segunda-feira, 22 de outubro de 2012

VENEZUELA - O significado regional do triunfo de Cháves.

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 “O povo não quer mais décadas perdidas, prefere claramente uma década conquistada soberanamente, que está sendo desfrutada, pela ampla maioria da população, no marco de moradias, educação, saúde, emprego, salário e condições de vida muito mais dignas”. Esta é a interpretação do economista Alfredo Serrano Mancilla, interpretando o significado regional da vitória de Chávez, em artigo publicado no jornal Página/12, 18-10-2012. 
A tradução é do Cepat. 
Eis o artigo. 

 Passado alguns dias da vitória eleitoral de Chávez na Venezuela, é momento de ler os resultados que apresentam o amplo apoio ao aprofundamento da proposta bolivariana de transformação social em favor das maiorias. O número de 55, 12%, na democracia, e em referência a qualquer parte do mundo, é impactante. Depois de 14 anos submetendo-se a numerosos processos de avaliação, por parte do povo venezuelano, Chávez vence com mais de 11 pontos o candidato unificado da direita. A oferta do Capriles-progressista não conseguiu enganar ninguém. Apesar do seu comércio de promessas maniqueístas, a direita não pôde convencer as classes populares. A grande maioria venezuelana soube identificar Capriles com os seus, isto é, com os setores dominantes do país, responsáveis pela dívida social histórica com eles. A desejada atualização do Consenso de Washington não pôde ocorrer em terra venezuelana; o consenso “ao estilo troika”, do século XXI, não será receitado no solo desta potência caribenha. A saída neoliberal efetivada por boa parte dos países centrais não será importada, neste caso e por esta via, para a América Latina. O povo não quer mais décadas perdidas, prefere claramente uma década conquistada soberanamente, que está sendo desfrutada, pela ampla maioria da população, no marco de moradias, educação, saúde, emprego, salário e condições de vida muito mais dignas. Porém, estas eleições não eram jogadas apenas na Venezuela, mas meio mundo estava muito atento ao que poderia acontecer neste país, que teve um papel relevante na transição geopolítica em nível mundial, e mais vigorosamente na mudança da correlação de forças progressistas na América Latina. No ano de 1998, Chávez venceu as eleições em pleno auge neoliberal. O triunfo chavista foi um transcendental ponto de inflexão na recente história regional. As forças progressistas (umas mais e outras menos) começaram a ganhar no Brasil, Argentina, Bolívia, Equador e Paraguai. É por isso que depois de tantos anos de uma América Latina mais progressista, mais soberana, mais emancipada do que nunca, muitos olhares estavam atentos ao que poderia acontecer na Venezuela, nesta disputa eleitoral, e o que resultaria na chave regional. O resto do mundo também observava, e não de soslaio, se cairia a primeira peça desse dominó progressista, que tanto incomoda aos capitais financeiros, o investimento colonizador e as transnacionais rentistas. A peça não caiu, nem sequer desequilibrou. A vitória não foi pírrica mesmo diante de muita campanha internacional e de muito assessor “clintoniano” com Capriles. Nestes dias de ressaca, a direita nacional venezuelana e a transnacional continuam sumidas sob a doença de não saber perder na democracia. Os editoriais não falam de fraude porque não sabem como demonstrar, dedicando-se então a duvidar dos resultados, buscando qualquer subterfúgio paranormal. A direita midiática, como sempre, mais à direita do que a partidária. Do outro lado está a América Latina progressista, que se sente satisfeita por ter superado esta primeira importante investida de corte supranacional. Não faz muito tempo que Cristina e Dilma ganharam. Agora, vence Chávez. Nos próximos meses, a disputa é no Equador, onde todas as pesquisas dão como grande vencedor o projeto redistributivo mais favorável para as maiorias, o de Correa. Em abril de 2013, será o momento do Paraguai voltar à democracia, colocando como presidente seu candidato progressista (Mario Ferreiro). A partir da metade do próximo ano, a América Central (El Salvador e Honduras) também decidirá seu futuro como outra grande prova: se será independente do norte, para ser muito mais latino-americana. Na região, o novo neoliberalismo não encontra seu novo topo, que permita tombar a consolidada aliança progressista. Chile e Colômbia são as exceções, mas veremos quanto duram. As eleições da Venezuela eram a grande oportunidade neoliberal, mas voltaram a perder. Na América Latina, os neoliberais caminham para suas décadas perdidas, o que seria uma grande vitória para a maioria dos povos. 

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