quinta-feira, 9 de junho de 2011

Governo Dilma: Devagar, bem comportado, rumo ao precipício

Via Diário Liberdade

 

Laerte Braga
A demissão de Antônio Palocci não muda nada no governo Dilma. Sai um ministro envolvido em corrupção, entra uma ministra até prova em contrário séria, mas e daí?
A política econômica continua privilegiando investimentos não produtivos – de curto prazo – com ganhos elevados (como não existem em lugar do mundo), os juros continuam estratosféricos e o ufanismo do real valorizado na prática significa que o parque industrial brasileiro, a persistir esse modelo, vai para o brejo.
Os ganhadores? Os de sempre. O sistema financeiro em boa parte controlado por grupos estrangeiros – obra de FHC.
As taxas de crescimento do Brasil nos últimos anos não revelam realidades perversas que ainda permanecem intocadas no País. Os baixos salários, a falta de participação popular no processo de decisões políticas no sentido amplo e um modelo atrelado ao neoliberalismo em franca decomposição em todo o mundo.
A nova ordem econômica é uma ordem terrorista e funda-se na boçalidade de um arsenal nuclear fantástico dos Estados Unidos, um país em si e por si, falido e dissolvido no controle que sobre o Estado norte-americano exercem os grandes grupos financeiros, a indústria petrolífera, a de armas e o sionismo, hoje principal acionista da Casa Branca.
Toda a teia construída no desgoverno FHC permanece intocada.
O modelo é que está falido. A corrupção de Palocci é implícita, como permeia desde a cúpula do PT, a do PSDB e do PMDB, do entorno desses partidos (PSB, DEM, PR e outros que formam o leque que vai do centro para a direita).
Ou se percebe a necessidade de ruptura com esse modelo, de busca de caminhos que privilegiem o mercado interno – isso significa mais que reforma política para garantir feudos de caciques dos vários partidos de ponta – e nessa medida a política externa de Lula proporcionou avanços expressivos, ou todo o aparato de potência que o Brasil começou a conquistar vira e volta a transformar o País em mero produtor de matérias primas, paraíso do latifúndio e do agronegócio, a corrida pela afirmação em tudo e por tudo como uma das locomotivas do mundo, mais uma vez vai ser perdida.
A situação no campo em nosso País não mudou nada em relação à Idade Média.
Em primeiro lugar é preciso fugir do lugar comum de atribuir qualquer crítica ao governo a aceitar e a fazer coro à mídia podre e venal que temos. É uma desculpa esfarrapada, é enfiar a cabeça num buraco a moda do avestruz.
Permanecem os assassinatos de líderes camponeses e ambientalistas no Norte do Brasil. O sistema repressivo da ditadura militar contra manifestações estudantis e de trabalhadores. Não pode ser chamada de Justiça uma decisão que torna inocente um dos criminosos mais repugnantes dos últimos tempos, o banqueiro Daniel Dantas e mantém preso à revelia de qualquer princípio legal um refugiado político, caso de Cesare Battisti.
Não existe país no mundo que possa sobreviver a um Moreira Franco como ministro de Assuntos Estratégicos. Tanto quanto não sobrevive a um José Serra, ou a um Aécio Neves, mas escorrega e se deixa fazer presa fácil de uma compreensão equivocada de democracia.
Não há poder popular no Brasil e a decisão catastrófica de construir Belo Monte é um exemplo.
Há que se ter um desenho para o desenvolvimento levando em conta que cá embaixo estão seres humanos e esse teto só terá sentido de traçado a partir de ampla participação popular.
É assim que se quebra o poder da mídia, braço dos donos. E é por aí que se abrem os espaços para conquistas efetivas na contramão da falência da Europa Ocidental, da desordem totalitária da Europa Oriental e se chega a caminhos de paz no Oriente Médio, ou se reverte o caos em países africanos.
Começa na integração latino-americana. Na aproximação com os vizinhos e na construção de um bloco dentro dessa ótica.
