sexta-feira, 20 de maio de 2011

Fabião das Queimadas

 Por Stéphanie Campos
Comenta-se em São Paulo do Potengi, principalmente entre os mais moços, que não há cultura no nosso município e que há poucas referências culturais em nossa região. Acreditando que isso se dê muito mais por falta de informação do que por falta de referências da cultura, me aventuro em tentar mostrar o que temos de cultura viva e nossa e acredito que será uma longa empreitada, dada a riqueza dessa região.
Hoje a pauta está aberta para o conhecido Fabião das Queimadas. Fabião Hermenegildo Ferreira da Rocha foi escravo tendo nascido em 1850, na Fazenda Queimadas pertencente ao coronel José Ferreira da Rocha, no atual município de Lagoa de Velhos (RN). Em 1848 a fazenda Queimadas fazia parte do município de Santa Cruz. Depois o território onde se localiza a fazenda pertenceu aos atuais territórios dos municípios de São Tomé e Barcelona. Com a criação do município de Lagoa de Velhos em 1962, a fazenda passou a pertencer ao território do novo município. Mas posteriormente, Fabião veio a residir sucessivamente nos municípios de São Tomé, Sítio Novo e finalmente em Barcelona, onde está enterrado desde 1928.
Segundo Rostand Medeiros em publicação no site Overmundo, Fabião “começou a cantar durante os trabalhos na roça. Tornou-se tocador de rabeca, tendo adquirido seu instrumento aos 15 anos, com o apoio do dono, que permitia e incentivava que ele cantasse nas casas dos mais abastados da região e nas feiras. Conseguiu angariar algum dinheiro que, aos 28 anos, possibilitou comprar a sua alforria. Era analfabeto, mas criava versos, como o “Romance do boi da mão de pau”, com 48 estrofes. Suas composições apresentam traços dos romances herdados da idade média.”
Chegou a ficar bastante conhecido ainda em vida tendo sido convidado pela Poetisa Palmira Wanderley para apresentar-se como principal artista em uma festa para angariar fundos para o Hospital da Criança (Hospital Varela Santiago) em 24 de dezembro de 1923 na cidade de Natal. Diz Medeiros que “…a atração principal era “Fabião das Queimadas”. Ao subir no palco com sua inseparável rabeca, o trovador foi entusiástica e longamente aplaudido e desenvolveu uma apresentação que foi classificada pela “A Republica” como “magnífica”, composta de “repentes” e “louvoures”, que fizeram o deleite do público natalense naquela noite.”
No site Brasilrn, Fabião é contado como “um dos maiores poetas populares” do nosso estado. Ficou conhecido como o poeta das “Vaquejadas” tendo deixado muitas poesias sobre os touros e cavalos de sua região. Um de seus romances mais conhecidos é o ‘Romance do Boi da Mão de Pau’ onde relata uma passagem de perseguição sofrida por boi Mão de Pau, figura sagaz, o “boi liso vermelho, o mão de Pau corredor”. Sobre seus versos ‘puxados do juízo’ disse ele um dia:
“quando eu quero tirar uma obra, me deito na rede de papo prá riba, magino, magino e quando acabo de maginar, está maginado pru resto da vida”.
Uma das curiosidade sobre sua vida é o fato de ter conseguido comprar a própria alforria além da de sua mãe e da sobrinha com quem se casou com o dinheiro ganho com sua arte feita com sua voz e sua rabeca. Fabião das Queimadas morreu em 1928, aos sessenta e oito anos, de tétano, em uma fazenda de sua propriedade chamada “Riacho Fundo” na atual cidade de Barcelona (RN).
Fabião das Queimadas tem seu nome citado na ‘Enciclopédia brasileira da diáspora africana’ em uma parte referente aos Cantadores Negros. Foi ainda tema de duas letras de músicas finalistas do Forraço no ano de 2004. Os segundo e terceiro lugares tematizaram este poeta negro do Potengi e foram logrados pelos artistas Roberto Lima e Hugo Tavares. Este último, potengiense de alma, pesquisador, poeta e compositor, abriu o Forraço com “Fabião das Queimadas – Poeta da Liberdade” música que mescla suas viagens poéticas com rimas do próprio Fabião.
Hoje parte da família de Fabião reside no município de São Paulo do Potengi e traz em seu seio várias gerações com talentos na área da música e da poesia, desde cantadores a poetas, produtores e instrumentistas, descendentes da arte do Cancioeiro negro e referências vivas da cultura da nossa região.

Por Stéphanie Campos

Referências e curiosidades:
http://www.brasilrn.com/_pt/SousmenuContenu.php?idmenu=2&idsousmenu=12
http://www.overmundo.com.br/overblog/em-1923-natal-conheceu-fabiao-das-queimadas

Publicado originalmente em no Blog do Grupo ProcurArte

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