quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A sanha golpista na América Latina



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Laerte Braga
 
por Laerte Braga
A revelação que militares e empresários brasileiros participaram ativamente do golpe que derrubou o presidente Chile Salvador Allende e as articulações feitas nos preparativos para a ação na embaixada do Brasil em Santiago, conduzidas pelo embaixador Antônio Castro da Câmara Mello, são o primeiro susto da Comissão da Verdade, instituída pelo governo Dilma Roussef para apurar os crimes cometidos pela ditadura militar no Brasil.



De saída mostram um fato que é importante observar. Militares golpistas foram instrumento de potência estrangeira, de empresas multinacionais em estreita ligação com empresas brasileiras. A repressão, dentre outros financiadores, teve plena participação do empresariado brasileiro e particularmente o paulista.
Os condutores do golpe de 1964 no Brasil, como o golpe contra Allende e outros, foram os reais senhores do mundo e de muitas forças armadas, no caso, os golpistas brasileiros e chilenos.
Pinochet era "leal" a Allende e foi "cooptado" para o golpe pelo embaixador do Brasil no Chile. Esse "cooptado" significa que um preço foi pago ao general chileno, logo, golpistas são agentes a serviço desses donos e o tal "patriotismo" que arrotam é canalha sim.
Como os torturadores brasileiros, que se escondem atrás da lei da anistia, das próprias forças armadas – que carregam enquanto a verdade não vier plena, a mácula da tortura e das barbáries de 1964.
O golpe no Brasil foi articulado pelo embaixador dos EUA, Lincoln Gordon, comandado pelo general Vernon Walthers (à época adido militar no Brasil) e foi parte de um plano que cobria toda a América Latina. Os fatos começam a aparecer com tal força e com tal transparência que negá-los não é tapar o sol com a peneira, é covardia típica de quem tortura, de quem mata.
As revelações implicam um general francês na montagem da Operação Condor, aliança terrorista que representou ação conjunta das ditaduras sul-americanas na perseguição a refugiados políticos. Orlando Letelier, por exemplo, ex-ministro das Relações Exteriores do Chile, foi assassinado em New York a mando da DINA – polícia secreta de Pinochet . O major Cerveira, refugiado na Argentina foi capturado naquele país, levado para o Uruguai de onde veio para o Brasil. Morreu no Rio, depois de estupidamente torturado em São Paulo. Brilhante Ustra era o comandante do esquema de repressão.
A escritora chilena Monica Gonzáles cita o trabalho da jornalista francesa Marie-Monique Robin, no documentário "Esquadrão da Morte – A Escola Francesa", para mostrar o envolvimento da extrema direita daquele país em ações patrocinadas pela CIA. O general Paul Aussaresses montou no Brasil uma escola de tortura que deu ensejo a Operação Condor.
O tal patriotismo dos golpistas brasileiros é esse. Submissão a interesses internacionais, covardia absoluta com os adversários e resistentes.
Esses fatos foram revelados pelo site OPERA MUNDI e toda a história da participação brasileira na derrubada de Allende está ali.
É preciso lembrar que no governo Castello Branco o Brasil enviou tropas à República Dominicana para avalizar um golpe de estado que anteriormente havia deposto o presidente Juan Bosch e não foi pequena a participação dos golpistas no movimento chamado "contras", financiado pelo governo Reagan para derrubar o regime sandinista na Nicarágua.
O Itamaraty, chegou a ter um "serviço de inteligência" sob o comando do embaixador Pio Corrêa que admitiu seus crimes em uma autobiografia e numa entrevista concedida ao jornalista Cláudio Dantas Sequeira, do jornal CORREIO BRAZILIENSE. Pio Corrêa era encarregado da perseguição ao que chamava de "pederastas, bêbados e vagabundos que trabalhavam como diplomatas no Itamaraty". Entre os perseguidos e afastados estava o poeta Vinicius de Moraes. Era dos quadros da carreira diplomática e chegou a ser adido cultural em Paris.
Figuras como o ex-ministro da Comunicações Hélio Costa e o apresentador de tevê (canal VIVA/GLOBO) Aristóteles Drummond, tiveram participação ativa no processo. Eram agentes. Costa foi tradutor de Dan Mitrione, enviado pela CIA para dar "aulas" de tortura. Drummond era contrabandista de armas num esquema da CIA para golpistas chilenos, financiando e armando o grupo de extrema-direita Pátria y Libertad. Decisivo no golpe contra Allende.
O que essas revelações feitas pelo site OPERA MUNDI mostram é que não houve defesa de democracia, de liberdades, de direitos coisa nenhuma no golpe de 1964, ou contra Allende, nos golpes na Argentina, no Uruguai, ou no apoio a ditaduras em toda a América Latina. Houve "cooptação" de setores das forças armadas desses países, inclusive o nosso, num esquema amplo e que se voltava para toda essa parte do mundo, montado a partir de Washington e seus interesses, com participação de empresas multinacionais e nacionais.
