sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A INACREDITÁVEL XENOFOBIA “CULTURAL” DE GILBERTO DIMENSTEIN

 

 

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Por Carlos Henrique Machado Freitas

Não acreditei quando li o artigo de Gilberto Dimenstein (Folha) “Haddad precisa importar um baiano?”. Impossível não revelar suas convicções ou opiniões abertamente xenófobas. É nítida a chantagem de seu texto evocando a “inteligência paulista” que, segundo ele, estranhou que Haddad precisasse importar um baiano – Juca Ferreira – para a Secretaria de Cultura.
A primeira coisa que me veio à memória foi a carta do paulistano Mário de Andrade, o mais brasileiro dos brasileiros, falando das opiniões de balcão que ficam na vitrine prontas para quem oferecer preço maior.
Mário, em carta escrita a Guilherme Figueiredo, publicada no livro “Lição de Guru” atacava os que pleiteavam o título de “inteligência nacional” e suas reivindicações acintosas para um determinado grupo obter vantagens particulares, na verdade exercidas por uma sociedade de editores.
Provavelmente a arrumação do texto de Gilberto Dimenstein seja fragmentos de uma coleção de ataques que aconteceram durante a gestão de João Sayad a Juca Ferreira por conta da reforma da Lei Rouanet que teve seu ápice em um debate no auditório da Folha aonde Sayad usou um repertório dos antigos preconceitos contra nordestinos para justificar a concentração de recursos da lei em mais de 70% na capital paulista. O que na verdade nem assim pode ser classificado, pois seria uma falsa descrição. Porque o nível de concentração que talvez reflita o sentimento dessa “inteligência paulista” contra Juca Ferreira é de uma meia-dúzia de confessos gestores paulistanos nascidos em ninhos tucanos e que tramitam como ninguém nos corredores empresariais e políticos da Avenida Paulista para elaborar a mais extraordinária “estética de captação de recursos públicos” e que faz a riqueza de poucos sem dar explicações que iluminem minimamente os caminhos desses recursos à sociedade.
Na realidade o artigo de Dimenstein não é mera advinhação, por mais mal escrito que seja seu desaforo “cultural” contra Juca Ferreira. É perceptível que o articulista trabalhou duro para escrever uma pérola genuinamente estúpida sobre cultura, como costumava dizer Mário de Andrade aos que se metiam a impor suas verdades a partir não só de sua desonestidade, mas pelo horror de não compreender sequer em que país vive.
Pra piorar, o artigo de Dimenstein vira um baloneiro da economia criativa, sem tentar reproduzir, como é comum, as úteis e reveladoras políticas que dão dimensão à locomotiva da estupenda economia que até hoje não saiu do papel em lugar nenhum de suas prometidas fornalhas.
Mas é bom que isso tenha se revelado dessa forma, afinal esse tipo de agressividade se transformou em um pastiche cultural da Folha com um punhado de artigos e editoriais com afirmativas “inéditas” que não devem ser recomendados a alguém que tenha um mínimo de inteligência, tal a análise sofrível que a Folha faz sobre o Vale-Cultura, sobre a gestão de Marta Suplicy e a chegada de Juca Ferreira à Secretaria de Cultura da cidade de São Paulo.
Para se ter a exata dimensão do que está acontecendo em São Paulo a partir do que se pode chamar de Sayadismo cultural, que é uma combinação de podridão européia com missangas douradas, a obra de Mário de Andrade que, percebendo já em 1917, a capacidade antropofágica que surgia fora da “posição dos intelectuais oficiais”, Mário o idealizador da I Semana de Arte Moderna em 1922, tambem mergulhou profundamente em estudos sobre o norte e o nordeste brasileiros para explicar não só o Brasil, mas a própria São Paulo.
As suas viagens etnográficas, seus estudos que até hoje são o principal tesouro de nosso acervo cultural, se deram justamente para sublinhar o que hoje é negado escancaradamente pelo artigo de Gilberto Dimenstein refletindo as ideias distantes da realidade paulista e brasileira para se jogar num fanatismo politico carregado de xenofobia que asfixiou a relação das instituições culturais de São Paulo com o que a cidade tem de mais rico. Tudo seguindo rigorosamente o processo que privatizou e terceirizou para as OSs a cultura de São Paulo pelos gestores tucanos refletido nessa marafunda xenófoba de Dimenstein.


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