quarta-feira, 4 de maio de 2011

CARTA DE PAUL KLEE AOS SEUS TRÊS GATOS

Fui Buscar no lindo blog de



"Queridos Nuggi, Fritzy e Bimbo:

Chegado ao fim da minha vida, dirijo-vos esta carta para vos dar conta da importancia que tiveram no meu atribulado percurso como pintor.
Creio que não teria chegado onde cheguei como artista do meu tempo sem o vosso amor e a inspiração que nunca me regatearam.
Fiz questão de vos manter presentes em tudo quanto fiz, desde as cartas aos poemas, passando, naturalmente, pelos quadros em que tentei modestamente representar-vos.
Vocês acompanharam-me nas horas de sofrimento e incerteza, de exílio e de privação, mas também naquelas que me deram a ilusão da felicidade. Primeiro o meu querido Nuggi, cinzento e meigo, ainda nos anos da juventude; depois, Fritzy, tigrado, brincalhão e matreiro a que tambem chamei Fripouille, nos tempos mais intensos da criação pictórica e tambem do reconhecimento artístico pelo público e pela crítica; por fim, Bimbo, branco e discreto, já nos anos da doença e da decadência física, sempre dedicado, sempre presente, sempre terno e atento.
Devo confessar que sempre vislumbrei em vós um toque do sagrado, porque não hesito em considerar-vos seres divinos, que eu não fui capaz de retratar com o talento nas telas e nos desenhos em que vos tentei eternizar. Sim, é verdade que vos escrevi cartas, sobretudo a Bimbo, já no fim da vida, e que não tinha sossego nos meus telefonemas sempre que me diziam que algum de vocês estava doente ou andava fugido. Isso nunca foi uma fraqueza minha e sim uma das principais manifestações do amor que consegui compartilhar com outros seres.
Ainda assim, alguns dos quadros de que mais gosto são precisamente aqueles em que vos reservei lugar, com títulos como O Gato e o Pássaro ou A Montanha do Gato Sagrado. Os gatos ajudaram tambem a fortalecer amizades com artistas e poetas que comungavam comigo esse amor e essa admiração irrenunciáveis. Foi o que aconteceu com Rainer Maria Rilke. Até isso eu vos fiquei a dever, tributo reservado a um pintor que tentou estar sempre à altura da vossa ternura e infinita capacidade de dádiva.
Agora que estou de partida, levo comigo a recordação do que vocês foram para mim e a convicção de que não teria sido o que fui, nem teria chegado onde cheguei, sem o vosso amparo e dedicação. No meu íntimo, sei que voltaremos a encontrar-nos, porque não pode acabar no perecível mundo material e terreno um amor como o nosso.

Eternamente vosso

PAUL KLEE"

(in Amados Gatos de José Jorge Letria-Oficina do Livro)


(Carta e imagem retirados no Google)

4 comentários:

Eliane Accioly disse...

Jader,

vim visitar teu blog, adorei a carta para Marx, de sua mãe, uma mãezona alemã...

Me sinto homenageada com sua publicação retirada de meu blog!
Tomei uma surpresa, e foi muito boa.

Abrs!

jader resende disse...

Eliene, devia tê-la avisado do surrupio de uma grande matéria.
Ainda bem que foi boa.
É um prazer receber teu comentário.
Abraços fraternos

Sonia Amorim disse...

Este post é lindo... mais que isto. Tenho dois cães de estimação, grandes companheiros de jornada, protetores, amorosos, dedicados. Há humanos que não têm as qualidades deles. Sei bem o que Klee quis dizer... Acho que também vou "surrupiar", Jader... Teu blog é especial. Grande abraço!

jader resende disse...

Fique a vontade Sonia é lindo e gratificante levar algo de bom a todos.

Um grande abraço