terça-feira, 7 de junho de 2011

A revolta da chibata dos bombeiros e a recaída tucana de Sérgio Cabral

 Os Amigos do Brasil 

O governador Sérgio Cabral (PMDB/RJ) está diante de um dilema, sobre como entrará para a história: se como um governador progressista que uniu-se ao governo federal para desenvolver bons programas, como o PAC das comunidades, as UPP’s (Unidade de Polícia Pacificadora), a internet grátis para comunidades de baixa renda, ou como mais um José Serra (PSDB/SP), carrasco do funcionalismo público.

Hoje, o governador enfrenta uma greve do corpo de bombeiros, por melhores salários, que descambou para a radicalização.
Os bombeiros reclamam que o piso que recebem é de R$ 950 líquidos. Comparam seus salários com o equivalente a outros estados, e dizem que é o salário mais baixo do Brasil, para a categoria.
As queixas são antigas, e neste ano, depois de 2 meses de negociações, onde os bombeiros consideram-se “enrolados” pelo governador, inclusive divulgando à imprensa que paga um valor que não corresponde ao que aparece no contracheque; um grupo de bombeiros, em sinal de protesto invadiram um quartel. Foram retirados à força pela tropa de elite (BOPE) e tropas de choque, levados presos.
Foi um ato errado de insubordinação, o que não é aceitável numa corporação regida por estatuto militar. Mas atos de ruptura acontecem quando levados a uma situação limite. A história do Brasil lembra o que foi a revolta da Chibata: uma rebelião contra castigos degradantes de oficiais contra marinheiros. Dentro dos códigos militares, uma violação da ordem, mas quando a ordem vigente é injusta demais, um dia ela se rompe, por bem ou por mal.
Um ex-governador de Minas Gerais, Milton Campos, mesmo sendo da UDN, diante de uma greve de ferroviários, foi perguntado por um assessor se podia mandar a polícia. Ele perguntou o motivo da greve. Eram salários atrasados. O governador respondeu: – em vez de mandar a polícia, mande o trem pagador.
A população do Rio apóia majoritariamente os bombeiros, porque reconhecem justeza nas reivindicações, e fazem uma onda vermelha de apoio. Muitos colocam adereços vermelhos nas roupas e nas janelas das casas.
Os bombeiros não andam armados, e não se amotinaram em armas, por isso a ocupação do quartel é algo menos grave, do ponto de vista de consequências. A melhor saída para o governador é sentar-se na mesa com os bombeiros e fazer uma negociação honesta, sem truques, com o que fala na frente das câmaras aparecendo no contracheque. E achar uma saída honrosa para que os bombeiros não continuem presos, e ao mesmo tempo, sem incentivar quebras de hierarquias.
Sérgio Cabral iniciou sua carreira como tucano. É verdade que no início os tucanos tinham um aspecto de social-democracia. Mais a coisa desandou já no governo de Marcello Alencar (de 1995 a 1998), quando fez um governo mais neoliberal do que o próprio FHC. Até a operação do Metrô foi privatizada. Neste período, Sérgio Cabral foi fiel escudeiro tucano, como presidente da Assembléia Legislativa. No fim do mandato de Alencar, passou para o PMDB e, eleito governador em 2006, se redimiu ao tomar o bom caminho de preocupar-se com programas estruturantes, sobretudo para os mais pobres. O ponto fraco de seu governo, onde há resquícios tucanos, é o salário do funcionalismo. Sabemos que não dá para corrigir todos os salários de uma vez para o valor que professores, bombeiros e policiais merecem, mas um bom pacto de recuperação salarial é preciso fazer, e de forma honesta. Senão corre o risco de entrar para a história como entrou José Serra: carrasco do funcionalismo, sobretudo contra os professores, bombeiros e policiais.

 

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