buscado no Gilson Sampaio
Via Opera Mundi
A
organização Simon Wiesenthal divulgou nesta quinta-feira (27/12) sua
edição anual do ranking dos “10 maiores antissemitas” ao redor do mundo.
O cartunista brasileiro e colaborador do Opera Mundi Carlos
Latuff aparece na terceira posição na lista de 2012 por conta de suas
charges críticas à operação Pilar Defensivo, mais recente investida
militar israelense na Faixa de Gaza.
"Crítica ou
mesmo ataque a entidade política chamada Israel não é ódio aos judeus
porque o governo israelense não representa o povo judeu, assim como
nenhum governo representa a totalidade de seu povo”, escreveu ele em
nota
(veja a íntegra abaixo).
Latuff
diz que o lobby pró-Israel tenta associar questionamentos ao Estado de
Israel com o sentimento antijudaico para criminalizar a manifestação de
posturas críticas e confundir a opinião pública: “Nenhuma campanha de
difamação vai fazer com que eu abra mão da minha solidariedade com o
povo palestino”.
Conhecido internacionalmente
por suas charges, o artista se aproximou da luta palestina no final dos
anos 1990 quando viajou para o país e, desde então, imprime críticas à
política israelense.
Abaixo da Irmandade
Muçulmana do Egito e do líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o artista
brasileiro aparece em terceiro na lista, na frente de torcidas
organizadas e partidos políticos neonazistas no ranking, que incluiu
também o jornalista e editor alemão Jakob Augstein.
Carlos Latuff
“Durante
os conflitos recentes instigados pelo Hamas contra o Estado judaico, o
brasileiro criticou Israel e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por
fazer o que qualquer outro líder mundial teria feito para proteger civis
inocentes”, afirma o texto da organização.
A menção a Latuff é ilustrada por uma charge (veja ao lado)
na qual o premiê aparece torcendo o corpo de uma criança palestina em
cima de uma urna. A imagem faz referência às possíveis motivações políticas
de Netanyahu, em plena campanha para a eleição legislativa marcada para
22 de janeiro, no ataque ao território palestino em novembro deste ano.
A charge, no entanto, não tem nenhuma menção à religião judaica.
O
desenho já havia sido criticado publicamente pelo rabino Marvin Hiers,
fundador do Centro Simon Wiesenthal, quando foi divulgado pelo site
norte-americano Huffington Post no mês passado. O ativista judeu acusou
Latuff de “pior que antissemita” e pediu que o site retirasse a charge
do ar.
“Estou no caminho certo”
O artista, que classificou sua colocação no ranking de “piada digna de filme de Woody Allen”, disse ao Opera Mundi se
sentir “motivado” pelas críticas do centro judaico. “Se organizações do
lobby pró-Israel estão incomodadas com minhas charges, é porque estou
no caminho certo”, afirmou ele.
Ele lembra que o
escritor português José Saramago, o ativista sul-africano Desmond Tutu e
o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, e muitos outros também
sofreram com esse tipo de acusações: “Estou em boa companhia”.
Leia a nota do cartunista em resposta ao Instituto Simon Wiesenthal na íntegra.
"Recebo
com tranquilidade a citação de meu nome numa lista dos '10 mais
antissemitas' pelo Centro Simon Wiesenthal. A organização, que leva o
nome de um célebre caçador de nazistas, sob o argumento da proteção aos
direitos humanos e combate ao antissemitismo, promove a agenda da
política israelense.
A minha charge que
acompanha o relatório mostra o primeiro-ministro de Israel Benjamin
Netanyahu tirando proveito eleitoral dos recentes bombardeios a faixa de
Gaza (o ataque foi realizado a 2 meses das eleições em Israel). Em
novembro desse ano, o rabino Marvin Hiers, fundador do Centro Simon
Wiesenthal, me acusou publicamente na Internet de ser "pior que
antissemita" por fazer tal crítica através do desenho.
Não
é por acaso que meu nome foi citado junto com o de diversos extremistas
e racistas. É uma estratégia do lobby pró-Israel associar de maneira
maliciosa críticas ao estado de Israel com ódio racial/religioso, numa
tentativa de criminalizar a dissidência.
Crítica
ou mesmo ataque a entidade política chamada Israel não é ódio aos
judeus porque o governo israelense NÃO representa o povo judeu, assim
como nenhum governo representa a totalidade de seu povo. Essa não foi a
primeira e nem será a última vez que tal incidente acontece, e por
entender que tais acusações são orquestradas por quem apoia a
colonização da Palestina, seguirei com minha solidariedade ao povo
palestino."
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