E pior, que a democracia que temos é frágil, enquanto farsa à medida que não existe participação popular no processo político. O mundo institucional está repleto de figuras ligadas ao golpe em funções chaves, caso do presidente do Senado no Brasil, José Sarney, aliado do governo Lula e agora do governo Dilma, ex-governador do Maranhão em 1964.
Os desafios da Comissão da Verdade são maiores que mostrar que Brilhante Ustra era um torturador, um assassino. Ou que o jornal FOLHA DE SÃO PAULO emprestava seus caminhões para a desova de corpos de presos políticos mortos. Os paralelepípedos de qualquer rua, como dizia Nélson Rodrigues, sabem disso. Que VEJA é imprensa marrom, sórdida, vive de chantagem e extorsão, dominada por quadrilhas como a de Carlos Cachoeira, ou que o império da GLOBO se construiu por obra e graça da ditadura militar e da submissão aos interesses dos EUA.
Exibem toda a dimensão dos golpes de estado em países latino-americanos, com ênfase para a América do Sul e particularmente o chamado Cone Sul, Brasil, Argentina e Uruguai, já que o Paraguai vivia sob a ditadura de Alfredo Stroessner, aliado natural dos golpistas. Quando derrubado se exilou no Brasil.
A verdade, para além da covardia dos militares golpistas (que fizeram uma limpa nas forças armadas, afastando e eliminando militares legalistas), chega aos arranjadores dos golpes e seus maestros especialistas em boçalidade, como revela a presença de figuras hoje disfarçadas de democratas, escondidos na escuridão da verdade oculta. Caso de Hélio Costa e Aristóteles Drumond e tantos outros.
O assassinato do general Carlos Pratt (chileno) no seu exílio no Uruguai, do ex-presidente da Bolívia Juan José Torres, também no Uruguai, de Orlando Letelier, do major Cerveira, do ex- presidente brasileiro JK, com toda a certeza de João Goulart e das tentativas contra Leonel Brizola.
E centenas de adversários dos regimes militares.
Lula, quando presidente, optou pelo equilibrismo político, compondo com forças que serviram a ditadura para o que chamou de "governabilidade". Os avanços se perdem quando mantida a cortina de silêncio sobre esse período na América Latina. Não deixou de alinhar-se com as políticas neoliberais.
Golbery do Couto e Silva, um dos ideólogos do golpe de 1964, chamava isso de "movimento de sístole e diástole". Ou seja, expansão e contração, abertura e fechamento em linguagem política. Ora ditadura, ora "democracia" como a temos.
Dilma Rousseff ainda tem um contorno errático, ainda que esteja buscando se afirmar. E a Comissão da Verdade é uma tentativa de afirmação se for capaz de trazer a público toda a barbaridade dos golpes de estado e a participação de militares e empresários brasileiros na orgia de sangue.
É um governo que segue as regras neoliberais na economia, cede ao latifúndio no perverso negócio dos transgênicos (o veto ao Código Florestal não resolve nada, só adia a questão, ainda que permita espaços para organização e luta popular) e neste momento, finge que ignora o escândalo Carlos Cachoeira que pega figuras do governo e da oposição. Arranca a máscara dos três maiores partidos do Brasil, o PT, o PSDB e o PMDB.
Hora da verdade ou ora do embuste? Do passar ao largo desses fatos repulsivos ou enfrentá-los?
Essa resposta não vai ser encontrada no mundo institucional, mas nas ruas, na conscientização que a luta continua sendo de sobrevivência. A crise internacional, que afeta países da União Europeia, os EUA, torna o capitalismo mais agressivo, violento e irracional – mais do já é.
Os movimentos populares eclodem em várias partes do mundo e a violência de organizações terroristas do complexo ISRAEL/EUA TERRORISMO HUMANITÁRIO S/A aumenta de forma estúpida. Têm o controle da mídia de mercado, em caso de necessidade têm Xuxa para fazer "confissões" que desviem o foco do principal e retomem a linha do espetáculo. Ou a diretora do FMI para insultar os gregos, desnudar-se em sua absoluta insensibilidade diante da fome, do desemprego, na preocupação de salvar bancos.
É um momento agudo, vai ser mais ainda se permitirmos que o estado autoritário se mantenha no terror nuclear com que ISRAEL/EUA TERRORISMO HUMANITÁRIO S/A ameaçam o mundo, seja por si, seja por braços como a OTAN.
E até o Canadá acorda diante da barbárie capitalista. As revelações do OPERA MUNDI abrem um barril que continham fechado na marra, que agora tem que ser exposto. A luta é nas ruas.


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