buscado no Bahia
de Fato
É um pedido
impossível. Em carta aberta ao candidato do DEM à Prefeitura do
Salvador, ACM Neto, o professor Wilson Gomes, da Universidade Federal
da Bahia, faz uma reflexão e traz à tona memórias do império
imposto ao longo de duas décadas do 'carlismo'; o professor baiano
oferece seu voto ao neto do "imperador", o falecido Antônio
Carlos Magalhães (ACM), em troca de que o jovem herdeiro democrata
lhe "devolva" a Bahia.
COM SARCASMO MODERADO
O portal Bahia247, onde
pesquei a matéria, ressalta que o professor da UFBA, escreve a carta
com sarcasmo moderado e com dose extrema de inteligência. O
professor baiano oferece seu voto ao neto do "imperador"
baiano, em troca de que o jovem herdeiro democrata lhe "devolva"
a Bahia. O texto, em si, faz um apanhado da 'marca' Magalhães
espalhada por todo o estado com nomes de ruas, edifícios públicos e
o que até hoje gera debates entre os carlistas conservadores (os
poucos que restam) e a esquerda, que, liderada pelo PT, governa a
Bahia há seis anos, a mudança do nome do aeroporto de Salvador.
ACM (o avô) conseguiu
aprovar na Assembleia Legislativa a mudança do nome do terminal
aeroviário que carregava toda a história da Bahia no letreiro
situado na entrada do espaço, o 2 de Julho, data que marca a
independência do estado. Hoje o nome oficial é Aeroporto
Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães, em homenagem ao
filho do então senador que faleceu depois de uma parada cardíaca ao
fim de uma caminhada.
LEIA A INTEGRA
DA CARTA DE WILSON
GOMES
http://www.brasil247.com/pt/247/bahia247/83392/Em-carta-a-ACM-Neto-professor-pede-a-Bahia-de-volta.htm
http://www.brasil247.com/pt/247/bahia247/83392/Em-carta-a-ACM-Neto-professor-pede-a-Bahia-de-volta.htm
Carta aberta de Wilson
Gomes a ACM Neto
Caro Antonio Carlos
Magalhães Neto, sei que pode parecer não fazer falta para o seu
estoque, mas como os seus votos estão minguando nesta "reta
final", considere a possibilidade de contar com o meu voto. É
magrinho, mas é limpinho. Entretanto, como o meu DNA calvinista me
impede de dar alguma coisa, assim, do nada, proponho uma barganha. Eu
te dou o meu voto e a sua família devolve a minha Bahia.
Explico. Não é por
nada, mas é que me incomoda o fato de a sua família ter marcado a
Bahia inteira, como fazem os bichos territoriais que vejo no Animal
Planet, com o seu cheiro...digo, nome. É difícil achar qualquer
coisa pública criada nos últimos vinte anos nesta Província -
viaduto, avenida, município, aeroporto, escola... monumento nem se
fala - sem o nome de alguém da sua família ou de pessoas a ela
consorciadas.
Quer prova? Dê um
google. Se até mesmo a vovó (a sua) Arlete Magalhães, que ao que
me resulta nunca recebeu um voto popular na Bahia, é nome de umas 15
escolas e centros de educação infantil e de umas três ruas no
estado... Nem vou falar de vovô (o seu!) que deu mais nome a
logradouros e edifícios públicos na Bahia que Luís XIV, o Rei Sol,
foi capaz de dar ao Estado Francês durante os anos da sua glória.
Titio (o seu, sempre o seu) nem se fala, não é mesmo?
Começa pelo mausoléu
em Pituaçu, guardado pela nossa força militar, com bandeira sempre
tremulante e pira eternamente acesa, que daria uma pontinha de inveja
a Shah Jahan, o imperador mongol que mandou fazer o Taj Mahal. Sem
mencionar a, horror dos horrores!, usurpação do nome sagrado do
Dois de Julho, trocado pelo de Dom Eduardo Magalhães, no aeroporto
desta Cidade de São Salvador. E ainda tem outro monumento fúnebre,
na Av. Garibaldi, para um sujeito cujo grande mérito público foi
ter sido o candidato de ACM e morrido durante a campanha. Pois é.
Sei que tudo isso
parece natural à sua família. Que talvez ainda ache pouco, e só
lamente que essa porção de terra onde vivemos não seja
oficialmente reconhecida como uma Capitania Hereditária dos
Magalhães. Sei que eu estou me queixando de barriga cheia e que já
dou sorte porque não deu tempo de estabelecer um Império Caronlígio
Tropical - já que Carlos por Carlos, por que Carlos Magno
estabeleceu uma dinastia e Antonio Carlos, não? Só por que o franco
foi magno não quer dizer que o bahiense seja mínimo, não é mesmo?
Reconheço isso tudo,
embora um documentário que vi no Discovery tenha dito, para minha
surpresa, que aquele Estreito de Magalhães lá do finzinho da
América do Sul se refere a um obscuro navegador português e não a
algum pródigo argonauta da sua família. Esse Discovery deve ser
meio petista. Liga não.
Por outro lado, que
sorte a de Antonio Vieira, Joana Angélica, Maria Quitéria, Ruy
Barbosa e Castro Alves, heim? Já imaginou se tivessem morrido depois
da instauração do direito feudal dos Magalhães de colocar o
próprio nome em tudo o que é público? Não iria sobrar nada para
os coitadinhos.
Preocupa-me um pouco,
claro, o fato de ter mais coisas na Bahia em nome de Dona Arlete do
que de Raul Seixas, Glauber Rocha e Jorge Amado, mas são ossos do
ofício, não é? Matriarca é uma coisa, artista é outra. Inda mais
quando uma está viva e os outros, mortos. Agora o que me incomoda
mesmo é que não sobre nada, nadica, para a gente perpetuar a
memória de Caetano, João Ubaldo, Gilberto Gil e outros baianos
sabidos que há por aí. É que gosto desses, sabe? Apego besta, sei
que não são Magalhães, mas, coitados, isso não é dado a todos.
Fico com medo de
que ACM Bisneto ou ACM Tetraneto usem tudo quanto for logradouro,
prédio, monumento, quiçá a própria Bahia, para colocar os nomes
dos filhos de Luis Eduardo, do seu próprio, suas esposas, amigos,
primos e apaniguados.
Bem era isso. Nem
precisa que o Sr. devolva o nome dos logradouros e edifícios já
recobertos pela honra do nome da sua família. Proponho quotas. Sei
que é uma palavra petista aos seus ouvidos, mas não se assuste,
pois, como vê, estou usando a grafia clássica. Uma quota de,
digamos, 75% para os Magalhães e 25% para os demais, baianos e
não-baianos, já me deixaria satisfeito. Mas também faço por 20% e
não se fala mais nisso.
Pense com carinho. Qualquer coisa, me procure até o dia 7.
Atenciosamente.
Seu, humilíssimo, WG.
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