No
último
sábado (08.12), amigos do MST, incluindo juristas, encontraram-se na
Escola
Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP), e eu, estando presente,
lembrava durante todo o tempo de que já escrevera aqui no blog algo
sobre o MST.
Uma
rápida pesquisa no google e encontrei
este texto de 2010.
Continuo
pensando da mesma forma.
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Os loucos
e insensatos do MST estão em marcha
Gerivaldo Alves Neiva*
Trafegava ontem (22.04) pela BR
324 (Salvador - Feira de Santana) e vi a marcha do MST pela rodovia. Saíram de
Feira de Santana e a previsão de chegada a Salvador é na segunda-feira (26.04).
São mais de 100 km de caminhada. Fala-se em 5 mil ou 6 mil participantes.
Vi muitos jovens e mulheres participando da marcha.
Segunda a imprensa local, “a
manifestação tem como objetivos cobrar mais agilidade na reforma agrária no
País e cobrar do governo a realização de obras negociadas em manifestações
anteriores, como a construção de casas e escolas em 120 assentamentos no
Estado. A marcha também tem o caráter de protesto contra a criminalização dos
movimentos sociais e contra a impunidade no campo, afirmou o deputado estadual
Valmir Assunção (PT), que integra a marcha. Com ele, estão outras lideranças do
partido na Bahia, como o vice-presidente estadual da legenda, Weldes Valeriano.
Na programação dos participantes, estão previstas caminhadas pela manhã e
atividades culturais - como curso de formação política e exibição de filmes -
nos outros períodos”. (leia mais...)
Antes de encontrar os membros do
MST em caminhada, parei em um posto para abastecer o carro e puxei conversa com
o frentista sobre a marcha. Comecei perguntando se estavam muito na frente e
ele me respondeu que tinham passado por ali na manhã anterior e que àquela hora
(+/- 9h) já deveriam ter levantado acampamento e estavam novamente na pista. Em
seguida, tentou me confortar argumentando que era feriado, o trânsito não
estava intenso e talvez não encontrasse muito engarrafamento. Respondi que não
me incomodava muito, pois o MST tinha o direito de lutar e de se manifestar.
Ele se animou para continuar a conversa e alegou que também gostava do MST e da
coragem deles, mas não gostava quando se tornavam violentos, destruíam
plantações e casas das fazendas invadidas.
Desejei bom dia de trabalho ao
frentista e segui viagem. Depois que passei por aquela multidão de homens e
mulheres, caminhado em duas filas indianas, cantando e demonstrando que estavam
voluntariamente naquela caminhada, pensei comigo mesmo: são mesmo loucos e
insensatos! Ora, são mais de 100 km de caminhada e nesta época do ano costuma
chover muito no recôncavo baiano. Loucos e insensatos, mesmo!
Mais na frente, lembrei-me da
observação do frentista com relação à violência do MST e pensei: também, o que
se pode esperar de loucos e insensatos? Que vão entrar com muito cuidado nas
fazendas que ocupam, cuidar bem da casa, deixar tudo limpo e arrumado? Não,
nada disso. São loucos e insensatos!
Mas o que os levou à loucura e à
insensatez? Por que tantos jovens, moças e rapazes, já perderam a razão e os
bons modos ainda na flor da idade?
Esta doença é hereditária e foi
causada por mais de 500 anos de exclusão e opressão. No início, os índios,
depois os negros, depois os posseiros e pequenos colonos foram excluídos da
terra e lançados ao léu. Agora, séculos depois, tornaram-se “sem-terra”
e marcham pelas rodovias do país, moram em acampamentos, ocupam fazendas,
derrubam laranjais, queimam sedes luxuosas, matam bois para comer a carne...
São uns loucos e insensatos.
Sendo assim, diferente dos “doutores
da lei”, eles não sabem distinguir os vários tipos de posse, não sabem
distinguir posse de propriedade e, muito menos, o que sejam os tais “interditos
possessórios.” Para eles, interessa somente a terra e os alimentos que dela
brotam. Terra, portanto, não se confunde com posse e, muito menos, com
propriedade. Terra é mãe e produz alimentos, é o local, o espaço sagrado e
detentor das possibilidades de continuidade da espécie humana sobre o planeta.
Propriedade, de outro lado, é mera abstração, conceito, idéia, pedaço de papel,
registro em cartório...
Não compreendem os loucos e
insensatos do MST, enfim, por que tantos “letrados” andam dizendo por aí
que a “propriedade” é um direito sagrado. Ora, sagrada é a terra, e não
a propriedade dela! Esse destino místico da terra, porém, não se realiza com
pastos e pisadas de bois ou eucalipto para virar celulose, mas com a presença
do homem, como se pertencessem um ao outro, plantando e colhendo, no cio da
terra, alimentos para o mundo. O homem, portanto, não pode impor qualquer
função ou amarras à terra, pois ela já tem desde sempre o seu destino
inafastável, que é oferecer a vida ao homem que lhe habita.
Pensando bem, aliás, o que seria
da vida, da liberdade e do mundo sem os loucos e os insensatos?
Salvador, 22 de abril de 2010
Puxadinho do Jader
Agradeço a Tiago Azevedo de Aguiar
Que disse no Face:
2 comentários:
Obrigado.
Para mim ficou ótimo.
O movimento sem terra e sem teto aqui é muito desorganizado.
Beijos!!
Jader
Excelente post, muito obrigado.
Um grande abraço meu amigo
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