Via Blog do Cappacete
Eduardo Collen Leite, o Bacuri, foi um dos mais ativos revolucionários atuantes no Brasil durante os anos de chumbo. E exatamente por isso foi também o mais odiado pelos gorilas da repressão.
Mineiro de Montes Claros, Eduardo se mudou muito jovem para São Paulo, onde fez curso técnico em telefonia. Em 1967 serviu o exército, na 7ª Companhia de Guarda, e posteriormente, no Hospital do Exército, no bairro do Cambuci. No colégio tomou contato com as teses da POLOP (Política Operária) e passou a militar nesse movimento. No exército fortaleceu seu ódio aos militares. Aderiu ao racha a esquerda da Polop, e juntamente com a seção paulista deste grupo ingressou na VPR
Bacuri foi guerrilheiro de primeira hora, atuando já em 1968. Era exímio puxador de carros, tendo fornecido vários veículos para sua organização. Ainda nos primórdios da luta armada, utilizava-se da tática de guerra de nervos, passando trotes nas forças de repressão. Ligava para os policiais civis e informava sobre um endereço suspeito, imediatamente era colocada uma viatura para vigiar a localidade indicada pela denúncia. Em seguida Bacuri ligava para a Força Pública, a PM da época, e informava sobre um carro suspeito, no mesmo endereço que passara aos civis. Mais de uma vez a ocorrência acabou em tiroteio.
Outro fato que serviu para estimular o ódio a Bacuri se deu quando da prisão de sua companheira, Denise Crispin, filha do deputado federal cassado pelo Golpe de 64, José Maria Crispin. Eduardo teria ligado para o próprio delegado Fleury e lhe dito que se este encostasse em um fio de cabelo de Denise o mesmo seria “estraçalhado”. O torturador mor, de acordo com relatos, teve um acesso de raiva frente a ousadia do “terrorista”.
Eduardo participou da expropriação do Quartel do Cambuci (no qual servira), de onde foram levadas dezenas de armas. Participou do sequestro do Cônsul do Japão, Nobuo Ozuchi, em 1970. Organizou e liderou o sequestro do Embaixador da Alemanha, Ehrenfried von Holleben, que resultou na soltura e posterior banimento de 40 presos políticos. Participou de dezenas de outras operações, várias delas terminado em mortes, inclusive de militares.
No começo de 1969 cansou das disputas teóricas dentro da VPR e abandonou esta organização, fundando a REDE (Resistência Democrática), grupo voltado exclusivamente a ação. Após uma série de quedas em seu grupo, Bacuri optou por se engajar na ALN, influenciado por Joaquim Câmara Ferreira. Quando foi preso se encontrava nessa organização.
Eduardo foi preso em agosto de 1970, no Rio de Janeiro, numa cuidadosa operação organizada pelo delegado Fleury, que assumidamente temia Bacuri. Após a prisão, este revolucionário passou por uma verdadeira via sacra do horror, sendo torturado durante 109 dias. Passou por casas de tortura no Rio de Janeiro, São Paulo e Santos. Seu corpo foi encontrado em Santos em 08/12/1970. A versão oficial dos torcionários relata morte em tiroteio nas imediações da cidade de São Sebastião, litoral paulista. De acordo com Denise Crispin, sua esposa:"seu corpo, além de hematomas, escoriações, cortes profundos e queimaduras por toda a parte, apresentava dentes arrancados, orelhas decepadas, e os olhos vazados". Seus grandes e vivos olhos azuis.
Mas Bacuri não se submeteu aos assassinos pagos pelo Estado brasileiro, morreu desafiando seus algozes até o último momento, que não conseguiam se conformar com a coragem daquele rapaz, que só tinha 25 anos. Não entendiam de onde vinha tanto destemor.
A selvageria contra Bacuri provocou horror em âmbito internacional, o que motivou os gorilas, a partir de então, a desaparecer com todos os mortos nos porões.
Segundo o coronel Erasmo Dias, os milicos tinham mais medo de Eduardo que do próprio Lamarca. Já o professor João Quartim de Moraes, que o conheceu bem, o pinta como um jovem educado, discreto, mas profundamente determinado, que compensava suas carências teóricas com uma vontade de ferro.
Bacuri era um jovem situado na geração de 68, dentro daquele espírito inquieto da época, mas ao contrário da imensa maioria, não se submeteu a truculência dos golpistas, e não se calou após o AI-5. Eduardo Collen Leite foi um dos guerrilheiros mais “chapa quente” em atuação no período, tinha plena consciência de que "revolução é um ato de violência", e "não se muda a História com lágrimas". Seu exemplo é de coragem, de têmpera, de não submissão. Pátria ou morte!
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