buscado no Dag Vulpi
Nove em dez vezes o dinheiro do petróleo é um
dinheiro maldito.
O Brasil apresenta-se mundialmente
como detentor potencial de grandes reservas de óleo, líder na produção de
biocombustíveis e detentor da tecnologia do ciclo de combustível nuclear. O
papel do país pode ser de destaque e liderança jamais imaginados no cenário
geopolítico energético mundial, e essa pode finalmente ser a hora e a vez de o
país montar no cavalo selado que novamente passa à sua porta. Parece simples, e
é, mas para transformar sonhos em realidade faz-se necessário visão de futuro,
vontade política, pulso firme e ação empreendedora.
No entanto, fatos deploráveis
insistem em permear as manchetes dos meios de comunicação. A Agência Nacional
do Petróleo - ANP multou a Petrobras, maior empresa brasileira, em R$ 84,5
milhões pelo repasse incorreto de informações da plataforma P-50, situada no
campo de Albacora Leste, na bacia de Campos.
Segundo o processo aberto pela
agência, a estatal usou de fatores não aprovados para fazer a medição da
produção. Com isso, parte da quantidade de óleo extraído do campo, em operação
desde 2006, não foi informada. Estima-se que, no período de 14 meses, a
Petrobras tenha deixado de informar a produção de 1,3 milhão de barris. Sem o
registro dessa produção, um montante de royalties e demais tributos deixou
de ser pago. Atitude lastimável de quem tem que protagonizar exemplos de ética
e transparência em todas as suas ações..
As grandes petroleiras mundiais de
há muito dominam todo o ciclo, do poço ao posto. Essas companhias optam pelo
refino e pela distribuição como propulsores de sua lucratividade,
desvalorizando o óleo. Quando tem que dividir os resultados com governos,
descontam diversos custos, e ao longo de muitos anos quase nada sobrava de
lucro para os países concedentes, configurando-se, então, um modelo tirano e
colonial de exploração, que causava baixa qualidade de vida à população desses
países.
Ao longo do tempo, as majors,
ou big oil, converteram sua descomunal riqueza em mega influência
política. Utilizaram seus vultosos recursos financeiros para infiltrar-se e
criar intrincados e obscuros labirintos por todos os poderes estabelecidos de
um país. Juntavam-se, fundiam-se e formatavam parcerias para dominar por
completo a cadeia produtiva do petróleo, verdadeiros sistemas de truste e
cartel. Buscavam obter benefícios fiscais, subsídios, redução de royalties e
brechas na lei que as favorecessem.
É o petroimperialismo tirano, que
emporcalhou a natureza e também os lugares onde os interesses da indústria
controlam países e sociedades. Prosperaram no segredo, na mitomania, na falta
de transparência e no controle sobre a informação. Eram ações comuns das
majors: ocultação de pagamentos a governos, dissimulação de operações
contábeis, influência na mídia para plantar seus interesses, compra e expulsão
hostil de concorrentes. Enfim, o cartel internacional do petróleo foi o mais
bem-sucedido em termos de conduta anticoncorrência da história, ao realinhar o
poder mundial, desestabilizar economias, derrubar governos e agredir o meio
ambiente.
Por outro lado, a importância
estratégica do petróleo no panorama energético mundial deve também ser
atribuída, em grande parte, às grandes companhias petrolíferas privadas. Seus
vultosos capitais (maiores que o PIB de muitos países), sua capacidade empresarial
e influência política formaram verdadeiros poderes paralelos na economia
mundial, que determinaram o ritmo e a forma de crescimento econômico de muitas
nações.
A criação da Organização dos Países
Exportadores de Petróleo – Opep em 1960 propiciou a quebra parcial dessa
cartelização, e a hegemonia de grandes companhias passou a ser exercida pelos
países produtores de petróleo. Era a primeira vez que um cartel de países
enfrentava um cartel de empresas.
A dependência de óleo e a
volatilidade de seus preços dominam o cenário geopolítico e geram um
estado permanente de conflitos. Potências mundiais preparam-se para
futuras guerras, não mais por questões ideológicas ou políticas, mas por lutas
intensas por recursos cada vez mais escassos. É cada vez mais premente abrir-se
a hermética caixa preta do petróleo.
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