É um confronto inevitável que trabalhadores e camponeses, organizações populares terão que manter com o poder vigente. E bem antes que a realidade se transforme em pesadelo maior que o atual, ainda que dissimulado por programas sociais e avanços aqui e ali, mas sem nenhuma mudança estrutural.
O PT rendeu-se a uma evidência perigosa – e o fez por vontade própria – levando de roldão – já que jogam toda a esquerda num só balaio – a perspectiva de organização popular nos anos que se seguiram à ditadura. Todo um caminho está sendo refeito a duras penas por partidos que se mantêm nanicos – para usar uma expressão comum e referente ao eleitoral –, mas vivos em seus ideais e compromissos.
Estão vivos também e agora na FOLHA DE SÃO PAULO os carrascos impiedosos e covardes de 1964.
Uma exceção aqui – Tarso Genro no Rio Grande do Sul –, outra ali, mas o centro do poder preso a consultorias que são bem mais que remuneração a ministros e dirigentes petistas. Constituem a afirmação do modelo político e econômico que marginaliza o trabalhador da cidade e o do campo.
A farsa da base governista no Congresso esbarra nos interesses de grupos como o dos latifundiários, ou até de setores religiosos – evangélicos –, mas tudo termina nos fabulosos balanços dos bancos.
O Brasil é um dos países onde a carga tributária é alta, mas ao incidir em sua esmagadora maioria sobre os trabalhadores. Direta ou indiretamente. Elites econômicas têm toda a sorte de benefícios e vantagens. A comparação que setores ditos de esquerda fazem com outros países é ridícula. Nos EUA se cobra o imposto sobre herança. Aqui era um projeto de FHC quando senador que sumiu quando o dito virou presidente.
Heranças, como as temos, são privilégios que perpetuam feudos e um poder absoluto de famílias, como acontece no Maranhão com a quadrilha Sarney. Construídas na exploração pura e simples do trabalhador. Na mentira e no engodo da democracia que é apenas formal e se manifesta de quatro em quatro anos. Se manifesta e se esgota aí. É de pai para filho.
As revoltas em países árabes, as manifestações na Grécia, em Portugal, na Espanha, nos Estados Unidos (até ocupação de fábricas como no início do governo Obama, 42 milhões de cidadãos na linha da miséria), o fim do conceito de nação imposto pela ordem neoliberal são sintomas de um precipício do qual o Brasil não escapa, já que governos supostamente de esquerda não conseguem romper as amarras de um modelo perverso e cruel, mas vendido nas bancas de jornais e revistas como mulher melancia.
A visão do chanceler Anthony Patriot é a de “pragmatismo”. Vem a ser em linguagem bem direta, se o estupro é inevitável, relaxa e pronto.
O capitalismo se apropria do ser humano como um todo e transforma-o em “gado tangido e moído”, enquanto mata civis na Líbia, no Afeganistão, no Iraque, em países europeus onde o povo sai às ruas protestando contra barbáries de governos e agora no Brasil.
A concepção capitalista sobre mulheres é que se usarem Harpic poderão aproveitar melhor o tempo em academias de ginástica, em se transformarem em divas, mas para isso ainda é preciso usar colgate que dezenas de dentistas cínicos e sem ética receitam como solução para problemas bucais.
O adormecido aparato repressivo da ditadura ressurge em organizações terroristas chamadas de BOPE, Polícia Militar e reprime trabalhadores em nome da propriedade privada e das grandes empresas.
Para se ter uma ideia clara disso é só imaginar que uma figura como Sérgio Cabral (amigo de Luciano Huck, o da casa ilegal que foi legalizada pelo governador) governa um estado como o Rio de Janeiro.
E Moreira Franco é ministro no lugar de Samuel Pinheiro Guimarães.
De fato não vamos a lugar nenhum exceto o jogo cínico da disputa de poder do clube de amigos e inimigos cordiais.
Que ressurge inclusive no patrulhamento ideológico, típico de organizações fascistas.


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