Esta e demais lustrações são litogravuras
do francês Gustave Doré (1832-83)
Dom Quixote
é uma daquelas obras-primas do engenho e refinamento humano. Mas parece
escrito por mãos superiores. Narra a história dum velho fidalgo que, de
tanto ler romances de cavalaria, imagina-se, ele próprio, um
extemporâneo cavaleiro andante. E, no frenesi dos delírios, sai na ânsia
de endireitar as torpezas do mundo, em socorro dos aflitos e
injustiçados. Seu escudeiro, o lavrador Sancho Pança, é seduzido pelas
venturas e aventuras do herói sonhador.
Na
segunda parte (1615), Quixote e Sancho são recebidos no Castelo dos
Duques. Como os moradores já conheciam a fama do personagem, por o terem
lido na primeira parte (1605), pregam-lhe todo tipo de troças e
patifarias. No entanto, como não via nos outros nenhum tipo de maldade,
imagina que as afrontas recebidas o homenageavam. Em certo momento,
prometem a Sancho uma ilha para governar. Acreditando ser verdade, Dom
Quixote explica ao companheiro sobre como deveria se pautar no exercício
do poder (Cap. II-XLII).
Foram
muitos os alertas a Sancho acerca dos subornam, importunam e porfiam
para estarem ao lado dos governos em busca de vantagens. “Os grandes
cargos – ensina – não são senão um golfo profundo de confusões”.
Previne-o para afastar-se dos venais e fraudulentos, e dos que usam o
patrimônio coletivo em benefício pessoal, de correligionários,
bajuladores, aliciadores de votos e parentes. Se ética e moralidade são
pressupostos da honradez, mais seriam a de alguém no cargo de
governante.
Apresento
meia dúzia de preceitos ditos por Quixote ao escudeiro, em tradução
livre do original. Como adornos da alma, alertam aos que exercem funções
públicas, à época em que a obra foi concebida e em todos os tempos. E
nos advertem como deveríamos governar a nós mesmos ao longo da
existência.
1.
Nunca te guies pela lei do bel-prazer, que costuma ter cabimento entre
os ignorantes e presumidos. 2. Achem em ti mais compaixão as lágrimas do
pobre, porém não mais justiça que as informações do rico. 3. Procura a
verdade por entre as promessas e favores dos poderosos, como por entre
os soluços insistentes dos despossuídos. 4. Quando tiveres que julgar,
não descarregues todo o rigor da lei sobre o delinquente, pois não é
melhor a fama do juiz rigoroso que a do compassivo. 5. Se acaso fizeres
concessão às leis, que não seja com o peso da dádiva, mas da
misericórdia. 6. Ao que castigares com obras não o trates mal com
palavras, pois basta ao infeliz a pena do suplício, sem o acréscimo das
más razões.
O
velho Quixote, encarnação do ser em estado sublime, confunde-se com
Miguel de Cervantes. Idealismo e realidade se misturam. Um nasceu para
as páginas do livro; o outro para escrevê-las. Talvez tenham sido
loucos-gênios ou gênios-loucos. Não importa. Persistem visionários e
comoventes, a abastecer-nos de reflexões sobre as seivas mais puras do
existirmos. Para nos tornarmos sensíveis e por isso melhores, nos
intrincados enredos da vida.
Primeira edição da primeira parte (1605)
Um comentário:
Quando li este livro ainda criança confesso não ter entendido nada. Anos depois já perto de terminar mo segundo grau, reli e descobri um novo mundo. Um mundo de fantasias, sonhos desejos de um grande amor.
Acabei por viver um grande amor dulcineia.
beijos!!!
Para tirar estas letrinhas posso te ajudar . Caso queira.
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