Por Luís F. C. Nagao, colaborador de Outras Palavras
A chama foi acesa, mais uma vez, na Praça Tahir, Cairo. Nesta sexta-feira (13/5), dezenas de milhares de pessoas voltaram a se reunir no ponto-chave onde se articulou a derrubada da ditadura egípcia. Tinham outras reivindicações. Queriam condenar as disputas entre seitas muçulmanas e cristãs, que provocaram dez mortes em seu país, há semanas. Mas estavam, mais que tudo, deflagrando a série de manifestações que voltará a exigir, a partir do dia 15, a libertação da Palestina.
O exemplo egípcio repercutiu em Aman, capital da Jordânia, onde centenas de populares tomaram as ruas do centro, contra a ocupação israelense. E, apesar das medidas de segurança adotadas por Telavive, emergiram em Jerusalém. Centenas de milhares de mensagens escritas inundaram os telefones celulares. Houve ligeiros confrontos com a polícia. Em refereência às duas ondas anteriores de protesto contra a ocupação [verWikipedia], há quem espere o início, no domingo, de uma terceira Intifada – agora impulsionada pela primavera árabe e pelo acordo de unidade entre Fatah e Hamas.
A mobilização de 15/5 está sendo convocada há dois meses, quando redes de jovens organizaram, em várias cidades palestinas, manifestações pela unidade nacional e independeência. Espalhou-se pelas redes sociais, apesar da censura praticada pelo Facebook (que tirou do ar um grupo de 300 mil pessoas). Rememora um fato simbólico: a triste data da Nakba (catástrofe) – a expulsão de 711 mil palestinos de seu país e suas terras, em 1948.
Relembrada todos os anos, a data despertou agora solidariedade ativa em todo o mundo árabe. No Egito, o sentimento é ainda mais intenso. Além da revolução em curso, o país mantém fronteira com a faixa Gaza, um dos fragmentos em que foram confinados os palestinos (o mapa abaixo mostra como as fronteiras definidas pela ONU em 1947 foram deslocadas por Israel, em 1948). Para a data da Nakba, os egípcios querem organizar uma ação ousada.
- À esquerda (em cinza), o território palestino definido pela ONU em 1947. À direita (em marrom), após a guerra de 1948. A Faixa de Gaza é a minúscula área a nordeste do Egito
No sábado (14/5) sairá da Praça Tahir, às nove da manhã, um comboio de carros e ônibus. Passarão por Suez, onde encontrarão mais manifestantes. Chegarão à noite em Rafah, na fronteira com o território palestino, para uma grande manifestação. Na manhã seguinte (15/5), almejam entrar nos territórios palestinos para mais manifestações. Outras caravanas, vindas de Alexandria, Damietta, Sinai do Norte, Garbia, Beni Suef, Assiut, Qina e Sohag são esperadas. A coalizão que promove as jornadas também quer a libertação dos presos políticos palestinos no Egito; a reabertura permanente da fronteira de Rafah; a retomada de relações comerciais enre seu país a Faixa de Gaza; e o cancelamento da oferta de gás a Israel, a preços muito aviltados.
Os organizadores querem que todos os atos sejam pacíficos. T êm em mente a Assembleia Geral da ONU, que poderá votar, em setembro, o reconhecimento internacional de um Estado palestino. Mas a própria Nakba evoca outra reivindicação, novamente suscitada: o direito dos exilados palestinos retornarem à sua pátria.
Manifestações de solidariedade à independência palestina estão previstas em outras partes do mundo. Além disso, uma reunião internacional em Paris decidiu, há dias, organizar uma nova flotilha de barcos para Gaza. Desta vez, quinze barcos, com 1,5 mil pessoas de múltiplas nacionalidades a bordo (e repletos de ajuda humanitária), zarparão da Turquia na terceira semana de junho.
Charges: Carlos Latuff
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