei
para escrever e dar esta resposta porque, para mim, estes últimos foram
os dias mais difíceis da minha já longa carreira, posto que os fatos
envolvem não só velhos amigos meus, como é do conhecimento público, mas
um projeto político ao qual dediquei boa parte da minha vida.
Simplesmente,
não sabia mais o que dizer. Ao mesmo tempo, não podia brigar com os
fatos nem aderir à guerra de extermínio de reputações e de desmonte da
imagem do ex-presidente Lula e do PT que está em curso nos últimos
meses.
A propósito, escrevi no começo de
novembro um texto que se mostrou premonitório sob o título "O alvo agora
é Lula na guerra sem fim", quando o STF consumou a condenação dos
ex-dirigentes do PT José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares.
De
uma hora para outra, a começar pelo julgamento do mensalão, até chegar
às revelações da Operação Porto Seguro, o que era um projeto vitorioso
de resgate da cidadania reconhecido em todo o mundo levou um tiro na
testa e foi jogado na sarjeta das iniquidades.
"O
que me intriga é saber por que agora, por que assim e por que tamanha
insistência. É claro que o esforço para acabar com a corrupção é
legítimo e louvável, mas não terminaram recentemente de sangrar o PT até
a entrada do necrotério? Quem estaria sedento por mais?", pergunta-se a
colunista Barbara Gancia, na edição de hoje da Folha, e são exatamente
estas as respostas que venho procurando para entender o que está
acontecendo.
Talvez elas estejam na página A13
do mesmo jornal, em que se lê: "FHC acusa Lula de confundir interesses
públicos e privados". Em discurso num evento promovido pelo PSDB no
Jóquei Clube de São Paulo, na quinta-feira, o ex-presidente pontificou,
mesmo correndo o risco de falar de corda em casa de enforcado:
"Uma
coisa é o governo, a coisa pública, outra coisa é a família. A confusão
entre seu interesse de família ou seu interesse pessoal com o interesse
público leva à corrupção e é o cupim da democracia".
Sem
ter o que propor ao eleitorado, após sofrer três derrotas consecutivas
nas eleições presidenciais, e perder até mesmo em São Paulo na última
disputa municipal, o PSDB e seus alíados na mídia e em outras
instituições nacionais agora partem para o vale-tudo na tentativa
desesperada de eliminar por outros meios o adversário que não conseguem
vencer nas urnas.
Nada disso, porém, exime o
ex-presidente Lula e o PT de virem a público para dar explicações à
sociedade porque não dá mais para fazer de conta que nada está
acontecendo e tudo se resume a uma luta política, que é só dar tempo ao
tempo.
A bonita história do partido, que foi
fundamental na redemocratização do país, e a dos milhões de militantes
que ajudaram a levar o PT ao poder merecem que seus líderes venham a
público, não só para responder a FHC e às denúncias sobre a Operação
Porto Seguro publicadas diariamente na imprensa, mas para reconhecer os
erros cometidos e devolver a esperança a quem acreditou em seu projeto
político original, baseado na ética e na igualdade de oportunidades para
todos.
Chegou a hora da verdade para Lula e o PT.
É
preciso ter a grandeza de vir a público para tratar francamente tanto
do caso do mensalão como do esquema de corrupção denunciado pela
Operação Porto Seguro, a partir do escritório da Presidência da
República em São Paulo, pois não podemos eternamente apenas culpar os
adversários pelos males que nos afligem. Isso não resolve.
Mais
do que tudo, é urgente apontar novos caminhos para o futuro, algo que a
oposição não consegue, até porque não há alternativas ao PT no
horizonte partidário, para uma juventude que começa a desacreditar da
política e precisa de referências, como eu e minha geração tivemos, na
época da luta contra a ditadura.
Conquistamos a democracia e agora precisamos todos zelar por ela.
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